por Diego Fusaro
(2020)
Se quiséssemos dar um nome à doença do Ocidente, encontrá-lo-íamos na esplêndida palavra grega para "querer ter mais": pleonexia. Platão a menciona várias vezes em seus diálogos. Com a esplêndida imagem do "Fedro", a pleonexia é a doença da alma na qual o cavalo negro, o da paixão, tomou o lugar do auriga da razão e do cavalo branco. A pleonexia é a triste paixão que nos leva a ceder ao desejo de mais e mais, traindo assim o imperativo délfico de "nada em excesso" (meden agan).
É a paixão materialista por excelência daqueles que querem acumular cada vez mais bens materiais, renunciando à espiritualidade do conhecimento e da pesquisa, do amor e da espiritualidade. Há uma esplêndida passagem no "Alcibíades Maior" na qual Platão interpreta o tema no nível do amor:
- ALCIBÍADES: Você fala a verdade.
- SOCRATES: Por outro lado, somente aquele que ama sua alma o ama.
(Platão, "Alcibiades maior", 131 c)
O verdadeiro amor diz respeito à alma, não ao corpo. Tem a ver com o imaterial. O corpo e a matéria, bens e riquezas, argumenta Platão, não são bens verdadeiros, pois são instáveis e sujeitos a constantes mudanças. O consumismo, desconhecido de Platão, representa a inversão de sua análise teórica. No consumismo, prevalece uma ontologia instável, na qual as entidades são concebidas ad hoc para serem consumidas. Não se pode amá-las, exceto como se ama o corpo que envelhece rapidamente.
Na estrutura onto-histórica do consumismo, diríamos com Heidegger, nós somos consumidores e consumidos. Somos escravos da pleonexia, e nos iludimos de que possuímos cada vez mais enquanto somos possuídos cada vez mais pelo sistema tecnoniilista de crescimento e pela ilimitada vontade de poder mercadológica.