30/12/2024

Constantin von Hoffmeister - Nacional-Bolchevismo versus Nacional-Comunismo

 por Constantin von Hoffmeister

(2023)


Com a ascensão de Stálin, a ideologia da União Soviética mudou para uma direção decididamente imperial. O nacional-bolchevismo é uma ideologia imperial (mas anti-imperialista), enquanto o nacional-comunismo é uma ideologia anti-imperial. O nacional-bolchevismo, como estabelecido pelo Czar Vermelho Stálin, baseava-se no princípio da Grande Rússia: a Rússia como a Terceira — e última — Roma, o centro e a luz guia para as massas oprimidas no grande continente onde todas as tradições hiperbóreas tiveram suas origens. Os nacional-comunistas denunciavam a chamada “ditadura de Moscou” e endossavam ativamente as tendências separatistas dentro do império soviético e do Pacto de Varsóvia. 

28/12/2024

Carlos Xavier Blanco - O Suicídio da Europa: O Declínio do Campo, a Ascensão da Pornografia e do Homem de Massa

 por Carlos Xavier Blanco

(2012)

 


 

Introdução


Neste ensaio, meditaremos sobre o Ocidente. Faremos isso principalmente com a orientação de Oswald Spengler, mas sem esquecer Nietzsche, Marx, Freud, Fromm e outros grandes pensadores. O filósofo germânico, genial autor de A Decadência do Ocidente, previu, entre o estrondo dos tambores de guerra que assolavam a Europa no início do século XX, a morte de nossa civilização e a necessidade de libertar, por meio de uma guerra expansiva, as últimas possibilidades de uma civilização velha, prestes a se tornar cadáver e tempo reduzia a fósseis de formas caducas. O pluralismo cultural de Spengler pressupõe o fim das abstrações vazias: Humanidade, assim como Progresso ou Liberdade, Igualdade ou Fraternidade, são esses novos deuses frios e abstratos, que não exigem mais do que uma devoção morna e que são tão caducos quanto a própria Modernidade que os criou. Os ideais da Ilustração e da Revolução conspiraram com a coisificação do homem no industrialismo e prepararam o cenário de uma Europa de fábricas, de “mão de obra” e de cidades globais absolutamente artificiais, desconectadas progressivamente da cultura que as precedeu.

Mas «a humanidade» não tem um fim, uma ideia, um plano; assim como não tem fim nem plano a espécie das borboletas ou das orquídeas. «Humanidade» é um conceito zoológico ou uma palavra vã. Que desapareça esse fantasma do círculo de problemas referentes à forma histórica, e veremos surgir com surpreendente abundância as verdadeiras formas.

27/12/2024

Sergio Fritz Roa - Imago Dei

 por Sergio Fritz Roa

(1998)


Dedicado a Frithjof Schuon

Um Pai da Igreja dizia com razão que Deus se fez homem, para que o homem se tornasse Deus [1]. Por sua vez, a Bíblia ensina que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus.

O espírito que reside em ambas as expressões é, por certo, o mesmo, ainda que alguém creia outra coisa. Pois, não revelam as citadas frases que a essência do homem é antes de tudo divina? Do que se infere que o homem é Deus em potência; o que revela necessariamente a existência de uma substância original, primigênia, partícipe da Divindade.

Mas, de imediato surge a pergunta que interroga acerca da perfeição divina e da imperfeição humana. Ou seja, como pode conceber-se que o homem, tendo sido criado à "imagem de Deus", seja imperfeito, e portanto um acidente submetido a outros acidentes? Como é possível que a humanidade sofra os limites – especialmente, espaço-temporais – que, no entanto, Deus não conhece?

26/12/2024

Alberto Lombardo - A Simbologia da Obra Tolkieniana

 por Alberto Lombardo

(1998)


 

O objetivo da minha intervenção é um breve exame do uso do simbolismo por parte de Tolkien. Dada, porém, a vastidão do tema, o amplíssimo uso de símbolos pelo filólogo de Oxford e a amplitude de referências, ressonâncias e reflexões adicionais que cada símbolo suscita, esta análise não poderá, por força das circunstâncias, senão limitar-se a alguns breves apontamentos. Além disso, a própria resenha que pretendo propor aqui tem uma pretensão meramente “evocativa”, de fornecer, isto é, um conjunto limitado de imagens, aproximações e “visões” simbólicas, a fim de responder a estas perguntas: qual é a medida do uso dos símbolos por parte de Tolkien? Quais as implicações deste uso? E qual a consciência, por parte do autor, ao recorrer a esses símbolos – isto é: qual “rigor tradicional”, correspondência ao significado arcaico?

Pode-se adiantar, desde já, em resposta parcial a tais questões, que Tolkien não ignorava certamente uma das características principais dos símbolos, a sua dualidade (não dualismo): dois significados diferentes, muitas vezes opostos, estão encerrados em um único símbolo, muitas vezes corroborando-se mutuamente, sem se negarem um ao outro. Às vezes, aliás, essa dualidade é devida a razões de tipo histórico, acontecendo que um sentido novo substituísse o anterior, por oposição, por “mudança de civilização” ou pelo superpôr de uma nova sensibilidade. Consciente desta característica fundamental, Tolkien é, no entanto, plenamente homem do século XX. Nele, epos e mythos sentem os traços desta época, manifestando-se, a nível literário, numa melancolia, ou melhor, numa nostalgia (dor da distância). Este caráter, latente e difundido na obra tolkieniana, e que procurarei destacar adiante, é a razão do tanto fascínio atual, inatenuado (e aliás diria aumentado) a quase trinta anos da morte do autor de O Senhor dos Anéis.

18/12/2024

Nuccio d'Anna - Aquiles e Cuchulainn: Separados no Nascimento

 por Nuccio d'Anna

(1998)


Quando George Dumézil começou seus estudos sobre a civilização indo-europeia, as muitas críticas davam a impressão de que o estudioso francês havia se aventurado em uma área incerta, à beira da temeridade. Aos poucos, porém, uma longa fila de especialistas de diversos campos desta disciplina aceitou os resultados de suas pesquisas e sua obra saiu da marginalização na qual, inicialmente, o mundo acadêmico parecia querer confiná-lo. Entre os inúmeros méritos que Dumézil pode ostentar está também o de ter formado um grande grupo de estudiosos que continuam suas análises com autoridade e, muitas vezes, os direcionamentos de pesquisa.

15/12/2024

Alessandra Faleri - Animais Simbólicos entre Oriente e Ocidente

 por Alessandra Faleri

(2014)


Os animais têm acompanhado a existência do homem desde os tempos mais remotos, tanto é verdade que os encontramos representados desde a pré-história ou venerados em muitos cultos religiosos e ainda na literatura, mesmo na mais antiga.

Independentemente do que foi dito, o verdadeiro papel de protagonistas é assumido dentro da fábula, onde agem e pensam como seres humanos. Analisando isso, podem-se distinguir vícios e virtudes dos homens, como, por exemplo, o corajoso sendo comparado ao leão.

13/12/2024

Joakim Andersen - Curtis Yarvin e os Hobbits

 por Joakim Andersen

(2022)


Os neorreacionários foram uma das muitas correntes de valor no meio mais amplo que deu origem, entre outras, à alt-right, notadamente por sua análise da sociedade e suas tentativas de influenciar seções da elite por meio de argumentos e carreiras (resumidas nas palavras "tornar-se digno", digno de assumir a responsabilidade pela civilização ocidental). É difícil imaginar a neorreação sem o homem que se esconde atrás do pseudônimo de Mencius Moldbug.

11/12/2024

Alexander Markovics - Nick Land: O Pensamento Oculto do Pai do "Iluminismo Escuro"

 por Alexander Markovics

(2023)


A democracia liberal será substituída por uma monarquia neocameralista dirigida por um diretor-geral, o homem se funde com a máquina para se tornar um super-homem, a magia do tempo das bruxas dos Mares do Sul faz parte da realidade… esses são os conteúdos de um novo livro que provavelmente deixará perplexos muitos de seus leitores. Está escrito por um homem que frequentemente escreveu sob os efeitos das drogas e que se entusiasma com as possibilidades oferecidas pela tecnologia e pelo capitalismo, chegando até a querer impulsioná-las ao ponto de eliminar o homem como obstáculo para seu desenvolvimento.

07/12/2024

Manuel Noorglo - Neturei Karta: O Judaísmo Ortodoxo Antissionista

 por Manuel Noorglo


Os Neturei Karta (נטורי קרתא, nome aramaico traduzível como Guardiões da Cidade) são um grupo religioso judeu ortodoxo que se recusa a reconhecer a autoridade e a própria existência do Estado de Israel, em nome da sua interpretação do judaísmo, da Torá e de passagens do Talmude.

O grupo foi fundado em 1938 em Jerusalém por judeus que há muitas gerações viviam na Palestina, principalmente descendentes de judeus húngaros que se mudaram para a Palestina no início do século XIX e de judeus lituanos que já estavam lá há ainda mais tempo. O grupo surgiu da cisão de outro movimento de judeus ortodoxos, fundado em 1912 por Agudas Israel, que também tinha como objetivo a luta contra o sionismo, mas que ao longo dos anos tinha reduzido sua ação. A atividade dos Neturei Karta se estendeu para fora da Palestina, em vários casos devido à saída voluntária, alegando terem sofrido violências, prisões, torturas e pressões de todos os tipos por parte dos sionistas, e de qualquer forma pelo recuso de viver em um Estado que se recusavam a reconhecer como legítimo.

Atualmente, o movimento consiste de várias milhares de famílias, com um número elevado de simpatizantes dificilmente quantificável, presente não só em Jerusalém, mas também nos Estados Unidos da América, na Bélgica, no Reino Unido e na Áustria.

01/12/2024

Alain de Benoist - Para Além da Direita e da Esquerda: A Divisão Direita-Esquerda Desaparece

 por Alain de Benoist

(2005)


Todo mundo conhece estas declarações de Alain [o autor se refere a Émile Chartier, filósofo francês comumente conhecido como Alain] que frequentemente citamos: «Quando me perguntam se a divisão entre partidos de direita e partidos de esquerda, homens de direita e homens de esquerda, ainda faz sentido, a primeira ideia que me vem à cabeça é que o homem que faz essa pergunta certamente não é um homem de esquerda». Alain escreveu isso em 1925. Talvez se surpreendesse ao constatar que esta questão, que ele imaginava ser formulada apenas por um homem de direita, hoje está na boca de todos.

De fato, há alguns anos, todas as pesquisas de opinião refletem o fato de que, aos olhos da maioria dos franceses, a divisão direita-esquerda está cada vez mais desprovida de sentido. Em março de 1981, apenas 33% consideravam que as noções de direita e esquerda estavam obsoletas e já não permitiam compreender as posições dos partidos e dos políticos. Em fevereiro de 1986, eram 45%; em março de 1988, 48%; em novembro de 1989, 56%. Esta última cifra apareceu novamente em duas outras pesquisas realizadas pela Sofres e publicadas em 1990 e 1993. Segundo uma nova pesquisa da Sofres publicada em fevereiro de 2002, seis em cada dez franceses, de todas as categorias, consideram que a separação direita-esquerda está obsoleta.