15/07/2021

Lorenzo Pennacchi – D’Annunzio Revolucionário

 por Lorenzo Pennacchi

(2015)


Este mundo não basta, canta Sköll, referindo-se a grandes eventos e personagens do início do século XX italiano. Entre eles, obviamente, Gabriele D'Annunzio, uma dessas personalidades que escapam a qualquer tipo de classificação, desmantelando radicalmente os esquemas pré-estabelecidos. Sobre ele, costuma-se dizer que era fascista. Talvez, pelo menos em parte, ele tenha sido, mas, com certeza, não foi apenas isso. O significado deste pequeno artigo, que é possível graças à magistral coleção de discursos e textos d'annunzianos editados por Emiliano Cannone e intitulado Manual do Revolucionário, é justamente mostrar o outro lado do poeta-soldado que com um Me Ne Frego e seu "espírito jovem" tentou tirar a Itália da podridão em que se encontrava. Não é por acaso que, no Congresso da IIIª Internacional, Lênin dirá: "Na Itália há apenas um revolucionário: Gabriele d'Annunzio". O paralelismo entre o Vate de Pescara e o revolucionário russo não se detém nesta frase. Em 9 de junho de 1920, em entrevista a Randolfo Vella, D'Annunzio confessou: "Eu sou a favor do comunismo sem ditadura [...] É minha intenção fazer desta cidade uma ilha espiritual da qual eu possa irradiar uma ação eminentemente comunista para todas as nações oprimidas".

A cidade em questão é, obviamente, a tão cobiçada Fiume, invadida, ocupada e anexada ao Reino da Itália em 12 de setembro de 1919, sob o grito Eia Eia Alalà (adotado no lugar do "bárbaro" Hip Hip Hurrah). Poucos meses depois o Vate dirá aos seus legionários:

"O espírito de Fiume transcende seus muros, vai além de seu porto, vai além de seu círculo cárstico. O domínio espiritual de Fiume é imenso. E não basta fechar os olhos para negá-lo, como tenta fazer a estúpida avestruz britânica. O exemplo de Fiume pode ser reconhecido hoje em todas as rebeliões contra a injustiça, em todas as revoltas em busca de liberdade, da Irlanda ao Egito, da Rússia ao novo império árabe, da Bélgica às Índias, dos Bálcãs ao Sudão, das colônias de Trajano às tribos de afrivianos. Nossa próxima primavera se anuncia como um vasto tumulto de luta e fervor, onde ouviremos os corações fraternais mais distantes batendo. Agora começa o belo."


Nesta etapa traçamos as características essenciais do empreendimento fiumano. Em primeiro lugar, a disposição espiritual, assim como terrena, da revolta e da guerra: "Claro que estamos aqui por uma disputa de território; mas estamos aqui também por uma causa mais ampla, por uma causa mais amplamente humana: pela causa da alma, pela causa da imortalidade". Em segundo lugar, o caráter internacionalista do pensamento de D'Annunzio, que lhe permite associar-se apenas parcialmente com as franjas nacionalistas do país, aproximando-o também à frente socialista. Socialismo, nacionalismo e progressismo se fundem na Carta de Carnaro, a constituição da Regência proclamada pelo Vate em setembro de 20, reconhecida apenas pela Rússia leninista. A Carta estabelece "um governo do povo", "reconhece e confirma a soberania de todos os cidadãos independentemente de sexo, linhagem, língua, classe, religião", enquanto não aceita "a propriedade como domínio absoluto da pessoa sobre a coisa, mas a considera como a mais útil das funções sociais". Finalmente, a mensagem profética, "agora começa o belo", não se materializará, também porque nos dias de Natal do mesmo ano, os legionários serão desbaratados pelo governo Giolitti e a Regência será substituída pelo Estado Livre de Fiume, que de liberdade conservará muito pouco.

D'Annunzio não pode deixar de se sentir traído pelo seu país, pelo qual arriscou tudo. Os tons polêmicos que já haviam caracterizado os escritos do poeta em 1919 reapareceram. Naquela época foi o próprio Mussolini a pagar o preço em uma carta, depois de ter garantido homens para o empreendimento: "E você está aí balbuciando, enquanto nós lutamos de momento em momento, com uma energia que faz deste empreendimento o mais belo depois da partida dos Mil. Onde estão os combatentes, os arditi, os voluntários, os futuristas"? Agora, volta a ser a podre e velha casta política, que está sujando a Itália e é "incapaz de administrar sua própria imundície". Também nisto se vê a atualidade do pensamento de D'Annunzio, gerado em uma situação que, quase um século depois, tem mais semelhanças do que se pode imaginar à primeira vista. Com características até anárquicas, testemunhadas pelos comentários de personagens próximos a ele (como Mario Carli, diretor da Testa di Ferro, o jornal fiumano), mas também e sobretudo por suas políticas, tendo a festa como pedra angular da vida cotidiana durante a Regência, D'Annunzio foi sem dúvida um personagem sincrético. Hoje, ele deve ser lido, não para fazer-lhe homenagens estéreis ou retomar esterilmente suas propostas, mas para compreender o dinamismo, a ousadia e a fé que caracterizou sua vida, e que, em grau diferente de pessoa para pessoa, faria bem a todos, em um século de grande comodidade e poucos ideais:

"Sejam fortes e tenham fé...sobretudo fé. Fé no futuro nesta Itália que tanto amamos: fé nesta terra Mãe dos Heróis e dos Gênios. Fé neste povo que saberá se renovar no trabalho e na paz. A verdadeira paz amanhã será garantida para gerações da Itália, que estarão na vanguarda dos exércitos do mundo em uma Era sem confrontos, na qual todos os povos encontrarão o que sempre desejaram: a fraternidade e o trabalho".