por Aleksandr Dugin
(2019)
(2019)
O Conceito de “Democracia” não é neutro e não é auto-evidente
Hoje a democracia não pode ser discutida objetivamente. Não é um conceito neutro: por trás da “democracia”, enquanto regime político e sistema de valores correspondente, está o Ocidente, a Europa e os EUA. Para eles, a “democracia” é uma forma de culto secular ou uma ferramenta de dogmática política; portanto, para ser totalmente aceito na sociedade ocidental, é necessário ser “a favor” da democracia. Quem a põe em questão cai fora do campo do politicamente correto. A oposição marginal é tolerada; mas se for mais do que marginal, a democracia coloca suas máquinas de opressão contra as suas alternativas, como qualquer regime, qualquer ideologia e qualquer religião dominante. Não é possível falar em "democracia" imparcialmente. É por isso que, nas discussões sobre democracia, devemos dizer imediatamente se somos completamente a favor ou completamente contra. Responderei com extrema sinceridade: sou contra, mas sou contra apenas porque o Ocidente é a favor. Não estou preparado para aceitar nada de forma impensada e acrítica, mesmo que todo mundo acredite, e ainda mais se isso for acompanhado por uma ameaça oculta (ou clara). Você sugere que eu confie na minha própria razão, não? Começarei com o fato de que a razão me aconselha a rejeitar todas as sugestões [predlozheniy, ofertas, propostas]. Ninguém pode nos dar liberdade. Nós a temos ou não. Um escravo converterá até mesmo a liberdade em escravidão, ou pelo menos em estupidez, e uma pessoa livre nunca será escrava nem sob grilhões. Em seu tempo como escravo Platão não se tornou menos Platão ou menos livre, enquanto ainda pronunciamos o nome do tirano Dionísio com desprezo; então, qual deles é escravo? De qualquer forma, como diz um livro popular sobre análise técnica, "a maioria está sempre errada".
Somente essa distância crítica em relação à “democracia” fornece um campo para sua compreensão conceitual. Colocamos a “democracia” em dúvida, em questão, e a desafiamos como um dogma. Assim, conquistamos o direito à distância, mas somente dessa maneira podemos chegar a um resultado válido e bem fundamentado. Não acreditar na democracia não significa ser seu oponente. Significa não ser seu prisioneiro, não estar sob sua hipnose e sua sugestão. Partindo de tanta incredulidade e dúvida, é inteiramente possível que concluamos que a democracia é algo valioso ou aceitável, ou talvez não. Devemos raciocinar exatamente da mesma maneira sobre todas as outras coisas. Só isso é filosofia. Não há evidência a priori para um filósofo. É exatamente o mesmo para um filósofo político.
Vale lembrar que democracia não é um conceito auto-evidente. A democracia pode ser aceita ou rejeitada, estabelecida ou demolida. Houve sociedades esplêndidas sem democracia e detestáveis com democracia, mas também houve o oposto. A democracia é um projeto humano, uma construção, um plano, não o destino. Ela pode ser rejeitada ou aceita. Isso significa que ela precisa de justificação, de apologia. Se não houver apologia pela democracia, ela perderá o sentido. Uma forma não democrática de governo não deve ser tomada como obviamente a pior. A fórmula "o mal menor" é um ardil propagandístico. A democracia não é o mal menor... talvez não seja o mal, talvez seja o mal. Tudo exige reconsideração.