19/05/2025

Gennaro Scala - O Capital e a Tradição

 por Gennaro Scala

(2024)


 

No pensamento de Marx, a oposição ao Capital está inserida em uma visão progressista da história. O domínio do Capital é um mal que precisa ser superado; no entanto, é um mal que, de maneira semelhante ao Mefistófeles de Goethe, acaba por operar em direção ao bem, criando as condições para um novo tipo de sociedade superior. O Capital não só é o instrumento para a criação daquela acumulação de riqueza que é um pressuposto fundamental para o fim da "velha sujeira" — ou seja, o desenvolvimento de riquezas que libertariam os seres humanos da necessidade, a força mais poderosa que perpetuava o domínio e a exploração — como também dissolve todos os vínculos pessoais tradicionais que obstaculizam o surgimento de uma sociedade futura.

De acordo com O Manifesto do Partido Comunista, o Capital "afogou na água gelada do cálculo egoísta os êxtases sagrados da exaltação devota, do entusiasmo cavalheiresco, da melancolia filisteia. Dissolveu a dignidade pessoal no valor de troca e, em lugar das inúmeras liberdades conquistadas honestamente, colocou apenas a liberdade de comércio sem escrúpulos. Em uma palavra: substituiu a exploração mascarada por ilusões religiosas e políticas pela exploração aberta, direta e árida. A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades veneradas e respeitadas até então. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em seus assalariados. A burguesia arrancou o véu sentimental do relacionamento familiar e o reduziu a um simples vínculo monetário."

Além disso, o texto afirma: "Os baixos preços de suas mercadorias são a artilharia pesada com a qual derruba todas as muralhas da China, forçando até a mais tenaz xenofobia dos bárbaros a capitular. Obriga todas as nações a adotarem o sistema de produção burguês, sob pena de ruína, e as força a introduzir em suas casas a chamada civilização, ou seja, a se tornarem burguesas. Em uma palavra: cria um mundo à sua própria imagem e semelhança."

Todavia, existe uma oposição ao capitalismo que pertence à tradição. Aristóteles foi o primeiro grande opositor da acumulação pela acumulação, denunciando os excessos inerentes a esse processo. O cristianismo, tanto católico quanto ortodoxo, proibiu a usura — prática que continua banida nas sociedades islâmicas. A Divina Comédia, de Dante, é uma crítica à ascensão do capitalismo sob a perspectiva da tradição, que reúne tanto o pensamento aristotélico quanto o cristianismo. As sociedades tradicionais se opuseram à ganância individual pela acumulação por reconhecerem o caráter dissolutivo desse impulso quando deixado sem controle.

Foi o caso das cidades italianas do século XIV, que, ao se posicionarem entre o Papado e o Império, conquistaram liberdade para dar vazão à ganância individual. Essa "acumulação primitiva" se tornou indispensável para os estados subsequentes financiarem seus exércitos e acabou se espalhando por todos os estados europeus. Como resultado, devido ao poder gerado pela acumulação de riquezas, esse modelo se difundiu por todo o mundo. Até mesmo Rússia e China tiveram que se submeter ao espírito da acumulação individual. "Enriqueçam-se!" — como disse Bukharin no contexto da NEP, lançada por Lenin.

Edoardo Sanguineti, em Dante Reacionário, observa: "O longo furor contra a loba e aquela amaldiçoada flor do florim é a mais robusta expressão de horror frente aos triunfos fáceis dos banqueiros e comerciantes florentinos, já cúmplices de uma Igreja economicamente modernizada." Ele compara essa denúncia ao grito de grandes escritores da restauração oitocentista diante das vitórias do capitalismo industrial, e até mesmo às queixas de Ezra Pound, que deplorava que "com a usura, [comete-se] um pecado contra a natureza."

Não surpreende que autores "reacionários" possam criticar o capitalismo. Marx, por exemplo, admirava Balzac, um realista político. Sanguineti reconhece que existe uma oposição ao Capital derivada de uma visão tradicionalista da vida, distinta do pensamento progressista, e que pode interessar até aos comunistas. Como o próprio Sanguineti declarou em entrevista: "Se queremos saber o que é o capitalismo, é melhor ler Pound ou Céline do que Baudrillard."

Esse interesse pelo pensamento de Pound unia Sanguineti e Pasolini, apesar de suas polêmicas em outros campos. Pound, com seu Canto Contra a Usura, expressou incisivamente o ponto de vista tradicionalista contra o Capital. Pasolini, por sua vez, declarou provocativamente: "Sou uma força do Passado. Apenas na tradição está o meu amor."

Hoje, enquanto civilizações não ocidentais adotaram princípios capitalistas para resistir à expansão ocidental, a identidade histórica derivada de tradições distintas continua sendo um baluarte contra a imposição de um único modelo ocidental. No entanto, a "alquimia dialética" de transformar o mal em bem não funcionou.

É necessário reconsiderar nosso vínculo com a tradição. A ruptura com o passado não leva a uma sociedade superior, mas à anomia e, por fim, à dissolução social. Devemos, porém, evitar um tradicionalismo que seja o domínio do passado sobre o presente, pois a tradição é um fogo que deve ser mantido vivo, e não um peso morto que sufoca a vida presente.