28/01/2020

Karl White - Emil Cioran: O Anti-Filósofo da Vida e da Morte

por Karl White

(2017)



Desde o início, o empreendimento filosófico tem se concentrado na morte. A filosofia nos ensina como morrer, declarou Sócrates. Segundo ele, estamos fingindo ser sábios quando tememos a morte, pois não sabemos nada sobre ela e, ao contrário de todos os nossos instintos, ela pode ser uma bênção. A filosofia também se esforçou para amenizar nossos medos, reiterando incessantemente um lembrete de nossa mortalidade: ela tenta nos elevar acima do cotidiano para fazer nossa morte parecer nada excepcional; insta-nos a uma espécie de modéstia, onde devemos lembrar que estamos comprometidos com a morte, um constante memento mori (que se traduz literalmente como 'lembre-se de morrer'). Ela tem sucesso em algum desses objetivos? Segundo o pensador romeno E.M. Cioran, a resposta é um retumbante e mortalmente não, pois, segundo ele, "a natureza não foi generosa com ninguém, exceto aqueles que ela dispensou de pensar na morte". Diante da verdadeira catástrofe, a filosofia pode ser apenas uma meditação sobre seu próprio fracasso e impotência quando confrontada com a realidade de nossa extinção.

25/01/2020

Aleksandr Dugin & Sergey Kuriokhin – Manifesto dos Novos Magos

por Aleksandr Dugin e Sergey Kuriokhin

(1996)



1. Estamos diante de uma crise da arte, de uma falta de vitalidade e da dominação do puro mecanicismo. O pós-modernismo - a própria síndrome da degeneração - é ele próprio deformado. Atualmente, o interesse pela arte é breguice (em teatros, cinemas e shows de rock) ou a das provozierte Leben ("a vida provocada" nas palavras de Gottfried Benn), que é a ocupação de um círculo estreito e fechado de "intelectuais vampíricos" que perderam completamente todas as orientações, mas não perderam a necessidade de comida, status social e vaidade.

2. Estamos diante de uma crise política, de uma falta de pensamento e de uma nova ideologia e da degeneração da política desde o início da Perestroika. A política perdeu totalmente toda lógica e vida. A política hoje é ou uma conjunção patológica (no centro) ou uma caricatura patológica (na periferia). A política é sempre e em toda parte igualmente desinteressante.

3. Os pontos baixos críticos da degeneração da arte e da política foram alcançados simultaneamente, de uma só vez. Nem sempre é assim que as coisas acontecem, mas não é outro senão o caso agora. Os pontos mais baixos dos dois senoides coincidiram.

22/01/2020

Carlos Salazar – A Quarta Teoria Política ou um Pensamento para a América Latina

por Carlos Salazar

(2019)



A quarta teoria política, cuja gênese devemos atribuir ao grande Martin Heidegger, e que posteriormente foi habilmente desenvolvida e interpretada por Alain de Benoist e Aleksandr Dugin, nos apresenta uma superação teórica da primeira (liberalismo), segunda (comunismo) e terceira teorias políticas (fascismo). A quarta teoria política é taxante ao apontar a morte da terceira e segunda teoria na Europa. A única teoria vigente é a primeira, que já está mudando do liberalismo para o pós-liberalismo, um estágio de primazia do poder econômico sobre o político e, conseqüentemente, a perda de relevância do fenômeno político-institucional frente a nova política dirigida pelas empresas transnacionais.

Precisamente, o projeto da quarta teoria é propor uma alternativa contrária ao liberalismo e ao pós-liberalismo. Sua impressão anti-individualista se traduz no que Dugin chamou, de uma maneira muito sábia, Populismo Integral. Este propõe como sujeito político o "Ser-aí" (Dasein) em oposição ao "indivíduo" do liberalismo: "O homem é tudo, menos indivíduo". Em outras palavras, o atomismo uniformizador globalista se opõe e se contrapõe a todos os tipos de identidades coletivas que o liberalismo constantemente negou: “O homem é sua classe, sua nação, sua tribo, seus costumes, sua comunidade, sua história, sua espiritualidade, etc”. Não existe interesse individual para a Quarta Teoria (doravante 4TP), pelo contrário, o interesse do homem em particular é o de suas identidades coletivas, sem que isso signifique contradição, uma vez que o antagonismo entre o individual e o coletivo é novamente uma conceituação própria do liberalismo.

15/01/2020

Emmanuel Frankovich – O “Império Interior” de Alain de Benoist

por Emmanuel Frankovich

(2019)



“O logos prevaleceu sobre o mito, Apolo sobre Dionísio. Hoje, o homem está desprovido de mitos.” – Friedrich Nietzsche

O Império do Mito

"Nada é mais verdadeiro que um mito". O “Mûthos” torna possível compreender a origem pela revelação, onde o Logos explica a realidade objetiva pelo raciocínio lógico. O mito não é, porém, irracional: tem sua própria racionalidade. "Matriz de imagens retrizes", ele não se inventa, mas, fora da temporalidade, ele é e é visto como "revelação permanente". A Totalidade é o seu espaço e a Eternidade é o seu tempo. O mito não é uma metafísica, mas uma ontologia.

A possibilidade de perceber o que o mito revela reside na vontade de aceitar sua clareza. Ele "se opõe à luz da razão: quanto mais o pensamento racional ‘ilumina’, mais ele oculta a própria fonte da claridade”. Outro modo de revelação do ser das coisas é a Figura (Jünger, Niekisch), a ser distinguida do mito político e da ideologia, formas instrumentais e subjetivas. A Figura também revela o invisível a um olhar inclinado a ir além das aparências. Por outro lado, a psicologia das profundezas, animada pela mesma pretensão de definir a verdade do mito, rapidamente retorna ao seu caráter profundamente moderno de confinamento no mental e de mera análise dos "estados da alma".

Porque o mito não tem um significado que deva ser descoberto e compreendido. Ele escapa ao conceito. Não podemos ter nenhuma ideia do porquê ele está agindo. Ele só pode ser vivido e recebido como palavra fundadora, como palavra verdadeira. É apenas significância e a sua verdade, sempre renovada, procede da combinação de seu tecido de significantes. O mito é expresso através da linguagem: "A linguagem é a verdade do mito". Ele é palavra, ele é canção, ele é o divino e o poeta é seu mediador. "Voltar à clareza do mito seria, para o homem, experimentar uma revolução como ele nunca viu antes..."

11/01/2020

Michael Millerman – O Dasein e a Quarta Teoria Política: Rumo a uma Crítica Adequada da Teoria Política de Aleksandr Dugin

por Michael Millerman

(2017)



Introdução

A influência de Martin Heidegger paira sobre o campo da teoria política. Leo Strauss, Jacques Derrida, Hannah Arendt e outros estão entre os filhos intelectuais às vezes rebeldes, às vezes reverentes, de Heidegger (Wolin, 2015; Fleischacker, 2008). Mas, no geral, eles e outros teóricos políticos que dialogam com Heidegger tendem a se afastar de seu relato da filosofia ou de suas ideias sobre a relação entre filosofia e política.

Este artigo argumentará que o pensador russo Aleksander Dugin, que acompanha Heidegger muito mais de perto do que outros teóricos, deve ser incluído na lista de recepções filosoficamente sérias e importantes da teoria política de Heidegger. Incluir Dugin entre as recepções de Heidegger traz à luz possibilidades esquecidas ou suprimidas da filosofia política heideggeriana irredutíveis ao nazismo. Primeiro, eu demonstro o lento, mas cada vez maior reconhecimento de Dugin como filósofo e teórico político, fundamentado especificamente em seu heideggerianismo. Segundo, eu situo Dugin em um exame comparativo da teoria política heideggeriana, observando o papel que o Dasein desempenha em seu pensamento, comparado ao papel que desempenha na teoria política heideggeriana de esquerda e liberal. Terceiro, eu critico aspectos do relato de Dugin sobre o Dasein. Quarto, delimito brevemente a relação entre filosofia e ideologia no pensamento de Dugin.

06/01/2020

Paul Gottfried - Quem não é fascista?

por Paul Gottfried

(2015)




Tendo completado recentemente um livro sobre fascismo, "A Carreira de um Conceito", parece que todos os meus esforços para diminuir o abuso do meu termo-chave podem não dar em nada. O fascismo provavelmente continuará vivo, não como um movimento do entreguerras europeu ressurgente, mas como um epíteto livremente utilizado que pode ser aplicado a qualquer coisa de que um jornalista não goste. O leitor desavisado de nossa mídia partidária continuará acreditando que os fascistas são um ou mais dos seguintes vilões: jihadistas anti-americanos, críticos abertos da imigração aqui e na Europa Ocidental, candidatos presidenciais democratas, soldados israelenses, cristãos homofóbicos, isolacionistas de política externa ou os governos nacionalistas de Viktor Orban na Hungria e Vladimir Putin na Rússia. Essa lista "fascista" continua a crescer - uma lista abrangente seria pelo menos duas vezes maior.

03/01/2020

Gilad Atzmon - O Fim de Israel

por Gilad Atzmon

(2019)



A lição a ser tirada do atual impasse político israelense é que Israel está implodindo, se fragmentando nos elementos que ela nunca conseguiu integrar em uma só coisa. O cisma não é mais a dicotomia mais cotidiana de Ashkenazi vs. Judeus Árabes (também conhecidos como Sefardim); essa divisão é ideológica, religiosa, espiritual, política, étnica e cultural. Tampouco se divide em esquerda e direita, os judeus israelenses são politicamente de direita, mesmo quando fingem ser de "esquerda". Embora algumas das vozes críticas mais astutas da política israelense e do fundamentalismo judaico sejam israelenses (como Gideon Levi, Shlomo Sand, Israel Shamir e outros), não há esquerda política israelense. A política israelense se divide em muitos eleitores de extrema-direita e muitos neocons comuns. O Partido da Lista Conjunta, árabe, é praticamente o único partido de esquerda no Knesset israelense. Isso não deveria mais surpreender. A esquerda judaica, como eu argumento há muitos anos, é um oxímoro; O judaísmo é uma forma de identificação tribal e a esquerda é universal. O “tribal” e o “universal” são como óleo e água, eles não se misturam muito bem.

O que é peculiar na divisão política israelense é que os israelenses estão mais unidos do que nunca em suas crenças nacionalistas e na primazia de seus sintomas judaicos. Por que, se os israelenses são tão unificados, que ninguém consegue formar um governo no chamado "Estado Judaico"?