06/11/2025

Christian Bouchet - Os Carlistas: Os Vendeanos da Espanha

 por Christian Bouchet

(2025)



Surgido há 192 anos na Espanha, o carlismo permanece bem vivo. Ele encarna uma fidelidade a uma visão de mundo tradicional e pré-industrial, próxima à dos legitimistas franceses.


A origem: uma questão de valores


Tudo começou em 1830, quando o rei da Espanha, Fernando VII, alterou a ordem de sucessão – que até então seguia a lei sálica – para que sua filha mais velha, Isabel, pudesse herdar o trono. O irmão do rei, Carlos de Bourbon, que seria o legítimo sucessor, recusou-se a jurar lealdade à sobrinha e, em 1833, após a morte de Fernando VII, autoproclamou-se rei da Espanha.

À primeira vista, parecia uma simples disputa dinástica, mas, na realidade, escondia algo mais profundo: um embate entre duas visões de mundo. De um lado, Isabel II agrupava a burguesia anticlerical, liberal e centralista; do outro, Carlos de Bourbon era o porta-voz do povo simples, dos católicos e da defesa dos fueros (privilégios regionais e locais).


23/10/2025

Manuel Noorglo - Alexander Herzen: Filósofo e Revolucionário entre Oriente e Ocidente pelas Pequenas Comunidades

 por Manuel Noorglo

(2024)

 


 

"As pequenas comunidades são a base da democracia. São o lugar onde os cidadãos podem participar ativamente da vida política e social."


Alexander Herzen nasceu em Moscou em 1812, filho ilegítimo de um aristocrata proprietário de terras russo e de uma governanta alemã. Sua infância, marcada pela condição de filho ilegítimo, tornou-o sensível às injustiças sociais e o levou a buscar um sistema político e social mais justo.


A juventude e o exílio


Herzen formou-se em física e matemática na Universidade de Moscou, onde se aproximou das ideias socialistas. Em 1834, foi preso por participar de um círculo revolucionário e condenado ao exílio na Sibéria. Em 1839, conseguiu fugir e refugiou-se na Europa, onde viveu exilado pelo resto da vida.

No exílio, Herzen fundou a revista "Kolokol", que se tornou um importante veículo de difusão das ideias revolucionárias na Rússia. Herzen criticava o capitalismo, que considerava um sistema baseado na opressão dos trabalhadores, e o socialismo centralista e autoritário, que julgava contrário aos princípios de liberdade e autodeterminação dos povos.

16/10/2025

Naif Al Bidh - A Crítica Spengleriana do Eurocentrismo na Historiografia Ocidental

 por Naif Al Bidh

(2024)


 

Uma alta-cultura tem um ciclo de vida predeterminado de aproximadamente um milênio. Spengler divide o ciclo de vida de uma cultura em quatro fases, ou estações, paralelas às quatro estações que marcam a mudança no clima após a órbita completa da Terra ao redor do Sol. O desenvolvimento histórico de uma cultura começa com um período primaveril rural e intuitivo, onde o espírito do campo é dominante. Segue-se uma fase de verão que simboliza o amadurecimento da consciência e as primeiras manifestações de assentamentos urbanos. Um período outonal sinaliza a vitória do dinheiro e o ápice da criatividade intelectual, sendo esta a fase de florescimento da cultura. Por fim, um período invernal, onde uma visão de mundo materialista prevalece e esgota as forças criativas das respectivas culturas (Spengler 976-978).

14/10/2025

Rigolf Hennig - A Periculosidade do Novo Mundo

 por Rigolf Hennig

(2000)


 

Ninguém quer a guerra, mas ninguém hoje percebe os sinais premonitórios do novo conflito global que se delineia no horizonte. Portanto, o olho do observador inteligente não pode mais ignorar nada.

São os mesmos círculos que a preparam, aqueles que desencadearam as duas guerras mundiais, de 1914-18 e de 1939-45, que, na verdade, formaram juntas uma guerra de 30 anos. Esses círculos são as conventículos daqueles que lucram com as guerras, que não toleram nenhuma potência ao lado da sua e que atacam sem tréguas todos os que se opõem à sua "ordem mundial". Essa guerra de 30 anos, que todos acreditavam terminada, mas que na realidade estava mascarada por um armistício, corre o risco de se tornar uma guerra de 100 anos.

08/10/2025

Guillaume Faye - O GRECE e a Conquista do Poder das Ideias

 por Guillaume Faye

(1981)



Os intelectuais já não têm ideias, e as belas imagens das revistas já não conseguem criar ilusões: o envelhecimento de todo pensamento se depara com o balbuciar vazio da mídia de massa. Ao fundo: um mundo sem propósito, um mundo de ruído, onde as mercadorias giram em turbilhão. Dos velhos esquerdistas à extrema-direita senil, das seitas neo-californianas aos jovens executivos dinâmicos dos anos setenta, agora convertidos ao ambientalismo e às energias "limpas", o discurso das ideologias gira em círculos. Derrotados pelos fatos, o liberalismo clássico e o marxismo deixam seus antigos apologistas desiludidos.

Em seu último livro, Régis Debray confessa que suas ideias contradizem seu ideal. Bernard-Henri Lévy[1], por sua vez, escreveu recentemente em sua coluna semanal no Le Matin: "Não falo dos outros, todos os outros, e também de mim mesmo, impotente, perfeitamente desorientado quanto às tarefas da teoria, às urgências da ação e até mesmo à certeza das coisas" (17 de novembro de 1981). Quanto a nós, ele pode ficar tranquilo: não estamos impotentes nem desorientados. Sabemos para onde vamos. Sabemos o que queremos: tomar o lugar das ideologias dominantes.

02/10/2025

Francesco Boco - A Arte e a Vanguarda

 por Francesco Boco

(2000)


 

Identidade como cidadãos e artistas;
firmeza inalterável na ideia da grandeza italiana;
consciência das necessidades espirituais,
dos apelos da linhagem: construir. (Mario Sironi)


A sociedade da imagem, como é comumente chamada aquela em que vivemos e trabalhamos, tem um aspecto positivo: embora o bom hábito da leitura, bem como o simples interesse pela cultura, esteja se perdendo lentamente, ao mesmo tempo a importância e o papel da imagem e do slogan projetado ad hoc se fortaleceram. Isso não é necessariamente uma coisa ruim, no sentido de que é possível, como sempre, fazer da necessidade uma virtude e reverter o negativo em seu oposto. Isso significa que a imagem pode - e deve - ser colocada nas mãos da vanguarda cultural e, assim, tornar-se o veículo, o meio privilegiado, para comunicar mensagens, chocar o conteúdo, de forma imediata. É claro que a tarefa de se comunicar dessa maneira deve ser atribuída da forma mais ampla possível à arte, arte que não deve mais ser entendida como “neutra” (arte pela arte...), mas como arte que transmite uma visão do mundo, uma arte mágica cujo objetivo é despertar poderes elementares, guiar o homem, capacitá-lo, renová-lo para renovar o mundo.

23/09/2025

Luca Valentini - "O Deserto Cresce! Ai daquele que esconde o deserto dentro de si!"

 por Luca Valentini

(2016)


Para compreender plenamente as motivações que levam o que comumente se entende por "Frente da Tradição" a combater de todas as formas a concretização da globalização, é necessário focar nos fundamentos ou direções principais dessa operação hegemônica de massificação mundial. Ela representa a máxima expressão das lógicas mundialistas, a realização plena daqueles objetivos sociopolíticos que, há décadas, por meio das operações mais obscuras e astutas da política internacional e econômica, o diretório dos poderes fortes — das multinacionais, da usura — busca impor a toda a população mundial. Mas quais são esses objetivos sociopolíticos e com quais meios são perseguidos? A resposta a essas perguntas é fácil e difícil ao mesmo tempo: fácil, porque basta fazer uma análise, mesmo não muito aprofundada, do que nos cerca, de como está estruturada a sociedade da qual fazemos parte, para perceber que não vivemos mais em um mundo de homens livres, caracterizados por suas especificidades, diferenças e origens, mas em uma massa disforme de átomos indiferenciáveis; difícil, porque os centros de poder que gerenciam essa operação, graças à corrupção generalizada e à divisão dos meios de comunicação, da cultura e do mundo científico e artístico, criam as condições para que as mentes das multidões permaneçam em um nível de compreensão social e conhecimento cultural não superior aos padrões do Big Brother ou de uma telenovela sul-americana.

06/09/2025

Marco Maculotti - William Butler Yeats: Navegador da Grande Memória

 por Marco Maculotti

(2020)


Existiram homens, disseminados ao longo das rondas do devir, que parecem ter nascido para cumprir uma tarefa sacral e, para suas respectivas épocas, revolucionária. Não se trata de ministros de culto, pelo menos não no sentido estrito do termo: eles são antes visionários, videntes e poetas. Já Giorgio Colli [1] demonstrou como tanto a poesia quanto a filosofia helênica foram descendentes diretos da arte da mântica, filhos de segundo casamento do encontro com o Divino e com seu enigma imperscrutável: poetas e filósofos herdaram assim a sabedoria dos iatromantes.

William Butler Yeats, juntamente com outros que o precederam (Blake, Keats, Shelley), merece entrar por direito neste panteão de almas acima do tempo. Toda a sua obra — e antes ainda, toda a sua existência — foi consagrada a uma Visão: remontando a corrente em direção contrária, ele se fez bardo numa época que havia banido todo canto, esquecido a Arcádia, negado e ridicularizado o conhecimento dos antigos Druidas.

29/08/2025

Claudio Mutti - A Banalidade de Hannah Arendt

 por Claudio Mutti

(2000)


Entre as fórmulas elaboradas pela teologia ocidentalista, a do "Eixo do Mal" é apenas a mais recente, visto que já um ator secundário que se aventurou na política cunhou em seu tempo a expressão "Império do Mal" para demonizar a União Soviética. Originalmente, porém, houve o "Mal elementar", conceito criado por um expoente da demonologia rabínica, Emmanuel Levinas, para "explicar" o nacional-socialismo. Na interpretação teológica elaborada pelos clérigos judeus e cristãos acerca do chamado "Holocausto", Hannah Arendt introduziu, como se sabe, um elemento cuja genialidade ninguém, naturalmente, ousa negar: o tema da "banalidade do mal".

23/08/2025

Gianfranco de Turris - Evola e os Outros

 por Gianfranco de Turris

(2022)

 

Julius Evola tinha uma personalidade multifacetada, ou pelo menos um caráter variável, humorístico, ou até mesmo lunático, como também já foi dito? É o que se poderia pensar ao ouvir os relatos daqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo e frequentá-lo, já que oferecem representações diferentes, muitas vezes muito distintas e até contrastantes entre si, a ponto de parecerem invenções ou descrições de pessoas distintas.