31/05/2021

Joachim de Brescia - Ernst Jünger e a Dominação do Mundo pelo Trabalhador

 por Joachim de Brescia

(2020)


"O camponês que começa a trabalhar não com cavalos, mas com cavalos de potência não pertence mais a nenhum 'estado'. Ele é um Trabalhador em condições especiais", escreveu Ernst Jünger em O Trabalhador (1932). De agora em diante, o camponês em seu trator, ou o soldado servindo em sua metralhadora, não pertencem mais a nenhum "estado". Eles personificam a tomada do poder por um novo tipo de homem: o Trabalhador.

O Trabalhador é uma obra que o escritor alemão nunca retrabalhou, ao contrário de seu hábito. Ele concordou em republicar este ensaio pela primeira vez em 1964, mas acrescentou "notas complementares" ao mesmo, que formaram a obra Maxima-Minima, uma atualização que aproximou a figura do Trabalhador à dos Titãs como Anteus, Prometeus e Atlas. O Trabalho aparece neste trabalho como uma figura telúrica e mítica, um filho da terra e um inimigo dos deuses. Trinta anos depois, Jünger notou o caráter irrefutável de suas análises: o mundo contemporâneo agora concretiza o domínio da Figura do Trabalhador.

28/05/2021

Robert Reilly - Redescobrindo o Sagrado na Música

por Robert Reilly

(2017)


A tentativa de suicídio da música clássica ocidental fracassou. O paciente está se recuperando, não graças aos esforços do Dr. Kevorkian da música, Arnold Schoenberg, cuja cura, a imposição de uma atonalidade totalitária, foi pior que a doença - a suposta exaustão dos recursos tonais da música. A missão alardeada de Schoenberg de "emancipar a dissonância", negando que a tonalidade exista na Natureza, levou às sucessivas perdas de tonalidade, melodia, harmonia e ritmo.

A música saiu do reino da Natureza e entrou em sistemas ideológicos abstratos. Assim nos foi dada uma realidade de segunda mão ou ersatz na música que operava de acordo com suas próprias regras auto-inventadas e independentes, divorciadas da própria natureza do som. Não surpreende que esses sistemas, incluindo o método de doze tons da atonalidade obrigatória de Schoenberg, tenham naufragado. A fragmentação sistemática da música foi o resultado lógico da premissa de que a música não é regida por relações matemáticas e leis inerentes à estrutura de um universo hierárquico e ordenado, mas é totalmente construída pelo homem e, portanto, essencialmente sem limites ou definições.

Soa familiar? Todos os sintomas da doença espiritual do século XX estão presentes, incluindo o principal diagnosticado por Eric Voegelin como uma "perda da realidade". Nos anos 50, as doutrinas de Schoenberg estavam tão arraigadas na academia, na sala de concertos e no sistema de premiações, que qualquer compositor que optasse por escrever música tonal era remetido ao esquecimento pelo establishment musical. Um desses compositores, Robert Muczynski, referiu-se a esse período como a "tirania de longo prazo que trouxe a música contemporânea ao seu estado atual de constipação e paralisia".

25/05/2021

Claudio Mutti – A Unidade da Eurásia na Perspectiva de Friedrich Nietzsche

 por Claudio Mutti

(2012)


"Nós, bons europeus"


Diante de uma Europa que santificou o "princípio da nacionalidade", pelo qual a própria Alemanha identifica o Reich - o Império - com o Estado alemão, Nietzsche se confirma mais uma vez como o grande Inatual. Na verdade, se por um lado ele rejeita como fenômeno de decadência as abstrações mundanas, por outro vê no pequeno nacionalismo, "essa neurose nacional, da qual a Europa está doente", a manifestação de uma "pequena política" que corre o risco de "manter para sempre a divisão da Europa em pequenos Estados"[1]. À "pequena política" nacional Nietzsche opõe uma "grande política", a política europeia: "Nós somos, em uma palavra - e deve ser, essa, a nossa palavra de honra! - bons europeus, os herdeiros da Europa, os ricos, transbordantes, mas também em suas obrigações, os imensamente ricos herdeiros de um espírito europeu milenar"[2].

Esse espírito, o espírito da Europa, expressou-se na ação e na arte dos maiores homens do século, de Napoleão e Goethe a Wagner: "a verdadeira direção geral, na misteriosa obra de sua alma, foi a de preparar o caminho para essa nova síntese e de antecipar experimentalmente o europeu do futuro"[3]. Através deles, falou "a vontade que a Europa tem de se unificar"[4].

20/05/2021

Maurizio Rossi - 19 de Maio de 1898: Nascia Julius Evola, Mestre da "Revolta Contra o Mundo Moderno"

por Maurizio Rossi

(2021)



Sua figura era comparável à de um convidado de pedra, ou seja, de alguém que se senta na presença da sociedade, mas que pertence a outros mundos. Por outro lado, o próprio Evola havia muitas vezes enfatizado que uma das tarefas fundamentais dos homens da Tradição era justamente a de atravessar este mundo, de agir nele, de penetrá-lo sem pertencer a ele, sem ser condicionado, sem ser corrompido, em constante e cuidadosa vigilância. Um ethos severo e desdenhoso. Como ele mesmo fez no decorrer de sua intensa vida. Com seu exemplo viril, sua linha de conduta radical, através da transmissão de seu pensamento e suas reflexões, através de sua imensa produção cultural.

Um homem de ação que chamava a uma reflexão em preparação para a ação, para a forma a ser dada à Ação. Um pensador completo e profundo - anti-intelectualista - que foi capaz de fornecer respostas claras e precisas em todos os níveis, desde o doutrinário e político até o espiritual e existencial, um símbolo ao mesmo tempo de resistência tradicional e de ofensiva revolucionária contra o mundo burguês. Uma Revolta contra o Mundo Moderno absolutamente total e global que não deixava espaço para hesitação. Um destruidor, então, como Nietzsche. Mais do que Nietzsche. Ao mesmo tempo, porém, um afirmador de uma Visão articulada do Mundo e da Vida. 

16/05/2021

Libero Baluardo – Harukichi Shimoi: Vida, Amor e Guerra do Legionário Fiumano que veio do Japão

 por Libero Baluardo

(2020)


"Devemos começar o dia pensando na morte": Yamamoto Tsunetomo estabelece assim, em seu Hagakure, a linha que todo samurai deve seguir ao longo de sua existência. Um aspecto central do caminho do guerreiro japonês, que se expressa na pureza límpida com que Yukio Mishima, em 25 de novembro de 1970, enfrenta seu casamento com a morte e nos deixa a chave para entender toda uma civilização: "O valor de um homem se revela no exato instante em que a vida se confronta com a morte". A fronteira dá rosto e forma à matéria, dá beleza ao traçar seu perfil, seja uma estátua, uma nação ou uma vida. Então como contar uma história tão fascinante como a do "samurai de Fiume" sem começar pelo seu fim? Já que estamos falando de um poeta, um poeta armado, que fez do seu pensamento arte, ou melhor, ação, é bom começar onde sua maior obra termina. Sim, assim deve começar a viagem à sua descoberta: uma viagem "dantesca", uma catarse que nos levará da morte à vida, uma ascensão que, se quisermos, imita o caminho do Sol. Assim seja então, vamos começar pelo fim.

13/05/2021

Maurizio Barozzi - Em Memória de Ernesto Che Guevara

 por Maurizio Barozzi

(2017)


Faz hoje cinquenta anos, em 9 de Outubro de 1967, que um prisioneiro ferido era covardemente assassinado por ordem precisa da CIA, vinda de Washington.

Era Ernesto "Che" Guevara de la Serna, médico, revolucionário e guerrilheiro, um homem de coragem e de altas virtudes humanas.

Guevara não tinha abraçado a causa política e revolucionária por causa da paixão juvenil, da exuberância narcisista ou da ambição existencial, tanto que, como estudante, nunca se tinha juntado a nenhum movimento político.

O "Che", como foi chamado devido ao seu intercalar juvenil, tipicamente argentino, deste monossílabo para significar: "ei você", ou "ei cara", que se destacava pelo seu altruísmo e generosidade, lançou-se na política quando, durante uma viagem pela América Latina, experimentou em primeira mão a miséria, exploração e opressão a que povos inteiros foram submetidos pelos Estados Unidos e pelas suas oligarquias servis e corruptas.

10/05/2021

Pascal Eysseric – Eduard Limonov: A Morte de um Dissidente e de um Escritor

 por Pascal Eysseric

(2020)



Sergei Shargunov anunciou a morte do escritor e dissidente Eduard Limonov hoje, aos 77 anos de idade, no site da oposição russa mediazona, anúncio confirmado por um breve comunicado do partido político Drugaya Rossiya (A Outra Rússia), fundado em 10 de julho de 2010 por Eduard Limonov, após a proibição do Partido Nacional Bolchevique, em 2006. "Hoje, 17 de março, Eduard Limonov morreu em Moscou. Todos os detalhes serão dados amanhã", explicou o partido em uma mensagem publicada em seu site na internet.

Eduard Veniaminovich Savenko, mais conhecido como Eduard Limonov, nasceu em 22 de fevereiro de 1943, em Dzerzhinsk, na URSS. Jornalista, nós o descobrimos, há cerca de trinta anos, através de suas prodigiosas reportagens punks no L'Idiot International, do falecido Jean-Edern Hallier. Depois ele voltou para a Rússia. Para tentar um golpe de Estado, que falhou. Ele teve sucesso em outras façanhas. Limonov experimentou tudo. Prisão e grandes livros. Um velho companheiro de viagem do Éléments, o escritor russo veio saudar a equipe editorial durante sua última viagem a Paris, em junho de 2019, por ocasião de uma reportagem sobre os Coletes Amarelos. Limonov veio a Paris para conhecê-los, vê-los, aprender diretamente com eles. "Há uma mistura 'esquerda-direita' neles que me agrada", confidenciou-nos ele em sua última entrevista, publicada em setembro de 2019, que publicamos abaixo.


09/05/2021

Federico Mosso – Ungern: O Último Khan

 por Federico Mosso

(2019)


Obsessão Ungern. Imaculado fundo branco, é o deserto branco. A geada ataca os homens e morde-lhes os ossos. Paisagem sem limites, céu e terra se misturam, não podem mais ser distinguidos. É como flutuar sem rumo no espaço vazio, no infinito. Não há nada mais assustador do que o infinito eterno a ser enfrentado sozinho e consciente, era após era, ao longo das estações do universo imortal, sem morte, sem fim. Se você parar por muito tempo para pensar sobre isso, corre o risco de enlouquecer.

Um lobo aparece do nada. Seus olhos são azuis-acinzentados. Pára bruscamente, vira o rosto para algo que ouviu, levanta o pêlo, retira-se, desaparece. Como um trovão súbito, o rugido de um longo apito rouco irrompe no deserto branco e se eleva com intensidade no inverno da Ásia. São adicionadas batidas de tambores surdos e rítmicos. A música assustadora dos chifres e dos tambores de guerra faz o espaço tremer. Do cobertor monocromático branco começam a surgir algumas figuras em rápida aproximação; são uma multidão de cavaleiros negros em fileiras apertadas: longas são as suas lanças, altas são as suas bandeiras. Diante de todos monta o seu senhor e mestre, o Deus da Guerra. Num rugido do inferno, desumano, três mil gargantas gritam o refrão guerreiro:


"Ungern! Ungern! Ungern!"

05/05/2021

Gianluca Donati – Nem Esquerda, Nem Direita: Corto Maltese como o Anarca de Jünger

por Gianluca Donati

(2018) 


"Camarada Corto Maltese", este foi o título de um encontro cultural realizado em um círculo da CasaPound há alguns anos, desencadeando as mais desordenadas reações e indignações da família do autor das obras de Corto Maltese, o mestre Hugo Pratt. A perplexidade foi argumentada pelo fato de que historicamente, Maltese era considerado no imaginário coletivo como pertencente à "cultura da esquerda", por exemplo, Corto é filho de uma prostituta cigana, é um verdadeiro nômade (sem casa ou família), libertino de certa forma, portanto tendendo a ser "anárquico" ou "anarcoide" (e os dois termos não colidem). A intenção da discussão da CasaPound era, ao invés disso, analisar possíveis "atitudes fascistas", como o fato de que o marinheiro acreditava na camaradagem, é um anti-herói rabugento, individualista, mas pronto para ficar ao lado daqueles que sofreram injustiças, pronto para se lançar nas causas perdidas; além disso, Maltese é um amante romântico e aventureiro. Essas obras de "literatura desenhada" (como Pratt gostava de chamar), surgiram num período, o dos anos 70, em que a aventura era oposta pela política e pela crítica, porque era considerada, politicamente, "não engajada".