13/12/2025

Alberto Lombardo - O Anti-Americanismo "Tradicional" de Julius Evola

 por Alberto Lombardo

(2014)


 

«O processo pelo qual as destruições espirituais, o próprio vazio que o homem, tornando-se "homem econômico" e grande empreendedor capitalista, criou ao seu redor, o obriga a transformar sua própria atividade – lucro, negócios, produtividade – em um fim, a amá-la e desejá-la por si mesma, sob pena de ser tomado pelo vértigo do abismo, pelo horror de uma vida completamente desprovida de sentido»[1].

A posição crítica do filósofo romano Julius Evola (1898-1974) em relação à América merece ser conhecida pela peculiaridade original que a caracteriza, além da influência que exerceu sobre uma área política e intelectual não negligenciável. Em 1929, foi publicado na Nuova Antologia o artigo evoliano Americanismo e bolchevismo, no qual o pensador tradicionalista expõe, pela primeira vez com notável lucidez, uma tese bastante inédita e pioneira, que continuaria a desenvolver nas décadas seguintes. A ideia central é que a Rússia soviética e os Estados Unidos, além das evidentes diferenças culturais, sociais e de organização estatal, são unidos por um mesmo ideal perverso[2]. O ensaio constituirá a base do décimo sexto capítulo da segunda parte de Revolta contra o Mundo Moderno, talvez o livro mais importante e famoso de Evola.

Aqui ele escreveu: «Quais e quantas sejam as divergências entre a Rússia e a América do Norte no âmbito étnico, histórico, de temperamento e assim por diante, isso é conhecido por todos e não precisa ser destacado. Tais divergências, porém, não podem nada diante de um fato fundamental: partes de um "ideal", que no bolchevismo ainda existe apenas como tal, ou é imposto por meios cruéis, na América se realizaram por um processo quase espontâneo, a ponto de assumirem características de naturalidade e evidência»[3]. Para Evola, a América é a antítese mais evidente e especular da tradição europeia: «Ela introduziu definitivamente a religião da prática e do rendimento, colocou o interesse pelo lucro, pela grande produção industrial, pela realização mecânica, visível, quantitativa, acima de qualquer outro interesse. Ela deu origem a uma grandiosidade sem alma, de natureza puramente técnico-coletiva, desprovida de qualquer fundo de transcendência e de qualquer luz de interioridade e verdadeira espiritualidade; também ela opôs à concepção em que o homem é considerado como qualidade e personalidade em um sistema orgânico, aquela em que ele se torna um mero instrumento de produção e rendimento material em um conglomerado social conformista»[4].

O raciocínio de Evola se desenvolve então em uma perspectiva mais ampla, que apresenta singulares analogias conceituais, ainda que não terminológicas, com o cerne da reflexão sobre a Técnica desenvolvida por muitos filósofos, de Jünger até Heidegger e Severino. Essencialmente, Evola percebe na América justamente aquela característica "totalmente mobilizadora", onipresente e tirânica própria da Técnica, que tende rapidamente a englobar ou destruir tudo o que se interpõe – ou seja, aquilo que constitui, no contexto da metafísica evoliana, a Tradição.

Para Evola, essa relação dualística é apenas em parte o resultado de um processo puramente histórico; é, de qualquer forma, o resultado de uma lei que determina o fluxo cíclico das eras históricas: «Aquela civilização, da qual o Moderno tanto se orgulhou, e em nome da qual acreditou no "mito" do "progresso" e marchou para a conquista do mundo, essa civilização se encontra hoje diante de uma espécie de redução ao absurdo, de inversão dos valores que ela própria havia arrogado. Lançada à conquista da matéria, ela não alcançou seu objetivo senão ao preço de materializar o espírito, de excluir qualquer forma superior de vida, de amalgamar os indivíduos na tirania de organismos coletivos, que quase poderíamos chamar de subumanos em sua falta de rosto, de racionalidade, de luz, em sua submissão a energias que, de tempos em tempos, como galvanizando com uma vida momentânea e medonha corpos mortos ou automáticos, os lançam uns contra os outros»[5].

O "mundo moderno" evoliano é, efetivamente, aquele dominado pela Técnica: na América estadunidense, o filósofo romano vê a vanguarda (ainda mais avançada que a soviética) da contraparte da Tradição. «Enquanto no processo de formação da mentalidade soviético-comunista o homem-massa que já vivia misticamente no subsolo da raça eslava teve um papel relevante, e de moderno há apenas o plano para sua encarnação racional em uma estrutura política onipotente, na América o fenômeno deriva do determinismo inflexível pelo qual o homem, ao se desligar do espiritual e se entregar à vontade de uma grandeza temporal, além de qualquer ilusão individualista, deixa de pertencer a si mesmo para se tornar parte dependente de um ente que ele acaba por não poder mais dominar, que o condiciona de múltiplas formas»[6]. O filósofo romano retoma aqui a tese que havia desenvolvido na parte anterior do ensaio, dedicada à Rússia, onde sustentara que o impulso messiânico atávico russo, unido a uma espécie de "mística da coletividade", havia se invertido, após a revolução bolchevique, em termos marxistas, no homem "terrestrizado e coletivizado" que sentia como própria a missão histórica de exportar para o mundo o modelo de desenvolvimento comunista: um sentimento análogo de superioridade do seu modelo típico anima, para Evola, o homem americano, mas em uma dimensão completamente desprovida de qualquer fundo místico-espiritual.

É necessário especificar que as considerações evolianas sobre a América e o americanismo são muitas vezes sobreponíveis às expressas de maneira mais geral sobre o mundo moderno, entendido como categoria a priori de modelo de civilização (ou, mais corretamente, para ser fiel à terminologia evoliana, de civilização)[7]. A peculiaridade da América estadunidense, para Evola, é ser a ponta avançada da civilização ocidental, ou melhor, o estágio final de sua decadência involutiva. Não surpreende, nesse sentido, que as ideias expressas sobre os EUA sejam frequentemente sobreponíveis às sobre a Inglaterra, o calvinismo ou o modelo capitalista.

Se se "interpreta" o mundo moderno evoliano nos termos acima, a análise do filósofo tradicionalista é muito menos otimista que a contemporânea de Jünger. A nova Figura destinada a emergir do mundo totalmente mobilizado pela Técnica não é o Operário, mas o produtor-consumidor de moldes americanos. Com uma terminologia tão eficaz quanto brutal, Evola analisa esse homem-último, que lembra fortemente aquele profetizado por Nietzsche: «Pode até ser que, se a humanidade não afundar em uma beatude obtusa de gado bovino, ela enfrente a mais terrível das crises: a do vazio absoluto de uma existência, vazio não mais escondido como antes pelos pseudofins de uma vida às voltas com necessidades de todo tipo»[8].

A febre ativista-produtiva que caracteriza o modelo de desenvolvimento capitalista, e que pela maioria dos contemporâneos é vista como sinal de uma vitalidade juvenil, é, para Evola, ao contrário, sintoma de uma doença terminal. A esse conceito é dedicado o escrito América: o equívoco do povo jovem[9], no qual retoma a metáfora das idades do homem em relação analógica com as do mundo. «Nós tendemos justamente a considerar a América não como um princípio, mas como um fim: como a forma última, crepuscular assumida pela civilização – já minada por vários progressos de regressão – da Europa moderna». E ainda: «De um verdadeiro "primitivismo" ou "infantilismo" deve-se […] falar em relação à alma e à civilização americana, primitivismo que apenas superficialmente pode ser confundido com fenômenos de "juventude", tratando-se, na verdade, de coisas a serem explicadas com base na […] lei de correspondência entre o que é crepuscular e as formas primitivas de um mesmo ciclo»[10].

Em torno desse núcleo conceitual, concebido entre os anos 1920 e 1930, Evola desenvolveu ao longo de sua longa produção ensaística subsequente um número considerável de reflexões, contidas principalmente em artigos de jornais e revistas[11]. O avanço do modelo americano em todas as áreas do planeta lhe ofereceu o mote para considerações sobre costumes e mentalidades que, especialmente no segundo pós-guerra, se difundiam rapidamente também na Europa, e na Itália de maneira particularmente sensível. Em diversos artigos, por exemplo, criticou com dureza as escolhas editoriais e de programação da RAI, constantemente inspiradas em modelos estéticos ultramarinos, tanto no campo musical quanto no da programação televisiva. No artigo de 1954 A americanização e as responsabilidades da RAI, o escritor constatava como a programação musical dos programas "internacionais" da época (Cabaret internacional, Grandes sucessos do mundo, País que vai, etc.) transmitia de maneira quase exclusiva músicas americanas, como se o mundo se resumisse a essa única região, ignorando completamente, por exemplo, a produção contemporânea da Europa Central. Eis seu comentário: «Este é um setor particular da americanização, mas está longe de ser sem importância. As consequências do "deixar andar" democrático são estas: a intoxicação daquela grande parte da população que nunca será capaz de verdadeira discriminação, que é propensa demais – especialmente nestes tempos – a perder qualquer linha quando um poder ou uma ideia superior não tenham modo de chamá-la de volta a si mesma, pelo menos para o mínimo necessário para não perder completamente a face»[12]. Também a difusão na língua italiana de tanta terminologia inglesa, especialmente em casos em que existe um termo correspondente em italiano, é, para o filósofo, o sinal de uma cedência àquilo que parece moderno, bonito, digno de ser imitado e seguido, mas que revela um conformismo devido à superficialidade e falta de caráter, precursor de um empobrecimento cultural generalizado[13].

Para Evola, no entanto, à pervasividade do modelo americano no plano cultural não se deveria opor um fechamento apriorístico. A orientação deveria ser antes a de discernir entre o que deve ser aceito e o que deve ser rejeitado, com base na própria identidade específica: «Dado o clima de democracia irresponsável vigente na Itália, naturalmente não se pode falar de um sistema organizado de defesas desse tipo. Ele pode ser apenas pertinente a poucos que ainda estão espiritualmente de pé. A esses caberia dar o exemplo. Nem polêmicas nem animosidades, mas considerar tudo o que é americano com fria curiosidade, invertendo as partes, trazendo a América de volta ao seu posto de província, de uma excrescência periférica onde se centralizou e desenvolveu até o absurdo tudo o que de negativo a civilização humana da Europa havia produzido. E quando algo americano devesse ser admitido, deveria sê-lo mantendo o olhar livre, considerando simultaneamente outras perspectivas, outras possibilidades, outros valores, em um quadro no qual, no fundo, qualitativamente, a América representa apenas um episódio»[14].

Constitui, portanto, um curioso paradoxo que justamente na América, sobretudo a partir dos anos 1990, Evola tenha gozado de uma fortuna marginal, mas não totalmente desprezível. Ela se deve principalmente à publicação de suas obras principais pela editora Inner Traditions, além da apresentação do pensamento evoliano por parte de alguns estudiosos, entre os quais Thomas Sheehan, Richard Drake e Joscelyn Godwin[15]. Poder-se-ia prever que uma crítica tão radical ao modelo americano, como a evoliana, determinasse uma rejeição do pensamento do filósofo italiano por parte do público estadunidense; e que justamente aquela mentalidade nitidamente prática e materialista, denunciada por Evola como característica do americanismo, constituísse um obstáculo intransponível ao "desembarque ultramarino" das obras evolianas. No entanto, através de diversos canais, incluindo a internet, na América Evola é lido e debatido também de maneira não superficial.

A oposição evoliana ao paradigma estadunidense afirma a primazia da qualidade sobre a quantidade, do espiritual sobre o material, da organicidade sobre o individualismo e da política sobre a economia. Alhures escrevi que «assim como a Técnica é por natureza universal, também o são o modelo econômico capitalista e a ideologia igualitária. Historicamente, onde uma ideia particular se opõe a uma universal, a primeira está destinada a ser arrasada. A mensagem fundamental de Evola é justamente a de interpretar e viver os valores tradicionais em uma perspectiva mais que histórica, absolutizá-los: somente assim poderão ser opostos aos dominantes, independentemente de qualquer esperança prática efetiva»[16]. Na dicotomia evoliana de Tradição e Modernidade está também contida a certeza de que ao desencadeado domínio da dissolução seguir-se-á um novo ciclo, marcado por novos valores. O quanto essa abordagem seja conciliável com uma atitude prática ou ativa de oposição ao modelo dominante é uma questão debatida há tempos. Certamente, porém, Evola travou sua batalha.


Notas


[1] J. Evola, Rivolta contro il mondo moderno, Edizioni Mediterranee, Roma 1994, pp. 375-376.
[2] Em J. Evola, Americanismo e bolscevismo, ne Il ciclo si chiude. Americanismo e bolscevismo (1929-1968), Fondazione J. Evola, Roma 1991.
[3] J. Evola, Rivolta contro il mondo moderno, cit., p. 391.
[4] Ibid, pp. 391-392.
[5] J. Evola, Noi antimoderni, ne La Torre, 1 febbraio 1930, em Civiltà americana. Scritti sugli Stati Uniti 1930-1968 (II ed.), editado di A. Lombardo, Controcorrente, Napoli 2010.
[6] J. Evola, Rivolta contro il mondo moderno, cit., p. 392.
[7] A dicotomia evoliana é, em certa medida, emprestada e sobreponível à dicotomia spengleriana entre Kultur e Zivilisation. Como Giovanni Damiano corretamente observa (J. Evola, Civiltà americana, contribuição disponível no site da Fundação J. Evola), a de Evola é “uma leitura, porém, apenas em sentido lato definível como spengleriana e que, justamente por isso, não se resolve na mera aplicação rígida e esquemática das categorias do pensador alemão à realidade americana”.
[8] J. Evola, “Libertà dal bisogno” e umanità bovina, ne Il Secolo d’Italia, 27 gennaio 1953, em Civiltà americana, cit., p. 41.
[9] Ibid, pp. 27-30.
[10] Ivi, p. 29.
[11] Alguns desses ensaios estão reunidos em Ibid.
[12] J. Evola, L’americanizzazione e le responsabilità della RAI, ne Il Nazionale, em ibid, p. 49.
[13] Cfr. ppor exemplo J. Evola, Servilismi linguistici, ne Il Secolo d’Italia, 28 luglio 1964, em ibid, pp. 72-75.
[14] J. Evola, Difendersi dall’America, ne Il Popolo Italiano, 14 dicembre 1957, em ibid, p. 71.
[15] Cfr. G. Stucco, Sulla (relativa) fortuna di Evola negli Stati Uniti, in Futuro Presente, 6 (1995), pp. 121-125.
[16] A. Lombardo, La tenaglia si è chiusa, in J. Evola, Civiltà americana, cit., p. 18.