28/02/2011

Aristocracia Natural

"Para permitir aos homens atuar com o valor e o caráter de um Povo, devemos supor que se encontram nesse Estado de disciplina social no qual os mais sábios, os mais experientes e mais afortunados guiam, e ao guiar instruem e protegem aos mais fracos, os mais ignorantes e os menos favorecidos pelos bens da fortuna. Ter sido criado em bom berço; não ter nada baixo ou sórdido na própria infância; ter sido educado no respeito por si mesmo; ter tempo livre para ler, refletir, conversar; prestar atenção aos sábios e experientes ali onde se encontrem; estar habituado às armas e a mandar e obedecer...tais são as circunstâncias dos homens que formam a aristocracia natural sem a qual não é possível uma nação."
(Edmund Burke)

27/02/2011

Hernan Perez e a Conquista de Granada

QUEBRAR E NÃO DOBRAR... Este era o lema de Hernán Pérez Del Pulgar, apelidado el de las Hanzañas (das Façanhas, dos Feitos). Este cavaleiro manchego, nascido na Ciudad Real, foi numa noite do ano de 1490 o protagonista de uma façanha que o imortalizaria.

Com quinze cavaleiros e na companhia de seu escudeiro Pedro, atravessou as linhas mouras, burlou seus guardas e penetrou na cidade sitiada de Granada. Sua intenção parecia ser por fogo na mesquita, porem ao não poder incendiar-la cravou sobre a sua porta principal um cartaz, escrito pelo próprio Pulgar; neste pergaminho se podia ler a oração da Ave Maria, e em seguida a frase:

“Sejam testemunhas da conquista de posse que realizo em nome dos reis e do compromisso que adquiro de vir ao resgate da Virgem Maria a quem deixo prisioneira entre os infiéis.”

Após aquela valorosa façanha, foi até a Alcaicería e lhe plantou fogo, saindo ao seu encontro a guarda granadina, à qual derrotou em sua própria cidade apesar do numero maior de inimigos. Posto a salvo, foi alardeada sua proeza e os Reis Católicos carregaram com flamejantes brasões seu escudo de armas. Também ganhou por esse feito o direito de ser sepultado no que seria pouco depois a Sagrada Igreja Catedral de Granada, que veio a ser construída sobre a mesquita que simbolicamente conquistara este cavaleiro.

Ao clarear as primeiras luzes da aurora, no dia 2 de janeiro de 1492, os capitães e soldados do exercito cristão vestidos em toda sua pompa, e chefiados pelo Cardeal Mendoza, foram aproximando-se da cidade de Granada. Penetraram na cidade, nos jardins do palácio da Alhambra, e no mais alto da Torre de La Vela alçaram uma cruz de prata maciça e o estandarte de Castela.

Retumbavam no espaço os tiros dos canhões, soavam os tambores e pífanos, e os gritos de júbilo aclamavam aos grandes e poderosos Reis Católicos, Fernando de Aragão e Isabel de Castela:

Granada, Granada, pelos Reis Don Fernando e Dona Isabel!

Boabdil, quebrado e não dobrado, fincava os joelhos ante os Reis Católicos e entregava as Chaves da Alhambra a Don Fernando, dizendo-lhe com lagrimas nos olhos:

“Teus somos, rei poderoso e exaltado; estas são, senhor, as chaves desse paraíso!”

E Granada foi devolvida à civilização.

26/02/2011

O Verdadeiro Problema

“Nada aprende das lições do passado recente quem hoje ainda se ilude a propósito das possibilidades de uma luta puramente política e sobre o poder de tal o qual formula ou sistema, se não se parte, antes de tudo, de uma nova qualidade humana... Há que adotar, portanto, uma precisa posição contra o falso “realismo político”, que pensa somente em termos de programas, de problemas, de organização de partidos, de receitas sociais e econômicas. Tudo isto é contingente e não essencial. A medida do que ainda pode ser salvo depende, pelo contrario, da existência ou não de homens que vivam não para pregar formulas e sim para despertar diferentes formas de sensibilidade e interesse. A partir daquilo que, apesar de tudo, sobrevive ainda entre as ruínas, reconstruir lentamente um homem novo, animá-lo graças a um determinado espírito e uma adequada visão da vida, fortificá-lo mediante a adesão férrea a certos princípios. Este é o verdadeiro problema... “

Julius Evola.

24/02/2011

A Imprensa e a Liberdade de Pensamento



(..) a palavra imprensa, lançada em grandes tiragens e divulgada através de regiões ilimitadas, transformou-se numa arma sinistra nas mãos de quem soubesse manejá-la. A campanha de imprensa surge como continuação - ou preparo - de uma guerra a ser travada com outros meios. Sua estratégia de combates de vanguarda, manobras fictícias, assaltos de surpresa, ataques em massa, foi, no decorrer do século XIX, aperfeiçoada a tal ponto que uma guerra já pode estar perdida, antes de disparar-se o primeiro tiro, porque a imprensa já a ganhou anteriormente.



Hoje vivemos entregues, sem resistência, à ação dessa artilharia espiritual, de maneira que poucos são os que podem manter a distância interior suficiente para perceberem com toda a clareza a monstruosidade inerente a esse espetáculo. Três semanas de atividade periodística, e toda a gente terá reconhecido a verdade. Seus argumentos serão irrefutáveis, enquanto houver o dinheiro necessário para repetí-lo ininterruptamente. Mas ficarão rebatidos, quando uma potência financeira mais forte apoiar os contra-argumentos e os oferecer com maior frequência aos olhos do mundo inteiro. Também nesse ponto triunfa o dinheiro, pondo a seu serviço os espíritos livres. Não há sátira mais cruel contra a liberdade de pensamento. Outrora, não era lícito pensar livremente; agora temos tal direito, porém somos incapazes de exercê-lo. Pensa-se tão-somente o que se deve querer, precisamente isso se nos afigura hoje em dia como a nossa liberdade.

(Oswald Spengler, ''A Decadência do Ocidente'')

Injustiça da Usura

"Receber juros por um empréstimo monetário é injusto em si mesmo, porque implica a venda do que não existe, com o que manifestamente se produz uma desigualdade que é contrária à justiça. Para sua evidência, deve se recordar que há certos objetos cujo uso consiste em seu próprio consumo; assim consumimos o vinho utilizando-o para a bebida e o trigo ao empregá-lo para a comida. Daí que nesses casos não devam se computar separadamente o uso da coisa e a coisa mesma, posto que a todo aquele a quem se concede o uso, se concede também a coisa mesma. Daí que, tratando-se de tais objetos, o empréstimo transfere a propriedade dos mesmos. Logo, se alguém quisesse vender por um lado o vinho e de outro o uso do vinho, venderia duas vezes a mesma coisa ou venderia o que não existe; e por essa razão cometeria manifestamente um pecado de injustiça. Por igual motivo comete uma injustiça o que empresta vinho ou trigo e exige dois pagamentos: um, a restituição do equivalente da coisa, e outro, o preço de seu uso, de onde vem o nome de usura.

Há, pelo contrário, outros objetos cujo uso não implica seu próprio consumo; assim, a utilização de uma casa é habitar nela, não destruí-la, e, por conseguinte, tratando-se dessa classe de coisas, se podem conceder por separado ambos elementos, como quando se cede a outra pessoa a propriedade de uma casa, reservando-se para si o uso durante um certo tempo; ou ao contrário, quando se concede o uso da casa, reservando-se para si seu domínio. Daí que se possa licitamente receber um pagamento pelo uso de um imóvel e reclamar depois a devolução do edifício emprestado, como ocorre no aluguel e arrendamento de casas.

Mas o dinheiro, segundo o Filósofo (*Aristóteles), em V Ethic. e en I Polit., foi inventado principalmente para realizar trocas; e assim, o uso próprio e principal do dinheiro é seu consumo ou investimento, posto que se gasta nas transações. Por conseguinte, é em si mesmo ilícito receber um preço pelo uso do dinheiro emprestado, que é o que se denomina a usura. E do mesmo modo que o homem há de restituir as demais coisas injustamente adquiridas, também há de fazê-lo com o dinheiro que recebeu en qualidade de juros."
(São Tomás de Aquino, Summa Theologica, II-IIae, q.78, a.1)

23/02/2011

Esquerda Burguesa

"Esta nova esquerda, convertida ao capitalismo, defende com garras um socialismo virtual e um imigracionismo real. Nesse coquetel, é difícil advinhar a parte de imbecilidade, de altruísmo alucinatório, de snobismo antirracista, de etnomasoquismo, e de (pior ainda) cálculo político. O sentimento que domina entre os colaboradores é o mesmo que aprisionou as elites decadentes romanas no século III: a ruindade e a covardia, (...) e um egoísmo indiferente frente ao seu próprio povo e suas gerações futuras.

A história lembrará que os europeus, e concretamente suas burguesias decadentes, foram os primeiros responsáveis pela colonização da Europa e de sua submersão demográfica. Os imigrantes do Terceiro Mundo, que eu considero como o inimigo principal, desde seu ponto de vista tem completa razão para nos invadir. Eles preenchem um vazio, assim como os americanos preenchem um vazio frente a ausência dos europeus nos planos geopolíticos e estratégicos."
(Guillaume Faye)

19/02/2011

Ter força e coragem

(por Anônimo)

É necessário força para exprimir a sua opinião
É necessário coragem para assumi-la até ao fim

É necessário força para tomar uma decisão
É necessário por vezes coragem para aceitar as consequências

É necessário força para avançar
É necessário coragem para aceitar que se errou

É necessário força para enfrentar o perigo
É necessário coragem para aceitar os seus limites

É necessário força para escolher
É necessário coragem para renunciar

É necessário força para aceitar as provas
É necessário coragem para rir

É necessário força para denunciar
É necessário coragem para calar-se

É necessário força para ganhar a sua vida
É necessário coragem para enfrentar a miséria

É necessário força para lutar
É necessário coragem para não renunciar

É necessário força para dizer não
É necessário coragem para ser capaz de afirmar a sua opinião sem violência

É necessário força para enfrentar os outros
É necessário coragem para enfrentar-se a si mesmo

É necessário força para ter sucesso
É necessário coragem para ultrapassar-se

É necessário força para atenuar a perda de um amigo
É necessário coragem para suportar o seu próprio sofrimento

É necessário força para suportar a injustiça
É necessário coragem para a travar

É necessário força para amar
É necessário coragem para ir embora

É necessário força para viver
É necessário coragem para sobreviver

18/02/2011

Por uma cidade de dimensão humana

(por Alain de Benoist)

O urbanismo sofre desde há cinquenta anos a ditadura da fealdade, do sem-sentido e do curto prazo: cidades-dormitório sem horizonte, zonas residenciais sem alma, subúrbios cinzentos que servem de esgotos municipais, intermináveis centros comerciais que desfiguram a entrada das cidades, proliferação de "não-lugares" anónimos concebidos para utentes apressados, centros urbanos exclusivamente dedicados ao comércio e aos que foram despojados do seu ambiente tradicional (cafés, universidade, cinemas, teatros, praças, etc), justaposição de imóveis sem um estilo comum, bairros degradados e entregues ao abandono ou, pelo contrário, permanentemente vigiados por guardas e câmaras de vigilância, desertificação rural e sobrepopulação urbana...

Já não se constroem habitats para viver, mas para sobreviver num ambiente urbano desfigurado pela lei da rentabilidade máxima e da funcionalidade racional. Ora, um habitat é antes de mais um habitat: trabalhar, circular e habitar não são funções que podem ser isoladas, mas antes actos complexos que afectam a totalidade da vida social. A cidade deve ser repensada como o local de encontros de todas as nossas potencialidade, o labirinto das nossas paixões e das nossas acções, em vez de expressão geométrica e fria da racionalidade planificadora.

Arquitectura e urbanismo inscrevem-se, por outro lado, numa história e geografia singulares, e devem ser o seu reflexo. Isto implica a revalorização de um urbanismo enraizado e harmonioso, a reabilitação dos estilos regionais, o desenvolvimento das vilas e das pequenas cidades em forma de rede, em torno de cidades regionais, a promoção das zonas rurais, a destruição progressiva das cidades-dormitório e as concentrações estritamente comerciais, a eliminação de uma publicidade omnipresente, assim como a diversificação dos meios de transporte: abolição da ditadura do automóvel individual, transporte ferroviário de mercadorias, revitalização do transporte colectivo, consideração pelos imperativos ecológicos...

17/02/2011

A Arte de Rafaello Sanzio

Uma Concepção Estética da Vida

(por Jean-Claude Valla)

Os povos europeus enganam-se de cada vez que querem fazer tábua rasa do passado. O seu drama foi terem sido cristianizados… e contudo o cristianismo que eles modelaram, melhor ou pior, para o adaptar ao seu génio próprio, faz parte integrante da sua herança. Mas sabemos que esta religião estrangeira contribuiu para desencantar o nosso mundo. Ela continha em si todos os germes da decadência e eis que, há cerca de meio século, a Igreja decidiu regressar aos miasmas originais do Evangelho: o igualitarismo e o universalismo. Esta ideia de igualdade universal acabou por se laicizar na ideologia dos direitos do homem. Depois de ter contribuído para a queda do Império romano, o cristianismo está em vias de nos minar a partir do interior. E pouco importa que já não haja muita gente na missa, já que a mensagem, recuperada por gentes que se enchem de laicidade, é-nos infligida todos os dias na televisão, nos outros Media e nos bancos de escola.

Como sair deste impasse? A nossa missão não é criar uma nova religião que, nestes tempos de confusão mental, arriscar-se-ia a não ser mais do que uma seita entre tantas outras. Se os europeus conseguirem não desaparecer, reencontrarão um dia as vias do sagrado. Enquanto esperamos é o combate pela sobrevivência que deve mobilizar todas as nossas energias, combate que deve ser travado com as ideias claras, sem nos enganarmos no inimigo.

Ora, dizer-se pagão é, hoje em dia, a única maneira de recusar o igualitarismo cristão e a sua moral do pecado, de substituir as funestas noções de Bem e Mal pelas de Belo e Feio. O Belo e o Feio são noções relativas, que podem variar de uma cultura para outra, mas na Europa, cada um sabe – ou sabia – o que é um belo gesto, uma bela acção, uma bela alma ou uma bela obra.

A sabedoria popular diz que não é bonito mentir. Aos jogadores violentos preferimos os que jogam bonito. Diremos de um velho que tem o olhar belo. De uma pessoa fisicamente feia que tem nela uma beleza interior. O que é belo não pode ser mau. Toda a história europeia está impregnada desta concepção estética da vida, indissociável do sentido de honra. E aquilo que mais reprovo na nossa sociedade actual é de nos querer impor o feio: o Centro Beaubourg, a Ópera da Bastilha, a pintura de Picasso e a arte moderna em geral, a música rap, techno, uma certa moda, etc. Ora, tudo o que é feio é pernicioso, porque todos os horrores que somos hoje chamados a admirar têm por função corroer os valores e destruir as referências sem as quais a civilização europeia não teria nunca atingido os cumes que lhe reconhecemos.

16/02/2011

A Europa entre os EUA e o Islã

(por Guillaume Faye)

Em desespero de causa e prestes a perder tudo, preferiria uma Europa provisoriamente americanizada, invadida pelos estupidificantes jogos-vídeo e pelos filmes “hollyoodescos”, infestada de redes Internet, telecomandadas do outro lado do Atlântico, dirigidas pela OTAN e seus acólitos, soletrando o básico Inglês/Atlântico, enjoada de contaminados “fast-foods”, com hordas de vultos plastificados, estilo “jogging”, mas que preserve a sua identidade étnica, do que uma Europa lenta e definitivamente conquistada pelas mesquitas e pelos “Imams”, demograficamente colonizada nas cidades, subúrbios e escolas por populações afro-asiáticas, onde por todo o lado se instalará a lei do “ghetto” e onde o Europeu de cepa se sentirá cada vez mais excluído. “Fantasmas”? Saiam então à rua, leiam com lucidez as estatísticas e vereis o que é que se está a preparar.

Entre a peste e o cancro opto pela peste. Esta pode ser curada, o cancro não. A colonização pelo americanomorfismo, a submissão política e estratégica ao adversário americano, a nossa dissolução cultural podem sempre ser combatidas. E derrotadas! A nossa soberania pode sempre ser reconquistada. Uma simples crise económica de grande impacto com repercussão global no nível de vida, hipótese perfeitamente plausível, o que de resto não seria obrigatoriamente um acontecimento negativo, seria suficiente para nos libertar dessa superficial descaracterização cultural, fundada no puro e simples consumismo. Mas contrariamente, ela não nos libertaria da submissão espiritual ao Islão, ou de uma submersão demográfica de populações alógenas.

A submissão ao americanizado Ocidente é de cariz materialista, e por isso mesmo poderá ser ultrapassada na medida em que os seus fundamentos são frágeis e efémeros. Pelo contrario, a colonização populacional da Europa e a implementação durável do Islão são de natureza biológica e espiritual, arcaica, profunda, sendo por essa razão, muito mais árduo a vencer do que as armas superficiais da modernidade americana. É bastante mais difícil erradicar uma mesquita do que um MacDonald.

Obviamente que se corre o risco de padecer de ambas enfermidades: a peste e o cancro, apoiando-se estas reciprocamente. Mas entre as duas adversidades, prefiro, antes do mais, enfrentar a mais perigosa e seguidamente ocupar-me daquela que é mais fácil derrotar. É evidente que o ideal seria simultaneamente combater as duas e ao mesmo tempo curar uma e outra. No entanto, o erro fatal seria optar por uma, utilizando-a como arma contra a outra, apoiarmo-nos no Sul e no Islão para combater a peste americana, ou de pensar que a América nos protegeria dos primeiros em caso de uma crise maior.

O poder da América reside na nossa fraqueza. O seu poder absoluto baseia-se nos métodos de uma decadente modernidade. Os colonizadores vindos do Sul possuem a sua força no sangue, estimulados pela fortaleza de um arcaísmo vencedor. De antigos conquistados são hoje conquistadores. É a lógica do retorno e da “justiça,”de que já falavam os pré-socráticos.

Aqueles que pensam que apoiando-se no Islão, na imigração afro-asiática e nas suas “culturas originais” poderemos combater o “americanomorfismo”, que o rad salvar-nos-á do rap e a mesquita da Disneyland, equivocam-se dramaticamente. Muito simplesmente porque a América espera, com impaciência a nossa submissão àqueles poderes, assim como a nossa desfiguração etno-cultural a fim de melhor nos dominar.

Americanização e terceiro-mundialização caminham par a par. Estejamos atentos para não cair de Charybde a Scylla. O mundo do futuro deixará de ser moderno; os conflitos não serão mais ideológicos, eles serão, aliás já o são, puramente geopolíticos, económicos, étnicos e religiosos. Os Europeus ainda não compreenderam que, para o mundo inteiro, exceptuando para os próprios Europeus, a política dos “direitos do homem” não passa de uma forma de domínio dos nossos adversários sobre a Europa: a sorridente sedução da meretriz para enjaular (prender) o pombo.

A História é um livro em aberto

(por Dominic Campbell)

Com o seu conceito de Eterno Retorno Nietzsche rompeu com a sagrada tradição de uma história clara e verdadeira da humanidade conforme escrita na Bíblia e negou enfaticamente que a história humana fosse uma história de progresso, rompendo assim um tabu talvez ainda mais sagrado na época de Nietzsche do que a própria crença em Deus. Mário Guardi (Il Caos e la Stella Il Falco Milan 1983) argumentou que não foi tanto a teologia do cristianismo, cuja liturgia reflecte em muitos casos uma crença na recorrência – Jesus sacrifica-se uma e outra vez pelos nossos pecados e a sua morte e ressurreição é repetidamente celebrada – mas antes o optimismo secular sobre o fim da história que foi, esse sim, o alvo principal do ataque de Nietzsche. Este optimismo é parte daquilo que Guardi chama “ a ideologia iluminista-evolucionista do progresso”, e esta ideologia, diz ele, é Hegeliana. A refutação que Nietzsche faz de Hegel é uma refutação filosófica dos princípios do progresso e da crença na melhoria humana. Muitos analistas vêem Nietzche como um pessimista heróico que desafiou o optimismo do liberalismo e do socialismo.

Significativamente Guardi não escreve sobre o mito do progresso mas sobre a ideologia do progresso. O progresso enquanto ideologia não significa apenas uma crença de que o progresso em curso é “inevitável” mas a crença adicional de que tem de, deve e vai surgir, numa palavra, de que é desejável. Guardi projecta um pessimismo nietzschiano no qual o progresso é uma ideologia que contém um programa que certos grupos procuram executar. O que aparece sob a bandeira do progresso (a emancipação feminina, a construção de estradas, as Nações Unidas, a educação universal, cuidados médicos para todos, uma única linguagem para o mundo) é na realidade o triunfo de determinados interesses, noutras palavras, manifestações da Vontade de Poder. Se Proudhon disse que a “ a propriedade é roubo” podemos parafrasear o adágio de Nietzsche como “a Vida é roubo”.

O próprio acto de vida é a conquista do combustível da vida, e não há vencedores sem perdedores.
Este é o significado da glorificação que Nietzsche faz da guerra e do adágio de Zaratustra de que uma boa guerra justifica qualquer causa. Na medida em que lutamos, vivemos, porque lutar é a afirmação da vontade. Os que não lutam são escravos. Os que não gostam de lutar não gostam da vida. O desporto é luta, tentar entender um livro é luta, até o acto criativo do artista ou do cozinheiro é luta.

A aceitação da noção de que o progresso é inevitável é, de acordo com Nietzsche, cair na armadilha (outrora usada por marxistas, agora pelos proponentes do livre-mercado exactamente da mesma maneira) da moralidade de escravo para enfraquecer potenciais opositores fazendo-os crer que estão a tentar resistir ao que é “inevitável”, ou para dizê-lo como Nietzsche, seduzi-los com moralidade, desarmando-os assim da sua vontade e tornando-os escravos. Descrever algo como “inevitável” implica que a história/vida tem uma narrativa completa, um conto racional, com o qual estamos obrigados a conformar-nos. Essa história não existe, diz Nietzsche. A suprema consolação é que através das nossas acções influenciamos o universo.

15/02/2011

Poema de Los Tercios

(por Pedro Calderón de la Barca)

Este Ejército que ves
vago al hielo y al calor,
la república mejor
y más política es
del mundo, en que nadie espere
que ser preferido pueda
por la nobleza que hereda,
sino por la que él adquiere;
porque aquí a la sangre excede
el lugar que uno se hace
y sin mirar cómo nace
se mira como procede.

Aquí la necesidad
no es infamia; y si es honrado,
pobre y desnudo un Soldado
tiene mejor cualidad
que el más galán y lucido;
porque aquí a lo que sospecho
no adorna el vestido el pecho
que el pecho adorna al vestido.

Y así, de modestia llenos,
a los más viejos verás
tratando de ser lo más
y de aparentar lo menos.
Aquí la más principal
hazaña es obedecer,
y el modo cómo ha de ser
es ni pedir ni rehusar.

Aquí, en fin, la cortesía,
el buen trato, la verdad,
la firmeza, la lealtad,
el valor, la bizarría,
el crédito, la opinión,
la constancia, la paciencia,
la humildad y la obediencia,
fama, honor y vida son
caudal de pobres Soldados;
que en buena o mala fortuna
la Milicia no es más que una
religión de hombres honrados.

A Ordem de Cavalaria

(por Bernard Marillier)

"A raça da alma…tudo o que é forma do carácter, sensibilidade, inclinação natural, “estilo” de acção e reacção, atitude em face das suas próprias experiências."
(Julius Evola, Elementos para uma educação racial)

Para a cavalaria, as bases desta raça são um conjunto de normas específicas que actuam como outras tantas forças psíquicas e psicológicas que “obrigam”, criam uma tensão interna e dão forma, por vezes sob o plano somático, a um tipo humano particular, o cavaleiro, o qual, pela sua inserção no seio de uma “via”, deixa de ser um individuo indiferenciado para se tornar uma pessoa diferenciada pelas suas qualidades, a sua natureza própria e uma série de atributos que se articulam em função da natureza da “via” e das suas escolhas pessoais. Essas forças são a honra, a fidelidades – a fides –, a coragem, a abnegação, o amor pelo combate, valores dependentes de um ethos heróico-viril pagão, aos quais a Igreja acrescentou a piedade, o desejo de paz, o amor ao próximo, a protecção de outros, a caridade, etc.…ideias em relação às quais o cavaleiro não oferecia frequentemente mais do que uma obediência meramente formal.Juntamente com um modo de vida profano comum a todos os cavaleiros tudo isso criou um “estilo” caracterizado por relações claras e abertas de homem para homem, a afirmação de uma impessoalidade activa que ia mesmo até ao sacrifício dos próprios interesses e da própria vida de maneira anónima, o gosto pela hierarquização e pelas relação de comando/ obediência, o “todo” organizando-se numa ordem orgânica tecida por múltiplos vínculos recíprocos que se articulavam verticalmente. Estas especificidades, admiravelmente colocadas em prática na Idade Média, são de resto as de toda a “sociedade de homens” a que se resume, in fine, a cavalaria (…)

Se é verdade que a totalidade dos cavaleiros se pretende cristã, frequentemente, de modo não ortodoxo, não é menos verdade que os ideais de base da sua ética são saídos de valores pagãos. Assim, avançando com as noções de fidelidade, de honra, de sacrifício, de respeito pela palavra dada, são as noções de cobardia e vergonha (mais do que o pecado) que mancham a honra do homem e da sua linhagem, ao lavar a injustiça com sangue (mais do que o perdão cristão), ao querer a paz pela vitória nas armas (noção romana), etc., o cavaleiro afirma claramente uma ética heróico-pagã no seio de um universo apenas superficialmente cristão.

14/02/2011

Virtudes Masculinas e Femininas



A ideia patriarcal torna os factos biológicos significantes. Note-se que as considerações sobre as naturezas sexuais são de essência em vez de empíricos (…)

Em sociedades que aceitam a ideia patriarcal, homem e mulher não são apenas dados biológicos, são ideais a que devemos aspirar. Dizer que alguém encarna o ideal é um grande elogio («que mulher!», «é um homem a sério!»). Tanto a masculinidade como a feminilidade têm as suas virtudes características. A virtude masculina é chamada cavalheirismo. É a virtude de quem internalizou o ethos do protetor. Coragem perante o perigo, valor na batalha, clemência para com os vencidos, cortesia com as mulheres, gentileza com as crianças, piedade com os idosos – estas são as qualidades do homem cavalheiresco. 

As feministas acusam muitas vezes o cavalheirismo de legitimar a agressividade masculina. Contudo, a agressividade masculina é um facto biológico que nos acompanhará quer o legitimemos ou não, a não ser que se planeie desvirilizar os homens através de condicionamento ou drogas (um caminho que pais e professores parecem, infelizmente, apostados em seguir). 

O ideal do cavalheirismo enobrece esse dado biológico permitindo aos homens entendê-lo em termos de um dever moral. De facto, não há forma de explicar o horror da violência doméstica por parte das feministas sem invocar o cavalheirismo. Se os homens não têm quaisquer deveres especiais para com as mulheres, então por que é que é de alguma forma pior um homem bater numa mulher do que num homem mais fraco? 

O cavalheirismo está intimamente relacionado com a coragem, mas a coragem em si é tanto uma virtude masculina como feminina. A virtude feminina da feminilidade é um tipo especial de coragem: a coragem de se permitir ficar vulnerável. Através da empatia que é característica da mulher, ela abre-se à dor dos outros. No casamento, ela sacrifica algumas das suas próprias defesas para que o seu marido possa assumir o seu papel. Na gravidez e no parto, ela oferece o seu próprio corpo para a sua criança, uma oferta que custou a muitas mulheres a vida. 

Claro que cada natureza tem as suas deformações características, mas é sempre um erro grosseiro identificar algo com a sua deformação. O machismo é uma deformação do cavalheirismo para homens que esqueceram que o seu valor deve ser posto ao serviço dos fracos. A masculinidade do rufia é imperfeita. Similarmente, nunca devemos identificar a feminilidade com a vaidade feminina e a frivolidade. A masculinidade e a feminilidade são essencialmente virtudes relacionais. Dão forma a todas as nossas relações mais íntimas, que são sempre relações de dependência. É apenas nas relações muito superficiais que posso dizer que a relação não seria diferente se o meu parceiro fosse um homem em vez de uma mulher, ou vice-versa. É por isso que a vontade de eliminar as personalidades masculinas e femininas deve ser combatida. Uma pessoa andrógina teria em falta tanto a capacidade do homem como da mulher para a intimidade. Um homem que sacrifica a virtude masculina não adquire por isso virtude feminina. Nem uma mulher ganha virtude masculina perdendo a sua feminilidade. Um homem efeminado não é maternal e uma mulher maria-rapaz não é paternal. 

Retirado daqui

Pela obediência às leis da vida

"Um povo não deve estar baseado em sentimentos privados – que ele transforma em pseudo-virtudes públicas – mas em emoções colectivas e nos reflexos de defesa, da honra e do orgulho. Aliás, a ideologia do amor individual, que percorre o ocidente, não semeia senão os infortúnios, os dramas íntimos, as decadências colectivas. Ele é a seiva do egoísmo, da fractura nas famílias, do adolescentismo. Nunca se falou tanto de “amor ao próximo” (laicização triunfante da noção cristã com a mesma designação) e nunca o egoísmo social, o desprezo pela nupcialidade, a quebra dos laços de solidariedade próxima, a ausência de civismo, o cinismo materialista e a violência foram tão fortes.

A quem serve o conceito de “amor” na realidade? Ele é o simulacro psicológico que é o pretexto para uma xenofilia descarada. Os malefícios dessa perniciosa “ideologia do amor”, eixo do dogmatismo dos direitos do homem, são:o anti-racismo de sentido único, a caridade hipócrita das ONG, a “discriminação positiva” para com os alógenos, o imigracionismo militante, etc. A noção de “caridade cristã”, passando pelo campo político, tornou-se a verdadeira máquina de guerra do masoquismo europeu. O revólver que enfiamos na própria boca.

Os moudjahidines, estes não estão imbuídos nem de “amor” nem de “caridade”, mas de solidariedade ofensiva entre os membros da umma, pela exclusão de todos os outros. Eles são meus inimigos, não lhes ofereço uma prenda nem lhes digo obrigado, mas eles obedecem às leis da vida."

(Guillaume Faye)

13/02/2011

A Grande e a Pequena Guerra Santa

(por Julius Evola)

O Bhagavad-gitâ

(…) À formulação islâmica da doutrina heróica corresponde a exposta na já citada Bhagavad-gitâ, em que se encontram os mesmos significados num estado mais puro. E não deixa de ter interesse salientar que a doutrina da libertação através da acção pura, exposta neste texto, é declarada de origem «solar» e teria sido comunicada directamente pelo chefe de estirpe do presente ciclo não aos sacerdotes ou brâhmana, mas sim a dinastias de reis sagrados.

A piedade que impede o guerreiro Ariuna de descer ao campo de batalha contra os inimigos por reconhecer entre estes parentes e mestres seus, é qualificada no Bhagavad-gitâ de «cobardia indigna de um homem bem-nascido, ignominiosa, que afasta do céu». A promessa é a mesma: «Morto, ganharás o paraíso; vitorioso, possuirás a terra: por isso ergue-te resoluto para o combate». A orientação interior – a nyyah islâmica – capaz de transformar a «pequena guerra» numa «grande guerra santa», é declarada em termos bem claros: «Dedicando-me todas as obras – diz o deus Krshna – com o teu espírito fixado no estado supremo do Eu, livre de toda a ideia de possessão, livre da febre no espírito, combate.» É em termos igualmente claros que se fala da pureza desta acção, que tem de ser querida por si mesma: «Considerando como iguais o prazer e a dor, o lucro e a perda, a vitória e a derrota, prepara-te para a batalha: assim não terás qualquer culpa», ou seja: não te desviarás de maneira nenhuma da direcção sobrenatural ao realizares o teu dharma de guerreiro. A relação entre a guerra e a «via de Deus» é a mesma que se encontra presente na Bhagavad-gitâ, com uma acentuação do aspecto metafísico: o guerreiro, de certo modo, reproduz a transcendência da divindade.

O ensinamento que Krshna forneceu a Ariuna diz respeito acima de tudo à distinção entre o que como ser puro é imorredouro, e o que como elemento humano e naturalista tem somente uma aparência de existência: «Não há [possibilidade de] existência para o irreal ou [possibilidade de] não-existência para o real: os que sabem, apercebem-se da verdade respectiva de cada um destes dois termos… Tens de saber que é indestrutível o que ocupa tudo. Quem o considerar como matador e quem o considerar como o que é morto, são ambos ignorantes: ele não mata nem é morto. Não é morto quando o corpo é morto. Estes corpos do espírito eterno, indestrutível e ilimitado, são perecíveis: por isso ergue-te e combate!»

À consciência da irrealidade do que se pode perder ou fazer perder como vida caduca e corpo mortal – consciência a que corresponde a definição islâmica da existência terrena como jogo e divertimento – associa-se seguidamente o conhecimento do aspecto divino segundo o qual aquele é a força absoluta, perante a qual surge toda a existência condicionada como negação: uma força que portanto se desnuda, por assim dizer, e resplandece numa temível teofania precisamente na destruição, no acto que «nega a negação», no turbilhão que arrasta consigo toda a vida finita para a aniquilar – ou para a fazer ressurgir lá no alto, trans-humanizada.

Assim, para libertar Ariuna da dúvida e do «mole vínculo da alma», o Deus não só declara: «Nos fortes eu sou a força isenta de desejo e de paixão – sou o clarão do fogo, sou a vida em todas as criaturas, e a austeridade nos ascetas. Sou o intelecto dos sábios e a glória dos vitoriosos» – como também por fim, abandonando todo o aspecto pessoal, se manifesta na «terrível e maravilhosa forma que faz tremer os três mundos», «alta como os céus, irradiante, multicor, com uma boca escancarada e grandes olhos flamejantes».

Os seres finitos – como lâmpadas debaixo de uma luz demasiado intensa, como circuitos percorridos por um potencial demasiado elevado – cedem, desfazem-se, morrem, porque dentro deles arde uma potência que transcende a sua forma, que pretende algo infinitamente mais vasto que tudo o que eles como indivíduos podem pretender. Por isso os seres finitos «tornam-se», transmutando-se e passando do manifesto ao não manifesto, do corpóreo ao incorpóreo. É nesta base que se define a força destinada a produzir a realização heróica. Os valores invertem-se: a morte torna-se testemunho de vida, o poder destruidor do tempo revela a indomável natureza encerrada no que está submetido ao tempo e à morte. Daí o sentido das seguintes palavras de Ariuna no momento em que tem a visão da divindade como pura transcendência: «Tal como as borboletas se precipitam com uma velocidade crescente na chama ardente para encontrarem a sua destruição, assim os vivos se precipitam em velocidade crescente nas Tuas bocas para encontrarem aí a sua destruição. Tal como os inúmeros cursos de água só correm directamente para o mar, igualmente estes heróis do mundo mortal entram nas Tuas bocas ardentes,» E Krshna. «Eu sou o templo plenamente manifestado, destruidor dos mundos, ocupado a dissolver os mundos. Mesmo sem a tua intervenção, estes guerreiros alinhados uns em frente dos outros em fileiras opostas cessarão todos de viver. Ergue-te pois, e conquista a glória: vence os inimigos e goza de um reino próspero. Todos estes guerreiros, na realidade foram mortos por mim. Tu, sê o instrumento. Combate pois sem temor, e os teus inimigos hás-de vencer na batalha.»

Por esta via, representa-se a identificação da guerra com a «via de Deus». O guerreiro evoca em si a força transcendente de destruição, assume-a, transfigura-se nela e liberta-se, rompendo o vínculo humano, A vida – é como um arco; a alma – como um dardo; o alvo a trespassar – o Espírito Supremo: juntar-se a ele, como a seta atirada se fixa no alvo – diz-se noutro texto da mesma tradição: É esta a justificação metafísica da guerra, o assumir da «pequena guerra» em «grande guerra santa». Isto permite também compreender o sentido da tradição relativa à transformação durante a batalha, de um guerreiro ou de um rei num deus. Ramsés Merianum no campo de batalha transformou-se, de acordo com a tradição, no Deus Amon, dizendo: «Eu sou como Baal na sua hora» – e os inimigos, reconhecendo-o naquela amálgama gritavam: «Não é um homem, é Sathku, o Grande Guerreiro, é a encarnação de Baal!» Baal corresponde aqui a Çiva e ao Indra védico, assim como ao paleogermânico e solar Tiuz-Tyr, que tem por sinal a espada, mas que também está relacionado com a runa e ideograma da ressurreição («homem com os braços levantados») e com o já referido Odin-Wotan, deus das batalhas e da vitória. Por outro lado, não se deve descurar o facto de quer Indra quer Wotan serem igualmente concebidos como deuses da ordem (Indra é chamado «moderador das correntes» e como deus do dia e do céu luminoso tem também características olímpicas), que regem o curso do mundo. Assim voltamos a encontrar o tema geral de uma guerra que se justifica como um reflexo da guerra transcendente da «forma» contra o caos e as forças da natureza inferior que a este se encontram associadas. (…)

A Besta Eficiente

(por José Javier Esparza)

"(…) Tudo, porém, faz parte do mesmo: um processo geral de tecnicização do ensino, onde a instrução “prática”, isto é, imediatamente traduzível em termos laborais ou técnicos (Inglês, Informática, etc), marginaliza primeiro e expulsa depois os conhecimentos “teóricos”, isto é, aqueles que “só” servem para estudar o sentido da vida. O bom, o belo, o justo, são desterrados das salas de aulas em benefício do útil. Mas se não sabemos onde está o bom, o belo e o justo que sentido dar a essa utilidade? Para que serve o útil? A tragédia do utilitarismo é que acaba por ser inútil.

A pergunta “para que serve estudar filosofia” admite sempre uma só resposta: Estudar filosofia serve para não fazer perguntas tão tontas. Isto haveria que explicá-lo – ainda que talvez seja inútil – a quem se empenhou em converter os centros de ensino em simples dispensários de instrução “prática”. A finalidade da educação – que é algo mais que simples instrução – não é só formar seres úteis para a sociedade, isto é, fabricar bons sistemas; criar bestas eficientes é um horizonte bem pouco prometedor. A educação serve para coisas muito mais altas. Os gregos, por exemplo, viam a formação do cidadão como uma obra de arte. Por isso ensinavam coisas tão pouco “práticas” que projectaram a sua sombra durante milénios. Os egípcios, pelo contrário, limitavam o ensino à pura instrução técnica da casta dos escribas; a sua civilização, que obteve êxitos surpreendentes, desapareceu sem deixar rastro vivo na História. Hoje o caminho da Europa, paradoxalmente, afasta-se da Grécia clássica e abraça o modelo do Egipto dos faraós. A poeira engolir-nos-á nas nossas faustosas pirâmides.

Uma velha piada relata que um automóvel avança pela auto-estrada a toda a velocidade. Dentro vão dois tipos. Pergunta um ao outro: «Onde vamos?». O outro olha o seu relógio e responde: «Não sei, mas levamos uma média excelente». Não há dúvida de que a nossa civilização leva uma média excelente. Mas, efectivamente, há tempo que deixou de nos interessar saber para onde vamos."

12/02/2011

Louis Ferdinand Celine

Vergonha

"Vivemos numa época em que os homens, impelidos por medíocres e selvagens ideologias, têm vergonha de tudo. Vergonha de si próprios, vergonha de ser felizes, de amar e criar (...). Portanto, há razões para nos sentirmos culpados. Eis-nos arrastados para o confessionário laico, o pior de todos."

(Albert Camus)

11/02/2011

Cansaço do Homem

"No fundo nos sobrepomos a todo o demais, posto que nascemos para uma existência subterrânea e combativa; uma e outra vez saímos à luz, uma e outra vez experimentamos a hora áurea do triunfo - e nesse momento aparecemos tal como nascemos, inquebrantáveis, tensos, dispostos a conquistar algo novo, algo mais difícil, algo mais distante todavia, como um arco a quem as privações só conseguem tornar mais rígido. Porém de vez em quanto - e supondo que existam protetores celestiais, situados mais além do bem e do mal - condedam-me um olhar, um único olhar tão somente a algo perfeito, a algo totalmente realizado, feliz, poderoso, vitorioso, no qual todavia haja algo a temer! Um olhar a um homem que justifique ao homem, um olhar a um caso afortunado que complemente e redima ao homem, por razão do qual me seja lícito conservar a fé no homem!... Pois assim estão as coisas: o encolhimento e a nivelação do homem encerram nosso máximo perigo, já que essa visão cansa... Hoje não vemos nada que aspire a ser maior, descemos cada vez mais baixo, mais baixo, na direção de algo débil, mais manso, mais prudente, mais plácido, mais medíocre, mais indiferente, mais cristão - o homem, não há dúvida, se torna cada vez 'melhor'... Justo nisso reside a fatalidade da modernidade, ao perder o medo ao homem perdemos também o amor a ele, o respeito por ele, a esperança nele, mais ainda, a vontade dele. Atualmente a visão do homem cansa - quê é hoje o niilismo senão isso?... Estamos cansados do homem."
(Friedrich Nietzsche, Trecho de "Genealogia da Moral")

09/02/2011

A Autarquia Econômica

por Julius Evola

Passando a outro ponto, o que diz respeito à economia nacional e às suas relações com o estrangeiro, é comum em muitos meios condenar o princípio fascista da autarquia e considerar esta absurda. Pessoalmente, não estamos de acordo com semelhante condenação.

No domínio das nações, e não menos no das pessoas, um dos maiores bens é a liberdade, a autonomia. Essa exigência foi afirmada de modo especial por Mussolini ao afirmar: “Sem independência económica, a autonomia da nação fica comprometida. Mesmo o povo de elevadas capacidades militares pode ser vergado pelo bloco económico” (1937). Segundo ele, pois, a nova fase da história italiana devia “ser dominada por este postulado: tão depressa quanto possível, conseguir-se o máximo de autonomia na vida económica da nação” (1936). Falar de “mística da autarquia” (1937) tem de ser levado à conta de um abuso da palavra mística que caracterizou os últimos anos do Fascismo. Entretanto, apoiando-nos na própria origem da palavra, poderia falar-se de ética da autarquia: vem-nos da antiguidade greco-romana, especialmente das escolas estóicas, que professavam a ética da independência e da auto-soberania da pessoa, valor que sempre se jurava seguir quando se tornava necessário o severo princípio de abstine e substine.

O princípio fascista da autarquia pode ser considerado, pois, uma espécie de extensão dessa ética no plano da economia nacional. Se necessário, manter um nível geral de vida relativamente baixo, adoptar a austerity, que, aliás, num contexto diferente, foi praticada aqui e ali por outras nações depois da guerra, mas garantir o máximo de independência, orientação que aprovamos sem hesitar. No caso de uma nação de recursos naturais limitados como a Itália, o regime de autarquia e austeridade inscrevia-se precisamente na direcção justa. 

Relativamente ao curso da vida nacional, achamos perfeitamente normal uma situação oposta a tudo o que hoje temos: entre outras coisas, aparente prosperidade geral e despreocupação no dia-a-dia acima das possibilidades de cada um, défice assustador do orçamento de Estado, instabilidade sócio-económica extrema, inflação galopante e invasão de capital estrangeiro, cujas consequências se traduzem em múltiplos condicionamentos visíveis e invisíveis.

Naturalmente, não é necessário ir muito longe no sentido contrário. A analogia que a todos os níveis nos oferece o comportamento de um homem digno desse nome, serve-nos de guia. Esse homem pode favorecer o desenvolvimento do corpo e o bem-estar físico sem com isso se tornar escravo. Sempre que necessário refreia certos impulsos, mesmo ao preço de sacrifícios, e obriga-os a obedecerem a exigências mais elevadas: é indiferente a esse homem enfrentar tarefas que reclamam tensões especiais. Para tornar possível o que corresponde à própria orientação no plano nacional é que devem estabelecer-se relações justas entre o princípio político do Estado nacional orgânico e o mundo da economia, a parte corporal do Estado.

É bem conhecida a fórmula marxista segundo a qual “a economia é o nosso destino”, assim como a interpretação da história em função da economia relacionada com essa fórmula. No entanto, o determinismo económico é reconhecido igualmente por muitas correntes diferentes do marxismo e até opostas. É oportuno referir que semelhante fórmula é absurda em si mesma mas que, infelizmente, deixa de o ser quando observamos o mundo moderno, em que o homem lhe confere cada vez mais autenticidade. O homo œconomicus puro é uma abstracção, mas, como tantas outras abstracções, pode tornar-se uma realidade pelo processo de atrofia e absolutização de uma parte em relação ao todo: quando o interesse económico predomina, é natural que o homem sucumba às leis económicas e que estas adquiram carácter autónomo até se afirmarem outros interesses ou intervir um poder superior. 

Que o “homem económico” não existe, foi o ponto de vista de Mussolini, que lhe opôs o “homem integral” (1933). A sua ideia era que “a política dominou e dominará sempre a economia”, relevando nesse contexto que o que se concebeu como destino do homem “foi criado nas suas três quartas partes por abulia ou pela vontade” (1932). Neste ponto, regressamos às perspectivas de Spengler. Estudando as formas com que um ciclo de civilização que chega ao fim se reveste (a descida da Kultur ao nível da Zivilisation), Spengler atentou justamente na fase em que a economia se torna soberana, ou seja, quando se realiza a união entre a democracia, o capitalismo e a finança. Tal união demonstra, aliás, o carácter ilusório das “liberdades” reivindicadas nos nossos dias já que, como é evidente, as “liberdades políticas” não são absolutamente nada sem a liberdade ou autonomia económica, e isso tanto no domínio individual como colectivo. Neste último, porque, num regime democrático, são os grupos detentores de riqueza quem controlam a imprensa e os meios de formação da “opinião pública” e da propaganda, no domínio individual e prático, porque o acesso às diversas “conquistas” da civilização moderna, técnica e económica e a sua prosperidade aparente, é pago com outras tantas alienações do indivíduo, pela sua inserção cada vez mais rigorosa na engrenagem colectiva movida pela economia. Perante isto, as “liberdades políticas” não passam de coisa ridícula.

Spengler previu uma fase sucessiva a que chamou “política absoluta” e pô-la em relação com o aparecimento desses novos chefes de tipo problemático a que já nos referimos. Todavia, sem esquecer as reservas que avançámos a esse respeito, podemos retirar de uma visão desse tipo a ideia de uma possível mudança de situação sob o impulso de um Estado forte baseado no destacado princípio da autoridade que podia pôr travões ao “gigante desenfreado”, a economia como destino. 

A expressão “gigante desenfreado” foi forjada por Werner Sombart, sobretudo quando se referia ao capitalismo moderno e às suas determinações imanentes. Pode, pois, ser tida em consideração essa referência específica: partindo do princípio da predominância da política sobre a economia e do regresso à ideia de Estado autêntico, da sua soberania e autoridade concretizadas num conjunto de estruturas adequadas, o desenvolvimento teratológico do capitalismo no sentido de uma produção infrene pode mesmo ser limitado com o objectivo último de reconduzir tudo o que é economia à posição subordinada de meio e de domínio circunscrito numa hierarquia mais vasta de valores e de interesses.

Para completar as presentes considerações, podemos relacionar esse fim último com o seu conteúdo e dizer que, do nosso ponto de vista, o essencial seria chegar-se a um equilíbrio, a uma estabilidade, à suspensão do movimento ilimitado. Não se pode exigir isso ao Fascismo, que tinha diante de si a difícil tarefa de reestruturação económica, industrial e social da nação, e isso, abstraindo dos projectos expansionistas ligados a certa aspiração à grandeza, mais que ao splendid isolement autárquico. Nestas condições, era natural uma orientação activa e dinâmica, um impulso para a frente, que chegou a ser enunciado na fórmula “parar é perder”, cujo carácter problemático compreendia a evidente implicação anti-autárquica consistente em aceitar sem medidas defensivas a inserção num processo global de condicionamento.

A questão última, a de um ideal de civilização a escolher de modo definitivo ou a sua adopção como regra geral, não chegou, pois, a ser posta. Seria caso para perguntar até que ponto o Fascismo sentiu a vocação de ir contra a corrente do movimento geral que conduz o mundo moderno para o que se considera progresso, mas a que mais valeria chamar “fuga em frente” (Bernanos), dada a verdadeira significação interna desse mundo. 

Em certo momento, até que ponto a orientação justa não teria consistido em virar-se para o chamado “imobilismo”, termo usado pelos que confundem estabilidade e limite positivo voluntário com imobilidade e inércia, e reconhecer que pôr travões à direcção horizontal do futuro, à evolução no sentido material, técnico e económico, aos processos que acabam por escapar a todo o controle, era a condição de um progresso autêntico, de um movimento vertical, de realização das possibilidades superiores e da verdadeira autonomia da pessoa. Em suma, retomando uma fórmula conhecida, a condição de realização do ser, indo mais além do bem-estar.

Não ao Mundo Moderno

"O futuro será o que nós mesmos formos. Está para além de qualquer dúvida que o princípio do menor esforço, a moralidade do prazer e o liberalismo estão em contradição com as leis de conduta inscritas na própria estrutura do corpo e da alma. Eles devem, portanto, ser firmemente rejeitados."
(Dr. Alexis Carrel)

08/02/2011

Abel et Caïn

por Charles Baudelaire

I

Race d'Abel, dors, bois et mange;
Dieu te sourit complaisamment.

Race de Caïn, dans la fange
Rampe et meurs misérablement.

Race d'Abel, ton sacrifice
Flatte le nez du Séraphin!

Race de Caïn, ton supplice
Aura-t-il jamais une fin?

Race d'Abel, vois tes semailles
Et ton bétail venir à bien;

Race de Caïn, tes entrailles
Hurlent la faim comme un vieux chien.

Race d'Abel, chauffe ton ventre
À ton foyer patriarcal;

Race de Caïn, dans ton antre
Tremble de froid, pauvre chacal!

Race d'Abel, aime et pullule!
Ton or fait aussi des petits.

Race de Caïn, coeur qui brûle,
Prends garde à ces grands appétits.

Race d'Abel, tu croîs et broutes
Comme les punaises des bois!

Race de Caïn, sur les routes
Traîne ta famille aux abois.

II

Ah! race d'Abel, ta charogne
Engraissera le sol fumant!

Race de Caïn, ta besogne
N'est pas faite suffisamment;

Race d'Abel, voici ta honte:
Le fer est vaincu par l'épieu!

Race de Caïn, au ciel monte,
Et sur la terre jette Dieu!

07/02/2011

A TERCEIRA ROMA

'Para nós o império de Roma é um “eón” , uma constante através dos tempos, como frente a ela Babel é a constante da dispersão dos homens, Roma é a da sua unidade. Carlos Magno, Sacro Império, e a sua maneira Napoleão, são revelações desta constante'.
Eugenio D´ors

“É evidente que no hemisfério do Consumismo a vida é mais tolerável, e não deixa de haver aqui certo ar de liberdade, embora as eleições costumem estar condicionadas pela sedução das massas, que alcançou um perfeição técnica irresistível, e que esta aparência de liberdade falta no hemisfério comunista. Porem não é menos certo que a deterioração humana do Consumismo, ao ser mais prazerosa e insensível, resulta por isso mesmo muito mais letal que a brutal disciplina do Comunismo. Este pelo menos, pode produzir mártires, enquanto que o Consumismo não gera mais que hereges e pervertidos.


HÁ AINDA UMA VANTAGEM NO LESTE que não costumamos a levar em conta, porem que me parece muito importante: o Leste não sofreu a corrupção protestante, com sorte, debaixo da larva marxista, se esconde ainda um cristianismo, embora possa ser cismático, menos contaminado que o do Oeste, corrompido pela Reforma Protestante. Se algum dia essa larva marxista pudera ser eliminada, quiçá seria do Leste de onde haveríamos, outra vez, que esperar a Luz: Ex Oriente Lux! E sobre o quiçá Mito de Moscovia como A TERCEIRA ROMA não sabemos se pulsa ainda uma verdade misteriosa que o futuro nos possa revelar. Porem o futuro somente pertence a Deus, e nós homens não podemos prever-lo sem uma graça especial para isto.


Em definitiva, pode haver uma guerra mundial ou pode esta não ser necessária, porem, em todo caso, essa NOVA ORDEM somente pode vir pela “violência de Deus”, a theou bía que diziam os gregos... As vitorias implicam sempre violências: PARA UMA NOVA ORDEM, UMA NOVA VIOLENCIA.”.


“La Violencia y el Orden”. Tratado de Teología Política, 1986. Álvaro D’Ors