08/11/2010

Luís Fernandes - Juventude



por Luís Fernandes

Grande parte da juventude atual parece não acreditar no futuro. Uma desconfiança excessiva leva muitos jovens a separar-se de tudo, a não acreditar em nada. Mas a sua desconfiança quanto ao futuro é uma conseqüência da sua desconfiança nas velhas gerações que não souberam organizar um mundo melhor. Numerosos jovens nem se dignam pensar se esta organização perfeita é possível. As próprias gerações que os precederam também não pensaram nesta problema.

A juventude é exigente. É uma virtude. Não solicita fórmulas teóricas, mas exige realizações quotidianas. As relações familiares, o entendimento entre os pais e os filhos são difíceis por causa desta flagrante diferença de linguagem.

Uma juventude que desconfia do futuro, que tudo pretende alcançar no tempo presente, será uma juventude sã? A juventude atual está preocupada pelo vazio e pelo absurdo da vida. Mas como poderemos falar de vazio no caso de jovens tão dados à ação, dispostos a ocupar os seus tempos livres e a gozar os prazeres imediatos da vida? Talvez por isso mesmo. Esta necessidade de imediato, esta incapacidade de esperar, provém de um sentimento de angústia. Afinal, a juventude atual carece sobretudo de esperança.

Esta falta de esperança reduz a juventude ao tempo presente. E o presente da juventude atual não está vinculado ao passado nem ao futuro. É tempo presente que tem, forçosamente, de ser vivido com ansiedade e com a ambição de esgotar no momento em que se vive todas as possibilidades vitais. Nesse tempo presente, que se vive rapidamente, tão rapidamente que a própria pressa se transforma em objetivo essencial, o conteúdo da ação perde a sua natureza.
A renúncia perante o futuro é a renúncia da continuidade. Não há nenhum jogo mais perigoso. A pressa é a evasão. Qual é a falha desta estrutura existencial? Falha a vida como continuidade. Falha por não a viver em todo o momento na sua dimensão profunda. Os momentos da vida são mais ou menos incorporados neles, marcas do passado mas também possibilidades do futuro. O passado é a própria história, é a responsabilidade do que somos, é a expressão da vida, é a nossa própria individualidade. No presente podemo-nos identificar mais ou menos com as circunstâncias ou com os outros. O futuro é a continuidade pessoal e histórica.

Pertence ao estilo das atuais gerações viver com pressa e sem profundidade. Renunciar às responsabilidades do passado e desconfiar do futuro, concentrando a vida no presente, dinamicamente vivido, ou seja, na ação. Esta atitude, provocando o desaparecimento do sentido profundo da vida, dá origem a um deserto de tédio.

Entre o aborrecimento e a pressa existem relações importantes. O fato de não saber o que fazer é muito perigoso. Talvez seja o maior perigo mostrar a sombra da vida, a sua orientação absurda. Deste perigo defende-se a juventude pela sua radical afirmação. A vida é vida porque se afirma perante a morte.