por Karl Haushofer
(1943)
Quando os grandes espaços da Antiguidade se formam, seguem uma evolução de tipo latitudinal, favorecidos pela posição do Mediterrâneo romanizado, pelo cinturão desértico e pelo traçado das cadeias montanhosas. Desde então, o posicionamento dos grandes espaços da Antiguidade segue um eixo Leste-Oeste, correspondente ao paralelismo da zona temperada setentrional, da zona subtropical e da zona tropical. Apenas os impérios fluviais mais antigos, como o Império Egípcio ao longo do Nilo, a Mesopotâmia e a cultura pré-ariana do Indo constituem exceções. A orientação desses impérios, contrária à do Império Romano, é imposta pelo curso de sua artéria vital (o rio). Essa orientação influencia todo o curso de sua história, até o momento em que são absorvidos pelo primeiro grande espaço latitudinal do Oriente Médio, o Império Aquemênida dos iranianos.
A partir desse momento, desenvolve-se a dinâmica latitudinal, com os fenícios, os helenos, os romanos, os árabes, os povos das estepes, os francos e os ibéricos. De fato, os povos ibéricos transferem inicialmente sua potência de um Mediterrâneo para outro, do Mediterrâneo romano para o Caribe, nas Américas. Assim, eles continuam a lógica latitudinal. Quando chegam às margens do Pacífico, essa expansão latitudinal assume a forma de um leque. Entre 1511 e 1520, os portugueses a partir do Oeste e os espanhóis a partir do Leste alcançam o primeiro grande espaço que tenta se desenvolver longitudinalmente para o Sul, contando com suas próprias forças; na época, esse grande espaço era o porta-estandarte do Leste Asiático, ou seja, a China, uma potência que frequentemente mudou de forma externa, mas manteve sua cultura e seu patrimônio racial. Antes da chegada dos ibéricos e da adoção dessa lógica de expansão longitudinal, a China também havia se expandido latitudinalmente.
O fluxo migratório asiático-oriental, chinês e japonês, ocorre em um eixo Norte-Sul, no momento em que a expansão colonial espanhola o cruza, constituindo ao mesmo tempo o primeiro império latitudinal "onde o Sol nunca se põe". A Espanha conserva seu monopólio por apenas 70 anos. Depois, em suas pegadas, chegam aqueles que buscam confiscar sua potência e deserdá-la. O mais poderoso desses novos adversários é a Inglaterra, que rapidamente começa a construir seu primeiro e segundo impérios, cuja configuração apresenta numerosas torções, mas que permanece, ainda assim, o resultado de uma expansão latitudinal, determinada pela posição do Mediterrâneo, cujo controle garante a posse da Índia. Quanto ao império dos czares brancos e depois vermelhos, ele segue, em direção ao Leste, a extensão latitudinal da zona dos campos de trigo. Entre os dois impérios situa-se uma zona-tampão. Nos anos 40 do século XX, emergem quase simultaneamente duas construções geopolíticas longitudinais, a construção pan-americana e a grande construção asiático-oriental, que escapam ambas a esse campo de forças latitudinal, impulsionam expansões ao longo de eixos Norte-Sul e delimitam as expansões imperiais britânica e russa.
Se compararmos esse novo estado de coisas à concepção dinâmica de vanguarda de Sir Halford Mackinder, chamada por ele de “the geographical pivot of history” e enunciada em 1904 — que correspondia perfeitamente à situação daquela época —, a nova orientação das expansões pan-americana e asiático-oriental constitui uma formidável modificação do campo de forças na superfície da Terra; nesse novo contexto, a tentativa de realizar a ideia de Euráfrica ou os esforços da União Soviética para abandonar sua dinâmica latitudinal e orientar sua expansão para o Sul e para os mares quentes, com o objetivo de constituir uma plataforma no Oceano Índico, não exibem uma energia cinética igualmente poderosa.
Essa constatação é ainda mais preocupante, pois, na vasta área asiático-oriental, pode-se observar um impulso interno que conduz a uma espécie de autolimitação centrípeta, voltada para concentrar todos os esforços no grande espaço habitado por povos afins. Essa vontade centrípeta já está operante e visível. Por outro lado, a potência imperialista dos Estados Unidos não é centrípeta, mas, após consolidar a dominação norte-americana no espaço pan-americano, estende seus tentáculos em direção à África tropical, ao Irã, à Índia e também à Austrália. O imperialismo americano parte de sua base — um território formado a partir de uma expansão longitudinal — para assegurar a dominação global, desencadeando, por sua vez, uma dinâmica latitudinal em seu benefício. Esse imperialismo já se prepara para confrontar o expansionismo de seus futuros inimigos, pavimentando o caminho para uma terceira guerra mundial.
Assim, partindo da expansão longitudinal pan-americana, o imperialismo de Washington busca, sem pudor, tornar-se a única potência imperialista do globo, excetuando-se, porém, o perigo representado pela revolução mundial soviética. Frente a essa revolução soviética, a grande área asiático-oriental dinamizou seu espaço cultural e iniciou o desdobramento de sua própria potência. Dessa forma, pretende garantir seu futuro constituindo uma zona de amortecimento. Há uma geração, observadores acreditam que a Europa também deveria criar uma zona-tampão, como já sugerido por figuras como Ito, Goto, entre outros, para se opor às ambições expansionistas do czarismo.
A colisão frontal entre a dinâmica longitudinal e a dinâmica latitudinal é muito evidente na África, no espaço islâmico e na zona onde o império britânico parece estar se desmoronando. Constatamos, portanto, a existência de duas pequenas linhas de tráfego aéreo e marítimo que se estendem bem ao sul, nas extremidades das quais parece estar conectada a Austrália — um continente vazio, situado entre os territórios compactos habitados por populações anglófonas e na principal rota de expansão para o sul da grande área asiático-oriental. Mackinder mencionou um "crescente exterior" que corria o risco de ser abandonado ao mar; nessa parte do planeta, essa previsão quase se concretizou. Essa é também a razão pela qual, neste momento, a Europa não parece mais solidamente conectada à África. O impulso lateral contra os dominadores das latitudes deslocou-se para o sudeste.
Hoje, aos soviéticos, que dominam o que Mackinder um dia chamou de "pivot of history", e ao Eixo — as potências do "crescente interior" —, resta apenas reconhecer o fato. Certamente, os combates sangrentos que ocorrem hoje no teatro pôntico [do Mar Negro] e cáspio são importantes para o destino da cultura europeia, assim como todos os conflitos históricos que se desenrolaram nessa região. Contudo, para a nova divisão do planeta em agrupamentos de grandes espaços, divisão que se impõe, esse teatro de guerra tornou-se secundário.
A evolução geopolítica decisiva futura é a seguinte: a expansão latitudinal anglo-americana dirigida contra a expansão longitudinal asiática continuará ou será bloqueada? Independentemente de esta luta ter um desfecho positivo ou negativo, os Estados Unidos acreditam ter garantido no antigo império britânico territórios suficientes para equilibrar suas contas. Na prática, isso significa que eles querem manter a América tropical e, além disso, a África tropical. Se considerarem que a Insulíndia, a terceira grande região tropical fornecedora de matérias-primas, o Irã, já fortemente impactado, e a Índia valem os enormes sacrifícios sangrentos e os colossais investimentos financeiros, eles se apoderarão desses territórios concentrando tantas forças quanto o fazem para expulsar as potências da grande área asiático-oriental de suas posses fortificadas. Para aqueles que sacrificam seu sangue ou dinheiro pela causa dos Aliados, para que estes sejam os beneficiários do grande legado, esta é a questão mais evidente a ser colocada nesta luta planetária.
É para serem os herdeiros desse grande patrimônio, e não por princípios, que os Estados Unidos mostram à Europa seus dentes de gangster; na grande área asiático-oriental, eles fazem ecoar apenas aquele rufar de tambores que são as declarações de McArthur, impulsionado a fracassar no Pacífico sua chance de se tornar, um dia, presidente, como Cripps fez na Índia em seu tempo. Entre a China de Nanquim e a China de Chongqing são possíveis, como antes, os compromissos mais absurdos e surpreendentes. O vasto ambiente envolvido pela expansão longitudinal da grande área asiático-oriental ainda está cheio de energias latentes. No plano cinético, essas energias foram vistas em ação apenas à esquerda do Japão, principalmente na China, mas ainda não vimos nada à direita. Ali, espera-se uma guerra que durará de dez a quinze anos. A China resistiu a 32 anos de guerras civis; o Japão tem por trás de si doze anos de guerra no continente. E demonstrou ser realmente capaz de golpear com força na direção do Pacífico. Será necessário ter fôlego amplo, ser capaz de enfrentar tempos longos e compreender as dinâmicas de vastos espaços para entender a luta que opõe a dinâmica latitudinal à dinâmica longitudinal, ambas se desdobrando de um lado e do outro do Pacífico.