19/11/2025

Robert Steuckers - A Leitura Evoliana das Teses de Hans F. K. Günther

por Robert Steuckers

(2025)


 

Hans Friedrich Karl Günther (1891-1968) ficou conhecido por publicar, a partir de julho de 1922 até 1942, uma Rassenkunde des deutschen Volkes (Raciologia do Povo Alemão), que alcançou, somadas todas as edições, 124.000 exemplares. Uma versão resumida, intitulada Kleine Rassenkunde des deutschen Volkes (Pequena Raciologia do Povo Alemão), chegou a 295.000 exemplares. Essas obras popularizavam as teorias raciais da época, especialmente as classificações de fenótipos raciais encontrados — e ainda presentes — na Europa Central.

Mais tarde, Günther voltou-se para a religiosidade dos indo-europeus, que descreveu como "pan-trágica" e "contida", definindo-a como desprovida de êxtase emocional (cf. Religiosidade Indo-Europeia, Pardès, 1987; trad. e prefácio de R. Steuckers; apresentação de Julius Evola). Como mencionado anteriormente, Günther também publicou um livro sobre o declínio das sociedades helênica e romana, além de um estudo sobre influências indo-europeias/nórdicas (termos frequentemente sinônimos em sua obra) na Ásia Central, Irã, Afeganistão e Índia, incluindo referências à dimensão pan-trágica do budismo primitivo. Esse interesse aproximou-o de Evola, autor de A Doutrina do Despertar, obra fundamental sobre o budismo (cf. Die Nordische Rasse bei den Indogermanen Asiens, Hohe Warte, 1982; prefácio de Jürgen Spanuth).

18/11/2025

Laurent Guyénot - Quão "Judaico" é o Deus Cristão?

 por Laurent Guyénot

(2025)



Monoteísmo "Pagão"?


A ideia de que os gregos ou romanos — ou mesmo os bárbaros — eram incapazes de elevar-se acima do politeísmo para conceber um Deus universal, e de que os europeus precisaram do monoteísmo judaico — sob a forma de cristianismo — para "conhecer" "Deus", é a mentira seminal que nos alienou do nosso passado romano e, por fim, nos submeteu à influência judaica. Se os judeus nos deram Deus, então lhes devemos o mundo — e eles sabem disso.

14/11/2025

Aleksandr Dugin - A Significância de Heidegger e de sua História da Filosofia para a Rússia

 por Aleksandr Dugin

(2025)



A possibilidade da filosofia russa


Hoje, as questões sobre o que é a filosofia russa, se ela existiu, se existe agora e se existirá no futuro são prementes. Mas há uma questão ainda mais profunda: a filosofia russa é sequer possível? A pergunta soa estranha e paradoxal, mas não raro nos deparamos com fenômenos que existem de facto, embora seu sentido, conteúdo, justificação e estrutura orgânica permaneçam problemáticos. Sob análise mais atenta, tais fenômenos revelam-se não como aquilo que aparentam ser, mas como simulacros, falsificações, obscuras “cópias sem originais” (Baudrillard)[1]. Eles “são”, mas são impossíveis. Sua ontologia está enraizada no mal-entendido, na falsificação, num deslocamento desarmonioso. Pitirim Sorokin descreveu fenômenos semelhantes nos sistemas sociais como uma “sociedade de despejo”[2]. Oswald Spengler recorreu, em situações análogas, à figura da “pseudomorfose”[3] (em geologia, o nome de uma formação mineral em que fatores heterogêneos interferem inesperadamente durante o processo de cristalização, como a lava de um vulcão em erupção, etc.).

Assim, a questão da possibilidade da filosofia russa é plenamente legítima. O que costumamos chamar por esse nome pode revelar-se justamente um simulacro ou uma pseudomorfose. Ou pode não ser. De qualquer forma, para fundamentar seriamente a possibilidade da filosofia russa, é necessário um certo esforço. Esse esforço é ainda mais necessário porque mesmo a visão mais otimista da filosofia russa não pode ignorar seu surgimento tardio na história russa e a grave interrupção em sua existência no século XX, quando, se não desapareceu completamente (não tendo tido tempo de realmente começar), foi profundamente distorcida pela dogmática marxista. Se a filosofia russa, enquanto tal, existe, está historicamente danificada e precisa de reanimação. Se existe em esboço, é ainda mais necessário recorrer aos seus pressupostos, ao domínio de sua possibilidade. Além disso, há uma demanda por sua fundamentação e retorno às posições iniciais, a partir das quais pode começar o processo complexo e não tão óbvio da filosofia no contexto da cultura autóctone russa [4].

12/11/2025

José Alsina Calvés - Sobre as Obras Biológicas de Aristóteles - Parte I: O Método

 por  José Alsina Calvés

(2024)



Introdução


Os tratados biológicos de Aristóteles constituem um quinto da obra conservada do estagirita. Apesar disso, durante muito tempo não despertaram grande interesse entre os especialistas, mais voltados para a Metafísica e a Lógica. Mas, há já bastante tempo, a crítica voltou a interessar-se pela biologia aristotélica. As causas são diversas.

Em primeiro lugar, alguns autores, como Pellegrin[1] ou Balme[2], demonstraram que as teorias biológicas de Aristóteles se inseriam em seu programa de filosofia geral, de modo que seu estudo não interessava apenas aos historiadores da Biologia, mas também aos analistas da filosofia do estagirita. A teoria das quatro causas, a distinção matéria-forma ou as ideias sobre o movimento parecem concretizar-se de forma clara nos tratados sobre os seres vivos.

11/11/2025

Andrea Scarabelli - Drieu: História de uma Adolescência

por Andrea Scarabelli

(2016)
 


Yukio Mishima escreve suas Confissões de uma Máscara entre os vinte e trinta anos. É 1949. Embora não admita, trata-se de uma autobiografia, e justamente por isso não deixou de provocar polêmicas, por razões que deixamos aos profissionais do escândalo. O livro fala das primeiras incursões na vida de um adolescente que vive em si mesmo o desequilíbrio de seu tempo. Pois é aí que reside a grandeza ou a miséria de uma vida: ou ela percorre as etapas de uma civilização inteira, encarnando suas fraturas, exibindo suas lacerações, ou então é simplesmente pouco interessante.

09/11/2025

Claude Bourrinet - Pletão, Esparta e Zaratustra

 por Claude Bourrinet

(2025)


 

Na sua tradução de 1492 das Enéadas de Plotino, dedicada a Lorenzo de Médici, Marsilio Ficino refere-se ao filósofo bizantino Gemisto, conhecido como Pletão (1355/1360–26 de junho de 1452), apresentando-o como "um outro Platão", com quem Cosimo discutira os "mistérios platônicos". O redescobrimento do platonismo durante o Renascimento foi acompanhado por uma vitória gradual sobre o aristotelismo (embora os filósofos geralmente buscassem conciliar as duas correntes), apesar da resistência dos círculos monásticos e da maioria dos "reformadores" da Igreja, que defendiam um retorno aos Padres da Igreja. A queda de Constantinopla em 1453 e o mecenato dos Médici, especialmente Cosimo, fundador da Academia Platônica Florentina, favoreceram a translatio studii do corpus neoplatônico e a visão de uma corrente de ouro que ligava essa tradição de pensamento a sabedorias arcaicas, como as de Hermes Trismegisto e Zoroastro. O Concílio de Ferrara/Florença (1438–1439), que reuniu o imperador João VIII Paleólogo e visava reconciliar as duas partes de uma Cristandade dividida pelo Cisma de 1054 — especialmente devido à questão do Filioque —, foi ocasião para encontros frutíferos entre intelectuais gregos e latinos. Pletão destacou-se como um dos protagonistas desse intercâmbio. Em 1439, escreveu um texto sobre as diferenças entre Platão e Aristóteles (conhecido como De Differentiis, publicado em grego em 1450 — a versão latina jamais foi impressa). Essa comparação, que permaneceu confidencial, provocou uma resposta virulenta em 1448/1449 por parte de seu rival Georgios Scholario (Gennade). No entanto, esse modelo comparativo inspiraria muitas análises semelhantes no Ocidente. Embora o estudo das fontes utilizadas por Ficino mostre claramente que ele se inspirou — e por vezes quase parafraseou — o filósofo de Mistra, a figura e as obras de Pletão caíram em um relativo esquecimento no meio acadêmico. Algumas de suas ideias foram retomadas por Pico della Mirandola e Ficino, principalmente em suas referências a profetas e sábios da Antiguidade, como Zoroastro.

06/11/2025

Christian Bouchet - Os Carlistas: Os Vendeanos da Espanha

 por Christian Bouchet

(2025)



Surgido há 192 anos na Espanha, o carlismo permanece bem vivo. Ele encarna uma fidelidade a uma visão de mundo tradicional e pré-industrial, próxima à dos legitimistas franceses.


A origem: uma questão de valores


Tudo começou em 1830, quando o rei da Espanha, Fernando VII, alterou a ordem de sucessão – que até então seguia a lei sálica – para que sua filha mais velha, Isabel, pudesse herdar o trono. O irmão do rei, Carlos de Bourbon, que seria o legítimo sucessor, recusou-se a jurar lealdade à sobrinha e, em 1833, após a morte de Fernando VII, autoproclamou-se rei da Espanha.

À primeira vista, parecia uma simples disputa dinástica, mas, na realidade, escondia algo mais profundo: um embate entre duas visões de mundo. De um lado, Isabel II agrupava a burguesia anticlerical, liberal e centralista; do outro, Carlos de Bourbon era o porta-voz do povo simples, dos católicos e da defesa dos fueros (privilégios regionais e locais).


23/10/2025

Manuel Noorglo - Alexander Herzen: Filósofo e Revolucionário entre Oriente e Ocidente pelas Pequenas Comunidades

 por Manuel Noorglo

(2024)

 


 

"As pequenas comunidades são a base da democracia. São o lugar onde os cidadãos podem participar ativamente da vida política e social."


Alexander Herzen nasceu em Moscou em 1812, filho ilegítimo de um aristocrata proprietário de terras russo e de uma governanta alemã. Sua infância, marcada pela condição de filho ilegítimo, tornou-o sensível às injustiças sociais e o levou a buscar um sistema político e social mais justo.


A juventude e o exílio


Herzen formou-se em física e matemática na Universidade de Moscou, onde se aproximou das ideias socialistas. Em 1834, foi preso por participar de um círculo revolucionário e condenado ao exílio na Sibéria. Em 1839, conseguiu fugir e refugiou-se na Europa, onde viveu exilado pelo resto da vida.

No exílio, Herzen fundou a revista "Kolokol", que se tornou um importante veículo de difusão das ideias revolucionárias na Rússia. Herzen criticava o capitalismo, que considerava um sistema baseado na opressão dos trabalhadores, e o socialismo centralista e autoritário, que julgava contrário aos princípios de liberdade e autodeterminação dos povos.

16/10/2025

Naif Al Bidh - A Crítica Spengleriana do Eurocentrismo na Historiografia Ocidental

 por Naif Al Bidh

(2024)


 

Uma alta-cultura tem um ciclo de vida predeterminado de aproximadamente um milênio. Spengler divide o ciclo de vida de uma cultura em quatro fases, ou estações, paralelas às quatro estações que marcam a mudança no clima após a órbita completa da Terra ao redor do Sol. O desenvolvimento histórico de uma cultura começa com um período primaveril rural e intuitivo, onde o espírito do campo é dominante. Segue-se uma fase de verão que simboliza o amadurecimento da consciência e as primeiras manifestações de assentamentos urbanos. Um período outonal sinaliza a vitória do dinheiro e o ápice da criatividade intelectual, sendo esta a fase de florescimento da cultura. Por fim, um período invernal, onde uma visão de mundo materialista prevalece e esgota as forças criativas das respectivas culturas (Spengler 976-978).

14/10/2025

Rigolf Hennig - A Periculosidade do Novo Mundo

 por Rigolf Hennig

(2000)


 

Ninguém quer a guerra, mas ninguém hoje percebe os sinais premonitórios do novo conflito global que se delineia no horizonte. Portanto, o olho do observador inteligente não pode mais ignorar nada.

São os mesmos círculos que a preparam, aqueles que desencadearam as duas guerras mundiais, de 1914-18 e de 1939-45, que, na verdade, formaram juntas uma guerra de 30 anos. Esses círculos são as conventículos daqueles que lucram com as guerras, que não toleram nenhuma potência ao lado da sua e que atacam sem tréguas todos os que se opõem à sua "ordem mundial". Essa guerra de 30 anos, que todos acreditavam terminada, mas que na realidade estava mascarada por um armistício, corre o risco de se tornar uma guerra de 100 anos.