31/05/2021

Joachim de Brescia - Ernst Jünger e a Dominação do Mundo pelo Trabalhador

 por Joachim de Brescia

(2020)


"O camponês que começa a trabalhar não com cavalos, mas com cavalos de potência não pertence mais a nenhum 'estado'. Ele é um Trabalhador em condições especiais", escreveu Ernst Jünger em O Trabalhador (1932). De agora em diante, o camponês em seu trator, ou o soldado servindo em sua metralhadora, não pertencem mais a nenhum "estado". Eles personificam a tomada do poder por um novo tipo de homem: o Trabalhador.

O Trabalhador é uma obra que o escritor alemão nunca retrabalhou, ao contrário de seu hábito. Ele concordou em republicar este ensaio pela primeira vez em 1964, mas acrescentou "notas complementares" ao mesmo, que formaram a obra Maxima-Minima, uma atualização que aproximou a figura do Trabalhador à dos Titãs como Anteus, Prometeus e Atlas. O Trabalho aparece neste trabalho como uma figura telúrica e mítica, um filho da terra e um inimigo dos deuses. Trinta anos depois, Jünger notou o caráter irrefutável de suas análises: o mundo contemporâneo agora concretiza o domínio da Figura do Trabalhador.

Por "Figura", Jünger quer dizer uma realidade espiritual que confere significado. A Figura é "um todo que abrange mais do que a soma de suas partes". Ao tomar a Figura do Trabalhador, o indivíduo torna-se parte de uma grande ordem hierárquica de Figuras. Ele se torna um símbolo, um representante de uma ordem superior, de uma vocação e de um destino. A noção de Figura é um ressurgimento da "Ideia" platônica, um parentesco que Martin Heidegger assumiria em um seminário de 1940. Jünger, que não apreciou esta comparação, preferiu comparar sua Figura com a mônada leibniziana, ou com a "planta original" de Goethe.

"A técnica é a arte e a maneira pela qual a Figura do Trabalhador mobiliza o mundo", observa Jünger em O Trabalhador. Ela não é uma potência neutra. A técnica fornece inevitavelmente meios de poder que permitirão o domínio do Trabalhador, a única Figura capaz de utilizá-lo. A substituição da lâmpada de presença perpétua por uma lâmpada elétrica pertence a um universo que agora é estranho à religião. O escritor observa corretamente que o instinto dos padres cristãos de identificar o império da tecnologia com o império de Satanás está longe de carecer de sentido.

Esta nova dominação leva à substituição do "indivíduo" pelo "tipo". O "trabalhador" não é insubstituível. De fato, cada morto pode ser imediatamente substituído por outro "trabalhador". As constituições burguesas são substituídas por um "plano de trabalho", a democracia liberal por democracia do trabalho ou estatal. A mobilização total torna obsoleta a distinção entre tempo de guerra e de paz, assim como a distinção entre "combatente" e "não-combatente".

Jünger também observa a mudança marcante na fisionomia de seus contemporâneos, cujos rostos assumem a aparência de máscaras, esbatendo as características e dando uma impressão metálica. "A estrutura óssea se destaca claramente, as características são simplificadas e tensas. O olhar é calmo e fixo, treinado para contemplar objetos que devem ser apreendidos em alta velocidade." Ele também observa o papel crescente das máscaras na vida cotidiana, seja como proteção facial para esportes e altas velocidades ou como máscaras de proteção para pessoas que trabalham em áreas que se tornaram perigosas demais.


A substituição da burguesia pela figura do trabalhador


Em O Trabalhador, Jünger evoca a substituição do burguês pelo trabalhador. A Grande Guerra constitui uma experiência decisiva, acelerando o advento de um novo tipo de homem, uma nova figura. O ressurgimento de forças telúricas profundas nos desertos ardentes da guerra material permitiu o advento de um novo tipo humano, cujo modo de ação é a "mobilização total" da vida através da tecnologia. Este novo tipo não pertence mais a uma associação ou a um partido, mas a um grupo de seguidores. Ele forma uma nova Ordem, silenciosa e invisível, uma nova aristocracia cuja palavra de ordem é "realismo heróico". Para ele, o sacrifício da vida é a felicidade última, e a suprema arte do comando: "A arte de designar para si mesmo objetivos dignos de seu sacrifício".

A era das revoluções de massas, das multidões de indivíduos se espalhando nas ruas, é sucedida pela era dos comandos determinados, tomando os centros vitais das cidades de acordo com uma técnica precisa. Os alvos não são mais os representantes pessoais ou individuais do Estado, mas os centros de comunicação, as antenas de transmissão ou os armazéns da fábrica. Se as massas não são mais capazes de atacar, elas também não são capazes de se defender, já que a polícia agora tem meios suficientemente eficazes à sua disposição para esmagar uma multidão revoltosa em poucos segundos.

O Trabalhador se distingue por uma nova relação com o elementar. O termo "elementar" designa forças profundas, aquelas da fé, da luta e da paixão, mas também os quatro elementos originais: fogo, água, terra e ar. Os jovens combatentes experimentaram o elementar no fronte, através da extrema proximidade da morte, do fogo e do sangue. Ele conhece o prazer da entrega absoluta, a máxima satisfação da ação. Ele passou pela anarquia, pela destruição de antigos laços. Ele passou pela zona de combate sem ser destruído e, portanto, possui um novo poder. Existe uma continuidade ideal que une a juventude combatente da Grande Guerra com a figura do Trabalhador.

Pelo contrário, o burguês aparece como aquele que tenta escapar do perigo refugiando-se em uma segurança que se tornou utópica, a das paredes de vidro e asfalto. O burguês é a raça dos derrotados, aquele que acreditava que o elementar poderia ser dominado por uma ordem antiquada, excluindo o perigo em seus recintos fortificados, suas cidadelas seguras. Seus slogans, como "ordem e paz" ou "pacifismo" são slogans que refletem sua fraqueza dentro da nova ordem.


Nova aristocracia ou fase terminal da civilização?


Segundo Julius Evola, o advento do Trabalhador não é o advento de uma nova aristocracia, mas simboliza uma fase de nivelamento e dissolução. No mundo tradicional, a aristocracia espiritual, a aristocracia guerreira e a burguesia correspondiam a diferentes tipos, diferentes "estados" e o Trabalhador não é exceção a esta regra. A Figura de Jünger confirma a tomada de poder do "Quarto Estado" e a supressão das outras castas em uma nova forma de civilização.

Neste mundo crepuscular, que é o estágio final das civilizações avançadas, toda a atividade humana é efetivamente transformada em "trabalho". Dentro desta paisagem de estaleiros de construção, Jünger admite que as gerações de Trabalhadores não deixarão para trás nem economias nem monumentos, mas apenas "uma certa etapa, um marco do nível de mobilização". No entanto, esta Figura, que agora possuía um arsenal técnico inigualável de vigilância, repressão e propaganda, era mais formidável do que nunca.

Em A crise do mundo moderno (1927), Guénon nos lembra que aquele que subleva as forças brutais da matéria deve necessariamente perecer esmagado por essas mesmas forças, forças da natureza ou forças das massas humanas. São sempre as leis da matéria que esmagam aquele que pensava poder dominá-las sem se elevar acima da matéria. Está escrito no Evangelho: "Toda casa dividida contra si mesma cairá"; esta palavra se aplica perfeitamente ao mundo forjado pelo Trabalhador, que só pode, em essência, criar luta e divisão em todos os lugares.

No Tratado do Rebelde, Jünger evocará duas outras Figuras que serão acrescentadas à primeira. O primeiro é o Soldado Desconhecido, portando o fardo do sacrifício de sua vida no front, em benefício do domínio do Trabalhador. Finalmente, a figura do Rebelde, uma figura de resistência ao domínio da tecnologia e da recusa de aceitar suas consequências. É ele quem faz frente à propaganda forjada pelo medo, e em particular o medo da morte. O Rebelde é, portanto, capaz de derrubar os gigantes, cuja força é o terror.

Se para alguns a figura crepuscular do Trabalhador pode provocar um medo justo, é interessante reler estas linhas do filósofo e jurista Walter Schubart: "Não é no equilíbrio do mundo burguês, mas no trovão dos apocalipses que as religiões renascem" (Europa e a Alma do Oriente). De fato, segundo René Guénon, tudo indica que estamos agora na fase final do Kali-Yuga, no período mais sombrio desta "era das trevas". Se uma restauração ocorrer, ela não será mais uma simples recuperação, mas uma renovação total, um renascimento.