por Alberto Buela
(2008)
Nestes dias, fala-se muito nos grandes meios de comunicação sobre o tema do ressentimento no agir político. E como já nos perguntaram várias vezes sobre o tema, tentaremos de forma breve e clara fixar algumas notas sobre o conceito mencionado. O ressentimento é um fenômeno complexo, baseado na consciência da própria incapacidade e fraqueza, principalmente quando essa incapacidade não permite realizar a vingança desejada.
Sua importância na gênese da moral é que pode dar lugar a uma inversão da hierarquia de valores, julgando como superiores os valores que podem ser realizados e como desprezíveis os valores que são inacessíveis para o homem ressentido. Existe uma consciência de impotência diante dos valores verdadeiros.
O ressentimento é uma autointoxicação psíquica que surge ao reprimir sistematicamente os afetos e as descargas emocionais normais. Revela a consciência da própria impotência, pois leva a refrear aquele impulso espontâneo de vingança que vai se acumulando, retardando assim o contra-ataque. O ressentimento acumulado acaba por desumanizar o oponente, abrindo a porta para o extermínio. Como disse um assassino das FARC: "Eu não matei uma pessoa, matei um empresário".
O ressentimento se manifesta através do sentimento de rancor que podemos definir como "ódio retido", daí que antigamente se chamava os ressentidos de "amargos", porque retêm a ira por longo tempo [1].
Cabe a Robespierre, o grande jacobino da Revolução Francesa, o mérito de ter sintetizado em uma frase a psicologia daquela Revolução como de ressentimento: "Senti, desde muito cedo, a penosa escravidão de ter que agradecer". O ressentido sofre de cegueira moral em relação à gratuidade, à doação e ao agradecimento.
O ressentimento foi estudado em profundidade por dois autores alemães contrapostos neste ponto: Friedrich Nietzsche em A Genealogia da Moral e Max Scheler em O Ressentimento na Moral.
É sabido que a forma de raciocínio de Nietzsche em todas as suas obras é através de uma psicologia refinada que explica as coisas "por baixo". "Esta interpretação sofística e psicologizante consiste em interpretar a genealogia do ideal a partir de seu contrário" [2]. Assim, ele vai sustentar que a santidade tem sua origem na perversão, a verdade no instinto de engano, o direito na vontade de aproveitamento do outro. Acredita que a caridade, a castidade, a humildade e a paciência são vistas como valores apenas pelos fracos, pela moral de escravos dos cristãos, que são aqueles que não têm força para superar a opressão e as situações de injustiça.
Nietzsche, como pensador anticristão por excelência, vai afirmar de forma categórica: "A partir de sua impotência, cresce neles o ódio até se tornar algo gigantesco e sinistro, no mais espiritual e no mais venenoso. Os maiores odiadores da história mundial sempre foram os sacerdotes" [3].
Max Scheler vai responder que esse raciocínio é falso no que diz respeito à moral cristã, pois o perdão cristão não é uma incapacidade de não se vingar por fraqueza pessoal, mas sim uma privação livre da satisfação da vingança. O cristão genuíno tem uma consciência espontânea de seu próprio valor, o que lhe dá segurança e permite aceitar o valor dos outros, mesmo quando eles são superiores a ele. O ressentido, ao contrário, em vez de reconhecer os valores superiores e se resignar, os rebaixa, negando a bondade daquilo que invejava.
O motor da moral cristã não é o desejo do que não se tem, mas consiste em dar-se e doar-se, por parte de quem tem e se sente cheio de valor e felicidade. É um movimento que brota da mais íntima segurança na plenitude de seu próprio ser. Nietzsche, para Scheler, confundiu e assimilou o cristianismo à moral burguesa de seu tempo, própria dos pastores luteranos, como seu pai, ignorando a natureza do cristianismo católico.
A moral burguesa, afirma Scheler, transformou o amor cristão em pura filantropia sentimental, que o reduz à simpatia, emoção ou a um sentimento de pena. Scheler defende com força a grande diferença entre a misericórdia cristã autêntica e a moderna compaixão sentimental. À desconfiança radical no outro, própria do mundo burguês, ele opõe a solidariedade moral característica da comunhão dos santos. À multiplicação infinita de meios no mundo burguês e a uma clara confusão nos fins, ele opõe o mundo católico da Idade Média, que com um mínimo de meios sabia se alegrar neles mesmos. Mesmo o ascetismo daquela época provocava uma maior capacidade de gozar com o mínimo de coisas agradáveis: uma gota de chuva sobre uma folha. O cristão burguês e luterano contra o qual Nietzsche reage não é o melhor exemplo do que é o cristianismo.
Resta finalmente responder se o homem pode sair ou se libertar do ressentimento. Nós entendemos que do ressentimento se pode sair de quatro formas ou maneiras:
a) A primeira e mais expedita é a vingança da ofensa, que produz a liberação do ódio retido ou rancor.
b) A segunda possibilidade é o perdão, que é sacrificar livremente o valor da satisfação que a vingança produz, mas, ao mesmo tempo, só se perdoa autenticamente quando ainda se sente magoado.
c) A terceira atitude é através do esquecimento, o que implica a passagem do tempo, e, por último,
d) temos o luto, interpretando de outra forma a ofensa, realocando-a na memória.
Vemos, então, que o determinante no surgimento do ressentimento, assim como sua solução ou superação, não está tanto na ofensa, mas na resposta pessoal a ela. Daí que uma mesma agressão ou ofensa feita de forma igual a várias pessoas cause em algumas um sentimento passageiro de dor e em outras desperte um ressentimento duradouro.
O ressentimento na política
O ressentido no poder, quando age na esfera política, tinge sua ação com seus próprios preconceitos e assim divide o mundo entre incluídos e excluídos, conforme estes coincidam com sua visão das coisas, do mundo e de seus problemas. O ressentido no poder, por não conseguir perdoar, fica preso a um passado que não consegue esquecer. Assim, para ele, o passado é um passado que nunca termina de passar. Ele não consegue esquecer. Na realidade, o ressentimento manifesta melhor sua natureza no âmbito social e político do que no campo individual.
Quem mostrou isso com maior profundidade foi o médico e pensador espanhol Gregorio Marañón (1887-1960) em seu livro Tibério: História de um ressentimento. O imperador de Roma na época de Cristo é o modelo por excelência do homem público ressentido. Um homem fraco e covarde que, ao alcançar o poder político, adquire uma "fortaleza oportunista" que lhe permite aplicar tardiamente a vingança sobre os menores aspectos de sua vida pessoal passada. Nesse momento, no da execução das pequenas vinganças pessoais, ele é incapaz de agradecer a mínima ajuda de seus colaboradores mais próximos. O egocentrismo chega à sua máxima expressão: "o triunfo, longe de curar o ressentido, o piora, e é uma das razões da violência vingativa que o ressentido exerce quando alcança o poder".[4]
Para os romanos, o termo rancor provinha, como dissemos, de rancor (queixa ou ódio), e da mesma raiz ranc- vem ranço: sabor ou cheiro forte de algo que, passado o tempo, se estraga. E como dado curioso, acrescentemos que da mesma raiz provém o substantivo rengo, sujeito a quem o saber popular atribui ser portador de "má sorte". E é sabido que a má sorte na vida está, junto com as ofensas não respondidas, na origem do ressentimento.
Em definitiva, como na política o que parece é, pois só existe politicamente aquilo que aparece — porque a política é sempre política pública —, para o político ressentido o que importa não é o dano sofrido, mas sim o que resta do dano. "A ele não interessa a ferida, o que lhe importa é a cicatriz", afirmou acertadamente Jacques Lacan. Essa brilhante observação pode ser aplicada a todo político ou homem com poder ressentido que há no mundo.
A pergunta que surge naturalmente é se o ressentimento político é incurável, como sustentava Marañón, ou se pode ser remediado. Nesse sentido, é interessante recuperar a distinção feita pelo psicanalista Luis Kancyper, que propõe, para superar o ressentimento político, passar da "memória do rancor" para a "memória da dor": "O sujeito rancoroso (ressentido e remordido) é um mnemônico implacável. Encontra-se possuído por reminiscências vindicativas. Não consegue perdoar nem perdoar-se. Não consegue esquecer."[5] Enquanto a memória da dor "admite o passado como experiência e não como fardo; não exige a renúncia à dor do ocorrido e do conhecido."[6] Com isso, logra-se a elaboração de um luto normal e previne-se a repetição do mal. E ele encerra, como bom argentino, com algumas estrofes do Martín Fierro:
Qualidade mui meritória
E aqueles que nessa história
Suspeitam que eu lhes fustigo
Saibam que esquecer o mal
Também é ter memória.