19/06/2025

Alberto Buela - Lasch e a Teoria da Família

 por Alberto Buela

(2017)


 

Caiu em minhas mãos um pouco por acaso e outro por curiosidade, um livro do sociólogo e historiador, com muito de psicólogo, o norte-americano Christopher Lasch (1932-1994), com um título peculiar: Refúgio de um Mundo Impiedoso (1979).

Lasch é famoso por seus dois monumentais livros: A Cultura do Narcisismo (1979), onde estuda o individualismo crescente da cultura narcisista, que se manifesta no aforismo: se você age pensando apenas em si mesmo, está fazendo o bem. O modelo a seguir é o do "empreendedor" ou "gerente" bem-sucedido que pensa unicamente em seus próprios interesses, custe o que custar socialmente. E o outro: A Revolução das Elites e a Traição à Democracia (1994). Neste, ele sustenta que a democracia não está ameaçada pelas massas, como afirmava Ortega y Gasset, mas sim pelas elites compostas por gerentes, universitários, jornalistas e funcionários que a utilizam para seu próprio benefício, desvirtuando-a.

15/06/2025

RTSG - O Fim da Modernidade: Heidegger e o Irã

 por RTSG

(2022)

 


 

"O ápice da existência"


Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu, nasceu na Europa um novo sentimento de euforia. Para muitos intelectuais, parecia ser a morte do marxismo e do materialismo histórico; foi o triunfo do espiritual sobre o econômico, um evento de uma escala nunca antes vista no mundo. Descrevendo a atmosfera em Viena com a notícia do início da guerra, o escritor austríaco Stefan Zweig observou que “Como nunca antes, milhares — centenas de milhares — sentiram o que deveriam ter sentido em tempos de paz: que pertenciam a uma grande nação... Cada um foi chamado a lançar seu eu infinitesimal na massa incandescente e ali ser purificado de todo egoísmo. Todas as diferenças de classe, religião e idioma foram apagadas pelo grande sentimento de fraternidade... Cada indivíduo experimentou uma exaltação do seu ego;... ele era parte do povo, e sua pessoa, até então insignificante, foi investida de significado.” Nenhum povo sentiu isso mais intensamente do que os alemães; como Max Weber, que dificilmente era um espiritualista, observou famosamente que, embora a guerra pudesse ser uma questão de contabilidade para os franceses, “qualquer um de nós com tal objetivo para a guerra não seria alemão; a existência alemã, e não o lucro, é o nosso objetivo na guerra.” Para os alemães, essa guerra não poderia ser reduzida à esfera econômica, como fazia a análise marxista; ao contrário, tratava-se de uma guerra espiritual, não de interesses econômicos, mas da própria alma da nação alemã. Esse sentimento profundamente místico entre o povo alemão seria posteriormente cunhado por Thomas Mann como Kriegsideologie, ou a ideologia da guerra.

12/06/2025

David Smith - Uma Apreciação Crítica do Conan o Bárbaro de John Milius

 por David Smith

(1996)



Introdução


Como webmaster do Barbarian Keep, certa vez fui questionado por um admirador do site: "Se você é fã do primeiro filme de Conan, por que não há mais informações sobre o filme no site Barbarian Keep?" Minha resposta foi simples: porque praticamente tudo o que se poderia imaginar ou escrever sobre o filme já foi feito. Há dezenas, talvez centenas, de artigos escritos sobre o filme, e atualmente existem vários sites na internet dedicados exclusivamente ao filme Conan. Portanto, parecia haver pouca necessidade de criar mais um site sobre o filme. Paradoxalmente, havia uma completa ausência de informações sobre o personagem Conan como ele foi originalmente concebido por Robert E. Howard. Assim, decidi reivindicar meu próprio espaço na internet e dedicar este site principalmente ao Conan original (que ainda é o melhor). Não pude resistir, no entanto, a prestar uma pequena homenagem ao filme com minhas páginas e entrevistas sobre as espadas usadas no longa, além, é claro, da página com trechos de áudio do filme. Mesmo assim, o fato de não ter nada especificamente sobre o filme no Barbarian Keep começou a me incomodar. O que eu precisava era de uma boa análise do filme. Não, não apenas uma boa análise, mas uma excelente análise.

Aqui está apresentada uma das análises mais interessantes e aprofundadas já escritas sobre o filme Conan, o Bárbaro. Este artigo é bem pesquisado, informativo e, o melhor de tudo... perspicaz. Usando a filosofia de Friedrich Nietzsche como estrutura para sua exploração, David C. Smith expõe os temas centrais e abrangentes que transformaram Conan, o Bárbaro em um clássico duradouro e um dos melhores filmes de fantasia heroica já feitos.

07/06/2025

Diego Fusaro - Capitalismo e Destruição das Fronteiras

 por Diego Fusaro

(2024)

 


O capital, em sua lógica de desenvolvimento, tende, no final, a entrar em conflito com os limites dentro dos quais se desenvolveu durante a Era Moderna. O ano de 1989 inaugura uma época que se celebra em tempo real como marcada pelo fim dos muros e das fronteiras; isso porque, parafraseando Marx, para o capital toda fronteira se torna, cedo ou tarde, um muro que deve ser derrubado.

A lógica do capital é tal que a própria fronteira, enquanto figura espacial da ontologia do limite, é um inimigo a ser derrotado; por isso, o capital não consegue distinguir entre muro e fronteira, e precisa combater ambos como figuras indistintas da resistência à sua própria invasão. Todo limite material (como a fronteira) e imaterial (como a ética da justa medida) acaba sendo ultrapassado, de modo que se anule qualquer linha divisória entre o que é interno e o que é externo ao ordenamento capitalista mundializado e ao "continente invisível" das finanças globais. Contextualmente, ocorre uma desconstrução das fronteiras conceituais e dos limites simbólicos (o que se manifesta, entre outras coisas, na evaporação pós-moderna da linha divisória entre jovens e velhos) e uma aniquilação até mesmo das fronteiras naturais (como a que existe entre homens e mulheres e, cada vez mais, entre humanos e animais – o "antiespecismo"). O próprio pensamento binário parece estar em crise, fundado como está na distinção irredutível entre diferentes.

31/05/2025

Karl Haushofer - As Dinâmicas Latitudinais e Longitudinais na Geopolítica

 por Karl Haushofer

(1943)


Quando os grandes espaços da Antiguidade se formam, seguem uma evolução de tipo latitudinal, favorecidos pela posição do Mediterrâneo romanizado, pelo cinturão desértico e pelo traçado das cadeias montanhosas. Desde então, o posicionamento dos grandes espaços da Antiguidade segue um eixo Leste-Oeste, correspondente ao paralelismo da zona temperada setentrional, da zona subtropical e da zona tropical. Apenas os impérios fluviais mais antigos, como o Império Egípcio ao longo do Nilo, a Mesopotâmia e a cultura pré-ariana do Indo constituem exceções. A orientação desses impérios, contrária à do Império Romano, é imposta pelo curso de sua artéria vital (o rio). Essa orientação influencia todo o curso de sua história, até o momento em que são absorvidos pelo primeiro grande espaço latitudinal do Oriente Médio, o Império Aquemênida dos iranianos.

24/05/2025

Fabrizio Manco - Morte e Renascimento entre o Mito de Taliesin, a Fênix e a História da Vida na Terra

 por Fabrizio Manco

(2022)

 


 

"A terra não deve morrer, deve viver!... mas há algo insalubre que a está matando: a espécie humana, uma pequena criatura viva. Sua evolução tomou um rumo errado. A espécie humana renascerá para construir uma nova civilização... deve voltar a ser nada para poder renascer para uma nova vida..." [1].


Introdução


Embora eu já tenha escrito muito sobre o tema da Morte e do Renascimento, particularmente no meu texto intitulado A origem e a evolução da vida, Morte e Renascimento entre ciência, filosofia e cinema, ainda acredito que há muito a ser dito sobre esse assunto. Especialmente no mito, na mitologia e no cinema de animação, sem mencionar a grande música clássica, onde o tema da Morte e do Renascimento é onipresente. Morte e Renascimento que, de forma marcante, se relacionam também com outro grande tema que me é caro: a relação entre o Apolíneo e o Dionisíaco, tema que também tratei e identifiquei em alguns dos meus escritos. No meu texto anterior, muitos pontos de conexão não foram abordados e, por isso, com este texto, procurei preencher essa lacuna. Este novo ensaio/estudo analítico busca, portanto, explorar pela segunda vez esse tema, por meio de várias obras e autores, diversos argumentos e tópicos, que mais uma vez formarão um mosaico de situações e conexões entre várias disciplinas e culturas. Em particular, três obras foram de fundamental importância para este ensaio: A Fênix (1954–1988, edições J-Pop), de Osamu Tezuka (1928–1989); O herói de mil faces (primeira edição em 1949, Edições Lindau 2012), de Joseph Campbell (1904–1987); e A última viagem: A consciência no mistério da morte: dos antigos rituais xamânicos à nova cartografia da mente (Edições Feltrinelli), do psicólogo e psiquiatra tcheco Stanislav Grof (1931-…). Além das obras mencionadas, considero também outros textos muito importantes para o tema em questão, como, por exemplo, o livro de Eckhart Tolle, O Poder do Agora: Um guia para a iluminação espiritual (Edições Mylife, 2013). Certas palavras, como Morte, Renascimento, Princípio Primeiro e Devir, foram escritas com a inicial maiúscula para destacar que se tratam de conceitos filosóficos e não de simples palavras. Esclarecido isso, passemos ao desenvolvimento do tema.

19/05/2025

Gennaro Scala - O Capital e a Tradição

 por Gennaro Scala

(2024)


 

No pensamento de Marx, a oposição ao Capital está inserida em uma visão progressista da história. O domínio do Capital é um mal que precisa ser superado; no entanto, é um mal que, de maneira semelhante ao Mefistófeles de Goethe, acaba por operar em direção ao bem, criando as condições para um novo tipo de sociedade superior. O Capital não só é o instrumento para a criação daquela acumulação de riqueza que é um pressuposto fundamental para o fim da "velha sujeira" — ou seja, o desenvolvimento de riquezas que libertariam os seres humanos da necessidade, a força mais poderosa que perpetuava o domínio e a exploração — como também dissolve todos os vínculos pessoais tradicionais que obstaculizam o surgimento de uma sociedade futura.

16/05/2025

Mircea Eliade - Observações Metodológicas sobre o Estudo do Simbolismo Religioso

 por Mircea Eliade

(1959)



I

Há algum tempo, tem-se notado uma popularidade crescente do simbolismo. (Cf. Mircea Eliade, Images et symboles [Paris, 1952], pp. 9ff.) Diversos fatores contribuíram para que o estudo do simbolismo ocupasse o lugar privilegiado que tem hoje. Em primeiro lugar, houve as descobertas da psicologia profunda, especialmente o fato de que a atividade do inconsciente pode ser apreendida através da interpretação de imagens, figuras e cenários. Estes não devem ser tomados pelo seu valor de face, mas funcionam como "cifras" para situações e tipos que a consciência não deseja ou não consegue reconhecer. (Uma exposição clara das teorias de Freud e Jung sobre o símbolo pode ser encontrada em Yolande Jacobi, Komplex, Archetypus, Symbol in der Psychologie C. G. Jungs [Zurique, 1957], pp. 86 ff).

Em segundo lugar, a virada do século testemunhou a ascensão da arte abstrata e, após a Primeira Guerra Mundial, os experimentos poéticos dos surrealistas, ambos os quais serviram para familiarizar o público educado com mundos não figurativos e oníricos. No entanto, esses mundos só poderiam revelar seu significado na medida em que se conseguisse decifrar suas estruturas, que eram "simbólicas". Um terceiro fator que despertou o interesse pelo estudo do simbolismo foi a pesquisa dos etnólogos em sociedades primitivas e, sobretudo, as hipóteses de Lucien Lévy-Bruhl sobre a estrutura e o funcionamento da "mentalidade primitiva". Lévy-Bruhl considerava a "mentalidade primitiva" pré-lógica, uma vez que parecia ser governada pelo que ele chamava de "participação mística". Antes de sua morte, porém, ele abandonou a hipótese de uma mentalidade primitiva pré-lógica radicalmente diferente e em oposição à mentalidade moderna. (Cf. Lucien Lévy-Bruhl, Les Carnets, ed. Maurice Leenhardt [Paris, 1946]). De fato, sua hipótese não recebeu muito apoio entre etnólogos e sociólogos, mas foi útil como ponto de partida para discussões entre filósofos, sociólogos e psicólogos. Além disso, chamou a atenção da elite intelectual para o comportamento do homem primitivo, para sua vida psíquica e suas criações culturais. O atual interesse dos filósofos pelo mito e pelo símbolo, especialmente na Europa, deve-se em grande parte às obras de Lévy-Bruhl e às controvérsias que provocaram.

10/05/2025

Michael O'Meara - O Conceito de Político de Carl Schmitt

 por Michael O'Meara

(2010)


Por mais que seja formulada, a questão do “político” sempre aborda o tema mais importante que cada povo enfrenta. O “político”, no entanto, não deve ser confundido com “política” ou “política partidária”, que dizem respeito a interesses individuais ou especiais em ambientes parlamentares.

A “política” está ligada ao racionalismo, materialismo, economicismo e à regra de Mammon, todos os quais enfraquecem a autoridade, a tradição e os imperativos do “político”.

04/05/2025

Robert Steuckers - Algumas Reflexões sobre o Pensamento Metapolítico de Guillaume Faye

 por Robert Steuckers

(2024)


Conheci Guillaume Faye em Lille durante o inverno de 1975-1976. Em uma sala da metrópole da Flandres galicana, ele proferiu uma conferência sobre a independência energética da Europa. Um tema que sempre lhe foi caro, defendendo incansavelmente uma autarquia energética baseada principalmente na energia nuclear, como queria a França desde os anos 1960. A independência energética proporciona poder, palavra essencial em seu discurso, que permite escapar da submissão à hegemonia americana. Se há submissão e não poder, seguem-se o declínio, a decadência e a extinção. Possuir poder permite gerir, administrar e enfrentar a realidade. Faye sempre se declarou "realista e aceitante".

Mais tarde, especialmente a partir do ano fatídico de 1979 (e aqui explicarei por que foi fatídico), tivemos longas discussões sobre temas geopolíticos, geoestratégicos e geo-econômicos. Sobre outros temas também, claro. E sobre nossas lembranças de infância, de estudantes, de leitores. Ressalta-se que Faye foi aluno de um colégio de jesuítas em Angoulême, sua cidade natal. Lá adquiriu uma sólida formação greco-latina, a partir da qual, sem dizer, o que é uma pena, ele desenvolveu sua metapolítica original. Voltarei a isso.

01/05/2025

Alejandro Linconao - A Espiritualidade na Natureza

 por Alejandro Linconao

(2020)


O homem clássico se reconhecia como parte da natureza. Não entendia nada como estando fora do universo; nada de ordem material ou imaterial escapava a ele. Homens e Deuses, rochas e oceanos, as estrelas e o universo inteiro compartilhavam uma mesma morada. O reino dos mortos era um âmbito a mais dentro dele, assim como são os cumes das montanhas. O divino estava na natureza e não era externo a ela.

A natureza, segundo o pensamento clássico derivado de Hesíodo, era eterna e incriada, sempre existiu. Também Heráclito e Parmênides compreendiam o universo como incriado e imperecível. Não criado por nenhum deus ou homem, é eterno, sempre foi e sempre será (Heráclito, 1981, pp. 336-340). Mesmo outras cosmogonias, como a de Tales de Mileto ou Anaxímenes, que derivam o universo da água ou do ar, entendem que nada escapa ao natural.

27/04/2025

Alberto Buela - Notas sobre o Ressentimento

 por Alberto Buela

(2008)


Nestes dias, fala-se muito nos grandes meios de comunicação sobre o tema do ressentimento no agir político. E como já nos perguntaram várias vezes sobre o tema, tentaremos de forma breve e clara fixar algumas notas sobre o conceito mencionado. O ressentimento é um fenômeno complexo, baseado na consciência da própria incapacidade e fraqueza, principalmente quando essa incapacidade não permite realizar a vingança desejada. 

Sua importância na gênese da moral é que pode dar lugar a uma inversão da hierarquia de valores, julgando como superiores os valores que podem ser realizados e como desprezíveis os valores que são inacessíveis para o homem ressentido. Existe uma consciência de impotência diante dos valores verdadeiros. 

15/04/2025

Tibet Dikmen - O Pensamento Tradicionalista na Turquia

 por Tibet Dikmen

(2020)


É difícil dizer que o tradicionalismo tenha sido suficientemente discutido e difundido na esfera intelectual turca. Apesar de a maioria dos livros tradicionalistas importantes terem sido traduzidos para o turco, a consciência dessa corrente filosófica está bastante limitada a uma peculiar elite. Embora a maioria das obras de René Guénon, Frithjof Schuon, Seyyed Hossein Nasr, Martin Lings, Titus Burckhardt e Julius Evola ainda esteja sendo publicada pela editora İnsan Yayınları, muitos turcos ignoram como a escola tradicionalista é um movimento político-filosófico ativo, como os tradicionalistas estão conectados entre si, onde se estendem as veias grandes e pequenas que os alimentam e até onde chegam os vasos que se ramificam a partir delas.

05/04/2025

Jorge Torres Hernández - As Origens de São Jorge

 por Jorge Torres Hernández

(2021)


Indagaremos um pouco na origem deste famoso Santo. Já vos adianto que aqui não falaremos de dragões nem de princesas (embora no ícone bizantino que coloquei para ilustrar o artigo apareça o dragão), ao menos não inicialmente, pois a origem do Santo, padroeiro de inúmeros países, regiões e/ou cidades, devemos encontrá-la no Baixo Império Romano. Por sua vez, a popularidade de São Jorge é tamanha que podemos vê-lo reconhecido e adorado não apenas nas Igrejas Ocidentais, como a Católica ou as Protestantes, mas também no Oriente, com as diversas Igrejas Ortodoxas. E não apenas no âmbito do mundo cristão, já que este santo é um caso de sincretismo muito interessante, sendo também encontrado no Islã, onde é chamado por títulos como Al-Khidr (árabe cristão ou muçulmano) ou Mar Djiries (árabe cristão). Quero enfatizar isto, já que a religião maometana recolhe, absorve e incorpora diretamente das religiões abrahâmicas antecessoras uma grande quantidade de elementos. Podemos até encontrar o Santo em diversos ritos afro-americanos desenvolvidos pelas comunidades de escravos que os europeus trouxeram para a América, misturando-se com elementos religiosos trazidos da África e diversas crenças locais. A hagiografia de São Jorge estima que ele nasceu no final do século III d.C. (entre 275/280 d.C.) e morreu em 23 de abril do ano 303 d.C. Sabemos que seu pai pode ter sido um oficial do exército romano chamado Gerôncio, de origem grega, e sua mãe, Policrômia, de origem palestina. Após a morte do pai, provavelmente em algum conflito com os persas sassânidas, Policrômia voltou à sua cidade natal, Lida, também conhecida como Diospólis, sendo a atual cidade de Lod (Israel), onde o pequeno Jorge cresceu e, o mais importante, recebeu uma importante educação e formação cristã transmitida por sua mãe. Mais tarde, o próprio Jorge se alistaria no exército de Roma e começaria uma proveitosa carreira militar, que o levaria a ser Comes e Tribuno, chegando até à guarda pessoal do imperador Diocleciano.

25/03/2025

Nicolas Bonnal - Hugo e Nietzsche e o Encolhimento da Humanidade

 por Nicolas Bonnal

(2024)


 

Descobrimos Noventa e Três graças ao texto de um camarada espanhol; e essa sensacional tirada do verdadeiro herói do filme (sic), o marquês de Lantenac. Tudo isso nos lembra que Victor Hugo é um dos maiores gênios do mundo, e que O Homem que Ri, que inspirou o Coringa de Batman (nada menos), é o romance preferido de Ayn Rand e de todos aqueles que sonham com histórias fantásticas e expressionistas (revendo o Quinta-Feira de Chesterton e descobrindo a sensacional adaptação de Paul Leni, nos tempos heróicos do cinema mudo). Lantenac anuncia o essencial: a França vai se tornar pequena.


19/03/2025

Luca Valentini - Quando em Elêusis Dioniso renascia em Apolo

 por Luca Valentini

(2011)


A consciência, aquela de uma dimensão inteligível, de uma Unidade primária que não pode de forma alguma ser analisada nem considerada com as referências profanas da existência humana, ou seja, utilizando os parâmetros de tempo e espaço ou de volume, sempre assumiu consigo a ideia simbólica de uma queda, de um colapso, de um desmembramento, mas com uma consequente renascença, uma heróica afirmação de poder, de vontade dominadora que reconduz o múltiplo à Unidade primordial. Tais realidades tiveram como manifestação aristocrática o mundo um tanto quanto críptico, intencionalmente e significativamente oculto, dos Mistérios Antigos, que, através de suas muitas e diversificadas formas – desde os órficos aos egípcios, passando pelos mais celebrados de Elêusis, até os solares, imperiais e estatais de Mitra – e através dos diversos autores que nos legaram suas mitologias de base e as experiências vivas, embora limitadas pelo status iniciático e reservado dos próprios mistérios, explicitaram uma origem comum transcendente, uma referência arquetípica comum, portanto, um objetivo mágico-realizador semelhante. Não é casual, a estreita correlação mitológica que se pode instituir entre diferentes ramos da misteriosofia, que tinham diferentes divindades de referência, mesmo e sobretudo pelas diferentes tradições a que pertenciam, mas com funções simbólicas semelhantes, como, por exemplo, acontecia nas iniciações egípcias e nas eleusinas: “Dioniso também foi filho de Zeus, e teve como mãe Sêmele; ele foi o mesmo que Osíris entre os egípcios, e Baco entre os romanos; e por isso o chamarei indistintamente de Dioniso, Baco e Osíris” [1]. 

16/03/2025

Aleksandr Dugin - Sobre o Neopaganismo e o Satanismo da Ciência Moderna

 por Aleksandr Dugin

(2024)


 

O conceito de "pagão" tem origem no Antigo Testamento. Em russo, os "gentios" eram chamados de povos. Os judeus antigos usavam o termo "am" (עם) para descrever a si mesmos e "goy" (גוי) para descrever outras nações. Judeus = o povo, sendo um (escolhido), enquanto as “línguas” das nações são muitas. Assim, os judeus adoravam um único Deus e acreditavam que todas as outras nações (línguas) adoravam muitos deuses. Daí a identificação do termo “língua” (goy) com os politeístas idólatras (os gregos têm uma palavra semelhante, ειδολολάτρης). Em latim, o termo correspondente é gentilis, derivado de gēns, "povo", "clãs", "nações". Esse significado foi adotado pelos cristãos, e agora a oposição não era entre os judeus e todos os outros, mas entre as nações cristãs, que representavam a Igreja de Cristo, a "nação santa" (ὁ ἱερὸς λαὸς), e os povos e culturas que adoravam muitos deuses, chamados "pagãos". Na verdade, as próprias nações cristãs eram pagãs até aceitarem Cristo. E aquelas nações que não o aceitaram continuaram adorando muitos deuses (ειδολολάτρης).

07/03/2025

Naif Al Bidh - Pseudomorfose Cultural e a Tragédia da Alma Russa

 por Naif al Bidh

(2024)



Seguindo a biologia, a mineralogia é provavelmente a segunda disciplina mais influente na filosofia da história de Spengler. A partir dela, o autor toma emprestada a noção de pseudomorfose, um fenômeno em que um mineral sofre uma substituição total por um mineral estranho, o que eventualmente leva a uma formação falsa. Isso geralmente ocorre quando fissuras e fendas aparecem nas camadas, permitindo que a água infiltre e remova o cristal ou mineral original, deixando para trás apenas a forma do respectivo mineral. Após erupções vulcânicas, o magma permeia as rachaduras e eventualmente cristaliza em novos minerais, resultando em uma formação falsa, onde a forma do mineral original permanece, mas é substituída por um mineral estranho. O resultado final é uma forma distorcida, onde a estrutura interna não tem nenhuma ligação orgânica com a forma externa. A partir disso, Spengler cunha o termo "pseudomorfose histórica" para descrever casos em que uma cultura madura sobrepuja uma cultura mais jovem de maneira hegemônica, a tal ponto que a cultura emergente luta para crescer e realizar seu potencial, propósito, destino e alma. O tema da tragédia desempenha um papel crucial dentro da narrativa de Spengler, e provavelmente não há outro conceito que reflita melhor esse elemento trágico nos escritos de Spengler do que a noção de pseudomorfose, como iremos demonstrar. Também é importante acrescentar que, através de sua concepção de pseudomorfose, Spengler reafirma sua posição como um historiador que rejeita qualquer abordagem eurocêntrica da história mundial, adotando uma posição de relativismo cultural. Finalmente, a beleza da pseudomorfose histórica é que ela encarna a simpatia que Spengler possuía por muitas culturas não ocidentais, uma vez suprimidas pelas correntes hegemônicas de uma cultura estrangeira mais antiga, agarrada à vida por desespero.

05/03/2025

Pierre Le Vigan - Heidegger: O Médico da Modernidade

 por Pierre Le Vigan

(2024)


Heidegger (1889-1976) continua no centro das preocupações do nosso tempo. O livro de Baptiste Rappin Heidegger et la question du management – um gestor que vai muito além do mundo empresarial – é uma prova disso. Assim como a influência de Heidegger no pensamento do falecido Pierre Legendre ou em Michel Maffesoli. Em outras palavras, Heidegger é inatual, o que lhe permite continuar sendo atual. O padre jesuíta William John Richardson (1963) distinguiu um primeiro Heidegger, até 1927, com a publicação de Ser e Tempo, de um segundo Heidegger, posterior a 1927. Essas periodizações não são inúteis, pois indicam uma mudança de perspectiva, principalmente porque Ser e Tempo está inacabado, e Heidegger considerou mais prudente modificar seu ângulo de visão, em vez de tentar completá-lo a partir de uma posição que já não era inteiramente sua. Foi o clássico passo ao lado que os grandes intelectuais deram. No entanto, uma mudança de perspectiva não exclui a constância de alcançar o mesmo objetivo. Esse objetivo é pensar sobre o que, em termos “acadêmicos”, chamamos de diferença ontológica. Em termos mais correntes, é o abismo, a "boca da sombra", a ameaça do nada, a consciência da presença do nada e o dever singular de encará-la sem se afundar nela. Como nos lembra Antoine Dresse, os antimodernos são frequentemente tão modernos que não têm ilusões sobre os ideais da modernidade. O que caracteriza Heidegger é seu repúdio ao niilismo, sem negar por um momento a realidade de sua ameaça.

03/03/2025

Giandomenico Casalino - A Visão Espiritual da Vida e a Ideologia Moderna

 por Giandomenico Casalino

(2013)


O que distingue RADICALMENTE a nossa concepção de cultura, em sentido lato, daquela dominante, que é iluminista e, portanto, racionalista e individualista, é precisamente o fato de que, para nós, a cultura é essencialmente uma VISÃO DA VIDA E DO MUNDO (Weltanschauung) que está presente em um ser humano desde o nascimento como uma potencialidade a ser desenvolvida, como forma interna, como caráter, que não se adquire nos livros (nossa cultura não é livresca!…); ela é viva como a vida, é alma e sangue, é sexo e paixão, é intelecto e sentimento, é o sentido REAL do mundo, sua visão concreta. E a cultura platônico-aristotélica, portanto, é algo que nenhum “professor” jamais ensinará, é algo que precisa ser RECORDARDADO, porque o homem moderno (digamos, de Descartes em diante…) ESQUECEU.

O que é necessário lembrar? É simples: o que as drogas ideológicas modernas impediram que nossa mente, nosso espírito e nossos olhos vissem, assim como nossos sentidos percebessem (para Platão, o olho quase não é um dos sentidos, mas a janela da alma para o mundo); lembrar que o mundo é um entrelaçamento, uma trama de microcosmos e macrocosmos que possuem todos o mesmo tecido, ou seja, a mesma lei, o mesmo logos, que é a forma, tanto no infinitamente pequeno quanto no infinitamente grande (da galáxia ao átomo, da célula ao organismo, tanto animal quanto vegetal e mineral). E que a forma emerge de um campo gravitacional quântico muito semelhante à chòra de Platão como matriz cósmica.

23/02/2025

Sergio Álvarez Fernández - A Tauromaquia: Entre o Bom e o Belo

 por Sergio Álvarez Fernández

(2024)



Introdução: como uma galeia


O que acontece com a tauromaquia é o mesmo que ocorre com o ecologismo: aquilo que era um movimento ético acabou se tornando um campo de batalha político. Na medida em que nossa investigação se dirige à primeira, exige-se de nós uma posição inicial, em parte para proteger nossa cabeça, como uma galeia, em parte para evitar equívocos. Adianto já que quem escreve agora não é taurino; que, até o momento de iniciar este trabalho, jamais presenciou uma tourada; que não milita em nenhum partido político; que nunca exerceu seu direito de voto; e que nem mesmo se pode dizer que nutre especial simpatia nem pelos "unos" nem pelos "outros". Isso não quer dizer que seja apolítico, algo impossível se é que alguém quer continuar sendo cidadão, mas simplesmente que não pode ser adscrito de forma unívoca a um dos dois "lados" em disputa.

24/01/2025

Alberto Buela - O Cavalo no Martín Fierro

 por Alberto Buela

(2011)



O que já não foi dito sobre o nosso Poema Nacional que poderíamos dizer nós. Aqui, só nos ocuparemos de um detalhe: aquilo que Fierro diz sobre o cavalo. Claro está que não é um detalhe menor, pois não se pode pensar no gaucho sem o cavalo, a menos que estejamos falando dos gaúchos paraguaios, que como muito bem diz don Justo Pastor Benítez em seu belo "Solar Guaraní", eles são "gaúchos a pé", especialmente após a desastrosa Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870) que destruiu vidas e fazendas do Paraguai.

18/01/2025

René Guénon - Ainda Existem Possibilidades Iniciáticas nas Formas Tradicionais Ocidentais?

 por René Guénon

(1935) 


Pode-se dizer que cada forma tradicional particular é uma adaptação da Tradição primordial, da qual todas derivaram, mais ou menos diretamente, em determinadas circunstâncias especiais de tempo e lugar; de modo que o que muda de uma para a outra não é de forma alguma a própria essência da doutrina, que está acima dessas contingências, mas apenas os aspectos exteriores de que ela se reveste e através dos quais se expressa. Disso resulta, por um lado, que todas essas formas são necessariamente equivalentes como fundamento, e, por outro, que geralmente há vantagem, para os seres humanos, em se ligarem, tanto quanto possível, àquela que é própria ao ambiente no qual vivem, pois é essa que normalmente deve melhor corresponder à sua natureza individual. Foi isso que nosso colaborador J.-H. Probst-Biraben destacou com justa razão ao final de seu artigo sobre o Dhikr[1]; no entanto, a aplicação que ele faz dessas verdades incontestáveis parece-nos requerer algumas precisões adicionais, a fim de evitar qualquer confusão entre domínios diferentes que, por mais que igualmente pertençam à ordem tradicional, são, no entanto, profundamente distintos[2].

13/01/2025

Laurent Guyénot - John F. Kennedy Jr. e a Maldição Cabalista

 por Laurent Guyénot

(2024)


John Fitzgerald Kennedy Jr. morreu há 25 anos, junto com sua esposa e sua cunhada.

Não foi um acidente, mas um assassinato. Resumirei as provas mais adiante.

JFK Jr. foi assassinado porque era filho de JFK, e porque tinha ambições políticas motivadas por uma intensa devoção filial.

Ele precisava morrer pela mesma razão que seu tio Robert Francis Kennedy (RFK) teve que morrer em 1968: nenhum Kennedy deveria jamais se aproximar da Casa Branca novamente – a menos que também se chamasse Schlossberg, de acordo com a opinião do rabino Jeffrey Salkin. E JFK Jr. poderia ter chegado à Casa Branca em oito anos (ele teria 48 anos em novembro de 2008; seu pai tornou-se presidente aos 43 anos). Vou explicar isso também.

06/01/2025

Thibault Isabel - A Crise é no Homem: Suicídio e Infelicidade na Era da Hipermodernidade

 por Thibault Isabel

(2010)



O homem foi feito para ser feliz? Sem dúvida, ele gostaria de ser, com certeza. No entanto, a felicidade permanece um ideal abstrato, que é muito difícil de definir positivamente e ainda mais difícil de realizar concretamente em sua vida. Pode-se razoavelmente supor que, desde tempos imemoriais, todos os representantes de nossa espécie conhecem episodicamente momentos de depressão; o mal-estar, a confusão identitária e a dor de existir fazem, até certo ponto, parte integrante de nossa condição. Também se pode imaginar que algumas pessoas são mais vulneráveis do que outras ao que hoje chamamos de “depressão”, seja por razões puramente psicológicas, relacionadas à educação, ou por razões fisiológicas, ligadas ao circuito neurológico e hormonal do corpo.

Mas, ainda assim, há razões para pensar que a nossa época é vítima de um sentimento exacerbado de mal-estar interior. Desde o marco dos anos 1830 e a entrada brusca na revolução industrial, o Ocidente parece ter sido submerso por uma onda mais ou menos generalizada de “tédio”, que os autores românticos chamavam com otimismo de “mal do século”, sem saber que ainda o sentiríamos quase duzentos anos depois deles... Nossa arte refletiu amplamente esse sentimento ao longo do século XX, assim como nossas publicações médicas, nossas revistas, nossos reportagens televisivos e nossas conversas. A “depressão” está em toda parte, superficialmente tratada por tratamentos farmacológicos da moda, como um remendo aplicado a um navio prestes a naufragar.

04/01/2025

Ernst Nolte - O Conceito de "Identidade" Europeia

 por Ernst Nolte

(2015)


 

O conceito de "identidade" é usado em muitos contextos: fala-se, por exemplo, da identidade de um povo, da identidade de uma cultura, da identidade de um partido, e na maioria das vezes, de forma consciente ou inconsciente, também está em jogo o conceito de "perda de identidade". No entanto, esse conceito também enfrenta uma crítica fundamental, e, de fato, hoje em dia no âmbito científico ou jornalístico, frequentemente se fala, geralmente com um tom negativo, de "essencialismo". A "identidade" é equiparada à "essência", e a "essência", enquanto mesmidade perene, é concebida como um conceito que se opõe ao poder do tempo e das circunstâncias naturais e históricas, como uma abstração fixa que faz violência ao fluxo temporal e ao devir, não muito diferente das "ideias" platônicas. Estas, segundo a concepção de Platão, são origens cósmicas, "pensamentos de Deus", mas na verdade, assim se diz, representam apenas construções da razão humana, que busca tornar intuitível e utilizável a incompreensível multiplicidade do mundo. Contudo, quanto pode uma geração ser distante da anterior, embora nos genes ou no "sangue" estejam presentes continuidades inconfundíveis; quanto podem ser estranhos diferentes estratos de um povo, embora todos usem a mesma língua.

02/01/2025

Aleksandr Dugin - A Revolução Conservadora Russa

 por Aleksandr Dugin

(2004)


 

1. A Rússia conservadora-revolucionária


Os autores que estudavam a Revolução Conservadora alemã ou a Revolução Conservadora de modo geral (Armin Mohler, Alain de Benoist, Luc Pauwels, Robert Steuckers, etc.) sempre destacaram o papel da Rússia no desenvolvimento do pensamento conservador-revolucionário e até mesmo no uso original deste termo. -- Yuri Samarin “Revolutsionnyi conservatism”. Não se pode duvidar também da "Ostorientirung" e de certa russofilia quase obrigatória desse movimento intelectual dos jovens conservadores até os nacionais-bolcheviques alemães, passando pelos geopolíticos da escola de Haushofer. Nesse sentido, as célebres ideias radicais de Jean Thiriart sobre "o império euro-soviético de Vladivostok a Dublin" e o famoso aforismo de Alain de Benoist sobre a preferência pela boina do Exército Vermelho em vez do boné verde americano permanecem dentro dos quadros tradicionais da lógica conservadora-revolucionária mais estrita.

Mas um estudo sério e suficientemente documentado neste domínio ainda está por fazer para apreciar todo o valor intelectual e geopolítico do pensamento conservador-revolucionário dos próprios autores russos. Esta tarefa é extremamente difícil devido à falta de traduções dos escritos dos representantes do pensamento conservador-revolucionário russo para as línguas europeias. Por outro lado, este movimento permanece quase inteiramente ignorado até mesmo na própria Rússia, porque os comunistas de ontem consideravam oficialmente este movimento como "pequeno-burguês" e "nacionalista", e os democratas de hoje pensam que se trata de "chauvinistas", "patriotas" e "antissemíticos", ou até mesmo "nazistas". Apesar de tudo, o interesse pelos autores russos da tendência conservadora-revolucionária na Rússia está crescendo cada vez mais, e pode-se esperar que suas obras e ideias sejam redescobertas e repensadas pela intelligentsia russa, que começa a despertar de um longo sono ideológico. Já se pode notar que o processo intelectual de descoberta do patrimônio nacional no domínio da cultura ainda hoje possui na Rússia vários traços conservadores-revolucionários, embora muitas vezes isso ocorra de maneira espontânea, inconsciente e natural. Pode-se até ousar dizer que a Rússia em si, em sua essência, é naturalmente conservadora-revolucionária, abertamente ou secretamente conforme as circunstâncias externas.