15/12/2024

Alessandra Faleri - Animais Simbólicos entre Oriente e Ocidente

 por Alessandra Faleri

(2014)


Os animais têm acompanhado a existência do homem desde os tempos mais remotos, tanto é verdade que os encontramos representados desde a pré-história ou venerados em muitos cultos religiosos e ainda na literatura, mesmo na mais antiga.

Independentemente do que foi dito, o verdadeiro papel de protagonistas é assumido dentro da fábula, onde agem e pensam como seres humanos. Analisando isso, podem-se distinguir vícios e virtudes dos homens, como, por exemplo, o corajoso sendo comparado ao leão.

Um texto com tal conteúdo é chamado de Fisiologista. Uma primeira edição e tradução foi feita por Tychsen a partir de um texto siríaco no qual se pensa que o autor original era um naturalista cuja obra foi escrita em grego e citada por Orígenes.

Sbordone escreveu Pesquisas sobre as fontes e a composição do fisiologista grego, na qual propõe a teoria de que tal texto foi escrito pelos Pais cristãos a partir de alguns livretos dos primórdios do cristianismo, nos quais se narravam animais fantásticos. Em geral, esta obra permanece anônima e de datação incerta. No Fisiologista são citados os Protoevangelhos de Tiago, o Evangelho de João e os Atos de Paulo e Tecla; estas e outras fontes, como o Novo Testamento e o Apocalipse, estão sempre distantes de ter uma representação zoomórfica de Deus, justamente para se diferenciar do Oriente.

Na Idade Média, textos como o Fisiologista serão chamados de bestiário. Os bestiários mais importantes são os dos Pais cristãos, pois o valor simbólico que alguns animais assumem origina-se da exegese bíblica; de fato, é com o cristianismo que a dimensão simbólica dos animais é retomada, a partir da representação do peixe. Assim, quando se lêem as Escrituras Sagradas, deve-se aplicar o procedimento da alegoria, no qual há a transição do plano literal para o simbólico e, portanto, a dedução da leitura alegórica do texto sagrado. A passagem da realidade para o indivíduo não é arbitrária, mas baseia-se em procedimentos e técnicas que nascem da convicção de que a Palavra de Deus não se esgota na imediaticidade de sua expressão literal.

Dito isto, é natural a ligação com a literatura etíope e seus conteúdos. Tal afirmação encontra confirmação no fato de que ela não é mais que uma literatura de tradução e, portanto, não possui textos originais, apenas cópias. Entre estas, lembramos as traduções da Bíblia, quatro apócrifos do V.T. e um do N.T., apenas para citar os mais importantes. A datar-se após o século IV, temos alguns textos como Qerellos, as regras de São Pacômio e o nosso Fisiologista.

A edição do texto etíope, feita por Hommel em 1887, baseava-se em três manuscritos. O problema mais interessante dessa redação está na relação com o texto grego e com a tradição oriental.

A obra foi escrita em grego com a edição crítica de Sbordone em 1836, baseada em 77 manuscritos nos quais se identificavam três redações, mas que tinham um arquétipo diferente. Um quarto manuscrito importantíssimo é o de Grottaferrata, não usado por Sbordone, que continha 47 animais ou capítulos, em contraste com os anteriores que tinham apenas 38. As edições completas foram feitas em 1966 por Offermans e em 1974 por Kaimakis. Existem ainda uma série de fragmentos orientais: coptas, siríacos, que têm uma série de animais não presentes no texto grego, assim como pedras e metais.

Portanto, podemos concluir, ou melhor, supor que os animais inseridos no texto foram escolhidos com base no local de divulgação: ou o Oriente ou o Ocidente.