26/09/2020

Sofia Metelkina - Entrevista com Aleksandr Dugin: A Inteligência Artificial é a Humanidade sem Dasein

 por Aleksandr Dugin

(2017)



A humanidade está enfrentando um estágio em que os robôs não são mais praticamente diferentes dos humanos. Os robôs estão agora desenvolvendo uma ética humana, como na série "Westworld", e as pessoas estão gradualmente se tornando andróides. Mais importante ainda, muitos ficam paralisados e atordoados à espera de uma explicação de alguém sobre como "chegamos a esta situação".

O filósofo Alexander Dugin conversou com Geopolitika.ru em detalhes sobre as origens e os aspectos filosóficos da inteligência artificial. Ele expressou sua opinião sobre se o ciborgue ainda é uma criação de Deus, se um "deus computador" é possível e qual, de fato, é a diferença entre um homem-zumbi moderno e um robô equipado com uma rede neural.


Qualquer Inteligência já é Artificial


Como você descreveria a inteligência artificial de um ponto de vista filosófico? Quando se assentaram as bases desta idéia?


Na verdade, o conceito de "artificial" e "natural", em relação ao intelecto, de um ponto de vista filosófico, está dividido ao longo de uma linha muito fina. Porque tudo que é óbvio, como qualquer filósofo sabe, provavelmente está errado. Até mesmo os comerciantes do mercado moderno entendem que a maioria está sempre errada.

Quando falamos de inteligência artificial (de agora em diante IA, ed.), queremos dizer algo específico, mas partimos do fato de que existe um natural. Mas qualquer filósofo questionará esta afirmação: o que significa "natural"? É natural não possuir inteligência, que está espontaneamente presente e não coloca nenhum questionamento entre ela e o mundo, ou seja, o Logos. Então, somente a falta de inteligência é natural. A presença da inteligência é algo complexo, artificial, porque sua principal função é duplicar o mundo que nos cerca com algumas Gestalts, imagens e, em suma, conceitos. O que é a linguagem, ou pensamento, se não a projeção das impressões processadas do mundo externo em uma tela artificial, ou vice-versa, a projeção de idéias ou imagens para fora a partir de algum ambiente apofático interno?

20/09/2020

Giandomenico Casalino - A Epifania de Roma: A Identificação do Público com o Sagrado e do Privado com o Profano

 por Giandomenico Casalino

(2015)


O conceito contido no título deste ensaio pretende explicitar o Evento, providencial para a Europa, da manifestação (Epifania) de Roma como irrupção pelo Alto e do Alto no devir, nos assuntos dos homens, como Ação Espiritual Indo-Européia de natureza revolucionária que funda a Civitas e o Direito Público Ocidental.

Em nossos livros[1] sobre a cultura romana e a forma mental jurídico-religiosa, sempre orientada para as Origens, expressamos, de fato, mesmo de forma implícita, a certeza, como fato científico adquirido, de que, em toda a história romana, o conceito de "Público" é uno com o de "Sagrado" e que, de fato, tudo o que é semanticamente referenciável àquela categoria pertence à esfera desta última. Isto não significa que para a maneira romana de pensar e ver (desde a era arcaica até o final do Império...) o "Público" é sacralizado, entrando, após sua constituição enquanto tal, na esfera do Sagrado. Isso, por outro lado, já teria sido enormemente capaz de gerar legitimidade e poder, como aconteceu no cristianismo medieval (no estúpido e insípido "secularismo" moderno seria essa a única terapia capaz de salvar o "público" da lenta agonia à qual parece condenado por causa das metástases cancerosas que o atingiram!...).

A questão não se dá em tais termos! Na romanidade as coisas são ainda mais radicais! Nela, de fato, o Público não pode existir exceto como Sagrado no sentido de que, no momento em que ele é constituído, o Público se constitui como Sagrado e tudo o que é Público é Sagrado, não pode haver nada Público que não seja Sagrado ou Sagrado que não seja Público. Em suma, o Romano não pode pensar na categoria do Público, em sua própria existência senão como conseqüência de uma identidade originária e primária, em termos lógicos e portanto cronológicos, e é a identificação simultânea das "duas" esferas que somente os modernos, por influência dualismo cristão, vêem de forma dual. 

13/09/2020

Diego Fusaro - Marxismo, Antifascismo e Esquerda Cor-de-Rosa

 por Diego Fusaro

(2019)




Estou muito feliz que minha entrevista com o jornal El Confidencial tenha desencadeado um grande debate filosófico-político na Espanha. Devo agradecer, é claro, ao excelente jornalista Esteban Hernández por me dar esta oportunidade. A entrevista provocou um grande debate. O principal expoente da esquerda espanhola, Alberto Garzón, também interveio com algumas reflexões críticas, e tomou uma posição crítica em relação à minha entrevista. O assunto que tem provocado mais polêmica e reflexões contrárias tem sido o do fascismo e do antifascismo, bem como o problema do soberanismo populista de esquerda. Eu rapidamente começo com o primeiro problema e depois passo para o segundo.

É claro que a questão do antifascismo é absolutamente decisiva. Gostaria de resumir a questão da seguinte forma: na época de Gramsci ou Gobetti, limitando-nos ao contexto italiano, o antifascismo era indispensável e fundamental, e era, pelo menos em Gramsci, de função comunista, patriótica e contrária ao capitalismo. O problema, porém, surge quando o antifascismo continua a se desenvolver na ausência do fascismo ou, mais precisamente, quando o fascismo, se por essa expressão entendemos genericamente o poder, muda sua face.

12/09/2020

Aleksandr Dugin - Introdução à Noomaquia (Lição II) - Geosofia

ÍNDICE

Lição I: Noologia
Lição II: Geosofia
Lição III: O Logos da Civilização Indo-Europeia
Lição IV: O Logos de Cibele
Lição V: O Logos de Dioniso
Lição VI: A Civilização Européia


por Aleksandr Dugin

(2018)




Esta segunda lição é dedicada à geosofia, um termo derivado de duas palavras gregas: γεω (“geo”, a terra) e σοφία (“sophia”, sabedoria ou conhecimento). A geosofia consiste na aplicação dos princípios da Noologia ao estudo de culturas e sociedades específicas. Esta é uma análise civilizacional conduzida com a ajuda dos conceitos dos três Logoi. Na primeira lição [1] dedicada à Noologia, discutimos os três mundos ou universos conectados aos três Logoi. Podemos posicionar os três Logoi em um eixo vertical, sendo capazes de rastreá-los em todas as culturas e, assim, explicar cada cultura através deles. Bem, a geosofia consiste na interrelação desse eixo vertical com os aspectos do eixo horizontal correspondente às diferentes culturas.


Geosofia como Multinaturalismo


A idéia da geosofia está ligada ao que na filosofia e antropologia é chamado perspectivismo, uma abordagem desenvolvida pelo antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro.

O homem moderno ocidental acredita que existe apenas um mundo, o mundo físico e uma única cultura que pode entendê-lo corretamente, a cultura europeia ocidental moderna. Este é um tipo de “verdade” que implica genocídio, para todos os efeitos, de outras culturas, uma vez que aqueles que não reconhecem essa verdade e não seguem essa cultura específica são considerados subdesenvolvidos e, portanto, sujeitos à colonização e obrigados a obedecer ao modelo de homem branco. Uma visão puramente colonial, oposta por multiculturalistas ou pós-modernistas, que afirmam que existe apenas um mundo, mas várias maneiras de interpretá-lo. Comparada à visão puramente colonial, essa abordagem permite que outros pensem de maneira diferente, mas alguns antropólogos descobriram que a base ontológica desse mundo único, que para os multiculturalistas admite diferentes interpretações, ainda é a projeção do pensamento ocidental moderno sobre a natureza, isto é, a concepção científica da natureza européia que se supõe ser a realidade objetiva, então interpretada de forma subjetiva e diferente. É nisso que consiste o multiculturalismo.

07/09/2020

Nicolas Gauthier - Entrevista com Alain de Benoist: O Antirracismo Atual Não é o Oposto do Racismo, mas Racismo em Sentido Contrário

por Alain de Benoist e Nicolas Gauthier

(2020)



Impulsionada pelas repercussões do caso George Floyd nos Estados Unidos, a luta liderada por Assa Traoré contra a "violência policial" lhe parece ser um movimento de massas ou apenas o resultado de uma moda e uma agitação marginal cuja extensão seria superestimada por nossa mídia?


O caso George Floyd é uma notícia à qual o sistema midiático, aderido à ideologia dominante, tem dado uma ressonância planetária. A morte de Adama Traoré, outra notícia, não tem nada a ver com este caso, exceto pela cor da pele de dois criminosos multi-recidivistas que morreram como resultado de sua interpelação. Por outro lado, suas repercussões devem tudo à habilidade do comitê criado para defender sua "memória", que foi capaz de instrumentalizar os delírios do politicamente correto e as não menos delirantes conseqüências do movimento Black Lives Matter a seu favor, ao mesmo tempo em que tira proveito da crescente influência da ideologia indigenista.

A amálgama dos dois casos também destaca a americanização dos modos de pensar dos parentes de Assa Traoré, que se vê, ela própria, como uma nova Angela Davis. Como você sabe, todos os modos americanos, seja o Gay Pride, a teoria do gênero ou a "interseccionalidade" das lutas, acabaram se impondo na Europa. Mas o contexto é radicalmente diferente. Os Estados Unidos têm sido confrontados desde o início com uma questão racial que nunca pôde ser resolvida. Recordemos que em 1945, foi uma América segregacionista que conquistou a vitória sobre o racismo de Hitler! Quanto à violência policial, que é de fato comum nos Estados Unidos, ela está fora de qualquer proporção com o que vemos na França. Eu acrescentaria que na França, quando ocorre a brutalidade policial, ela é descaradamente dirigida contra os "gauleses" (com olhos furados, braços arrancados, feridas de guerra), como vimos na época dos Coletes Amarelos, muito mais do que contra a ralé e os migrantes.

04/09/2020

Robert Steuckers - Podemos Definir uma Geopolítica do Coronavírus?

 por Robert Steuckers

(2020)


Primeira observação: nada está claro nos discursos midiáticos, que são em sua maioria teleguiados a partir de escritórios americanos. As contradições se sucedem e se sobrepõem: este vírus é natural (uma variante mais perniciosa da gripe sazonal) ou ele escapou voluntária ou involuntariamente de um laboratório chinês? A prática do confinamento é útil ou totalmente inútil, como a experiência sueca parece provar? Outros projetos parecem ser enxertados nesta pandemia: o de poder eventualmente controlar melhor as massas humanas aglutinadas nas grandes megacidades; o de uma vacinação planetária que beneficiaria em grande parte as instâncias da “Big Pharma”, hipótese aparentemente confirmada pelas declarações anteriores e atuais de Bill Gates; uma vacinação tão generalizada também permitiria obter os recursos acumulados pelas políticas sociais socialistas e keynesianas dos países industrializados da Europa. Além disso, o despreparo dos Estados Unidos e as confusões nas encomendas e distribuição de máscaras sanitárias, a discussão sobre medicamentos na França com o Dr. Didier Raoult como principal protagonista defendendo um tratamento simples com cloroquina, a hipótese muito recente contestando a validade dos tratamentos escolhidos para conter a doença, o abuso fatal na distribuição de Rivotril nos lares de idosos, tudo isso alega a favor da hipótese (conspiracionista?) de uma encenação planetária, destinada a ampliar o pânico: nesse sentido, o sistema político-midiático, dominado e estipendiado pela alta finança, pelos lobbies farmacêuticos e pelo GAFA, desempenharia bem seu papel no cenário que lhe teria sido ditado, o de preparar as massas para aceitar vacinas, confinamento e outras medidas policiais inéditas e inauditas mesmo em regimes considerados os mais repressivos. Entretanto, o canal de televisão francês LCI acaba de revelar que os altos índices de letalidade e contagiosidade do vírus têm sido consideravelmente exagerados após os discursos alarmistas e apocalípticos dos representantes da OMS. O confinamento, contra o qual a opinião pública alemã e holandesa se opõe veementemente, tem sido, portanto, totalmente inútil ou um pretexto para desenvolver novas técnicas de controle policial, imitando as futuras (mas muito próximas) “smart cities” chinesas, entre as quais citaremos sobretudo as técnicas de reconhecimento facial. Sejam quais forem as hipóteses que possam ser formuladas sobre os efeitos, reais ou forjados, da atual pandemia, é preciso admitir que as convulsões em curso no cenário político internacional, especialmente na Eurásia, não serão de forma alguma travadas pela pandemia: muito pelo contrário, os escritórios dos estrategistas estão preparando ativamente o mundo que seguirá a crise do vírus. Esta pandemia obviamente permite camuflar uma série de mudanças benéficas para o hegemon, apesar das fraquezas que o hegemon parece mostrar em seu declínio industrial, na decadência de sua sociedade ou nas falhas de seu sistema de saúde. É necessária, portanto, a vigilância de todos aqueles que desejam ver recuar o domínio muitas vezes sufocante deste hegemon.

03/09/2020

Aleksandr Dugin - Barão Ungern: O Deus da Guerra

 por Aleksandr Dugin

(1997)



Petrogrado, 1920. Felix Edmundovich Dzerzhinsky está terminando um relatório para o camarada Lênin:


"Parece que Ungern é mais perigoso que Semenov. Ele é teimoso e fanático. Esperto e impiedoso. Ele ocupa posições-chave em Dauria. Quais são suas intenções? Atacar Urga na Mongólia ou Irkutsk na Sibéria? Dar a volta para Harbin, na Manchúria, e depois para Vladivostok? Marchar sobre Pequim e restaurar a dinastia manchuriana ao trono chinês? Seus planos monárquicos são ilimitados. Mas uma coisa é clara: Ungern está preparando um golpe. Ele é nosso inimigo mais perigoso até hoje. Destruí-lo é uma questão de vida ou morte".


Dzerzhinsky anexou ao seu relatório ao Soviete Supremo um trecho de uma carta que havia caído nas mãos de partisans siberianos:


"O Barão pronuncia as palavras 'commissário' e 'comunista' com ódio, muitas vezes acrescentando 'será enforcado'. Ele não tem favoritos, ele é excepcionalmente firme, inflexível em questões de disciplina, muito cruel e muito ingênuo... Ele vive cercado por lamas e xamãs... Por vício pelo escandaloso e incomum, ele se autodenomina um budista. É mais provável que ele pertença a alguma seita báltica de extrema-direita. Seus inimigos o chamam de 'Barão Louco'".