27/11/2010

Contra o Globalismo, Reflexões e Novas Estratégias

por Marco Signori

Habitat, Identidade, Sociabilidade: Pontos de referência para uma perspectiva estratégica.
É tempo de refutar esquemas gastos e trilhar novos caminhos.

Para a linguagem todo detalhe tem sua importância, principalmente a escolha dos elementos significativos. “Globalização” e “Mundialismo” são termos ás vezes sobrepostos ou mesmo confusos, que por sua vez indicam aspectos distintos não obstante estejam no âmbito do mesmo fenômeno.

A globalização ( corporate globalization ) nos parece poder ser definida como “processo de liberalização dos intercâmbios econômico-financeiros dirigido à constituição de um mercado único planetário.”
O mundialismo ( global governance ) cremos que se pode definir como “processo de homologação sócio-cultural que afirma a hegemonia do pensamento único neoliberal como modelo universal e tende a constituição, com formas não necessariamente explícitas, de um domínio mundial.

Ambos os processos se valem de novas e potentes tecnologias, sobretudo no campo crucial da comunicação. Ambos são difundidos: por meio da manipulação midiática e a corrupção econômica quando suficiente, por meio da pressão financeira e da força militar quando necessário.

Se trata de processos complementares e relacionados, cada um dos quais não seria pensável sem o outro. Para evitar equívocos, nos referiremos portanto ao globalismo como o somatório ( soma ) dinâmica dos dois processos ( globalização e mundialismo ) distintos porém indispensáveis.

Se poderia dizer, sob uma certa perspectiva, que o início dos processos globais se coincidiu com o lançamento do próprio capitalismo, cuja compulsão à metástase, como no câncer, é congênita: a expansão por todos os meios em qualquer espaço é de fato uma tendência constante no desenvolvimento histórico do sistema capitalista. 

Mais especificamente, o frenético processo difusor no qual são reconhecíveis as características do globalismo atual tem início no último ventênio do século XX e manifesta seus primeiros efeitos na época da presidência Reagan nos Estados Unidos ( 1981-1989 ) e do ministério Thatcher na Grã-Bretanha ( 1979- 1990 ): lugares e personagens significativos. Ambos Estados são as guaridas históricas do economicocentrismo com inclinações mercantilistico-financeiras, e ambos os indivíduos são alheios à política no sentido da “nobre” arte do governo do Estado: um foi ator de cinema de pouca notoriedade antes de fazer aprendizado como governador da Califórnia, a outra é filha de um vendedor de fruta. Segundo a teoria liberal o Estado deve fazer o menos possível e sobretudo não deve substituir os centros de decisão econômica. Sua despolitização é a premissa indispensável da inversão na hierarquia das funções, dirigida a subordinar o público ao privado, o comunitário ao individual, as mesmas instituições impessoais ao imperativo econômico da empresa: os círculos industriais e financeiros, as multinacionais que se transformam em empresas globais, os centros de poder às vezes ocultos que dependentes de tal sistema de interesses, se apoderam diretamente do Estado para esvazia-lo de suas prerrogativas essenciais, e não certamente para transferir essas a comunidades livres auto-governáveis.

É, ao invés, a função econômica a que se afasta da tutela da política e coloca seus testas-de-ferro, nesse caso, sob o domínio das máximas potências capitalistas mundiais.

Na época Reagan-Thatcher começa o grande assalto ao Estado de Bem Estar Social de tradição tipicamente européia, avança com ímpeto a “financialização” da economia e sobretudo, em 1986, através do G7, é introduzida a desregulamentação financeira global.

Decola, em resumo, o que o próprio Edward N. Luttwak, entendido na matéria, definiu “capitalismo superalimentado”, o “turbo-capitalismo”: a quintessência do globalismo. 

As conseqüências estão hoje diante dos nossos olhos: um neo-colonialismo fundado na usura institucionalizada nos organismos globalistas ( World Bank, World Trade Organization, International Monetary Fund, etc. ), verdadeiras mutações antropológicas geradas pelo pensamento totalitário neoliberal; agressões militares desencadeadas contra os que resistem à Nova Ordem Mundial. E depois a destruição do meio ambiente, o louco ataque a identidade dos povos, a exploração neo-escravista do trabalho e inclusive também o infantil.

No curso da grande ofensiva globalista o crime organizado também se globalizou e penetrou em profundidade nos sistemas econômicos e políticos, inclusive em Estados importantes. À “reciclagem” de dinheiro sujo e ao tradicional contrabando de armas e drogas, sustentam o tráfico de clandestinos e de mão-de-obra escravizada. Ademais investiu enormes somas no setor imobiliário, em partes estratégicas dos meios de comunicação e no essencial do crédito. Entre governantes, especuladores e padrinhos da máfia há, muitas vezes, ligações orgânicas estabelecidas.

Na completa ação de oposição ao globalismo consideramos que sejam destacáveis alguns aspectos prioritários. 

1) Na questão do meio-ambiente se combate uma batalha fundamental contra o economicocentrismo que é a raiz do globalismo. Esta não pode utilitariamente se limitar à “contenção de dano”, mas sim deveria se desenvolver melhor sobre três linhas distintas e correlacionadas:
- tutela e vivificação do caráter sagrado do meio ambiente em todos os seus componentes vivos e não-vivos;
- salvaguarda das “paisagens”, como fator constitutivo essencial da identidade étnica, contra o afeamento e o saque economicista: luta contra especulação imobiliária, contra as “grandes obras” de devastação, o desmatamento, a canalização de águas, a utilização industrial etc:
- oposição a todo campo da exploração ambiental, principalmente se privado e lucrativo, por suas desastrosas conseqüências práticas ( efeito estufa, desertificação, mudanças climáticas, inundações, poluição atmosférica etc. )

Dentro dessas linhas principais de referência se colocam elementos mais específicos e articulados da ação ambientalista, que preferiremos não atribuir o nome de “ecologia” ( a segunda parte do termo composto deriva do grego “logos” e especificamente significa discurso, estudo ) mas sim o de “ecofilia”, ou seja do amor pela própria morada ( “oikos” = lar + “filia” = amor )

2) Um âmbito essencial da luta antiglobalista é aquele cultural-identitário. O desenraizamento dos povos e o cancelamento das identidades está na própria natureza do globalismo, que prospera ali onde povos alienados e amorfos, sem nenhuma tradição nem valores de referência, se deixam docilmente estandartizar ao pensamento único e ao consumo global. 

A invasão da Europa por parte dos assim chamados “imigrantes”, uma Völkerwanderung sem precedentes na época moderna, não procede da atração do modelo ocidental ( como impudicamente sustentam os defensores de sua pretendida “superioridade” ), mas sim da hábil promoção que os globalistas mesmos realizam, reduzindo as gentes à fome e ao desespero por um lado, e lhe seduzindo com o espelho, instalado por via televisiva, de um luminoso futuro no país das jaulas. Na Europa, os chamados “imigrantes” na realidade cumprem, com grande vantagem para os globalistas, uma dupla função de devastação: de um lado funcionam como reserva de mão-de-obra a custo ínfimo, extremamente útil para a subversão do mercado de trabalho e para reduzir a renda e condições de vida dos trabalhadores europeus; de outro lado constituem um fator objetivo de desnaturação da identidade étnica, extremamente útil para abater o bastião de uma Kultur multimilenar na chusma indistinta do “melting pot”.

Daqui o direito inalienável dos povos da Europa à auto-tutela étnica, ou seja, à salvaguarda da própria cultura e da própria tradição, está claro sem nenhuma presunção racista de superioridade. Mas por outro lado, como afirma Alain de Benoist, “quem fica calado diante do capitalismo não deve reclamar da imigração”.

A identidade é em outro sentido o pressuposto básico essencial de uma necessidade de auto-governo, que não seja meramente instrumental às convulsões de quem deseja se subtrair às imposições tributárias independentemente do uso que vem sendo dado dos recursos derivados ( enquanto mesmo assim reivindica serviços e vantagens ), ou aos saques de quem anseia se enriquecer por qualquer meio, lícito ou ilícito; mas sim se fundamentando em uma concepção democrática e comunitária das relações sociais, que se apóie sobre a relação direta de liberdade e direitos com responsabilidades e deveres. À qual a natureza antiglobalista, já é no plano estritamente antropológico, consubstancial. 

3) O tema social ocupa uma importância centra na oposição ao globalismo. Este último se caracteriza por um darwinismo social baseado no paroxismo economicista, no empobrecimento dos povos, na desestabilização e na subversão das relações sociais a benefício de uma casta não-nobre e depravada constituída no fundamentalismo do dinheiro. A chamada nova economia, o centralismo da Bolsa, o “Finanzkapitalismus”, são instrumentos modernos desta guerra social. O globalismo propõe e impõe modelos de consumo superficiais e nocivos: Diminui a “pobreza absoluta” ampliando os mercados e multiplicando os benefícios, enquanto tanto estende, na mesma medida, a pinça da pobreza relativa e reduz desta forma a um estado de permanente precariedade, na carência de sólidas perspectivas existenciais e familiares, milhões de jovens na Europa e outros lugares. Chama com o nome de “privatização” o roubo dos serviços de interesse público, que realiza com a chamada subsidiariedade horizontal propulsora do lucro individual, enquanto cria obstáculos a qualquer forma de subsidiariedade vertical, de auto-governo do território, posto que é a aprovada pelo interesse comunitário.

Plutocratas, usurários e exploradores são elevados a artífices sócio-antropológicos essenciais nos processos globalistas. A justiça social, ao contrário, é um elemento base da própria identidade européia, cuja afirmação constitui um objetivo irrenunciável da luta antiglobalista.

Aspiramos podermos nos ocupar, de nós mesmos ( Wir selbst ), não cultivando a perversa ambição de estender nossos modelos tradicionais ao mundo inteiro. Justo por isso, dado que outros por sua vez quiseram se ocupar de nós em nosso lugar e contra nossa vontade, advertimos para a necessidade de olhar ao nosso redor e de estender o quanto seja possível a resistência, que reduzida em âmbito local seria provavelmente dominada. 

O globalismo não é um destino inevitável, como sustenta a insistente propaganda de seus partidários. Contrariamente se levanta um poderoso movimento antagonista, uma rede composta, diversamente formada, muitas vezes não privada de contradições, mas que tem o mérito da iniciativa e da ação.

No “mare magnum” do movimento anti-globalista, fermentam reflexões novas, e diversas, que reabrem o debate, e portanto a uma possível reconsideração, fatores já considerados imóveis. Neo-comunitaristas, ambientalistas radicais, animalistas, bio-regionalistas, partidários da agricultura camponesa, identitários, autonomistas, expoentes de movimentos de liberação e muitos outros mais participam da resistência na primeira linha e contribuem desta maneira a conferir um autêntico aspecto pós-moderno a um movimento que alguns quiseram ao invés instrumentalizar e englobar segundo os cânones consentidos nos esquemas da “politique politicienne”. O antiglobalismo está portanto caracterizado por numerosos elementos que possuem um alcance próprio intrínseco e politicamente “neutro”, e que portanto não encontram subscrição nas taxonomias politiqueiras.

No terreno do anti-economicismo, em particular, pode se desintegrar a ossificada homologação política das categorias de referência. O quadro das tendências, dos valores de referência, da projeção cultural e social pode resultar proveitosamente confundido. Os esquemas, e entre eles o de “direita-esquerda” típico do parlamentarismo representativo, é, a essas alturas, apenas instrumental ao sistema, podem se descompor e recompor em novas formações. No rechaço de um reacionarismo grosseiro e de um progressismo miserável a luta de resistência ao globalismo pode verdadeiramente forjar uma mentalidade persuasiva, se lograr encaminhar até o fundo novas vias, se for capaz de ser ao mesmo tempo, em espírito e ação, conservadora por ocasião e revolucionária por necessidade:

LIBERDADE NACIONAL, JUSTIÇA SOCIAL, IDENTIDADE CULTURAL