21/12/2025

Julius Evola - O Barão Sanguinário

 por Julius Evola

(1973)


 

O livro de F. Ossendowski Bestas, Homens e Deuses, cuja tradução italiana está prestes a ser reimpressa, já alcançou grande notoriedade quando foi publicado, em 1924. Nele, interessam tanto o relato das peripécias da viagem agitada que Ossendowski realizou entre 1921 e 1922 através da Ásia Central para escapar dos bolcheviques, quanto o que ele relata sobre uma figura excepcional que encontrou — o barão Von Ungern Sternberg — e sobre o que ouviu a respeito do chamado “Rei do Mundo”. Aqui, retomaremos ambos os temas.

Em torno de Ungern Sternberg, criou-se quase um mito na própria Ásia, a ponto de, em alguns templos da Mongólia, ele ter sido adorado como uma manifestação do deus da guerra. Sobre ele, foi escrita uma biografia romanceada em alemão, intitulada “Eu Comando” (Ich befehle), enquanto dados interessantes sobre sua personalidade, fornecidos pelo comandante da artilharia de seu exército, foram publicados pela revista francesa “Études Traditionnelles”. Nós mesmos ouvimos relatos sobre Sternberg de seu irmão, que acabou vítima de um destino trágico: após escapar dos bolcheviques e chegar à Europa via Ásia, passando por todas as sortes de vicissitudes romanescas, ele e sua esposa foram assassinados por um porteiro enlouquecido quando Viena foi ocupada em 1945.

Ungern Sternberg pertencia a uma antiga família báltica de origem viking. Oficial russo, quando eclodiu a revolução bolchevique, ele comandava na Ásia unidades de cavalaria que, pouco a pouco, cresceram até se tornarem um verdadeiro exército. Com ele, Ungern decidiu combater a subversão vermelha até a última possibilidade. Ele operava a partir do Tibete — e foi ele quem libertou o Tibete dos chineses, que já haviam ocupado parte dele, estabelecendo relações íntimas com o Dalai Lama, a quem libertou.

As coisas chegaram a um ponto que preocupou seriamente os bolcheviques, que, repetidamente derrotados, foram forçados a organizar uma campanha em grande escala, utilizando o chamado “Napoleão Vermelho”, o general Blucher.

Após alguns altos e baixos, Ungern acabou sendo derrotado, com o colapso sendo provocado pela deserção traiçoeira de alguns regimentos tchecoslovacos. Sobre o fim de Ungern, há versões contraditórias; nada se sabe ao certo. De qualquer forma, acredita-se que ele conhecia com exatidão o momento de sua morte, assim como algumas circunstâncias específicas — por exemplo, que ele seria ferido, como de fato o foi, durante o ataque a Durga.

Aqui, dois aspectos de Sternberg são relevantes. O primeiro diz respeito à sua personalidade, na quais traços singulares se misturavam. Homem de prestígio excepcional e audácia sem limites, ele também era de uma crueldade implacável, especialmente contra os bolcheviques, seus inimigos mortais. Daí o nome que lhe foi dado: “o barão sanguinário”.

Diz-se que uma grande paixão “queimou” nele todo elemento humano, deixando apenas uma força indiferente à vida e à morte. Ao mesmo tempo, havia nele traços quase místicos. Antes mesmo de ir para a Ásia, ele professava o budismo (que não se reduz a uma doutrina moral humanitária), e suas relações com os representantes da tradição tibetana não se limitavam ao domínio exterior, político e militar, dentro do contexto dos eventos mencionados. Algumas faculdades supra normais estavam presentes nele: fala-se, por exemplo, de uma espécie de clarividência que lhe permitia ler a alma alheia com a mesma precisão com que percebia as coisas físicas.

O segundo ponto diz respeito ao ideal que Ungern acalentava. A luta contra o bolchevismo deveria ser apenas o prelúdio para uma ação muito mais ampla. Segundo Ungern, o bolchevismo não era um fenômeno isolado, mas a última consequência inevitável dos processos involutivos que já se realizavam há tempos em toda a civilização ocidental. Como Metternich, ele acreditava — corretamente — numa continuidade das várias fases e formas da subversão mundial, desde a Revolução Francesa em diante. Para Ungern, a reação deveria partir do Oriente, de um Oriente fiel às suas tradições espirituais e coalizado contra a ameaça iminente, junto a todos os capazes de se revoltar contra o mundo moderno. A primeira tarefa seria varrer o bolchevismo e libertar a Rússia.

Além disso, é interessante que, segundo fontes bastante confiáveis, Ungern, ao se tornar o libertador e protetor do Tibete, teria mantido contatos secretos com representantes das principais forças tradicionais — não apenas da Índia, mas também do Japão e do Islã — em conexão com esse plano. Aos poucos, deveria se formar essa solidariedade defensiva e ofensiva de um mundo ainda não corrompido pelo materialismo da subversão.

Passemos agora ao segundo tema, o do chamado “Rei do Mundo”. Ossendowski relata o que os Lamas e líderes da Ásia Central lhe contaram sobre a existência de um misterioso centro iniciático chamado Agharta, sede do “Rei do Mundo”. Ele seria subterrâneo e, por meio de “canais” sob os continentes e até mesmo os oceanos, teria comunicação com todas as regiões da Terra. Tal como Ossendowski ouviu, essas informações tinham um caráter fantasioso. É mérito de René Guénon ter esclarecido, em seu livro “O Rei do Mundo”, o verdadeiro conteúdo dessas narrativas, destacando também o fato significativo de que, na obra póstuma de Saint-Yves d’Alveydre intitulada “A Missão da Índia” (publicada em 1910 e certamente desconhecida por Ossendowski), há menção ao mesmo centro misterioso.

O que deve ser esclarecido, antes de tudo, é que a ideia de uma sede subterrânea (difícil de conceber, já pelo problema de moradia e suprimentos, a menos que habitada por espíritos puros) deve ser entendida como um “centro invisível”. Quanto ao “Rei do Mundo” que ali residiria, remete-se à concepção geral de um governo ou controle invisível do mundo ou da história, e a referência fantasiosa aos “canais subterrâneos” que ligariam essa sede a vários países da Terra deve ser igualmente desmaterializada em termos de influências, por assim dizer, exercidas por trás dos bastidores por esse centro.

No entanto, ao assumir tudo isso de forma mais concreta, surgem vários problemas quando se considera a atualidade. O espetáculo oferecido pelo nosso planeta, de forma cada vez mais precisa, dificilmente reforça a ideia da existência desse “Rei do Mundo” e de suas influências, se estas devem ser concebidas como positivas e retificadoras.

A Ossendowski, os Lamas teriam dito: “O Rei do Mundo aparecerá diante de todos os homens quando chegar o momento de liderar os bons na guerra contra os maus. Mas esse tempo ainda não chegou. Os piores da humanidade ainda não nasceram”. Ora, isso é a repetição de um tema tradicional conhecido no Ocidente desde a Idade Média.

O verdadeiramente interessante é que, como mencionado, Ossendowski tenha ouvido essa ordem de ideias no Tibete, apresentada por Lamas e líderes locais, com referência a um ensinamento esotérico. E a forma bastante primitiva com que Ossendowski relata o que ouviu, inserindo-o na narrativa de suas peregrinações, sugere que não se trata de uma invenção sua.