28/12/2021

Pavel Karpov - A Geometria Estratégica de Vladimir Putin

 por Pavel Karpov

(2000)

Uma análise geopolítica


Início do Grande Jogo

Definições baseadas no espaço estão formando cada vez mais na base das decisões políticas supremas na Rússia. A lógica inexorável da realidade geopolítica é cada vez mais evidente nas medidas tomadas pelo governo e pelo presidente. Os contornos dos novos projetos globais - precedidos pelas expectativas de estudiosos românticos, estrategistas militares e analistas corajosos - estão lentamente, mas com bastante precisão, começando a ser vislumbrados e até mesmo a se materializar em projetos e decisões concretas. Depois de ter sentido por muito tempo a constrição no leito procrusteano do liberalismo extremo e das tendências pró-ocidentais, a Rússia começa a sentir cada vez mais claramente sua própria originalidade e seu lugar especial no planeta e também - não tenho medo deste termo - sua própria missão.

Ligados a isso, dois eventos primários, do ponto de vista da estratégia geopolítica, trazem o sinal da direção certa: foram a assinatura em São Petersburgo do tratado entre Rússia, Índia e Irã sobre a abertura das chamadas "rotas de transporte meridionais" e, é claro, amplamente noticiado na imprensa, a visita de nosso chefe de Estado à Índia. A volta da Rússia ao Oriente, há tanto tempo discutida tanto no país como no exterior, praticamente aconteceu.

20/12/2021

Aleksandr Dugin - A Doutrina Tradicional dos Elementos (Lição III): Os Elementos no Mito da Caverna de Platão. Símbolos da Hierarquia Ontológica e dos Estados do Ser

ÍNDICE

Lição I: A Restauração dos Fundamentos Filosóficos da Ciência
Lição II: Continuidade e Descontinuidade dos Elementos
Lição III: Os Elementos no Mito da Caverna de Platão. Símbolos da Hierarquia Ontológica e dos Estados do Ser
Lição IV: A Metafísica da Luz


por Aleksandr Dugin

(2021)

Transcrição da comunicação do IIIº Encontro do Clube dos 5 Elementos



Os Elementos como símbolos dos estados múltiplos do Ser

Podemos utilizar os elementos como formas materiais, segundo autores antigos, para uma metáfora ontológica. É possível utilizar os elementos como representação dos estados do Ser (citando René Guénon). E isso se dá porque os elementos não são apenas tipos de matéria, de corporeidade, eles são coisas que possuem em si mesmas uma dimensão mais do que material, supramaterial, uma dimensão espiritual, metafísica. 

Quando dividimos entre elemento material e elemento espiritual ou metafórico dificultamos as coisas. Acredito que para compreender o que são os elementos, na concepção autêntica e pré-moderna, precisamos deixar de lado esse conhecimento que corresponde a ontologia dualista, porque essa divisão do mundo em dois partes(material e espiritual) é moderna, cartesiana. 

Para os gregos não existiam elementos meramente materiais ou meramente espirituais. Também para os filósofos latinos se passava o mesmo. Para podermos compreender a essência dos elementos como estados do Ser não devemos separar muito radicalmente entre materialidade e espiritualidade. Para os gregos, o mundo não estava separado de seu princípio. Ele não era radicalmente imanente o radicalmente transcendente, e os princípios do ser não eram apenas puramente transcendentes. Havia uma transcendência imanente (ou imanência transcendente) que explica melhor a própria natureza de muitas coisas. 

15/12/2021

Franco Cardini - Quando nós, fascistas heréticos, encontramos Fidel Castro

 por Franco Cardini

(2016)



Caríssimo,

apenas algumas linhas, porque mais seriam muitas.

Achei difícil acreditar que você também fosse mortal. A esta altura já estávamos acostumados à Sua presença distante e feiticeira, à Sua longa vida que dia após dia parecia interminável.

Você acompanhou minha vida por muito tempo, desde o final dos anos cinquenta. Eu o conheci, ou melhor, nós o conhecemos, há mais de meio século: naquela época éramos um pequeno grupo de subversivos em busca de um caminho a seguir. Alguns eram católicos, outros eram ateus ostensivamente e pouco convictamente ou neopagãos imaginários: não gostávamos do comunismo soviético, não estávamos satisfeitos com o Ocidente liberal-democrata. Mas havia a "Guerra Fria", que confundia os contornos de qualquer verdade e nos impedia de avaliar corretamente o que acontecia no mundo. Obscuramente, entendemos que a hostilidade entre as duas superpotências ocultava uma ilusão: que era a máscara de uma cumplicidade surda e sombria, o truque para manter a hegemonia mundial através de uma parceria brutal. 

12/12/2021

Diego Fusaro - Pleonexia: A Origem Antiga do Consumismo, Doença do Ocidente

 por Diego Fusaro

(2020)


Se quiséssemos dar um nome à doença do Ocidente, encontrá-lo-íamos na esplêndida palavra grega para "querer ter mais": pleonexia. Platão a menciona várias vezes em seus diálogos. Com a esplêndida imagem do "Fedro", a pleonexia é a doença da alma na qual o cavalo negro, o da paixão, tomou o lugar do auriga da razão e do cavalo branco. A pleonexia é a triste paixão que nos leva a ceder ao desejo de mais e mais, traindo assim o imperativo délfico de "nada em excesso" (meden agan).

11/12/2021

Alain de Benoist - A Arte Europeia: Uma Arte de Representação

 por Alain de Benoist

(2015)


A maioria das religiões do mundo, não apenas as religiões indo-europeias ou pré-indo-europeias da antiga Europa, mas também as da Suméria e Babilônia, Egito e Mesopotâmia, Índia, Extremo Oriente, África Negra e América, demonstraram ao longo de sua história a preocupação de dar a seus deuses uma representação figurativa. A Bíblia é uma exceção. A proibição de fazer imagens é a segunda palavra (ou segundo "mandamento") no Decálogo: "Não farás para ti nenhuma imagem esculpida, nada semelhante ao que está no céu acima, ou na terra abaixo, ou nas águas sob a terra" (Êxodo 20:4; cf. também Dt 5:8).

A razão para esta proibição, que é repetida várias vezes no texto da Torá, é proscrever e combater a "idolatria". Na Bíblia, a proibição de imagens figurativas está imediatamente relacionada à proibição da adoração de ídolos (óved àvoda zara). O lugar ocupado pela segunda palavra no Decálogo é significativo a este respeito, e é por isso que o texto deve ser lido em continuidade: "Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagens de escultura [...] Não te curvarás diante delas nem as servirás, pois eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus zeloso que castiga a iniquidade dos pais sobre os filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam, mas faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos" (Êxodo 20:3-6).

10/12/2021

Campanha de Pré-Venda das obras "Para Além dos Direitos Humanos", de Alain de Benoist, e "Globalização Infeliz", de Diego Fusaro, pela Editora ARS REGIA

 


A equipe da Legio Victrix declara seu apoio à campanha de pré-venda de Natal da ARS REGIA: "Para Além dos Direitos Humanos. Defender as Liberdades", do influente filósofo dissidente francês Alain de Benoist e "Globalização Infeliz: Onze Teses Filosóficas sobre o Mundo do Mercado", do filósofo comunitarista italiano Diego Fusaro.

O filósofo francês traça as origens da ideologia dos direitos humanos, distinguindo entre o pensamento jurídico pré-moderno e o moderno, investigando as raízes da noção de direito subjetivo, apontando a essência ocidental dos "direitos humanos", desnudando a instrumentalização imperialista da narrativa dos direitos humanos e oferecendo outras possibilidades de defender o bem comum e ideias de justiça.

Já o filósofo italiano, em sua obra, expõe detalhadamente a natureza estratificada da sociedade global pós-liberal e pós-moderna, narra o processo de virada totalitária da globalização, aponta para as migrações em massa como expressão da natureza líquida do capital, atualiza o conflito geopolítico fundamental entre Terra e Mar, equipara terrorismo e globalismo, e defende um comunitarismo e a solidariedade entre nações soberanas como resposta ao globalismo.

São dois autores indispensáveis para todos que querem compreender os principais dilemas políticos, filosóficos, jurídicos, econômicos, sociais e culturais do mundo contemporâneo.

Para apoiar e garantir seus livros: 

https://www.catarse.me/para_alem_dos_direitos_humanos_e_globalizacao_infeliz

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07/12/2021

Aleksandr Dugin - Lênin: O Avatar Vermelho da Ira

 por Aleksandr Dugin

(2004)

Eu não gostava de Vladimir Ilyich Lênin (1870-1924) antes. Todos ao meu redor viviam repetindo: "Lênin, Lênin....". A maioria está sempre errada. Durante a era soviética, eu costumava levar meu filho pequeno para cuspir nas estátuas de Ilyich. Na época, eu lia Evola e Malynsky e acreditava que Lênin era o principal agente contrainiciático do "mundo moderno", destruidor do último reduto da Tradição: o Império Ortodoxo Russo.

Eu zombava de Lênin e desprezava os leninistas, e ao ver citações de suas obras, sentia vontade de derramar água fervente sobre os autores que usavam essas citações. Recordemos que, naqueles dias, a esmagadora maioria dos atuais reformistas liberais eram leninistas entusiasmados, glorificando Ilyich com suas línguas sempre prontas, enroscando em seus casacos, mexendo e guinchando como em um buraco úmido e aconchegante.

04/12/2021

ARPLAN - Rudolf Jung: O Karl Marx do Nacional-Socialismo Alemão

 por Rudolf Jung

(2019)


Primeiros Anos

Rudolf Jung nasceu em 16 de abril de 1882 em Plass, uma pequena cidade no rio Střela, no coração da Boêmia. A infância de Jung foi passada em Iglau, uma cidade da região vizinha da Morávia. Além de ser uma guarnição para os militares locais, Iglau era uma "ilha linguística", um enclave para alemães étnicos nas terras tchecas do Império Austro-Húngaro. O número significativo de alemães sudetos na área gerou uma atmosfera de tensão racial; desde os anos 1880 havia competição e conflito entre trabalhadores tchecos e alemães na cidade, uma atmosfera que moldaria a percepção de Jung como criança e teria um impacto significativo no desenvolvimento de sua visão como um adulto.

Quando adolescente, Jung foi enviado a Viena para estudar em sua Escola Técnica Superior. Sua inteligência natural lhe garantiu um lugar na universidade e eventualmente, em 1906, um doutorado em engenharia mecânica que lhe abriu novas portas para o emprego como engenheiro ferroviário. Foi presumivelmente por volta deste período que o ativismo político de Jung começou. As ferrovias públicas austríacas estavam fortemente sindicalizadas, com os sindicatos divididos segundo linhas raciais - trabalhadores tchecos e alemães não apenas competiam por empregos, mas também competiam sobre quais idiomas deveriam ser usados na sinalização e papelada, quais administrações provinciais gerenciariam quais trechos de trilhos, quantos tchecos poderiam ser empregados no território da maioria alemã (e vice-versa), etc. A Áustria-Hungria tinha um grande número de sindicatos nacionalistas divididos segundo linhas étnicas e, como resultado dessas disputas, os maiores e mais fortes eram os dos ferroviários. Jung foi jogado bem no meio deste fermento.

28/11/2021

Julius Evola - Cavalgar o Tigre

 por Julius Evola

(1957)

A imagem de cavalgar o tigre tem uma origem oriental. Trata-se de um provérbio extremo-oriental que diz que "aquele que cavalga o tigre não pode descer" porque, naturalmente, o animal o atacaria. Em vez disso, se ele mantiver o controle, pode estar certo nisso. Símbolos semelhantes, porém, podem ser encontrados em outros lugares no mesmo domínio religioso. Nos antigos mistérios de Mitra, dos quais conhecemos a grande difusão que tiveram no Império Romano, especialmente entre as legiões, Mitra, o herói divino, foi retratado como aquele que agarra um touro furioso pelos chifres, deixa-se arrastar por ele em uma corrida louca e não abandona a presa até que o animal, exausto, pare. Então ele o mata.

26/11/2021

Gianfranco de Turris - Entrevista com Julius Evola - Introdução à Leitura de Evola

(Entrevista de Julius Evola a Gianfranco de Turris)

(1971)



O conceito de Tradição se repete em seus escritos. Você poderia explicar brevemente em que sentido especial você usa este termo?


É essencialmente o sentido dado por René Guènon e seu grupo. Em primeiro lugar, por "civilização tradicional" entendemos uma civilização orgânica, tal que nela todas as atividades são orientadas de forma unitária segundo uma ideia central e, propriamente, "de cima e para cima". "Para cima" significa em direção a algo superior àquilo que é naturalista e simplesmente humano. Esta orientação pressupõe um conjunto de princípios com uma validade normativa imutável e um caráter metafísico. Tal conjunto pode ser chamado de Tradição no singular, porque os valores e princípios básicos são essencialmente os mesmos nas tradições históricas individuais, além de uma variedade de adaptações e formulações. Quem reconhece estes valores e os afirma pode se chamar de "Homem da Tradição".

24/11/2021

Aleksandr Dugin - O Fator Metafísico no Paganismo

 por Aleksandr Dugin

(1990)


Essas tradições que é costume chamar de "pagãs" são caracterizadas não tanto por um politeísmo real, mas por um imanentismo que permeia todos os seus aspectos. Na opinião das religiões monoteístas, a pecaminosidade teológica do "paganismo" é óbvia: ele ignora (seja consciente ou inercialmente) o princípio transcendente e apofático (isto é, formulado em termos negativos), cujo reconhecimento e culto incondicional constitui a condição sine qua non do monoteísmo. Entre as três religiões monoteístas, o judaísmo e o islamismo se agarram a esta linha de forma totalmente consistente, enquanto o cristianismo de sua parte dá passos significativos na outra direção ao afirmar que a figura central de seu culto e dogma é a hipóstase imanente do Divino, Deus, o Filho. Ao mesmo tempo, os cristãos também herdaram a argumentação abraâmica dos outros ramos do monoteísmo contra os "pagãos".

No entanto, em nossa opinião, seria errado reduzir todas as diferenças entre monoteísmo e não monoteísmo ao reconhecimento da supremacia do princípio transcendente, uma vez que dentro das próprias tradições monoteístas surgiram incessantemente correntes que, embora reconhecendo incondicionalmente a justeza do transcendentalismo, conferem um valor metafísico especial às realidades imanentes, sendo assim de fato solidárias com a posição "pagã". Temos em mente, antes de tudo, as dimensões esotéricas das religiões abraâmicas (sufismo e xiismo extremo no Islã, cabala no judaísmo e hesicasmo no cristianismo), onde o acento invariavelmente recai sobre a imanência da Presença Divina. Assim, sem ignorar a transcendência da transcendência, a imanência pode ser metafisicamente enfatizada.

Quais são as razões profundas que condicionam isto?

20/11/2021

Giuseppe Spezzaferro - Mao: Descobrir os erros do passado e aprender com eles

 por Giuseppe Spezzaferro

(2020)


"Em nossa luta contra o subjetivismo, o sectarismo e o esquematismo, não devemos perder de vista dois princípios: primeiro, examinar o passado para aprender com ele para o futuro, e segundo, curar a doença a fim de salvar os doentes". 

É uma receita "maoísta" que ainda funcionaria hoje se fosse aplicada. O livreto "Citações das obras do Presidente Mao Tsé-tung" (hoje escrito Mao Zedong no Ocidente) tornou-se popular na Itália durante os anos de protesto juvenil. Não era raro ver os jovens desfilando por aí acenando seus "livretos vermelhos" (um nome nunca usado na China) e gritando máximas de estilo chinês. Para além das notas datadas, a validade de toda uma série de "lições" permanece. Por exemplo: 

"É absolutamente necessário descobrir quais erros foram cometidos no passado, independentemente de quem os cometeu, para analisar cientificamente e examinar criticamente tudo o que era ruim no passado, a fim de agir com mais cuidado e trabalhar melhor a partir de agora; este é o princípio: examinar o passado para aprender com ele para o futuro".

19/11/2021

Alex Ross - As Raízes Ocultas do Modernismo

 por Alex Ross

(2017)


Na Paris do início dos anos 1890, no auge da Decadência, o homem do momento era o romancista, crítico de arte e pretenso guru Joséphin Péladan, que se intitulava Le Sâr, em homenagem à antiga palavra acádia para "rei". Ele andava com um manto branco fluente, um casaco azul, um rufo de renda e um chapéu astrakhan que, em conjunto com sua cabeça peluda e barba de duas pontas, lhe dava o aspecto de um potentado do Oriente Médio. Ele estava em meio a escrever um ciclo de vinte e um volumes de romances, intitulado A Decadência Latina, que segue as aventuras fantasiosas de vários encantadores, adeptos, mulheres fatais, andróginos e outros inimigos do comum. Sua bibliografia também inclui textos literários, explicações da mitologia wagneriana e um livro de auto-ajuda chamado "Como alguém se torna um mago". Ele fez saber que completou o programa de estudos. Ele informou Félix Faure, o Presidente da República, que ele tinha o dom de "ver e ouvir nas maiores distâncias, útil no controle dos conselhos inimigos e na repressão da espionagem". Ele começou uma palestra dizendo: "Povo de Nîmes, só tenho que pronunciar uma certa fórmula para que a terra se abra e engula todos vocês". Em 1890, ele estabeleceu a Ordem da Católica Rosa + Cruz do Templo e do Graal, uma das várias seitas de fim de século que supostamente reviviam artes perdidas da magia. O auge de sua fama chegou em 1892, quando ele lançou uma exposição anual de arte chamada Salon de la Rose + Croix, que abraçou o movimento simbolista, com ênfase em suas roupagens mais exóticas. Milhares de visitantes passaram por ali, incertos se estavam testemunhando uma descoberta colossal ou uma piada monumental.

O feitiço desapareceu rapidamente. Na época da morte de Péladan, em 1918, ele já era visto como uma relíquia absurda de uma época de retrocesso. Ele agora é conhecido principalmente pelos estudiosos do simbolismo, conhecedores do ocultismo e devotos da música de Erik Satie. (Descobri pela primeira vez Péladan em conexão com a partitura de Satie, "Le Fils des Étoiles", ou "O Filho das Estrelas", de 1891; ela foi escrita para a peça de Péladan com esse título, que se passa na Caldéia em 3500 a.C. ) Seu contemporâneo Joris-Karl Huysmans continua sendo uma figura cult - "Contra a Corrente", romance de Huysmans de 1884, ainda é lido como uma cartilha da estética decadente - mas nenhum dos romances de Péladan foi traduzido para o inglês. Assim, quando uma exposição intitulada "Simbolismo Místico: O Salão da Rosa + Cruz em Paris, 1892-1897" abre no Museu Guggenheim, no dia 30 de junho, a maioria dos visitantes estará entrando em território desconhecido. A exposição ocupa uma das galerias da torre, em salas pintadas de vermelho sangue de boi, com móveis de veludo azul à meia-noite. Nas paredes, o Santo Graal brilha, anjos demoníacos pairam, mulheres irradiam santidade ou luxúria. O kitsch obscuro do fin de siècle nos chama.

18/11/2021

Gabriele Adinolfi - Um Viva ao Che!

por Gabriele Adinolfi

(2004) 

O Che é encontrado em todos os lugares: impresso nas camisetas da burguesia mais entediada, pintado em bottons, tatuado nos braços do bilionário Maradona, impresso nos banners dos fãs que se dizem de esquerda. Emblema de uma transgressão formal, de uma nostalgia enfadonha, o Che é morto todos os dias por aquela burguesia decadente contra cujo domínio de classe ele, leão indomável, havia decidido rugir e morrer.

A primeira vez que ele foi morto foi pela reação bruta e feroz que usava o uniforme militar boliviano. Ela, então, o matou uma segunda vez, sem nunca deixar de cometer o crime, fazendo dele um escárnio, sob o aplauso dos "progressistas" que não têm nada, absolutamente nada, em comum com a revolução do Che.

Enquanto isso, contra a maré, discretamente, delicadamente, muitos daqueles que deveriam tê-lo odiado desenvolveram uma paixão por este líder.

15/11/2021

Alberto Iannelli - A De-Cisão sobre o Estado de Ex-Ceção

por Alberto Iannelli

(2020)

Durante a década de 2020, muito tem sido debatido, em muitos lugares e disciplinas, sobre a doutrina do estado de exceção: até que ponto o governo e seu "direito" (Legalität) de aplicar a legislação podem suspender - dentro dos sistemas constitucional e parlamentar e em um regime Iluminista de contrapesos ou divisão dos poderes do Estado - certos direitos sancionados pela própria Lei fundamental daquela nação (da liberdade de circulação, culto e reunião, à liberdade de empreendimento) para corresponder a um evento que é incomum e gera uma condição de emergência? Ou, caso contrário, para perguntar quem tem o poder (Legitimität) de suspender a lei ordinária e decidir sobre o estado extraordinário, e antes de tudo decidir sobre o estado extraordinário, sobre seu ser?

Muitas pessoas, em muitos lugares e disciplinas, falando do estado de exceção aberto pelo evento pandêmico, evocaram a doutrina da soberania expressa na Teologia Política de Carl Schmitt.

Analisemos, portanto, como nossa prática e postura, diretamente o texto do autor, para verificar se sua concepção de soberania e do fundamento do poder podem, de alguma forma, ajudar a interpretação correta do horizonte excepcional de hoje ou se ele não evoca, na verdade, uma relação autoexcludente entre norma e decisão, direito e soberania, que para nós é tão distinta e longe de parecer paradoxal.

11/11/2021

Nicolas Gauthier - Entrevista com Alain de Benoist: "Desigualdades salariais entre homens e mulheres, o conto de fadas das neofeministas"

 por Nicolas Gauthier e Alain de Benoist

(2020)



Continuamos ouvindo isso repetidamente: na França, as mulheres recebem menos do que os homens. Em novembro passado, Marlène Schiappa declarou que, para habilidades iguais, as mulheres são pagas "em média entre 9% e 27% menos" do que seus colegas homens. Isto é confiável?

Nem por um momento, e é fácil de demonstrar. Mas falar de "desigualdades salariais" é ter uma visão já tendenciosa. Se compararmos os salários de um homem e de uma mulher na mesma posição, no mesmo nível, na mesma empresa e no mesmo lugar, vemos que a diferença é insignificante, se não inexistente. Um gerente de empresa que, por "machismo", quisesse reduzir sistematicamente os salários das mulheres, não teria possibilidade de fazê-lo porque a lei o proíbe. Este também tem sido o caso nos Estados Unidos desde a adoção do Equal Pay Act, em 1963.

10/11/2021

Julius Evola - Feminismo e Crepúsculo da Civilização

 por Julius Evola

(1933)


A doença niveladora e despersonalizante que prostra a civilização moderna tem aspectos tão complexos e tentaculares que nem todos são capazes de reconhecê-la por trás das máscaras, a fim de opor uma revolta decisiva e uma reação consciente a cada uma de suas formas.

Assim é que, não contente em ter agora quase irremediavelmente comprometido aquelas diferenças de casta, natureza e dignidade interna que foram o início de toda organização tradicional saudável; esforçando-se para trazer todo valor sob a lei da quantidade e o anonimato do mero coletivo social, uma ideologia contaminante quer que, após o nivelamento entre homem e homem, se proceda também a um entre sexo e sexo e que nisso se considere isso uma "conquista, um "progresso". E ainda assim, do mesmo estoque anti-hierárquico e antiqualitativo de tantas formas de degenerescência moderna, vemos a repulsiva "feminista" surgindo e tomando forma em dois países que são quase como os dois ramos de uma única pinça no processo de fechamento, do Leste e do Oeste, em torno da antiga Europa: Rússia soviética e América - já que a parificação bolchevique das mulheres com os homens em todos os aspectos da vida social é perfeitamente igualada pela completa emancipação que há muito lhes é concedida do outro lado do oceano.

Não se trata de aversões pessoais, nem dos preconceitos de uma época ou de um povo. O fenômeno feminista deve ser considerado essencialmente um sintoma que, ligado por uma lógica precisa a muitos outros, indica o advento de uma concepção através da qual o próprio ideal de "cultura", de civilização, especialmente no sentido clássico tradicional, vem a ser afetado mortalmente.

08/11/2021

Carlo Terracciano - A Rota e o Remo: Geopolítica e "Doutrina das Três Libertações" - Resposta ao Projeto Mundialista da Globalização

 por Carlo Terracciano

(2000)



Geopolítica e "Doutrina das Três Libertações": Resposta ao Projeto Mundialista da Globalização

"Uma grande escuridão está avançando sobre o mundo e nós devemos combatê-la. Não haverá jovens ou velhos em nosso tempo; todos terão que amadurecer rapidamente se quiserem ver a Luz novamente".

"Ai do povo cujos líderes, grupos dirigentes e massas não reconhecem as horas decisivas da Weltpolitik,... em sua consciência vinculada à realidade geográfica do solo". - Karl Haushofer (Weltpolitik von Heute)


Habitat e Paisagem


Ao longo de milhares e milhares de anos, o homem percorreu as estradas do mundo, por terra e por mar; cruzou os continentes de polo a polo, os rios, os mares, os três grandes oceanos do globo, subindo montanhas e descendo nas profundezas do mar e em cavernas, construindo pontes sobre rios e estreitos, explorando os cantos mais remotos e selvagens do planeta, desde o gelo eterno até os desertos tumultuosos. Hoje, sua sede de conhecimento e conquista o lança para a Lua, Marte, os planetas do sistema solar e, eventualmente, para o vazio sideral. Mas ao longo dos séculos e milênios, os povos, seguindo quase os mesmos caminhos traçados pela geografia, mares, montanhas, estreitos, grandes rios e lagos, também encontraram na Terra espaços para se estabelecer, construindo suas casas, criando gado, cultivando o solo ou escavando as entranhas das montanhas em relativa profundidade; em suma, modificando a paisagem e adaptando-a às suas próprias necessidades de sobrevivência e desenvolvimento. 

Na Europa, esta atividade alterou profundamente a natureza original da península. O homem é um "animal social" por excelência. Ao longo da história, os povos se organizaram em aldeias, tribos, federações de vários tipos, cidades e estados, nações e impérios. A pé ou a cavalo, usando a roda das carruagens ou o remo de balsas e navios, nossos ancestrais distantes percorreram o comprimento e a largura do continente, seus mares interiores e seus oceanos limítrofes. Em seu MOVIMENTO contínuo, com o passar do TEMPO, cada um ocupou seu ESPAÇO vital no globo e sua própria POSIÇÃO; geográfica com respeito ao território e política com respeito às outras entidades humanas circunvizinhas. 

01/11/2021

Aleksandr Dugin - Princípios Fundamentais da Política Eurasianista

 por Aleksandr Dugin

(2004)


1. Três modelos (soviético, pró-ocidental, eurasianista)


Na Rússia atual, existem três modelos básicos de estratégia estatal mutuamente conflitantes, tanto em termos de política externa como doméstica. Estes três modelos constituem o moderno sistema de coordenadas políticas no qual cada decisão política do governo russo, cada passo internacional, cada problema social, econômico ou legal grave é resolvido. 

O primeiro modelo representa o clichê inercial do período soviético (principalmente do final da União Soviética). De uma forma ou de outra, ele se enraizou na psicologia de certos sistemas organizacionais russos, levando-os, muitas vezes inconscientemente, a tomar esta ou aquela decisão com base em decisões anteriores. Este modelo é apoiado pelo argumento "sólido": "O trabalho já foi feito antes e será feito agora". Não diz respeito apenas aos líderes políticos que exploram conscientemente a tez nostálgica dos cidadãos russos. A referência ao modelo soviético é muito mais ampla e profunda do que as estruturas do PCFR [Partido Comunista da Federação Russa], que agora está à margem do poder executivo, longe dos centros de tomada de decisão. Em todos os lugares, políticos e funcionários, que de forma alguma se identificam formalmente com o comunismo, são guiados por este modelo. É um efeito da educação, da experiência de vida, do treinamento. A fim de compreender a substância dos processos subjacentes à política russa, é necessário admitir este "sovietismo inconsciente". 

O segundo modelo é o modelo liberal-democrático e pró-americano. Começou a tomar forma com o início da "perestroika" e se tornou uma espécie de ideologia dominante na primeira metade dos anos 90. Como regra, os chamados reformistas liberais e as forças políticas próximas a eles se identificam com ela. Este modelo se baseia na escolha, como sistema interpretativo, do aparato sócio-político americano, rastreando-o até a situação russa e seguindo os interesses nacionais dos EUA no que diz respeito aos problemas internacionais. 

29/10/2021

José Alsina Calvés - Heidegger e o Nacional-Socialismo

por José Alsina Calvés

(2021)


É comum em pseudo-debates pós-modernos sobre autores ou obras recorrer a rótulos. É muito mais fácil apontar um dedo inquisitorial a um autor e enviá-lo definitivamente para a "lata de lixo da história" do que analisar seriamente sua obra no contexto. Nessas acusações "rituais", as razões morais são misturadas com as intelectuais. 

No caso de Heidegger, o papel de inquisidor coube a Victor Farias, com seu panfleto imundo Heidegger e o Nacional-Socialismo. Escrito dentro do espírito de uma "causa geral", cheio de absurdos e contradições, e mostra uma ignorância maliciosa do que eram realmente os movimentos fascistas na Europa. Entre outras coisas, afirma que a educação católica de Heidegger o predispôs às ideias nacional-socialistas, "esquecendo" que o nacional-socialismo triunfou em um país, a Alemanha, que era em grande parte luterano, e "esquecendo" que foi precisamente o afastamento da Igreja Católica que favoreceu a abordagem de Heidegger em relação às ideias nacional-socialistas.

Mesmo que Heidegger tivesse sido um nacional-socialista até o final, mesmo que ele tivesse sido membro do NSDAP até o último momento, o que não foi, sua obra filosófica ainda seria uma das mais importantes do século XX. Pode-se condenar moralmente a pessoa de Heidegger, mas a condenação moral não tem nada a ver com o valor de uma obra intelectual. Ninguém pensaria em criticar a física de Newton por ele ser mesquinho, vingativo e um pouco paranoico. 

25/10/2021

Luca Siniscalco - Entrevista com Jafe Arnold: "Dugin, O Filósofo Mais Perigoso do Mundo"

 por Luca Siniscalco e Jafe Arnold

(2019)

Um dos aspectos mais estimulantes do estudo do esoterismo é sem dúvida a sua transversalidade temporal e a pluralidade das suas "gemações" internas: a combinação destes elementos permite um estudo diacrónico, baseado na articulação cronológica, bem como um sincrônico, através da comparação e estudo profundo de ideias, temas, arquétipos e figuras. Cruzar as duas metodologias não é uma tarefa fácil, mas pode conduzir a resultados sem precedentes, mesmo no que diz respeito à rigorosa contemporaneidade. É o que nos propusemos fazer nesta entrevista, que visa explorar as peculiaridades da investigação esotérica do conhecido intelectual russo Aleksander Dugin.

Uma leitura rápida dos títulos das suas obras e um olhar rápido sobre as fontes bibliográficas das suas obras é suficiente para compreender como a sua obra cobre uma vasta gama de cenários e disciplinas - da filosofia contemporânea à filosofia antiga, da geopolítica à sociologia, da antropologia à história das religiões, das relações internacionais ao esoterismo - e como a natureza complexa e proteiforme da sua produção intelectual não pode ser reduzida à vulgata do jornalismo ocidental, que até agora tem tematizado - muitas vezes em tons farsescos - apenas as suas reflexões sobre assuntos políticos atuais. Numa inspeção mais atenta, porém, torna-se claro que mesmo o Dugin dos tempos modernos, polemista político e eurasianista, recorre a estruturas conceituais, linguísticas e simbólicas que são intrinsecamente esotéricas nos seus argumentos. Dugin não só dedicou a maior parte dos seus esforços à publicação de obras metafísicas, histórico-religiosas, e esotéricas (poucas das quais, infelizmente, foram traduzidas para línguas europeias, e quase nenhuma delas é conhecida pelos estudiosos da corrente dominante), mas mesmo quando fala e escreve sobre questões distintas - política, atualidade, até cultura pop - as categorias interpretativas que adopta refletem sempre uma hermenêutica mítico-simbólica impregnada de esoterismo.

21/10/2021

Alberto Buela - Bolsonaro é de Extrema-Direita?

 por Alberto Buela

(2018)


Todos os meios de comunicação de massa, sem exceção, têm classificado e classificam Bolsonaro como um homem de extrema-direita e explicam sua vitória pelo apoio que ele recebeu dos meios de comunicação de massa. Isto é uma contradição em si mesma.

Primeira questão: se Bolsonaro é ultradireita, então onde estão situados os candidatos neonazistas ou filofascistas que estão surgindo em todos os lugares? Na estratosfera, fora do mundo?

Isto mostra, mais uma vez, que o esquema esquerda-direita para analisar os fenômenos políticos é insuficiente, se não falso. Este esquema tem sido denunciado desde a época de Ortega y Gasset, Perón, De Gaulle e centenas de pensadores e analistas políticos. Mas os satisfeitos com o sistema, ou seja, o "progressismo", estão cegos para entender isso. Ou, talvez, joguem às cegas porque é conveniente para eles.

18/10/2021

Michele de Feudis - Entrevista com Riccardo Rosati: "Mishima, o Universo de um Esteta Armado"

 por Michele de Feudis

(2021)


Professor Riccardo Rosati, Yukio Mishima é considerado um "esteta armado". A que se deve esta interpretação?

Mishima, tomando emprestada a preciosa definição que Marguerite Yourcenar lhe deu em sua excelente Mishima ou a Visão da Vida (1980), é um "universo" no qual, de fato, o lado estético - explico em meu livro - desempenha um papel preponderante. A este elemento, o grande intelectual e escritor japonês acrescentou a disciplina marcial/militar, no signo da redescoberta de uma herança nodal daquela cultura tradicional japonesa à qual ele, na "segunda parte" de sua vida, se referiu com vigor e rigor; ou seja, o Bunbu Ryōdō (文武両道, o Caminho da Virtude Literária e Guerreira), onde a caneta se torna metaforicamente uma espada. Felizmente, esta teoria vem ganhando terreno na exegese de Mishima já há algum tempo, embora mais no exterior do que na Itália, para ser honesto. O que permanece crucial para entender, entretanto, é que ele conseguiu soldar estes dois mundos juntos, fazendo de sua própria existência sua principal "obra de arte"; de seu corpo um templo e de sua escrita uma forma sublime de luta política. 

17/10/2021

Claudio Scabuzzo - O Peronismo Esotérico

 por Claudio Scabuzzo

(2019)


"A metafísica e a cosmogonia religiosa tentaram reduzir o mundo a símbolos ou ideias primordiais" Jorge Luis Borges

Da divindade dos reis ao juramento dos governantes com uma Bíblia, questões religiosas ou quase-religiosas sempre estiveram envolvidas com o poder. Uma aliança que, em algumas ocasiões, funcionou bem para grupos no poder porque eles foram capazes de se perpetuar com a bênção mística, mas não para seus subordinados. A política e a fé cimentaram Estados poderosos, mas às vezes também levaram seus habitantes ao desastre.

Existem religiões massivas, organizadas como um Estado. Existem outras menores descritas como quase religiões ou seitas, mas que compartilham os mesmos ingredientes: Elas têm um fundador, textos sagrados, ritos e crenças baseadas na fé. Seus membros acreditam na existência de um ser superior, seguem um conjunto de princípios religiosos, regras de comportamento social e individual e consideram essa crença um aspecto importante ou essencial de sua vida. Às vezes, estes cultos estão ligados à política de tal forma que se tornam uma única entidade. Alguns descrevem os grupos islâmicos, o fascismo, a máfia italiana, a maçonaria e o comunismo como quase-religiões ou muito próximas a elas.  Não deve ser surpresa que um movimento político recorra a elementos de Fé para alcançar seus objetivos, já que as religiões nasceram com a humanidade como um meio de controle social.

Hoje, no século XXI, encontramos traços de religiões em movimentos políticos que passam desapercebidos por muitos. Juramentos de fidelidade, elementos ou símbolos catalogados como sagrados ligados à nacionalidade, uniformes ostensivos das autoridades civis que os transformam em faraós, atos patrióticos de tipo ritual, obras monumentais com objetivos de perpetuidade do criador e posições de poder próximas ao messianismo. A vida para Deus e o país é um dogma que inflama paixões, entre outras coisas. Grande parte do mundo vive com esta dualidade e não reconhece que parte de seus problemas são antigas tradições doutrinárias de fé que limitam a liberdade individual e o desenvolvimento de uma sociedade igualitária. Confrontá-los é, em alguns lugares, um desafio.

O fanatismo religioso, a devoção ao ocultismo e o desejo de poder levaram algumas pessoas esclarecidas a formar lojas secretas baseadas em diferentes cultos e filosofias, onde elaboraram planos complexos para salvar a humanidade do mal. Iluminadas pelo conhecimento "sobrenatural", suas ideias seduziram as figuras mais eminentes, influenciaram-nas e tornaram-se parte de seu círculo interno. A maçonaria tem uma história de séculos dessas práticas, que foram copiadas por outras lojas com intenções diversas. Assim surgem as lojas dogmáticas que se alimentam de parapsicologia, astrologia, espiritualismo, magia e alquimia, onde os escolhidos e iluminados afirmam ir contra as leis naturais com seus dons especiais e misteriosos.

Quando uma religião ou quase-religião toca um líder político de massa, as consequências são muitas vezes catastróficas. Em uma época, poderosos grupos esotéricos entraram na vida de Juan Domingo Perón com demasiada facilidade. Havia um porquê.

01/10/2021

Aleksandr Dugin - O Pacto Histórico com a Pátria

 por Aleksandr Dugin

(2018)


Ao analisar a relação existente entre a experiência da Rússia Soviética e a ortodoxia marxista, correlacionando-as, Gramsci chegou a uma conclusão deveras interessante: em determinados contextos históricos, é possível ignorar a ausência das condições revolucionárias infraestruturais. Em outras palavras, se houver uma Vanguarda Política composta por militantes altivos, corajosos, fortes, inseridos dentro de uma força política (Partido), e se a mesma for suficientemente consistente, é possível agir de modo alheio às condições infraestruturais: uma vez que se tome o poder, essas condições poderão ser estabelecidas.

Em certo sentido, tal ideia foi antecipada por Lênin em seu O Estado e a Revolução (como assinalaria Trótski), isto é, a perspectiva da tomada do poder em um país agrário para nele efetivar reformas, levando-o a um padrão industrial e, simultaneamente, estimulando revoluções socialistas de pleno direito em países da Europa Ocidental. Gramsci foi capaz de traduzir essa realidade paradigmaticamente.

Para Gramsci, o leninismo é algo diferente do marxismo, uma vez que se funda na tese (não)marxista de que o eixo da Vanguarda Política pode agir antes de estabelecidas as condições de possibilidade concretas: noção que é confirmada pela experiência russa e chinesa.

30/09/2021

Thierry Meyssan - Qual é o Projeto de Israel para a Argentina?

 por Thierry Meyssan

(2017)


No século XIX, o governo britânico hesitara em instalar Israel na atual Uganda, na Argentina ou na Palestina. Com efeito, a Argentina era então controlada pelo Reino Unido e, por iniciativa do barão francês Maurice de Hirsch, tinha-se tornado uma terra de acolhimento para os judeus fugindo dos pogroms da Europa Central.

No século XX, após o golpe de Estado militar contra o General Juan Perón, presidente democraticamente eleito do país, uma corrente antissemita desenvolveu-se no seio das Forças Armadas. Ela difundiu um folheto acusando o novo Estado de Israel de preparar uma invasão da Patagônia, o Plano Andinia.

Parece, hoje em dia, que se a extrema-direita argentina tinha exagerado os fatos nos anos 70, havia, afinal, um projeto de implantação (e não de invasão) israelense na Patagônia.

29/09/2021

Aleksandr Dugin - A Doutrina Tradicional dos Elementos (Lição II): Continuidade e Descontinuidade dos Elementos

ÍNDICE

Lição I: A Restauração dos Fundamentos Filosóficos da Ciência
Lição II: Continuidade e Descontinuidade dos Elementos
Lição III: Os Elementos no Mito da Caverna de Platão. Símbolos da Hierarquia Ontológica e dos Estados do Ser
Lição IV: A Metafísica da Luz


por Aleksandr Dugin

(2021)

Transcrição da comunicação do IIº Encontro do Clube dos 5 Elementos


A  relação entre continuidade e descontinuidade

O problema central da filosofia da ciência é a relação entre continuidade e descontinuidade. É possível solucionar esse problema da relação justa entre continuidade e descontinuidade se conseguirmos situar ambas em suas posições corretas do ponto de vista da aletologia. Com isso, poderíamos resolver muitos problemas filosóficos, linguísticos e científicos. 

Não devemos nos afastar desse ponto. Quando falamos em continuidade e descontinuidade há uma presunção geral de que se sabe do que estamos falando, por isso vamos nos concentrar nessa questão.

Na física tradicional ou sagrada, o mundo (physis) é contínuo. Ao mesmo tempo, o Logos, o Intelecto é descontínuo. Essa é a relação fundamental, a realidade última e ontológica. Quando falamos no cosmos, podemos falar no cosmos em seu aspecto lógico (intelectivo), e nesse caso estamos lidando com um cosmos descontínuo. Mas quando falamos no cosmos por si mesmo, o mundo ou natureza tal como é, falamos em continuidade. O mundo é contínuo e descontínuo. Ele é descontínuo graças à ação do Logos e contínuo por si mesmo. Essa consideração é central para situarmos as coisas em seus devidos lugares.

26/09/2021

Emil Cioran - O Perfil Interior do Capitão

por Emil Cioran

(1940)


Antes de Corneliu Codreanu, a Romênia era um Saara habitado. Aqueles que se encontravam entre a terra e o céu não tinham nada para fazer, a não ser esperar. Alguém tinha que surgir.

Nós todos atravessamos o deserto romeno, incapazes de qualquer coisa. Até o desprezo parecia um esforço para nós.

Nós só podíamos contemplar nosso país sob uma luz negativa. Em nossos momentos de mais louca esperança, nós a dávamos a justificativa temporária de uma boa piada. E a Romênia não era nada além de uma boa piada.

Nós girávamos no ar livre, vazio de passado e presente, desfrutando da doce libertinagem e da ausência de destino.

Este pobre país era uma vasta pausa entre um começo sem grandeza e uma vaga possibilidade. Em nós, o futuro gemia. Em uma pessoa, ele fervia. E ele, ele rompeu o doce silêncio de nossa existência e nos forçou a ser. As virtudes de um povo estavam encarnadas nele. A Romênia das possibilidades caminhava na direção da Romênia do poder. 

24/09/2021

Claudio Mutti - A Hinterlândia Romena de Jean Parvulesco

 por Claudio Mutti

(2012)

Quando, como adolescente, vi Acossados no cinema, não podia imaginar que mais tarde lidaria com Jean Parvulesco, cujo papel foi interpretado no filme por Jean-Pierre Melville. Entretanto, alguns anos depois, em 1974, aprendi com os procedimentos de um julgamento político que o personagem da história de Jean-Luc Godard realmente existia e que ele queria fazer um acordo com outros subversivos, com vistas a um próximo Endkampf [1], baseado em dois pontos: "a) adesão à política de luta internacional contra o bipolarismo russo-americano na perspectiva da "Grande Europa", do Atlântico aos Urais; b) contatos com as forças que a partir do gaullismo e do neutralismo eurasiático propunham esta linha internacionalista" [2].

Três anos depois, em 1977, por acaso li em um boletim editado por Yves Bataille, "Correspondance Européenne", um longo artigo intitulado A URSS e a Linha Geopolítica, que parecia confirmar os rumores espalhados por alguns "dissidentes" soviéticos sobre a existência de uma tendência eurasianista dentro do Exército Vermelho. O autor do artigo (do qual publiquei a tradução italiana na edição de janeiro-abril de 1978 de um periódico intitulado "Domani") foi Jean Parvulesco, que resumiu nos pontos seguintes as teses fundamentais do que ele apresentou como "os grupos geopolíticos do Exército Vermelho", teses expressas em uma série de documentos semiclandestinos que haviam entrado em sua posse.

20/09/2021

Georges Feltin-Tracol - Os Três Erros de Charles Maurras

 por Georges Feltin-Tracol

(2011)


Para este Titanic que é a Universidade Francesa, Charles Maurras só pode ser um personagem sinistro com ideias nauseantes que se deleitou nos "anos mais negros de nossa história" (significando a ocupação alemã entre 1940 e 1944). Esta interpretação falaciosa atesta a imensa tolice de seus autores.

Por mais de cinquenta anos, Charles Maurras teve um verdadeiro domínio sobre a República das Letras. Este poeta - romancista - jornalista - doutrinador e panfletário trabalhou toda sua vida para o triunfo de suas ideias. Entretanto, três grandes erros impediram a sua realização.

17/09/2021

Aleksandr Dugin - Islã contra Islã

 por Aleksandr Dugin

(2000)


O mito de uma única "ameaça islâmica"


Entre os modernos mitos políticos fabricados pelos arquitetos da "nova ordem mundial" e consumidos pelas massas ingênuas, um dos mais persistentes está o mito do "fundamentalismo islâmico unificado" como uma "força obscurantista selvagem", ameaçando a civilização da humanidade, e especialmente o "Norte rico". A existência do "perigo islâmico (ou fundamentalista)" para justificar os líderes da OTAN, a própria existência desta União. O mesmo argumento é uma das relações políticas e estratégicas mais importantes entre o Ocidente e a Rússia. Diante deste mal imaginário, o Ocidente assume o papel de protetor da Rússia. Ao menos é o que dizem os funcionários da OTAN e os embaixadores de Washington nas negociações com os russos. Na verdade, as coisas são bem diferentes. Este conceito é apenas uma cortina de fumaça, uma cobertura para a implementação pelo Ocidente de suas reais e muito mais sofisticadas e sutis operações estratégicas, de acordo com as regras da estratégia clássica, apartando aliados potenciais no campo dos concorrentes para lidar com cada um deles sozinho.

14/09/2021

Diego Echevenguá Quadro - Introdução à Ideia de Uma Revolução Conservadora

 por Diego Echevenguá Quadro

(2021)

“A revolução nada mais é do que um apelo do tempo para a eternidade”. G.K. Chesterton

     É tido como natural no campo da filosofia política contemporânea que existe uma afinidade imediata entre liberais e conservadores. Os primeiros seriam definidos pelo seu apreço pelas liberdades individuais (econômica, política, de ideias, religiosas e etc.) e sua rejeição ferrenha da intervenção do estado nos assuntos privados dos cidadãos; os segundos seriam reconhecidos pelo seu apego à tradição, aos costumes consolidados, à moral estabelecida pelo senso comum e pela religião, e por seu ceticismo em relação a projetos políticos globais. Dessa forma, liberais e conservadores formariam uma aliança sempre que o indivíduo fosse ameaçado de ser tragado por tentativas políticas de transformação radical das condições sociais estabelecidas. Conservadores e liberais se dariam as mãos frente ao medo de qualquer sublevação radical deitar por terra a tradição ou a figura estável do indivíduo liberal. Por essa perspectiva nos parece impensável que essa aliança seja factível e vitoriosa; visto que o medo só pode servir como vínculo sólido a crianças assustadas em uma floresta à noite, mas jamais a homens e irmãos de armas que se reúnem em uma taverna para beber e a gargalhadas contar seus feitos e proezas realizadas num campo de batalha.

07/09/2021

Nicolas Bonnal - Marx e Tocqueville Perante a Mordor Anglo-Saxã

por Nicolas Bonnal

(2017)



É verão e com ele vem as sazonalidades: a lista de bilionários da repugnante revista Forbes, retomada pelos papagaios cacarejantes. Ao mesmo tempo, aprendemos que 30% dos alemães estão fazendo fila para conseguir um segundo emprego. Há trinta anos, Louis Althusser disse em uma revista marxista que o entrevistava, que a miséria da exploração havia sido deslocada: vejam essas imagens industriais da China, Bangladesh e México para distração. Além disso, "aqueles bons tempos não existem mais, como diz Racine, e hoje encontramos boas e velhas fábricas de miséria na Europa. Sem partido comunista, sem exigências salariais, etc. O capital venceu.

04/09/2021

Aleksandr Dugin - Nós Vamos Curá-lo com Veneno (Ensaio sobre a Serpente)

 por Aleksandr Dugin

(2001)


1. A Evolução dos Animais Capitalistas

Tradicionalmente, há uma atitude negativa em relação à serpente. É um termo de insulto. Em memória da tentação de Eva no Paraíso, os répteis foram privados de pernas e rastejam sobre suas barrigas em solo úmido e rude. A serpente incorporou Satanás. O espírito negro galopa pelo cemitério em seu cavalo sem pernas e escamoso durante a noite, assustando os vampiros e os coelhos que dormem nos arbustos. Por ser venenosa, fria e flexível, a serpente atrai pouca simpatia. Marx nomeou a toupeira como um símbolo do capitalismo. Como uma toupeira cega, o capitalismo escava buracos sombrios nos corações dos povos, percorrendo os labirintos vampíricos com valor crescente para o benefício da minoria mais mesquinha e para os incontáveis sofrimentos da maioria mais silenciosa. Gilles Deleuze observou corretamente que o capitalismo moderno está mudando seu símbolo. A toupeira clássica esgotou suas oportunidades. Seus buracos sujos tomaram o chão infeliz de modo que a realidade se tornou uma peneira universal, da qual os habitantes daquele lado da grande parede fazem caretas. A Era do Toupeira terminou. O capitalismo, como afirma Gilles Deleuze, está entrando em uma nova fase; a fase da serpente. 

02/09/2021

Alain de Benoist - Sobre Homens e Animais

 por Alain de Benoist

(2021)


O pensamento antigo - com Tales, Anaximandro, Heráclito, Xenófanes e muitos outros - era fundamentalmente monista. A partir da constatação de opostos, não se derivava o dualismo, mas a conciliação dos contrários. Na Antiguidade, a divindade não era confundida com os homens, os homens com os animais, os animais com o mundo vegetal, os vegetais com matéria inanimada, mas a cada um era atribuído um nível diferente dentro de um processo contínuo de percepção. Para os antigos, tudo era vivo, tanto humanos quanto animais, a partir de um princípio de vida e movimento, que os gregos chamavam de psyche, um termo geralmente traduzido como "alma" (note-se que o termo latino anima está na origem da palavra "animal").

Para Aristóteles, o homem é meramente um animal dotado de logos, o único animal "racional". Note, entretanto, que Aristóteles não diz que o homem é o único ser dotado de razão, mas que ele é o único "animal dotado de razão", fórmula que mostra claramente o que une o homem e o animal e, ao mesmo tempo, o que os diferencia. Para Aristóteles, a alma do homem difere da dos animais no sentido de que o homem pode acessar o pensamento conceitual e extrapolar noções gerais a partir de suas percepções singulares, mas esta diferença, embora decisiva, é ao mesmo tempo relativa: não se trata de uma ruptura clara entre o mundo animal e o mundo humano, mas de uma escada ininterrupta do mundo inanimado até Deus. Em outras palavras, Aristóteles reconhece a unidade do mundo, do mundo inteiro, e introduz uma hierarquia nele.

30/08/2021

Giacomo Maria Prati - O Sujeito Radical de Aleksandr Dugin

 por Giacomo Maria Prati

(2021)


A escuridão russa é única,
é a única que pode ser consagrada.
A escuridão russa, materna e profética.

(Aleksandr Dugin, Il Soggeto Radicale, AGA Edizioni)


Mito grego e pós-nietzscheanismo, imagens órficas e literatura russa, visões apocalípticas, Hegel, hiperbóreos, Aristóteles, Ortodoxia, Niccolò Cusano, Massimo Cacciari, Evola, xamanismo pré-socrático, alquimia, Heidegger e muito mais numa visão de humanidade única e orgânica e, ao mesmo tempo, projetada para um futuro próximo. Como isso é possível? Como podemos manter juntos espaços tão vastos de pensamento, mito e meditação? Como podemos voltar a uma filosofia do Homem e do Cosmos após a "morte da filosofia" pós-Heidegger e a sua desarticulação em mil riachos paracientíficos e setorizados: filosofia da ciência, filosofia da linguagem, filosofia sociológica e assim por diante? Com Aleksander Dugin estamos testemunhando este prodígio histórico sem precedentes: o retorno da grande filosofia, ou seja, da filosofia em seu coração mais universal, cósmico e perene: filosofia como pensamento sobre a totalidade, sobre a origem e como meditação supratemporal.

Talvez só na Rússia e por um russo tenha sido possível uma novidade tão surpreendente, que contradiz tanto o "fim da história" na sujeição ao modelo socioeconômico predominante quanto a pseudo-fatalidade de um pensamento meramente dialético, conflituoso e fragmentário, adequado a uma complementar e permanente clash of civilizations. Tentemos uma síntese não fácil de seu pensamento filosófico contido em seu último e mais importante livro recentemente publicado na Itália, a fim de entender um pouco o que ele quer dizer com "sujeito radical".

28/08/2021

Aleksandr Dugin - A Doutrina Tradicional dos Elementos (Lição I): A Restauração dos Fundamentos Filosóficos da Ciência

ÍNDICE

Lição I: A Restauração dos Fundamentos Filosóficos da Ciência
Lição II: Continuidade e Descontinuidade dos Elementos
Lição III: Os Elementos no Mito da Caverna de Platão. Símbolos da Hierarquia Ontológica e dos Estados do Ser
Lição IV: A Metafísica da Luz


por Aleksandr Dugin

(2021)

Transcrição da comunicação do Iº Encontro do Clube dos 5 Elementos



A ideia geral do Clube dos Elementos era de retornar a um momento em que os erros mais graves foram cometidos no desenvolvimento da ciência moderna ocidental. A aplicação dos princípios do tradicionalismo, identificados e desenvolvidos por Guénon e Evola. Mas ir além. Continuar seu trabalho, não concentrando apenas na crítica evidente da modernidade, mas tentar retornar à situação intelectual, filosófica e científica que correspondia a uma normalidade intelectual e cultural. Não apenas criticar o que há hoje, mas tentar fazer algo de mais concreto. 

Quando se fala na ciência sagrada, que existia antes da ciência moderna há a impressão geral de que se trata de fantasia, de ocultismo, de misticismo, mas é importante individuar onde estava a verdade filosófica e científica que existia antes do cometimento desses erros. Em que consistiam esses erros? Como explicar em linguagem atual quais eram esses erros, graves e centrais, que perverteram o desenvolvimento do mundo moderno? 

Quando surgiu a ideia do Clube dos Elementos, a vontade era voltar o estudo para uma cosmologia, não tanto sobre a metafísica ou a antropologia ou a política, mas se concentrar na física sagrada, que precedeu a física profana. A física verdadeira, não a metafísica, mas a física fundamental e sagrada que precedeu o aparecimento da física incorreta, falsa, pseudologia. Física aletológica x física pseudológica. Pseudo = Falso. Falsidade em relação à própria ontologia. Por isso é possível pensar e compreender algo que é falso, mas que existe. Diálogo do Sofista de Platão, onde se falava na ontologia das coisas que não existem na verdade, mas que existem. Essa existência do inexistente é a falsidade propriamente dita. Ou, falando cientificamente, é pseudologia. 

A ciência moderna é uma ciência pseudológica. Corresponde a algo da realidade, mas a um aspecto falso da realidade. Existe também a ciência aletológica, onde a relação com a verdade está conservada. Essa definição é importante porque permite compreender esse limite (limes) entre a verdade tradicional, sagrada e a falsidade moderna, profana. A visão desenvolvida por Evola e Guénon, mas não vamos aqui repetir o que os camaradas já conhecem. Por isso devemos ir além, estudando temas que não receberam atenção, por isso necessário aplicar os princípios da ciência tradicional à cosmologia. 

21/08/2021

Andrea Casella - Sauron: O Demiurgo da Terra-Média

 por Andrea Casella

(2019)




"Era uma vez Sauron, o Maia, a quem os sindarin de Beleriand chamavam de Gorthaur. No início de Arda, Melkor o seduziu obtendo sua lealdade, e ele se tornou o maior e mais confiável servo do Inimigo, bem como o mais perigoso, pois ele era capaz de assumir muitas formas e, por muito tempo, ainda foi capaz, quando desejava, de parecer nobre e belo para enganar a todos, exceto os mais sábios." - Silmarillion


As seguintes considerações sobre a obra de J.R.R. Tolkien não pretendem se refletir explicitamente nela. É possível (e até provável) que sejam meras coincidências, que dão origem a sugestões, por mais fortes que sejam, mas inócuas. Afinal de contas, não seria possível que os caminhos seguidos pela mente humana enquanto se mergulha no abismo dos arquétipos sejam sempre os mesmos? Não seria possível que as mesmas sementes do inconsciente sejam capazes de dar frutos em uma obra de entretenimento literário tanto quanto em uma obra religiosa?

É impossível, quando se fala do trabalho de Tolkien, não ser tentado a atribuir-lhe um significado religioso. O catolicismo declarado do próprio autor é uma forte hipótese neste sentido e, afinal, a criação de um mundo completamente "diferente" do nosso, em pleno respeito aos cânones do gênero fantasia, impõe, como regra, uma exposição sobre "quem" e "como" criou esse mundo.

13/08/2021

Julius Evola - Memória do Dadaísmo

 por Julius Evola

(1958)


Quem faz uma comparação entre o primeiro e o segundo período pós-guerra não pode deixar de notar a recorrência dos mesmos temas e orientações, mas a um nível consideravelmente mais baixo. Nos fenômenos típicos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial no sentido de crise, de impulsos confusos de rebelião e evasão, a tensão espiritual e o radicalismo são muito menores. As correspondências são apresentadas em termos muito mais cinzentos e fragmentados. Além disso, em vez de uma expressão genuína, existem muitas vezes formas complacentes e exibicionistas, mesmo que, no domínio artístico, não se tenha chegado à profissão.. Um caso típico em questão é o da arte abstrata atual.

Entre as correntes que, no primeiro pós-guerra, anteciparam atitudes semelhantes ao existencialismo atual e tendências inconformista e antirracionalista similares, mas levaram a experiência adiante, uma das mais interessantes foi, sem dúvida, o dadaísmo. O dadaísmo raramente é mencionado. Ele, de certa forma, acabou engolindo a si mesmo, pois não era possível ficar muito tempo, sinceramente, nas posições de negações radicais, de uma liberdade afirmada através da dissolução agressiva de todo limite e toda ordem, de todo valor convencional e de toda racionalidade, não só na arte mas, segundo a instância original, na própria existência individual.

07/08/2021

Kerry Bolton - O Partido Nacionalista Alemão de Stálin

por Kerry Bolton

(2014)


Em uma reunião entre Josef Stálin e líderes do Partido da Unidade Socialista (Sozialistische Einheitspartei Deutschlands: SED) na zona soviética da Alemanha ocupada, realizada em 31 de janeiro de 1947, Stálin perguntou que porcentagem de alemães (em todas as zonas de ocupação) eram "elementos fascistas", e "que influência eles mantinham nas zonas ocidentais"? Otto Grotewohl respondeu que era uma pergunta difícil de responder, mas que ele podia dar a Stálin listas de ex-membros do Partido Nacional-Socialista "em posições de liderança nas zonas ocidentais". Stálin não havia feito a pergunta com o objetivo de expurgar a Alemanha de "fascistas", mas com a possibilidade de recompor antigos membros do partido nacional-socialista em outro partido, que promoveria o nacionalismo e o socialismo dentro do contexto de uma Alemanha soviética. Ele também estava interessado nos possíveis padrões de votação dos "elementos fascistas", caso houvesse um plebiscito sobre a unificação alemã. A opinião de Grotewohl era de que eles eram "todos reacionários". O ponto de vista de Stálin era diferente. Seria possível organizar os "fascistas" na zona soviética sob um nome diferente? Ele apontou aos líderes da SED que sua política de "exterminar os fascistas" não era diferente da dos EUA, afirmando: "Talvez eu devesse acrescentar este curso [de organizar um partido nacionalista] para não empurrar todos os antigos nazistas para o campo inimigo?"[1].

Enquanto as zonas ocidentais procuravam proibir qualquer remanifestação política do nacional-socialismo, Stálin estava explorando as possibilidades de integrar tais elementos em uma nova Alemanha soviética. A reticência que ele recebeu dos líderes da Unidade Socialista estava baseada em uma reação tipicamente marxista. Entretanto, usa-se o marxismo para derrubar uma nação e um Estado, não para construir um. Stálin, como corretamente lamentou Trotsky, havia "traído" a revolução bolchevique[2] ao reverter possivelmente todos os programas marxistas que haviam sido erguidos por Lênin, Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Sverdlov, et al., que haviam sido em sua maioria expurgados ou liquidados por Stálin[3].

01/08/2021

Juliette Faure - O Cosmismo: Uma Mitologia Nacional Russa Contra o Transumanismo

por Juliette Faure

(2021)


O cosmismo, um complexo movimento intelectual à beira da teologia e do futurismo científico que nasceu há quase 150 anos, está mais uma vez ganhando impulso na Rússia. Algumas das elites do país o veem como uma resposta tipicamente russa ao suposto transumanismo triunfante no Ocidente. Então o que é o cosmismo, e como ele está se espalhando na Rússia hoje?


Uma Breve História do Cosmismo, desde o Império, passando pela URSS, até a Federação Russa


No final do século XIX, o pensador russo Nikolai Fyodorov (1829-1903) defendeu uma concepção profundamente moral e cristã da ciência. Ele imaginou que a humanidade poderia usar o progresso tecnológico para alcançar a salvação universal. Os avanços científicos deveriam ser usados para ressuscitar os ancestrais, alcançar a imortalidade, transformar a natureza humana em direção à divinização e conquistar e regular o cosmos.

Em seu rastro, renomados cientistas russos - como o precursor da cosmonáutica Constantin Tsiolkovski (1857-1935) ou o fundador da geoquímica Vladimir Vernadski (1863-1945) - perseguiram sua visão futurista e espiritual do progresso técnico.

Nos anos 70, um grupo de intelectuais soviéticos ficou fascinado com as teses esotéricas desses autores e as reuniu sob o nome de "cosmismo russo". Embora heterodoxo em relação à ideologia comunista oficial, o cosmismo despertou o interesse de acadêmicos, bem como de membros de alto escalão do establishment político e militar. Por exemplo, o tenente-general Aleksei Savin, diretor da unidade secreta 10003, que foi responsável pela pesquisa sobre o uso militar de fenômenos paranormais de 1989 a 2003. Com base em sua leitura de Vernadski, ele desenvolveu os princípios de uma ciência do mundo extraterrestre, a noocosmologia. Da mesma forma, em 1994, Vladimir Rubanov, secretário adjunto do Conselho de Segurança russo e ex-diretor do departamento analítico do KGB, propôs usar o cosmismo como base para "a identidade nacional da Rússia".

30/07/2021

Corrado Soldato – A Autossuficiência Econômica de Platão a Mussolini

 por Corrado Soldato

(2020)


Em tempos de coronavírus e consequente impacto negativo da doença na economia globalizada, um "espectro", para parafrasear o incipit do "Manifesto" de Marx e Engels, perambula entre as redações da grande mídia e os think tanks do pensamento globalista: o da autarquia. Isto é confirmado por um artigo do Foglio que analisa um artigo do colunista do Financial Times Gideon Rachman ("Nationalism is a side effect of coronavirus") no qual ele teme, como um "efeito colateral" do coronavírus, o retorno do Estado-nação e, com ele, um renascimento das tendências protecionistas, da localização da produção e do fechamento de fronteiras, concluindo que, embora tais demandas possam parecer justificáveis no momento, elas não representam as melhores soluções para o período pós-pandêmico, já que a revitalização da economia global será mais difícil se os países individuais se moverem em uma direção "autárquica".

Como é evidente, neste como em outros artigos de teor semelhante, os termos protecionismo e autarquia (que não são sinônimos no sentido de que a adoção de medidas protecionistas é mais funcional à implementação de políticas autárquicas destinadas a tornar um Estado autossuficiente, restringindo o comércio exterior e produzindo por conta própria o que antes se procurava através do comércio internacional) estão carregados de conotações negativas e associados a um quadro sombrio de isolamento, exclusão e conflito potencial entre nações. O termo autarquia, na verdade, originalmente usado na filosofia no sentido ético (não econômico) da condição do homem sábio para o qual a felicidade consistiria em "bastar a si mesmo", não merece a auréola sinistra com o qual o pensamento globalista tende a rodeá-lo.