"Cruzou as mãos sob a cabeça e ficou olhando as vigas escuras do teto, na obscuridade, além do alcance da lâmpada de cabeceira. Estaria esperando pela morte agora? Ou por um êxtase selvagem dos sentidos? As duas coisas pareciam sobrepostas, quase como se o objeto do desejo do seu corpo fosse a própria morte. Mas, fosse o que fosse, a verdade era que o tenente nunca antes experimentara uma liberdade tão completa.
Ouviu o ruído de um carro na rua, sob sua janela, o cantar dos pneus derrapando na neve acumulada ao longo da rua. A buzina ecoou nas paredes mais próximas...Escutando, teve a impressão de que a casa erguia-se em uma ilha solitária no oceano de uma sociedade que prosseguia incansável como sempre na sua atividade de todos os dias. À sua volta, vasta e desordenada, estendia-se a terra pela qual ele chorava. Ia dar a vida por ela. Mas o grande país, pelo qual estava disposto a se destruir, daria atenção à sua morte? Não sabia, e não fazia diferença. Seu cambo de batalha era sem glória, um campo onde ninguém poderia realizar façanhas valorosas, a linha de frente do espírito."
(Yukio Mishima, trecho de "Patriotismo")