31/03/2021

Claudio Mutti - Quem são os Antepassados dos Judeus Modernos?

 por Claudio Mutti

(2020)



Hebreus, mas não semitas


No último ano do governo nacional-comunista romeno, após a construção de uma barragem no rio Cuşmed (Küsmöd), a vila Bezidu Nou da Transilvânia (Bözödújfalu) ficou submersa e seus habitantes foram dispersos. Os antepassados da população daquela vila, cristãos unitários (ou melhor, "antitrinitários") desde o final do século XVI, haviam adotado elementos de origem judaica e haviam assumido o nome de sabatarianos; em 1869 eles se converteram oficialmente ao judaísmo rabínico e construíram uma sinagoga [1]. Se os judeus de Bezidu Nou haviam sido o produto da lenta conversão de uma pequena minoria de székely (população de língua húngara e de origem túrquica estabelecida nos Cárpatos Orientais no início do século XI), os judeus de outra cidade da Transilvânia, Sfântu Gheorghe (Sepsiszentgyörgy), afirmam ser descendentes de comerciantes túrquicos judaizados, que, tendo se mudado para aquele lugar para escapar da conquista russa, permaneceriam lá mesmo depois de 1360, quando Luís I da Hungria ordenou a expulsão dos judeus de seus territórios [2]. Ainda na Transilvânia, entre os rios Mureş e Someş, a toponímia húngara inclui Kozárd e Kozárvár, dois assentamentos que devem ser de fundação cazar; mas topônimos do tipo Kozár e Kazár também são encontrados em diferentes áreas da Hungria [3]. Essas e outras indicações levaram muitos estudiosos a acreditar que o elemento cazar representava um importante ingrediente daquela mistura étnica que é a população judaica da Hungria e da Transilvânia: "entre os judeus, aqueles nos quais o componente cazar é mais forte [the most strongly Khazar] são, sem dúvida, os judeus húngaros, descendentes dos últimos cazares que fugiram para a Hungria entre 1200 e 1300, onde foram recebidos por seus antigos vassalos, os reis húngaros"[4].

25/03/2021

Aleksandr Dugin - Teses sobre o Anticristo

 por Aleksandr Dugin

(2018)


Para um ortodoxo (e para os cristãos, em geral), acreditar no Anticristo é um dado obrigatório. Ele pode ser interpretado de diferentes formas, mas apenas um materialista/ateu não consideraria a existência do Anticristo: trata-se de um elemento da cosmovisão e da dogmática cristã. E sendo o Apocalipse parte das Sagradas Escrituras, tudo o que é dito por ele é legitimado pelo Espírito Santo.

A figura do Anticristo está relacionada com a compreensão cristã do tempo. Cristo vem ao mundo antes dos últimos tempos, antes do fim do mundo. Mas depois de Sua vinda, depois d’Ele edificar sua Igreja, depois de seus discípulos espalharem Sua mensagem para toda a humanidade, em algum momento, chega o tempo do Anticristo: mal começamos a discutir o assunto – alguém diz que ele já chegou. Mas o fato dessas suposições sobre o seu tempo não terem sido confirmadas, não cancela a vinda do Anticristo – significa apenas que os cálculos estavam errados. Em outras palavras, a concretização e a interpretação da figura do Anticristo, em conexão com os eventos históricos, podem estar erradas, mas o erro recai sobre aqueles que alçam tais interpretações, e não sobre as Sagradas Escrituras.

21/03/2021

Nicolas Gauthier - Entrevista com Alain de Benoist: A Lógica do Capitalismo

por Nicolas Gauthier e Alain de Benoist

(2018)


Apesar das repetidas promessas dos políticos da direita e da esquerda, nada parece estar freando o aumento do desemprego. Isso é algo inevitável?

Oficialmente, há 3,5 milhões de desempregados na França, o que representa uma taxa de 10.3% de desemprego. Mas esse número varia dependendo de como é computado. As estatísticas oficiais levam em consideração apenas os desempregados que estão ativamente procurando um emprego, deixando de lado as categorias B, C, D e E (os estão procurando emprego, apesar de ultimamente estarem trabalhando de modo reduzido; os que pararam de procurar emprego, mas ainda estão desempregados; os que estão em formação; os estagiários, os que estão trabalhando sob “contratos subsidiados”, etc.). Somando todas essas categorias, chegamos a uma taxa de desemprego real de 21.1% (mais do que o dobro dos números oficiais). Se nos remetermos à taxa geral da população inativa em idade de trabalho, chegamos aos 35.8%. Além do mais, se levarmos em consideração os trabalhos perigosos, de tempo parcial ou de prazo determinado, bem como a porcentagem dos trabalhadores abaixo da linha de pobreza, esse número só aumenta.

Indubitavelmente, mudanças no desemprego dependem das políticas oficiais − mas apenas até certo ponto. O desemprego atual não é mais de natureza cíclica, mas fundamentalmente estrutural, algo que muitos ainda não compreenderam completamente. Isso significa que o trabalho está se tornando uma commodity escassa. Os empregos perdidos estão cada vez menos sendo substituídos por outras aberturas de vagas. É claro, a expansão do setor de serviços é real, mas o setor de serviços não gera capital. No mais, vinte anos para a frente e quase a metade desses empregos no setor de serviços será substituída por redes de máquinas. Imaginar, portanto, que algum dia retornaremos ao pleno emprego é uma ilusão.

16/03/2021

Aleksandr Dugin - Robotização e Desumanização da Humanidade

por Aleksandr Dugin~

(2018)


Aceleracionismo (termo derivado da palavra aceleração) é uma tendência filosófica que intenta acelerar o curso da História (que, ao contrário do Tempo, é um conceito não-físico e, portanto, passível de ter sua velocidade modificada).

Em uma recente conferência realizada em Amsterdã, da qual participaram diversos filósofos (incluindo Žižek e Sloterdijk), os parâmetros da sociedade futura foram postos em exame. Houve um questionamento basilar: devemos acelerar a eclosão desta sociedade ou não? O futuro, neste caso, foi pressuposto nos termos do que eu chamo de uma desumanização: uma transição para uma nova forma de vida pós-humana, que nos faça encarar a humanidade atual como uma espécie imperfeita – tal como os macacos um dia o foram diante dos seres humanos. Muitos, então, sugeriram que deveríamos olhar para o homem tendo os robôs como parâmetro.

11/03/2021

Daniele Perra - Agentes da Falsificação Ideológica: O Caso Jorjani

por Daniele Perra

(2021)




O fenômeno da "Direita Alternativa" norte-americana se distinguiu (por admissão de algumas de suas referências ideológicas)[1] pela ausência não surpreendente de uma verdadeira produção bibliográfica. De fato, este, em seu trabalho maciço de propaganda em plataformas sociais, quando foi além da simples construção de tabelas, vídeos e artigos acusatórios, muitas vezes teve que se referir aos escritos de intelectuais europeus (de Guillaume Faye a Aleksandr Dugin) para apoiar suas visões. Em substancial descontinuidade com esta incapacidade de escrever está a figura de Jason Reza Jorjani: um ideólogo norte-americano de origem iraniana cujo trabalho, também em virtude de uma contínua referência à civilização indo-européia, conhece um sucesso discreto dentro de certos círculos do "Velho Continente" facilmente impressionados pelo uso de certa terminologia pseudo-histórica e pseudo-tradicional. Nesta refutação das teses principais de Jorjani, tentaremos demonstrar como seu pensamento puramente "ocidental" constitui simplesmente uma tentativa de fornecer uma superestrutura mitológica pseudo-tradicional ao atlantismo geopolítico.

07/03/2021

Diego Luis Sanromán – A Nova Direita na Europa: Uma Revisão Crítica

por Diego Luis Sanromán

(1998)





A derrota das forças do Eixo em 1945 resultou no descrédito sem paliativos da ideologia fascista e implicou o desaparecimento do clima sociopolítico que havia favorecido o surgimento de movimentos de ultranacionalismo palingenético (nos termos do politólogo britânico Roger Griffin) em todo o continente europeu.

Um traço sobressalente daqueles movimentos fascistas triunfantes, que qualquer nacional-revolucionário estava disposto a imitar, era a sua capacidade de constituir uma nova força política que combinava quatro elementos fundamentais: tanto o fascismo como o nazismo eram ao mesmo tempo um partido eleitoral, uma organização paramilitar, um movimento de massas e um vigoroso discurso, cuja chave se encontrava no líder carismático, demiurgo da regeneração nacional. O ambiente do pós-guerra não resultava, não obstante, nada benigno para uma tal combinação: as organizações fascistas e nacional-socialistas foram declaradas ilegais tanto na Itália como na Alemanha, enquanto as populações estavam esgotadas pelos desastres da guerra. O resultado foi a fragmentação, a clandestinidade e o terrorismo, e o surgimento de uma produção ideológica relativamente autônoma e não diretamente vinculada com os grupúsculos e corpos paramilitares que se reclamavam herdeiros dos fascismos históricos. Os teóricos do fascismo – ou, pelo menos, seu setor mais flexível e inteligente – se viram obrigados a se adaptar às novas circunstâncias, e tomaram uma dupla via estratégica: a internacionalização e a metapolitização [1].

Iniciativas como a Jeune Europe de Jean Thiriart ou a Europe-Action de Dominique Venner podem ser interpretadas, respectivamente, como expressões dessas duas vias de readaptação. Os caminhos convergem, não obstante, nas produções teóricas dos autores da mais original tentativa de renovação do ideário fascista desde 1945, o da Nouvelle Droite de Alain de Benoist e seus seguidores. Os membros do GRECE (Groupement de Recherche et d’Études sur la Civilisation Européenne) adotam, desde o começo, a teoria gramsciana do poder cultural enquanto território no qual se desenvolvem as lutas políticas fundamentais, ao mesmo tempo que tratam de superar o nacionalismo estreito de suas origens no sentido de um nacionalismo europeísta de nova geração.