por Alberto Buela
(2015)
Todo mundo sabe que a esquerda e a direita são termos relativos como pai e filho ou alto e baixo, pois são conceitos que dependem uns dos outros.
Sabe-se, ademais, que as ideias políticas da direita e da esquerda nascem de como estavam localizados os parlamentares na época da Revolução Francesa e ainda mais conhecida é a opinião do filósofo Ortega y Gasset em seu livro A Rebelião das Massas onde afirma que: ‘Ser de esquerda é como ser de direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral.”
Porém o que poucos sabem é o paradoxo que há depois da segunda guerra mundial entre os conceitos de esquerda e de direita.
Assim hoje a esquerda aparece ou é apresentada como progressista, popular, democrática e avançada. Inclusive se fala em uma esquerda caviar que é a cômoda e agradável vida de todos aqueles que falando do povo e de suas virtudes, vivem como bacanas. Isso se dá sobretudo nos governantes e funcionários da esquerda progressista e social-democrata dos governos ocidentais, desde Lula a Zapatero e desde Kirchner a Rajoy.
Numa palavra, ser de esquerda é estar no topo de uma onda que dá a comodidade nas sociedades de consumo e a fama outorgada por todos os meios de comunicação de massa que estão a serviço desses ideais.
Isto é o que denominamos “a grande simulação” ou o que denomina o filósofo italiano Máximo Cacciari, “a paz aparente”, onde os governos não resolvem os conflitos, mas só os administram.
A direita, por sua vez, é o diabólico, o demonizado. São os trogloditas, os satisfeitos com o sistema. Nunca podem ser o povo, pelo contrário, são populistas os que sustentam os valores tradicionais dos povos. Nenhum candidato no Ocidente se diz de direita porque é politicamente incorreto. O sistema mundial dos meios de comunicação, que são os verdadeiros produtores do sentido do que acontece e se sucede no mundo, cairia em cima e o faria em pedaços.
Contudo, aqui aparece o paradoxo que queremos mencionar, direita para os gregos vinha de dexiós que significa habilidade, sorte e solidariedade e esquerda skaiós significa torpe, rústico, perverso e desagradável.
Aqui, na época dos romanos, o dexter seguiu sendo o hábil, portanto, a destreza e sua derivação, o directus que é o correto; enquanto que o sinister é o temível, o obsoleto, o inútil.
Mais próximo de nosso tempo, Dante Alighieri na Divina Comédia faz o poeta Virgílio dobrar sempre à esquerda para chegar à sede de Satanás. E, já na entrada da modernidade, Francisco de Quevedo (1580-1645) afirma que: se você vai fazer negócios e vê um canhoto é um mau presságio, como se tropeçasse em um corvo ou em uma coruja.
Como vemos, o paradoxo permanece à vista. Durante dois mil anos, pelo menos, pensou-se uma coisa sobre a esquerda e a direita e fazem duzentos anos que começou-se a pensar outra, totalmente diferente.
Assim são as coisas neste mundo. Talvez seja por isso que devemos lidar com assuntos mais importantes como sugere o velho verso de menino que nos ensinavam:
é a que o homem em graça acabou.
Pois no fim do dia,
aquele que se salva, sabe,
e o que não, não sabe de nada.”