por Alberto Lombardo
(1998)
O objetivo da minha intervenção é um breve exame do uso do simbolismo por parte de Tolkien. Dada, porém, a vastidão do tema, o amplíssimo uso de símbolos pelo filólogo de Oxford e a amplitude de referências, ressonâncias e reflexões adicionais que cada símbolo suscita, esta análise não poderá, por força das circunstâncias, senão limitar-se a alguns breves apontamentos. Além disso, a própria resenha que pretendo propor aqui tem uma pretensão meramente “evocativa”, de fornecer, isto é, um conjunto limitado de imagens, aproximações e “visões” simbólicas, a fim de responder a estas perguntas: qual é a medida do uso dos símbolos por parte de Tolkien? Quais as implicações deste uso? E qual a consciência, por parte do autor, ao recorrer a esses símbolos – isto é: qual “rigor tradicional”, correspondência ao significado arcaico?
Pode-se adiantar, desde já, em resposta parcial a tais questões, que Tolkien não ignorava certamente uma das características principais dos símbolos, a sua dualidade (não dualismo): dois significados diferentes, muitas vezes opostos, estão encerrados em um único símbolo, muitas vezes corroborando-se mutuamente, sem se negarem um ao outro. Às vezes, aliás, essa dualidade é devida a razões de tipo histórico, acontecendo que um sentido novo substituísse o anterior, por oposição, por “mudança de civilização” ou pelo superpôr de uma nova sensibilidade. Consciente desta característica fundamental, Tolkien é, no entanto, plenamente homem do século XX. Nele, epos e mythos sentem os traços desta época, manifestando-se, a nível literário, numa melancolia, ou melhor, numa nostalgia (dor da distância). Este caráter, latente e difundido na obra tolkieniana, e que procurarei destacar adiante, é a razão do tanto fascínio atual, inatenuado (e aliás diria aumentado) a quase trinta anos da morte do autor de O Senhor dos Anéis.