por Julien Freund
(1965)
Prefácio
Em nossos dias, todos conspiram para mascarar a verdadeira natureza da política. A tradição platônica, o prestígio da ciência, a autoridade aparente dos intelectuais, o domínio onipresente e cotidiano dos tecnocratas ou até mesmo as modas de certas escolas de ciência política e sociologia política que tendem a acreditar que a política agora se tornou um objeto puro de conhecimento e que seu desenvolvimento futuro depende da análise e da pesquisa científica. Ninguém contesta que o aumento e a difusão do conhecimento, tanto nas ciências físicas quanto nas ciências econômicas e sociais, produziram modificações consideráveis no universo político. Essas transformações não alteraram fundamentalmente a política. Pelo contrário, a política foi impulsionada, assim como a religião, a arte ou a moral, pela agitação geral que mudou fundamentalmente o mundo e o cenário dos homens comuns. Para cumprir sua tarefa e respeitar o mais fielmente possível seu próprio campo de atividade, a política é obrigada a medir essas transformações e deve se aventurar a dominar a ciência, a autoridade dos intelectuais e o governo dos tecnocratas para colocá-los a serviço do bem comum, em termos simples: a política deve garantir a segurança contra ameaças externas e a harmonia interior de várias unidades políticas. Dessa forma, o objetivo da política não pode ser o conhecimento puro. A política continua sendo o que sempre foi: ação. Essa é a única maneira de entendermos a política.