07/03/2021

Diego Luis Sanromán – A Nova Direita na Europa: Uma Revisão Crítica

por Diego Luis Sanromán

(1998)





A derrota das forças do Eixo em 1945 resultou no descrédito sem paliativos da ideologia fascista e implicou o desaparecimento do clima sociopolítico que havia favorecido o surgimento de movimentos de ultranacionalismo palingenético (nos termos do politólogo britânico Roger Griffin) em todo o continente europeu.

Um traço sobressalente daqueles movimentos fascistas triunfantes, que qualquer nacional-revolucionário estava disposto a imitar, era a sua capacidade de constituir uma nova força política que combinava quatro elementos fundamentais: tanto o fascismo como o nazismo eram ao mesmo tempo um partido eleitoral, uma organização paramilitar, um movimento de massas e um vigoroso discurso, cuja chave se encontrava no líder carismático, demiurgo da regeneração nacional. O ambiente do pós-guerra não resultava, não obstante, nada benigno para uma tal combinação: as organizações fascistas e nacional-socialistas foram declaradas ilegais tanto na Itália como na Alemanha, enquanto as populações estavam esgotadas pelos desastres da guerra. O resultado foi a fragmentação, a clandestinidade e o terrorismo, e o surgimento de uma produção ideológica relativamente autônoma e não diretamente vinculada com os grupúsculos e corpos paramilitares que se reclamavam herdeiros dos fascismos históricos. Os teóricos do fascismo – ou, pelo menos, seu setor mais flexível e inteligente – se viram obrigados a se adaptar às novas circunstâncias, e tomaram uma dupla via estratégica: a internacionalização e a metapolitização [1].

Iniciativas como a Jeune Europe de Jean Thiriart ou a Europe-Action de Dominique Venner podem ser interpretadas, respectivamente, como expressões dessas duas vias de readaptação. Os caminhos convergem, não obstante, nas produções teóricas dos autores da mais original tentativa de renovação do ideário fascista desde 1945, o da Nouvelle Droite de Alain de Benoist e seus seguidores. Os membros do GRECE (Groupement de Recherche et d’Études sur la Civilisation Européenne) adotam, desde o começo, a teoria gramsciana do poder cultural enquanto território no qual se desenvolvem as lutas políticas fundamentais, ao mesmo tempo que tratam de superar o nacionalismo estreito de suas origens no sentido de um nacionalismo europeísta de nova geração.

É, em efeito, no início dos anos 60 quando alguns intelectuais e ativistas da extrema-direita francesa se tornam conscientes do fracasso de seu projeto político. O fracasso é, em primeiro lugar, ideológico ou doutrinário: a extrema-direita do pós-guerra não parece capaz de oferecer qualquer novidade no terreno das ideias; e, ao mesmo tempo, de ordem estratégica, pois o regime gaullista não só conseguiu resistir aos confrontos com os ativistas ultras, como também ganhou um número razoável deles para sua própria causa. A esta situação de crise se trata de responder por meio da autocrítica e através de uma mudança radical nos projetos e táticas políticas. Dominique Venner, principal animador da mencionada Europe-Action, estabelece no final de 1962 aqueles que se farão os princípios básicos desta transformação: “(...) 2. Uma nova elaboração doutrinária será, enfim, a única resposta ao fracionamento infinito dos nacionais. 3. Será necessário combater mais pelas ideias e pela astúcia do que pela força” [2]. Toda a estratégia do que na segunda metade dos anos 70 se conhecerá por Nouvelle Droite se encontra já resumida nessa proposta.

Ao final da mesma década, nascem o Groupement de Recherche et d’Études pour la Civilisation Européene (GRECE) e a revista Nouvelle École, matrizes do movimento. Em seu sentido mais estrito, por Nouvelle Droite teremos que entender, portanto, o conjunto de autores (com Alain de Benoist na liderança), de pequenos círculos culturais, de revistas e de empreendimentos editoriais que se encontram diretamente vinculados ao GRECE, e o corpo de textos e de temas produzidos ao longo de mais de 20 anos por esta sociedade de pensamento de “vocação puramente intelectual”, segundo seus próprios promotores.

A Nouvelle Droite, seguindo as diretrizes estabelecidas por Venner, se dedicará, por conseguinte, à luta no campo cultural ou metapolítico. Se tratará – conforme seu ponto de vista – de promover a regeneração do Ocidente conquistando, a partir do interior, o aparato estatal e as elites, porém, principalmente mediante a substituição da hegemonia ideológica e cultural da esquerda pela de um pensamento direitista renovado e radicalizado. Curiosamente, para esta substituição contribuirá a obra de um pensador e político do bando inimigo: Antonio Gramsci.

De Gramsci procede precisamente o conceito de hegemonia ideológica. Um Estado, afirmava o comunista sardo, não pode manter sua hegemonia em uma sociedade complexa, diferenciada e dinâmica pela simples coerção; mas ao contrário, ele reforça sua hegemonia na sociedade civil na medida em que nela se geram os reforços de sua legitimação; quer dizer, na sociedade civil se produzem os consensos sociais, se promove a educação de massas e se forma uma verdadeira vontade coletiva. Daí que o programa de emancipação comunista neste tipo de sociedade deva se concentrar em uma luta para fundar uma hegemonia alternativa através do que Gramsci chama “guerra de posição”, e que não consiste senão em uma estratégia específica dirigida principalmente à ocupação progressiva e gradual da sociedade civil.

Os teóricos neodireitistas se servirão do discurso gramsciano para combater o que, em sua opinião, é a ideologia dominante do momento, a ideologia esquerdista, ou melhor: a cultura igualitária, que penetrou em todos e cada um dos poros do meio social. Trata-se de uma leitura, para todos os efeitos, perversa do texto gramsciano: o que em Gramsci era o objetivo de um processo de constituição de um sujeito político coletivo em luta por sua emancipação (o que, empregando um termo de Paulo Freire, poderíamos chamar de conscientização) se converte nos teóricos da Nouvelle Droite em um simples recurso tático tendente à apropriação dos aparatos ideológicos enquanto produtores dos “mitos sociais culturais”.

Os principais conteúdos teóricos da Nouvelle Droite vão assumindo sua forma característica entre os anos de 1968 e 1978. Já desde sua origem, o pensamento neodireitista francês se apresenta como um “corpo doutrinário de terrível coerência” (Le Matin, 25-6-79), dotado de uma ontologia (nominalismo e existencialismo frente a totalitarismo e essencialismo), de uma antropologia (“O homem – segundo Alain de Benoist, mais destacado teórico do movimento – pode sempre voltar a se colocar em questão, ele não é, ele se faz”), de uma teoria da cultura (organicismo spengleriano), de uma filosofia da história (frente à concepção necessarista e linear de raiz judaico-cristã, uma concepção esférica da história, cuja origem se encontraria em uma releitura do texto nietzscheano em uma chave revolucionário-conservadora pelo filósofo neofascista italiano Giorgio Locchi), de uma ética (ética da honra, concebida esta como fidelidade a um corpo normativo autoimposto), de uma sociologia e uma política (democracia orgânica fundada na tripartição sociofuncional de Dumézil), e animado, finalmente, por um projeto metapolítico que outorga coesão a todos estes elementos: o reencontro da Europa ou, o que é o mesmo, o restabelecimento da ordem de valores e de funções tal como existiam no mundo pagão.

Não obstante, sua disposição mesmo originariamente polêmica fez da Nouvelle Droite um movimento aberto e receptivo às mas relevantes novidades e transformações do mundo intelectual nestes “trinta anos de batalha cultural pela Europa” (Champetier). Ao mesmo tempo que o aparente frescor de seu discurso favoreceu uma assombrosa expansão em outros países europeus – e não só europeus – penetrando em meios desesperadamente necessitados de renovação ideológica. A Nouvelle Droite, contudo, sofreu importantes cisões e seu pensamento sofreu modificações radicais em muitos de seus aspectos fundamentais. A trajetória poderia ser descrita como segue: a partir de um exame renovador dos fundamentos filosóficos do pensamento de direita (exame empreendido inicialmente em uma época marcada pelas bipolaridades políticas, ideológicas e geopolíticas), a Nouvelle Droite acabou desenvolvendo uma crítica geral das ideias contemporâneas que a conduziu hoje a posições inesperadas, próximas à revisão da tradição marxista em uma chave crítica anti-essencialista levada a cabo por certa Nouvelle Gauche (nos referimos concretamente a autores como Laclau, Mouffe ou Caillé); revisão que curiosamente encontra um de seus principais pontos de apoio no Gramsci maduro e em sua teoria da hegemonia. A Nouvelle Droite dos anos 90 define a si mesma, nas palavras de Charles Champetier, como comunitária (se incorporam certos temas da crítica comunitarista estadunidense), radical-democrática, europeísta e pagã.

Pois bem, se como assinalamos mais acima o eixo de coordenadas da renovação neofascista era constituído pela internacionalização e pela metapolitização (entendida esta como um deslocamento a partir do propriamente político para o terreno cultural) dos discursos e da ação política, não é difícil reparar nas oportunidades de difusão e penetração ideológica que um meio como a Internet poderia oferecer a um setor notavelmente afetado pela fragmentação e condenado, até muito pouco tempo atrás, a evoluir no que se poderia chamar de underground político. Mas a internet não só se converterá em um meio de propagação de ideologemas devidamente transmutados de uma nova (extrema) direita que luta por sua reincorporação à arena política, como também em um meio particularmente dotado (pela rapidez e velocidade das comunicações) para permitir o contato entre todos esses pequenos grupos que, até o surgimento e popularização da Internet, haviam, de certo modo, estado submetidos à condição de partículas isoladas. A Internet se converte, assim, em um apoio fundamental na construção do que, sem exageros, se poderia considerar uma Internacional neofascista, e, ao mesmo tempo, em uma metáfora midiática privilegiada da estrutura reticular que a extrema-direita adota na pós-modernidade.

França

a) GRECE: A origem de tudo


O sítio [3] da organização francesa é um espaço imprescindível para se manter informado das novidades editoriais e das intervenções de todo gênero (conferências, universidades de verão, polêmicas midiáticas...) dos que, neste momento, são os principais ideólogos da Nouvelle Droite. Conta, ademais, com uma página de vínculos (links) que permite o acesso a endereços URL de projetos (meta)políticos de toda a Europa que a organização considera afins às suas próprias ideias. E desde meados de 2002, o internauta pode se familiarizar com a última elaboração doutrinária da escola graças à publicação digital do chamado Manifesto da Nova Direita.

Em seu preâmbulo, seus dois autores (Alain de Benoist e Charles Champetier) reafirmam seu compromisso metapolítico; a metapolítica, se chega a dizer, não seria outra forma – mais sutil – de fazer política, nem uma artimanha tosca de ordem estratégica. Por trás da aposta na metapolítica alentava um forte interesse por superar uma crise espiritual – civilizatória, no fundo – que se pressentia generalizada. “A história é resultado certamente da vontade e da ação dos homens, mas essa vontade e essa ação se exercem sempre no marco de um determinado número de convicções, de crenças, de representações que lhes outorgam um sentido e as orientam. A Nouvelle Droite tem a ambição de contribuir para a renovação de tais representações histórico-sociais. [...] Em um mundo em que os conjuntos fechados deram lugar a redes interligadas, em que os pontos de referência se tornam cada vez mais fluidos, a ação metapolítica, consiste no intento de voltar a dar sentido no mais alto nível por meio de novas sínteses, no desenvolvimento, à margem dos duelos políticos, de um pensamento resolutamente transversal, com o fim de estudar todos os âmbitos do saber com o propósito de propor uma visão de mundo coerente” [4]. As representações simbólicas e ideológicas da modernidade perderam sua razão de ser, a crise fez com que as velhas fronteiras se redesenhem; é o momento de elaborar uma visão alternativa do mundo que reúna o melhor das tradições críticas tanto da esquerda como da direita em uma síntese superadora do fiasco iluminista.

A modernidade, filha tardia e inconsciente do velho credo judaico-cristão, essa modernidade que agora nos abandona, se caracterizou, desde suas origens, por cinco traços essenciais: 1. A individualização através da destruição das comunidades tradicionais de pertencimento; 2. A massificação mediante a adoção de comportamentos e modos de vida padronizados; 3. A dessacralização como consequência do refluxo das grandes narrativas religiosas em benefício de uma interpretação científica do mundo; 4. A racionalização graças ao domínio da razão instrumental através do intercâmbio mercantil e da eficácia técnica; e 5. A universalização por meio da extensão planetária de um modelo de sociedade que implicitamente se postula como o único racional e, por conseguinte, como superior a qualquer outro. Todos esses mitos caíram como estátuas de barro. Não obstante, não se deve lamentar pela perda do mundo iluminado pelas Luzes; ao contrário, o fim da era moderna pressupõe a viabilidade de um esclarecimento nietzscheano de possibilidades inéditas, ainda que eternas.

“A superação da modernidade não tomará a forma de um ‘grande amanhecer’ (versão profana da parusía), mas se manifestará pela aparição de milhares de auroras, ou seja, pela eclosão de espaços soberanos liberados da dominação moderna. A modernidade não será superada por uma volta ao passado, mas pelo recurso a certos valores pré-modernos a partir de uma perspectiva resolutamente pós-moderna. A anomia social e o niilismo contemporâneo serão esconjurados à custa de uma semelhante refundação radical”.


E enfrentar a modernidade quer dizer também enfrentar o liberalismo, a ideologia dominante do tempo que finda. Não em vão, o liberalismo se encontra na origem de todas as desgraças que a modernidade trouxe consigo. Em um primeiro momento, o liberalismo favoreceu a autonomia das funções econômicas, desprendendo-as dos vínculos comunitários orgânicos que as mantinham em seus justos limites. E em um segundo momento, converteu o valor mercantil na instância soberana de toda vida em comum. O processo alcançou sua perfeição com a imposição de uma antropologia fundada no indivíduo abstrato e unidimensional, que deriva seus direitos imprescritíveis de uma natureza basicamente não social e que tende a operar como um maximizador de benefícios em todas e cada uma das situações nas quais se vê comprometido. “Esta dupla pulsão individualista e economicista vai acompanhada de uma visão darwiniana da vida social”. O resultado é uma sociedade – não uma comunidade – formada por pequenas unidades sem vínculos entre si nem com o passado no qual cada átomo se enfrenta aos demais para satisfazer suas necessidades com as armas que tem à sua disposição.

De Benoist e Champetier remetem, em continuação, a um velho tema recorrente da Nouvelle Droite, que no fundo procede do historicismo romântico alemão: a ideia de que marxismo e liberalismo não são senão modos de uma mesma substância constituída pelo pensamento das Luzes. A partir dessa perspectiva, o verdadeiramente relevante não seriam as distintas ideologias – em seu fundo mais íntimo, idênticas entre si – mas a Weltanschauung que conforma o seu – por assim dizer – substrato espiritual. “Em muitos aspectos, o liberalismo não fez mais que realizar com maior eficácia os objetivos que compartia com o marxismo: erradicação das identidades coletivas e das culturas tradicionais, desencantamento do mundo, universalização do sistema produtivo”. O marxismo não seria, dessa maneira, o oposto da ideologia liberal, pois ambos procederiam de uma mesma matriz, a concepção moderna de mundo, que – como já mencionamos acima – afunda suas raízes no cristianismo. A crítica nietzscheana do cristianismo (que se havia manejado nos primeiros tempos do movimento) vai deixando, não obstante, seu lugar no discurso dos teóricos do GRECE para uma crítica da modernidade de corte claramente conservador.

O liberalismo tem se baseado, desde seu nascimento, em uma antropologia que Champetier e De Benoist qualificam como falsa “tanto de um ponto de vista descritivo como de um ponto de vista normativo”. A ideia de que todos os homens nascem iguais se encontra no coração de todos os males modernos; seu resultado último é o desaparecimento da diversidade etnocultural em nome dos direitos de um Homem – com H maiúsculo – que jamais existiu em lugar algum [5]. “Na medida em que a vida se reproduz antes de tudo pela transmissão da informação contida no material genético, o homem não nasce como uma página em branco: cada um de nós é já portador das características gerais de nossa espécie, às quais se acrescentam predisposições hereditárias a determinadas aptidões particulares e a determinados comportamentos”. Querendo dignificar o homem, a ideologia liberal não faz outra coisa que degradá-lo ao não reconhecer mais que seu nível específico, único em que realmente se pode predicar sua igualdade. É outro paradoxo mais da concepção moderna do mundo. A Nouvelle Droite, de sua parte e frente ao liberalismo, pretende oferecer “uma visão equilibrada do homem, que tenha em conta ao mesmo tempo o inato, as capacidades pessoais e o meio social”.

A ideia de contrato como origem da vida em comum, derivação na ordem política dessa mesma antropologia liberal, é igualmente errônea. Para começar, a velha fábula do estado de natureza não tem qualquer fundamento real; não é o indivíduo o originário, mas a comunidade. Os homens nascem no seio de comunidades particulares, internamente articuladas. “As comunidades nas quais se encarna o estado social designam um tecido complexo de corpos intermediários situados entre o indivíduo, os grupos de indivíduos e a humanidade”. A filosofia das Luzes, tendo querido libertar os homens de todas essas instâncias intermediárias, consideradas como essencialmente alienantes, não fez senão submetê-los a poderes ainda mais tirânicos e incontroláveis. A Revolução levou do Estado Absolutista ao do Bem Estar, e daí à atual crise, segundo uma lógica inexorável. Novamente, a crítica da Nouvelle Droite não é tão nova; se encontra já nos primeiros opositores do Iluminismo e da Revolução (Burke, De Maistre, Tocqueville).

Se o liberalismo quis escamotear a natureza comunitária, culturalmente enraizada dos homens, o pretendeu levar a cabo com o político, dimensão irrenunciável do humano. “O pensamento moderno desenvolveu a ideia ilusória de uma neutralidade da política, reduzindo o poder a eficácia gestora, à aplicação mecânica de normas jurídicas, técnicas ou econômicas. [...] Agora bem, a esfera pública é sempre o lugar de afirmação de uma visão particular da boa vida”. Schmitt tinha, pois, razão em sua crítica ao liberalismo – ideologia que, seja dito de passagem, julgava impolítica: o político remete à decisão entendida como escolha entre valores concorrentes.

A modernidade se caracterizou também por um domínio absoluto da instância econômica sobre o resto das funções comunitárias. “As três grandes formas de circulação de bens são a reciprocidade (a dádiva associada à contra-dádiva, repartição paritária ou igualitária), a redistribuição (centralização e repartição da produção por uma autoridade única) e o intercâmbio[6]. Não representam fases de desenvolvimento, mas sempre coexistiram em maior ou menor grau. A sociedade moderna se caracteriza pela hipertrofia do intercâmbio mercantil: transição de uma economia com mercado para uma economia de mercado, e depois para uma sociedade de mercado”. Uma das principais tarefas que qualquer movimento político verdadeiramente alternativo terá que cumprir no século XXI será recontextualizar a economia, devolver a função econômica ao lugar que lhe corresponde; isto é, submetida aos ditados da instância soberana ou, dito de outro modo, da política. E o mesmo cabe dizer da técnica: “é necessário submeter o desenvolvimento técnico a nossas decisões sociais, éticas e políticas, ao mesmo tempo que a nossas antecipações (princípio da prudência), e reinseri-lo na simbologia de uma visão de mundo como pluriversum e continuum”. Tampouco nisso a modernidade deixava de ser uma anomalia frente às ordens tradicionais.

Pois bem, em que consiste esse projeto metapolítico, essa nova visão de mundo alternativa à modernidade, que a Nouvelle Droite diz oferecer? O terceiro parágrafo do Manifesto, Orientações, dá a resposta. Em primeiro lugar, tratar-se-ia de reconhecer a diversidade étnica e cultural do planeta e de apostar em uma ordem internacional multipolar estruturada em grandes espaços geográficos etnicamente homogêneos. “Contra a indiferenciação e o tribalismo, pelas identidades fortes”. O racismo, acusação que sempre acompanhou a Nouvelle Droite, não é um resquício de barbárie pré-moderna, mas uma enfermidade do espírito claramente vinculada ao cientificismo iluminista. Frente a esse racismo, a modernidade ergueu o antirracismo universalista, hoje hegemônico. “Tão alérgico às diferenças quanto aquele, não reconhece nos povos mais que seu pertencimento comum à espécie e tende a considerar as identidades específicas como transitórias ou secundárias. Reconduzindo o Outro ao Mesmo desde uma perspectiva estritamente assimilacionista, é incapaz, por definição, de reconhecer e de respeitar a alteridade por si mesma”. Contra o racismo e o antirracismo universalista [7], a Nouvelle Droite tem a solução: o antirracismo diferencialista.

A Europa, porém, é um espaço de acolhida massiva de imigrantes procedentes de culturas alienígenas. A situação se agrava em países com um importante passado colonial, como é o caso do Reino Unido e da França. Se apresenta, então, a questão do que fazer com a imigração.

Como frear o processo quando a mistura interétnica já está tão avançada, único modo de começar a construção dessa Europa unida e etnicamente homogênea que a Nouvelle Droite propõe? “A ND é, portanto, favorável a uma política restritiva da imigração, reforçada com uma ampla cooperação com os países do Terceiro Mundo, nos quais as solidariedades orgânicas e os modos de vida tradicionais ainda estão vivos, com o objetivo de superar os desequilíbrios induzidos pela mundialização liberal”.

Seria necessário superar, em primeiro lugar, o igualitarismo globalista, ou seja, o antirracismo universalista, que trata de impor um mesmo modelo societário – modelo que se revelou catastrófico inclusive em sua terra natal – a todas as culturas e favorecer políticas que dissuadam os imigrantes de abandonar seu país de origem. Porém, ainda no caso de que tais políticas detivessem o processo, o que se faria com os imigrantes já instalados, alguns dos quais já estão há várias gerações no continente europeu? Os autores do texto reconhecem que, no que concerne a França, seria ilusório pensar em deportação em massa [8]. É necessário, portanto, dar um reconhecimento político à diferenciação étnica a partir de uma lógica comunitarista: a comunidade cultural de pertença não seria senão um desses corpos intermediários que o Estado revolucionário-jacobino sempre se negou a reconhecer. E a contradição está posta: se aposta nas identidades fortes, uma Europa unida e culturalmente homogênea, mas ao mesmo tempo se admite o fato consumado da imigração já instalada. Se fossem consequentes, como recrimina Guillaume Faye (outro dos grandes ideólogos do movimento) em um trabalho recente, os autores do manifesto defenderiam abertamente a expulsão. Seria medo dos próprios fantasmas? Um neofascismo pós-moderno que censura a si mesmo? Digamos, melhor, que a Nouvelle Droite segue praticando o jogo da ambiguidade, algo que se converteu em uma das marcas estilísticas do grupo em geral e de Alain de Benoist, em particular.

E o que fazer com a crise do político? Como voltar a situar a discussão sobre as decisões públicas entre as preocupações quotidianas de uma cidadania desencantada? Democracia: o problema[9]. “Para recriar de forma mais convivencial, longe do anonimato da massa, da mercantilização dos valores e da reificação das relações sociais, condições de vida social que permitam ao imaginário coletivo formar representações do mundo específicas, as comunidades devem decidir por si mesmas em todos os domínios que lhes concernem, e seus membros devem participar em todos os níveis da deliberação e da decisão democráticas”. A solução passa, por conseguinte, por ampliar as margens de autonomia e autogestão das diversas unidades comunitárias e por articular um autêntico sistema de democracia participativa. “Trata-se, com este fim, de desestatalizar o político, recriando espaços cidadãos na base: cada cidadão deve ser agente do interesse geral, cada bem comum deve ser designado e defendido enquanto tal na perspectiva de uma ordem política concreta”. Veleidades libertárias da Nouvelle Droite?

Alain de Benoist e Charles Champetier parecem ter esquecido já os velhos loas à teoria evoliana da soberania e do Estado orgânico [10] e à ordem tripartite da antiga ideologia indo-europeia inspirada nos trabalhos antropológicos de Dumézil [11] em favor de uma proposta radical-democrática que se inspira nas obras de Rousseau [12] e Proudhon e na chamada "comunidade responsável" do politólogo estadunidense Amitai Etzioni, além de na teoria da democracia de um velho conhecido dos teóricos da Nouvelle Droite, Carl Schmitt [13].

Teria deixado a Nouvelle Droite de ser o movimento abertamente elitista e antidemocrático que foi em suas origens? A letra do manifesto parece favorecer uma resposta afirmativa.

Mas se algo se mantém constante no pensamento dos teóricos do GRECE, desde seu nascimento, no final dos anos 60, é sua defesa de uma Europa unida e vigorosa. “O Estado nacional, saído da monarquia absoluta e do jacobinismo revolucionário, resulta a essa altura demasiado grande para gerir os problemas pequenos [14] e demasiado pequeno para enfrentar os grandes. Em um planeta mundializado, o futuro pertence aos grandes conjuntos civilizatórios capazes de se organizar em espaços autocentrados e de se dotar do poder suficiente para resistir à influência dos outros. Frente aos Estados Unidos e às novas civilizações emergentes, a Europa é chamada a se construir sobre uma base federal que reconheça a autonomia de todos os seus componentes e organize a cooperação das regiões e das nações que a compõem”. A autonomia, velho cavalo de batalha da esquerda libertária, é, pois, a chave de abóbada da construção. A federação terá que começar pelo livre consentimento das unidades comunitárias básicas e se fechar no cume com um governo federal, segundo a lógica do princípio da subsidiariedade. Tal princípio garante amplas margens de autogestão às unidades políticas inferiores, posto que a autoridade da federação não terá de se ocupar senão de assuntos que não possam ser resolvidos por elas por falta de recursos políticos. O futuro é a Europa etnorregional já anunciada por Jean Mabire [15].

A Nouvelle Droite não limita sua apropriação de temas da esquerda radical à reivindicação de uma democracia de base; vai além. “A exclusão substitui a alienação em um mundo cada vez e globalmente mais rico, mas onde há cada vez mais pobres [...]. O retorno impossível ao pleno emprego implica, pois, romper com a lógica do produtivismo e encarar desde agora a saída progressiva da era do salário como modo central de inserção na vida social”. A redução da jornada laboral, a divisão do tempo de trabalho ou a incorporação de formas flexíveis de relação laboral são outras tantas reivindicações que a Nova Direita torna suas. Não há dúvida de que os autores do manifesto leram André Gorz e os membros do M.A.U.S.S.[16]. E aprenderam a lição.

b) A dissidência: Terre et Peuple ou a penetração da Nouvelle Droite nos partidos de direita nacional


Muitas das ideias da Nouvelle Droite originária penetrarão no Front National de Jean-Marie Le Pen, primeira força da extrema-direita na França, através do grupo Terre et Peuple [17], em cuja cabeça se encontra um antigo membro do GRECE, Pierre Vial. Vial procede, como a maioria dos membros fundadores do grupo, da revista de Dominique Venner Europe-Action. Nos primeiros anos de vida da organização, ele se ocupa de dirigir sua comissão de história [18], e mais tarde se converte em seu Secretário-Geral, função que desempenhará de 1978 a 1984. Entre 1985 e 1986 abandona definitivamente o GRECE e, um ano mais tarde, se une ao FN. No seio do partido, Vial ocupará o lugar de máximo representante da corrente neopagã e europeísta, em uma tentativa de reatualizar, a partir de sua associação cultural, a corrente Blut und Boden dos meios nacional-revolucionários alemães e franceses da década de 30 do século XX. Na primeira metade de 1999, após o congresso do FN em Marignane, Vial se encontrará entre os seguidores cismáticos de Bruno Mégret que darão vida ao Mouvement National Républicain (MNR). É necessário assinalar que o próprio Mégret havia formado parte, desde meados dos anos 70, do chamado Club de l’Horloge, ainda próximo, naquela época, do entorno de Alain de Benoist, e que entre os companheiros de viagem de Pierre Vial e Bruno Mégret se encontra Yvan Blot, também membro originário do GRECE e um dos fundadores do Clube.

Blot, que havia passado uma breve temporada ocupando algum cargo de relevância dentro do RPR, se unirá ao Front National na mesma época que Vial, conhecerá um notável êxito eleitoral na Alsácia durante as presidenciais de 1995 e será um dos representantes do partido no Parlamento Europeu. Nos anos 90, Blot, que mantém contatos habituais com organizações da direita radical de toda a Europa, será um dos principais promotores do EURONAT [19] lepenista. Mégret, Vial, Blot representam, pois, outra via possível de desenvolvimento da Nouvelle Droite.

No final de 1995, tem lugar em Estrasburgo a primeira Mesa Redonda da Terre et Peuple, associação comunitária por uma cultura enraizada, à qual Vial outorga um caráter de inauguração ou fundação. Na convocatória estão presentes Stéphane Bourhis, militante frontista da região alsaciana, que se encarrega das palavras de boas vindas, Pierre Bérard [20], que dedica sua intervenção ao assunto da guerra cultural, Yvan Blot, que desenvolve a questão das origens gregas da cultura europeia, Jean Mabire – outro membro do primeiro GRECE – que centra sua conferência na figura do pastor Grundtvig, e, finalmente, o próprio Pierre Vial, que expõe os pontos nodais da ideologia da organização.

Terre et Peuple se apresenta nas palavras de Vial como uma sociedade dedicada à reflexão, na linha dos círculos intelectuals da Nouvelle Droite; não obstante, seus fins não se limitam ao puramente metapolítico. “Não praticamos nem queremos praticar o intelectualismo. Evidentemente, isto não nos impede de realizar uma certa reflexão que chamaremos intelectual, cultural, pouco importa. Mas somos, antes de tudo, militantes [...]. Quer dizer, combatentes, e orgulhosos disso” [21].

A crítica aos velhos camaradas do GRECE, e a Alain de Benoist em particular, é apenas velada; a luta cultural é sempre necessária – e essencial – mas não basta; conquistar o poder significa, desde já, começar a conquistar os espíritos, mas é necessário vincular o próprio projeto metapolítico a uma máquina política potente, pois, ao fim e ao cabo, o último objetivo estratégico segue sendo o Estado.

“O combate cultural e o combate político são inseparáveis. São inseparáveis em sua complementariedade [...] Trata-se, simplesmente, de unir a reflexão e a ação, cuidando sempre da qualidade, da intensidade, da profundidade da reflexão [...]. Dito de outro modo, tomar consciência das próprias raízes é necessário, mas não é suficiente. Faz falta, todavia, lutar contra quem queira destruí-las, contra quem queira erradicar a cultura de nosso Povo e, consequentemente, destruir sua alma para poder submeter os espíritos e os corpos”.


A relação entre política e metapolítica resulta ser, assim, de ordem dialética; o combate está condenado ao fracasso se prescinde de um dos termos do par. Ação e reflexão não são, senão, dois momentos imprescindíveis em qualquer empreendimento de ordem política.

E este é o sentido que se deve dar aos ensinamentos de Gramsci, outro antigo mestre dos fundadores do Groupement. Alain de Benoist e seus atuais seguidores se equivocam parcialmente em sua leitura do texto gramsciano; privilegiar a frente cultural, esquecendo a luta política, conduz necessariamente à inoperatividade revolucionária. A relação entre uma e outra é dialética, e se encarna na figura do intelectual orgânico. “Assim pois, a relação entre o cultural e o político está assegurada pelo ‘intelectual orgânico’, ou seja, segundo Gramsci, os membros de uma vanguarda encarregados de despertar e depois de guiar a consciência revolucionária da classe operária, derrubando os valores no poder e pondo em seu lugar um novo sistema de valores que se expressa por e na cultura”. Terre et Peuple possui, pois, vocação de intelectual orgânico coletivo, com uma diferença essencial em relação ao modelo gramsciano: do que se trata agora não é de despertar a consciência revolucionária do proletariado – termo arqueológico, moderno onde ele exista – mas de reconstruir a consciência da comunidade popular [22], quase aniquilada pelos séculos de hegemonia do igualitarismo, do cosmopolitismo e dos valores mercantilistas [23].

A função central da reflexão é, pois, segundo as palavras de Pierre Vial, prover em primeiro lugar os militantes, e mais tarde ao comum dos povos europeus, de uma consciência clara de quais são as próprias origens, a substância pristina do ser da Europa, e, consequentemente, de quais são os próprios interesses e de que lado se situam os verdadeiros inimigos. “O que nos une é uma comum concepção do mundo e a vontade de lutar por ela, e isso no marco de uma associação, porque é necessário adotar um marco institucional clássico”. A associação terá de acolher em sua forma de estruturação a velha tripartição sócio-funcional da tradição indo-europeia, tal como a havia analisado Dumézil em suas investigações antropológicas. Terá que ser, pois, uma comunidade de trabalho (função econômica), uma comunidade de combate (função guerreira) e uma comunidade de fé (função sacerdotal), em uma perfeita gradação hierárquica. Máquina de guerra, microcosmo que contém em escala a mais venerável forma de organização comunitária europeia, a associação quer ser, ademais, um modelo reduzido do mundo futuro. “Estou persuadido de que se conseguimos entre nós, a nossa escala fazer viver um modelo semelhante, então tudo será possível”. Terre et Peuple poderia ser chamada a ser a chama que acende o fogo da revolução identitária do século XXI.

O próprio estandarte da organização pretende ser uma representação simbólica dessa trifuncionalidade multissecular. O branco é o símbolo da soberania (Oratores), o vermelho da defesa e da segurança (Bellatores) e o azul das funções de produção e reprodução (Laboratores).

O branco ocupa a parte superior e uma proporção relativamente menor, enquanto o azul domina quantitativamente a bandeira e está situado na zona inferior. Essas três franjas servem de fundo para o brasão de Terre et Peuple, a edelweiss. “Esta flor brota em grandes alturas, em lugares onde o acesso é difícil e até perigoso [...]. Como não ver aqui as características do combate que levamos a cabo? A edelweiss é branca (etimologicamente, por outro lado, significa 'branca e nobre'). Agora bem, o branco sempre foi, entre os povos europeus, desde a Antiguidade, a cor da pureza, da soberania e da elevação tanto física quanto moral [...]. Esta herança ensina o culto ao esforço, à superação de si mesmo. Ensina a solidariedade entre os membros do grupo a que se pertence [...]. A edelweiss simboliza perfeitamente os combates convertidos hoje em indispensáveis para defender nosso direito a sermos nós mesmos frente aos que nos queiram impôr um mundo uniformizado, massificado, cosmopolita”. Heroísmo, camaradagem, esforço e hierarquia são alguns dos valores fundamentais que formam o legado europeu; o fim último de Terre et Peuple é participar ativamente em sua permanência e salvaguarda.

A luta pela identidade, pelas próprias raízes – eis aqui a questão política primordial do fim da modernidade. Vial sustenta a velha análise grecista da crise das antigas divisões ideológicas e da reproposição das linhas de frente vigentes na época moderna. “A linha de fratura determinante hoje é a do combate pela identidade. É aí que os campos se formam distintamente”. A esquerda e a direita morreram; em sua forma institucional-partidária já não são senão duas facções de uma mesma visão cosmopolita e humanitarista do mundo; fora desse âmbito já não possuem qualquer significado. Desse modo, a identidade constitui também o ponto essencial em que o país real – Vial emprega os termos utilizados por Constant e mais tarde recuperados por Ortega – se separa do país legal; o país real, o povo, está do lado do combate pela identidade própria.

O combate pela própria identidade implica a luta pela integridade étnica das populações. “Sou desses – afirma Pierre Vial – que consideram que, se não existe uma homogeneidade, uma identidade racial, o resto não pode existir. Evidentemente essa dimensão racial não é suficiente. É precisamente aí que intervém a cultura, para ser a tomada de consciência. Mas as duas são necessárias, totalmente complementares. Se não há identidade racial e identidade cultural, se há só uma das duas, a coisa não funciona”.

Existe, pois, uma frente dupla: em primeiro lugar, tratar-se-ia de declarar a guerra abertamente ao câncer americano, à aliança entre Disney e Bíblia, encarnação do espírito cosmopolita e liberal, e o maior perigo para a alma da Europa; mas ademais, seria necessário se enfrentar com resolução à penetração massiva de populações de origem extra-europeia, ao que Guillaume Faye – também colaborador habitual das publicações da Terre et Peuple nos últimos tempos – chama colonização do continente europeu pelos povos do sul, que, unida à crise demográfica que afeta a Europa, constituiria uma gigantesca ameaça para a própria existência física dos europeus. Militar pela Europa quer dizer militar contra aquilo que nega a Europa. E fazê-lo energicamente.

“O homem do porvir será aquele que tenha a mais longa memória”; Terre et Peuple nasce sob a defesa do pensamento de Nietzsche. O futuro pertence àqueles que saibam penetrar no mais profundo do espírito europeu, que repousa nos tempos primordiais, em uma origem na qual a alma da Europa era virgem de incorporações estranhas. Voltar o olhar para trás, para poder projetá-lo longe no que virá; esta é a tarefa titânica a que terão que se entregar os revolucionários europeus do século que começa. O boletim de janeiro-fevereiro de 1998 da associação quer ser uma primeira aproximação a esse passado arcaico. “Nossos ancestrais os gauleses?” – se pergunta Pierre Vial no editorial – “Sim, é claro. E queremos que nossos netos sejam, por sua vez, gauleses e tenham orgulho de sê-lo. Gostem ou não os amantes da sociedade multicolorida, sem corpo ou alma. Contra os quais nos comprometemos na resistência. Em uma guerra na qual será necessário chamar por seu nome, uma guerra de libertação nacional”. Afirmar a identidade gaulesa dos franceses equivale, por um lado, a se reconhecer membro de uma comunidade étnica mais ampla que se estende por todo o continente europeu, a céltica, mas ademais pressupõe a possibilidade de identificar claramente invasores e inimigos. “Somos antes de tudo e acima de tudo os herdeiros dos celtas ou devemos nos considerar como filhos da Lei bíblica, iluminados pela luz vinda do Oriente (ex oriente lux)? Segundo a resposta que se dê a esta pergunta, você se situa do lado dos homens livres e combatentes, orgulhosos do dever de resistência que nos transmitiu, para além dos séculos, Vercingétorix, ou ao contrário, do lado dos escravos consentidores de um sistema de pensamento vindo do Sinai e que exige do homem que fique de joelhos perante um deus ciumento e paranoico, cuja secularização se chama hoje o pensamento único, o globalismo e a polícia do pensamento”.

Não há espaço para a dúvida; o inimigo é o judeu – inimigo no sentido que Schmitt dava a este termo: na medida em que ele é uma ameaça existencial -, encarnação proteana da forma desenraizada de ser no mundo e fundamento espiritual de todas as variedades de cosmopolitismo que já existiram na história.

O inimigo é a alma semítica, e nem tanto, como nos textos de Alain de Benoist, a concepção judaico-cristã do mundo. Os homens de Vial se mostram um tanto ambíguos quando se trata de valorar a presença do legado cristão na cultura europeia. Yvan Blot, em sua intervenção na primeira Mesa Redonda de Terre et Peuple, chamada “Grécia, Nossa Mãe”, assinala:

“Na filosofia de origem não se pode dissociar a beleza física da beleza moral: elas compõem um todo. O pensamento grego é sempre um pensamento encarnado. Em relação a isso, o cristianismo é uma religião da encarnação, Deus se faz homem, o que é intolerável para os judeus, pelo que alguns consideram que o cristianismo é uma religião grega, e não proveniente do judaísmo. É a grande diferença entre o cristianismo, que teve um grande êxito no mundo europeu, e o judaísmo e o islamismo, que nunca conseguiram penetrar massivamente nesse mundo europeu. Todos são, certamente, monoteísmos, mas um é um monoteísmo da encarnação, e os outros são monoteísmos puramente abstratos onde existe uma ruptura total entre a divindade e o mundo”.

O cristianismo é salvo, assim, em virtude de sua penetração pelos valores pagãos provenientes da cultura grega. Não se deve esquecer que Blot, Vial e o Terre et Peuple estão integrados, nessa altura, na estrutura do Front National, partido cuja militância e clientela política se declara majoritariamente católica. O mercado eleitoral impõe certas servidões.

Não obstante, o ataque à Europa não se deteve em momento algum da história. Em perigo graças aos conteúdos não pagãos do cristianismo, vulnerável ao contágio da visão monoteísta semítica do mundo, se vê agora ameaçada por uma invasão massiva de populações de confissão majoritariamente muçulmana. “A colonização de nossa terra prossegue metodicamente; em nome dos direitos humanos, os vagabundos de todas as origens veem garantida, com a cidadania francesa, as magras vantagens que procura o princípio da preferência estrangeira. Não é bom se chamar hoje em dia Dupont ou Durand se você busca hoje emprego, abrigo ou assistência social. Os padres, os pastores, os rabinos, os veneráveis das lojas aplaudem: a fraternidade dos filhos de Abraão não é mera palavra”.

Terre et Peuple continua a velha tradição da Nouvelle Droite da inversão semântica dos termos; na França existe agora um novo Partido Colaboracionista, que, desde já, nada tem a ver com os Brasillach, Drieu la Rochelle ou Marc Augier – tão admirado por Vial como precursor de um novo patriotismo europeu – mas que designa todos aqueles que se colocam ao lado desse exército de ocupação desarmado formado pelos imigrantes vindos do Sul. Entre suas fileiras se encontram os outrora camaradas de Vial e suas cantilenas sobre comunitarismo. A França e a Europa estão ameaçadas de morte; chegou o tempo da Reconquista, como propõem Guillaume Faye e Phillippe Conrad [24].

Reconquistar o continente europeu com o fim de acabar com o racismo. Frente ao ius solis, o ius sanguinis; frente à cidadania (noção abstrata), o pertencimento a uma comunidade popular concreta; contra os conflitos étnicos, o lema "uma terra, um povo" [25].

“Esses que estão sempre dispostos a brandir a acusação de racismo para desqualificar seus adversários sabem muito bem que a única muralha eficaz contra o racismo é o etnodiferencialismo, que nós defendemos.

Contra a noção de povo eleito, fundadora do racismo, pois estabelece o princípio de uma hierarquia entre os povos (o pan-germanismo retomou em seu benefício esse messianismo), afirmamos a igualdade em dignidade e, por conseguinte, a igualdade de direitos de todos os povos. O primeiro desses direitos é, para cada povo, o de existir enquanto tal, com sua especificidade, com sua identidade”. [26]

Defender a causa dos povos começa com a defesa do próprio povo. Europeus primeiro. A escolha de palavras não é gratuita: Vial fala em muralha. Tratar-se-ia de amuralhar a própria terra para dar fim aos enfrentamentos de tipo racial. Pode parecer um pouco cínico, mas o único modo de acabar com o problema da imigração passa, para o editor de Terre et Peuple, por acabar com a própria imigração.
 
 

Península Ibérica

a) Espanha: rumo a uma renovação das forças nacionais



O GRECE francês tem uma réplica do mesmo nome na Espanha, o Grupo de Recerca i Estudi de Cultura Europea [27[, que também tem um site na Internet. A GRECE espanhola se reconhece como uma organização não dogmática, que, no entanto, baseia seu trabalho em "bases orientativas de pensamento":

  1. Religião: Incentivaremos o estudo dos antigos mitos europeus [...] para construir uma espiritualidade militante frente ao materialismo decadente, a pedra angular da sociedade moderna[...] Declaramo-nos não confessionais.
  2. História: No estudo da história, queremos que o método científico e desapaixonado tenha precedência sobre todos os outros. [...] Devemos difundir a verdade diante dos obstáculos "legais". [Uma alusão ao Revisionismo? Parece que sim].
  3. Política: Defendemos uma política mundial baseada nos conceitos de comunidade, colaboração e respeito entre os diversos povos, raças e civilizações de nosso mundo. Contra o globalismo, o igualitarismo e as agressões imperialistas protegidas por organizações internacionais a serviço de interesses obscuros.
  4. Economia: A economia deve ser um meio para servir ao Homem, e não o contrário. [...] Frente ao planeta mercado, o planeta comunidade.
  5. Ciência: A pesquisa em qualquer área não pode ser proibida ou limitada por razões políticas ou econômicas. A ética e as leis naturais [?] devem ser as únicas barreiras, cuja violação só pode trazer danos.
  6. Arte e cultura: A produção de arte e a promoção de artistas devem ser tuteladas pelo Estado, para que a cultura seja um instrumento de enriquecimento popular e não um brinquedo nas mãos de especuladores decadentes e ociosos.
  7. Identidade: A identidade dos povos da Europa está sob ameaça. No lado físico, pela ameaça de milhões de imigrantes não-europeus que são forçados a deixar seus países por causa de condições de vida precárias. Por outro lado, a invasão em todos os níveis, da da cultura norte-americana desintegradora, dos valores e paradigmas individualistas, igualitários e mercantilistas da Nova Ordem Mundial. Rejeitamos o globalismo que está sendo imposto em todos os níveis, e optamos por uma harmonia mundial baseada na realidade múltipla do planeta.

A ideologia do GRECE catalão está mais próxima - como pode ser deduzido de uma leitura de suas bases teóricas - do nacionalismo europeu de um Faye do que dos últimos trabalhos teóricos de Alain de Benoist. "Nossa idéia nacionalista européia se baseia no verdadeiro ser europeu: a personalidade de suas regiões, muitas vezes a grande força motriz da política e cultura continental. [...] O jeito europeu de ser; vital, prometeico e heróico, compartilhado por todos os povos e etnias que compõem a Europa" [28[. Não é difícil descobrir por trás destas palavras a inspiração de Guillaume Faye do Nouveau Discours à la Nation Européenne.

O GRECE catalão planeja criar uma confederação de todas as organizações da Nova Direita que surgiram na Espanha, para proporcionar a essa confederação um secretariado permanente e intensificar o trabalho editorial a fim de dar a conhecer a ideologia neodireitista a um grande público; com o mesmo objetivo, o GRECE organizará conferências, debates e exposições sobre temas atuais e fundará uma Universidade de Verão à maneira do agrupamento francês.

Nos anos 90, grupos neofascistas de todas as listras (incluindo, é claro, os think tanks da Nova Direita) descobriram um meio eficaz e barato de divulgar suas idéias: a Internet. O website do GRECE francês possui uma seção de links que permite ao usuário da Internet conectar-se com organizações similares em toda a Europa e América Latina. Na Espanha, o GRECE francês reconhece como projetos metapolíticos irmãos a revista Hespérides, o já mencionado GRECE catalão e o Tabularium [29].

O Tabularium (arquivo público em língua latina) começou a transmitir em 28 de fevereiro de 1999 e afirma ser "o resultado da iniciativa de um grupo de profissionais e estudantes, de nacionalidade espanhola e portuguesa, que participam das coordenadas ideológicas da Nova Direita (ND)". O logotipo que encabeça sua página inicial é o emblema do GRECE francês: "um entrelaçamento de origem celta, que pode ser encontrado de Grado (Espanha) à Croácia, e da Irlanda à Aquileia", símbolo da unidade etnocultural do continente europeu. "Seguindo o modus operandi do ND, o Tabularium é um canal autônomo de expressão, na medida em que não depende de nenhum partido político, sindicato de interesses ou hierarquia religiosa, e resolutamente aberto, uma vez que se posiciona inequivocamente contra qualquer forma de reducionismo intelectual e sectarismo, e rejeita o totalitarismo ideológico qualquer que seja sua face".

O Tabularium tem várias seções e um endereço de e-mail (tabularium@universitariosmix.com). A seção Observatório é uma espécie de pequena agência de notícias "que toma o pulso da atualidade espanhola e internacional de uma perspectiva inconformista"; Perímetro "relata as atividades da ND e seu ambiente, com especial atenção aos resumos de suas publicações"; Pliegos "trata das novidades editoriais mais interessantes na opinião da equipe editorial"; Arquivo, "compila algumas das obras mais significativas da ND europeia e americana" (nele você pode encontrar textos de Alain de Benoist e Guillaume Faye, do ex-grecista transformado em intelectual orgânico da FN Pierre Vial, dos argentinos Alberto Buela e Abel Posse, do alemão Ernst Niekisch, do seu compatriota Armin Mohler (historiador da Revolução Konservadora e reitor da Neue Rechte), do jurista nazista Carl Schmitt ou do próprio José Javier Esparza); e, finalmente, a seção de links Nexus, "fornece ao internauta acesso a outras páginas da ND na web ou promovidas por outras instituições ou grupos externos que consideramos, no entanto, de grande interesse". O site também tem uma versão em português.

De particular interesse é a chamada Red Vértice [30], nascida no início de 1999. A rede de língua espanhola tem seu próprio domínio e reúne uma grande seleção de organizações de direita radical européias e latino-americanas, embora a representação espanhola seja a maioria. Mas, como dizem seus promotores no texto introdutório, "a Red Vértice não é apenas uma rede virtual, por trás dela há uma Comunidade Militante que está consciente da importância da tarefa que realiza a partir de uma perspectiva ideológica que a diferencia claramente do resto das forças presentes". A Red Vértice nasceu para lutar pela integridade das identidades nacionais (não está claro se elas correspondem aos atuais estados-nações), contra a globalização e o imperialismo anglossaxão, por sua própria cultura e por um Estado republicano integrado em uma Europa federal; ela também expressa sua preocupação com a questão ecológica e com a crise dos sistemas educacionais. A Rede também tem uma agência de notícias (ANV), que informa sobre eventos relacionados às forças nacionais em todo o mundo, uma rede de distribuição e um arquivo. Possui também uma seção chamada Acampamento Hobbit [31], que é basicamente um diretório de sites nacional-sindicalistas e nacionais-revolucionários (há vários, por exemplo, dedicados a Julius Evola e Ernst Jünger).

Aderidas à Red Vértice estão as páginas da Nuestra Revolución (dedicada ao trabalho de Ramiro Ledesma Ramos, fundador da JONS e inspirador dos nacional-revolucionários pós-modernos), da Asociación Cultural Disidencias (nascida da convergência da Asociación Cultural Tercera Posición de Valencia, das Ediciones Alternativa de Barcelona, do Círculo Cultural Hispânico de Madri e do Centro de Estudios Revisionistas de Alicante), o Foro de Economía Política, o Foro Sindicalista de Liberación Nacional, a Patria Iberoamericana, a Ciudad de los Césares chilena, o Carpe Diem italiano, a já mencionada Resistencia, Alternativa Europea e Kaineus, entre outros.

Kaineus. Espacio de Libertad [32] é um site transmitido de Valência. Tira seu nome do herói grego que, segundo Ovídio em suas Metamorfoses, "numa luta contra os centauros [...] foi enterrado por eles sob troncos de árvores, pois [sic] eles não podiam matá-lo. No entanto, através dos buracos dos troncos, Kaineus finalmente emergiu como um pássaro e voou para longe". Em uma época de pensamento único e da ditadura do politicamente correto, os editores da página consideram necessário abrir espaços de liberdade nos quais os inconformistas possam se expressar e se comunicar sem impedimentos. Daí o aparecimento do Kaineus na web.

Kaineus também tem uma seção de links (Nexus), uma página de anúncios e notícias (Avisos) e outra de crítica literária (Adiós Papel). Dedica também uma seção completa à divulgação do trabalho do falecido líder sindical anarquista Ángel Pestaña (Treinta) e possui um interessante arquivo (Infoeuropa), que publica ensaios e artigos enviados pela Secretaria Geral do Escritório Europa da associação transnacional Sinergias Européias, cujo principal promotor é também o neodireitista belga Robert Steuckers. De acordo com a apresentação da página, Kaineus é, de fato, o representante em espanhol dessa associação. Na Infoeuropa você pode consultar textos do próprio Steuckers e de outros ideólogos da Nova Direita como Guillaume Faye, Alberto Buela ou Dieter Stein (Editor-chefe da revista alemã Jünge Freiheit), o Manifesto da organização neofascista italiana Rinascita Nazionale ou alguns artigos do líder dos Republikaner Franz Schönhuber.

A estes endereços devem ser acrescentadas as páginas da revista Hespérides (agora extinta, tanto em papel como em formato digital), dirigida pelo jornalista José Javier Esparza e, por muitos anos, o mais completo e respeitável órgão de expressão das idéias neodireitistas em solo espanhol, e a página pessoal de Fernando Márquez, El Zurdo, um conhecido músico da cena madrilenha (foi membro, por exemplo, de Kaka de Luxe e La Mode) e um militante um pouco inquieto que passou pelas fileiras da Falange Española Auténtica, da Alianza Popular, do Centro Democrático y Social e da FE de las JONS para acabar se tornando um ciberfascista solitário nas páginas da Internet. Em sua página web (La línea de sombra [33], um nome de clara inspiração conradiana), Fernando Márquez se compara à figura de Drieu la Rochelle, escritor colaboracionista, teórico do socialismo fascista (ele é um autor muito amado pelos nacional-revolucionários e pelos terceiristas de todas as latitudes) e nazista dissidente e renegado que acabou reconhecendo ter tomado o lado errado (recomendo ler a este respeito seu Récit secret) pouco antes de tirar sua própria vida.


Da Alternativa Européia ao Movimento Social Republicano: Entre a Política e a Metapolítica


A Alternativa Europea foi registrada em 17 de fevereiro de 1994 como uma associação cultural com o Ministério do Interior espanhol. Três anos depois, tornou-se um partido político sob o nome de Alternativa Europea-Liga Social Republicana. Seu Secretário Geral é Juan Antonio Llopart, ex-líder da juventude da Frente Nacional e da Frente da Juventude em Barcelona. Como conseqüência de sua incorporação à chamada Frente de Libertação Européia (um empreendimento na qual o neodireitista Robert Steuckers está envolvido), a AE é geminada com organizações de orientação política semelhante, como as francesas Ordre Nouveau, Troisième Voie, Lutte du Peuple e Nouvelle Résistance; as italianas Ordine Nuovo, Avanguardia Nazionale, Lotta di Popolo e Terza Posizione; e as alemãs Aktion Neue Rechte, Sache des Volkes e Solidaristische Volksbewegung. (Sánchez Soler, P. 148).

Em sua assembléia constituinte como partido político, a AE elaborou todo um programa no qual são coletadas as contribuições teóricas da Nova Direita Européia. Ela rejeita a violência e o terrorismo (por razões históricas bem conhecidas, as organizações espanholas de extrema-direita são notavelmente atrasadas em comparação com a França; aqui não houve um Venner nos anos 60, muito menos um De Benoist) e algumas propostas de origem esquerdista (a noção de transversalidade é outra aquisição neodireitista) como a reforma agrária, o direito ao divórcio (mesmo que se critique o "casamento hedonista, uma conseqüência da sociedade de consumo"), a redução da jornada de trabalho para 35 horas, liberdade religiosa, democracia direta garantindo participação popular, autogestão, federalismo, anticapitalismo, igualdade de gênero, assistência médica e educação gratuitas ou a condenação da xenofobia (Ib. , P. 149).

A Alternativa Europea é assim uma organização nacional-bolchevique sediada principalmente em Barcelona que, como outras já mencionadas acima, defende a superação da dicotomia esquerda/direita e propõe a composição de uma Frente Unida Anti-Sistema que reúne inconformistas e revolucionários de diversas origens. Republicanos e socialistas não-marxistas, os ideólogos da AE querem fazer uma síntese das correntes revolucionárias do século XX; os legados de Ángel Pestaña [34], Andreu Nin [35] e Ledesma Ramos são complementares e ainda são válidos para os militantes do partido. A estes nomes, Alternativa Europea acrescenta, entre seus mestres, os de Ernst Jünger, Carl Schmitt, Heidegger, Ernst Niekisch, Juan Domingo Perón, Manuel Hedilla e Jean Thiriart. Seu órgão de expressão é a revista Tribuna de Europa.

Da Alternativa Europea surgirá a liderança central de um novo partido político fundado no segundo semestre de 1999: o Movimiento Social Republicano (MSR). Além da AE, o MSR incorporou as organizações ambientalistas Tierra Verde e Frente Ecologista de Liberación (FEL), e a partir de abril de 2000, a associação Vértice Social Español (VSE), até então integrada à FE-JONS, onde constituía uma espécie de facção de esquerda próxima à corrente nacional-bolchevique [36]. Como pode ser lido em seu texto Un modelo de partido, as referências ideológicas do MSR continuam a ser encontradas em:

  • Fascismo radical: trata-se dos grupos originais do fascismo do início dos anos 20 na Itália, na experiência da República Social Italiana;
  • As diversas correntes que Armin Mohler agrupou sob a denominação de "Revolução Conservadora", desde a esquerda nacional-socialista, como Strasser, até os nacionais-revolucionários alemães, como Jünger ou Niekisch, passando pelo völkisch, os Bund, os jovens conservadores, etc;
  • O nacional-sindicalismo radical de Ramiro Ledesma Ramos e seus partidários, no José Antonio Primo de Rivera de 1935, no nacional-sindicalismo português dos seguidores de Rolão Preto que se opunham diretamente a Salazar;
  • Os teóricos do chamado neofascismo do pós-guerra: Thiriart, Romualdi, Evola...
  • As experiências da Jovem Europa, MSI, Ordre Nouveau, etc;
  • As contribuições ideológicas da chamada Nova Direita [37] e seus posteriores desenvolvimentos: Benoist, Faye, Steuckers, Tarchi... [38].

A publicação oficial do MSR também passou também a ser o Tribuna de Europa, mas a organização também publicou um boletim chamado Libertad e uma revista com pretensões transoceânicas, Patria Iberoamericana, dirigida pela hiperativo Llopart, cujo conselho editorial incluía Juan Antonio Aguilar (anteriormente de Bases Autónomas [BB.AA.], membro da equipe editorial do Tribuna de Europa e diretor da revista Hespérides antes de José Javier Esparza assumir o cargo, ele também é responsável pela agência de notícias Vértice), Aníbal Pascual, Eduardo Núñez (ex-membro do CEDADE), Sara Fernández Zurita (responsável pela Tierra Verde) e o argentino Norberto Ceresole. O partido também tem uma editora, Ediciones Nueva República, que, com sede em Barcelona, dedica-se à publicação de material inequivocamente neofascista [39] e distribui revistas diretamente ligadas ao movimento neofascista em todo o continente europeu: por exemplo, Diorama, Trasgressioni e Orion (da Itália), Vouloir (da Bélgica), Sinergias Europeias (de Portugal) ou o agora extinto Hespérides.

Graças a um acordo alcançado no início de 2002 entre o MSR e o GRECE francês, a Nueva República lançou no mercado espanhol uma coleção de textos de autores da Nova Direita Transpirenaica; o primeiro volume à venda intitula-se 11 de Setembro de 2001: O Terceiro Milênio Começou e inclui textos de Alain de Benoist, Robert de Herte (ou seja, Alain de Benoist duas vezes), Michel L'Homme e Gabriel Matzneff.

Cientes da necessidade de preencher o vazio deixado por periódicos como Punto y Coma, Fundamentos, DisidenciaS e, sobretudo, Hésperides, os editores também conseguiram lançar uma nova revista metapolítica: Nihil Obstat, a ser publicada a cada seis meses. Sua equipe editorial é formada por velhos conhecidos do neofascismo espanhol como Jordi Garriga (de Hespérides e colaborador regular do Tribuna de Europa, ele é o editor), Josep Alsina (também editor do Tribuna), Luis Pérez, Enrique Ravello, o inquieto Juan Antonio Aguilar, Juan C. Arroyo, Juan L. Manteiga, Erik Norling (outro veterano do CEDADE, historiador oficial do fascismo mais ou menos vermelho), Eduardo Núñez (também treinado no CEDADE), Juan C. García, José Luis Jerez Riesco (do CEDADE, ele estava entre os fundadores de El Martillo e entre os editores do referido Fundamentos) e Sara Fernández Zurita.

E nas 175 páginas ("de idéias politicamente incorretas", segundo seus promotores [40] de seu primeiro número aparecem as assinaturas de Juan Antonio Llopart (autor do editorial), de Xuan Cámara, do citado Aníbal Pascual, de Carlos Coloma, de Enrique Moreno (também conhecido como Pablo Oncins, militante falangista a partir de 1995, diretor - dentro da FE - do Instituto de Estudos Sindicalistas Nacionais (IENS), membro do Projeto Cultural Aurora, colaborador do Tribuna de Europa e atual chefe da federação de Madri do MSR), Antonio Martínez Cayuela (líder do MSR na província de Almería) e Joan Camil Ros. A representação neodireitista também é notável: Robert de Herte contribui com um artigo intitulado Misérias do Humanismo; Charles Champetier, A era neobiótica chegou; e o biólogo Yves Christen, Hereditariedade da Inteligência: A Grande Mentira.


(b) Portugal



A editora Hugin [41], que toma seu nome do corvo que, na mitologia nórdica, representa a reflexão e o pensamento, é responsável pela difusão da ideologia da chamada Nova Cultura. Sua coleção Dissidências inclui obras de Alain de Benoist, Aleister Crowley, Julius Evola, René Guénon, Ezra Pound, Ernst Jünger, José Luis Ontiveros e Abel Bonnard.

Jaime Nogueira Pinto é um excelente representante desta Nova Cultura ou Nova Direita à portuguesa. Nogueira é professor no Instituto de Ciências Políticas e Sociais em Lisboa, presidente do Instituto Euro-Atlântico e editor da revista quadrimestral Futuro Presente, uma réplica portuguesa das publicações neodireitistas francesas. Em um trabalho recente com um título claramente benoistiano, Visto da Direita [42], ele reúne textos publicados anteriormente em sua revista.


 Alemanha

Uma nova revolução conservadora: a Thule-Netz


Como vimos nos casos francês e espanhol, a Internet [43] tornou-se um meio particularmente funcional para organizações que, na maioria dos casos, têm um impacto bastante limitado na prática real, e que parecem ter recuado para posições de confronto que são mais culturais do que estritamente políticas. Todas as publicações, associações e até mesmo indivíduos mencionados até agora têm espaços mais ou menos regulares e mais ou menos elaborados na Grande Rede.

Normalmente, estes espaços nada mais são que um suporte para as produções teóricas destas mesmas personalidades ou, como é o caso dos periódicos, um meio particularmente econômico e eficaz de distribuição e publicidade. Há, no entanto, um exemplo que é marcante por sua peculiaridade: a chamada Thule-Netz, cujas estratégias e táticas de intervenção poderiam ser ditas como sendo diretamente determinadas pelo meio que utiliza.

A Thule-Netz foi lançada em 20 de março de 1993, principalmente graças ao impulso de Thomas Hetzer [44], tomando como modelo o sistema Mailbox-System usado por grupúsculos de esquerda e extrema esquerda [45]. Este sistema favorece o intercâmbio de dados de forma rápida e segura, além de permitir discriminar o tipo de comunicações que são realizadas entre os participantes: além da possibilidade de compartilhar informações com todos aqueles que acessam a Netz, há domínios cujo acesso é limitado por filtros especiais e que garantem a privacidade dos contatos entre os comunicadores. Assim, na Thule-Netz é possível encontrar qualquer coisa, desde simples manifestos ou textos teóricos até instruções de fabricação de bombas. Três anos após sua fundação, a Netz tinha conseguido conectar até dezoito dessas caixas de correio.

Segundo os promotores da Thule-Netz, a necessidade de fazer uso das novas tecnologias de comunicação na propagação das idéias das forças nacionais decorreu das próprias condições sob as quais essas mesmas forças foram forçadas a evoluir dentro da estrutura do Estado alemão.

Primeiramente, a partir de fatores inerentes ao sistema:

  •     Uma pressão crescente do sistema sobre qualquer tipo de militância inconformista e nacionalista, o que torna seguras apenas as comunicações face a face, e que dificulta muito o trabalho de tais militantes;
  •     O controle da informação por grupos poderosos e reduzidos, o que significa que o que a mídia não mostra não tem existência real.

E em segundo lugar, a partir da fraqueza das próprias forças nacionais:

  •     A propagação de idéias nacionais dificilmente deixa o gueto nacionalista. As publicações só chegam aos leitores que já compartilham as mesmas posições teóricas que seus editores;
  •     Disseminação da militância nacional. "Muitos projetos não podem ser realizados por falta de pessoal ou de forças materiais. Enquanto ações menores são executadas com uma eficácia muito mais limitada. [46].

O objetivo básico da Netz era, então, libertar um espaço no qual tais idéias pudessem ser propagadas, contornando as limitações impostas por estruturas de mídia altamente centralizadas e abertamente hostis às forças nacionais, e no qual, conseqüentemente, a livre comunicação entre os militantes dessas mesmas forças e sua extensão a possíveis futuros militantes seria viável. Mas seu objetivo final, como podemos ver na apresentação da Rede [47], era um pouco mais ambicioso: era, de fato, vencer a batalha metapolítica (a batalha decisiva, como bem sabemos) utilizando as armas que as novas tecnologias colocam à disposição do combatente pela identidade étnica, e construir uma opinião pública contrária à ideologia dominante (Gegenöffentlichkeit) [48], a única base de um poder político duradouro e firme.

A proximidade da Rede com as teses da Nova Direita [49] é reconhecida por seus próprios líderes: "Sentimo-nos ligados às idéias [dos autores] da chamada Nova Direita, como Alain de Benoist, Pierre Krebs, Arthur Korsenz, Sigrid Hunke, Detlev Promp, Guillaume Faye ou Jean Haudry" [50]. Proximidade que chega ao ponto de negar a atual relevância de uma denominação semelhante [51], já que as antigas frentes ideológicas foram diluídas em favor de um novo confronto que teria como linha divisória a atitude assumida com respeito às identidades étnicas. E como os autores acima mencionados, os participantes da Netz querem se colocar claramente do lado da defesa da identidade etnocultural (européia). Ao contrário do cosmopolitismo etnocriminal, os promotores da Thule-Netz se apresentam como defensores e construtores de um renascimento espiritual, ideológico e político da Europa, baseado em uma economia sujeita à ordem política soberana e em uma plena reconciliação entre o passado mais distante e as forças tecnológicas mais desenvolvidas, típicas do espírito faustiano dos europeus, e não muito distantes do Arqueofuturismo de um Guillaume Faye.

Desde julho de 1997, a Netz também tem um portal na Internet, onde cada Caixa de Correio tem sua própria página web. Entretanto, o projeto havia começado a se dissolver pouco antes, quando, após vários conflitos internos, as BBSs Asgard e Elias foram excluídas da Rede Thule. Seus respectivos gerentes, Jürgen Jost e Thekla Kosche, formarão então uma rede alternativa, baseada nos mesmos pressupostos que a Thule, que eles denominarão Nordland-Netz. Mais dissidências e transferências se seguiram, até que em 1998, uma Thule-Netz seriamente enfraquecida passou o bastão para a recém-nascida Thing-Netz. Assim, a rede não tinha sequer conseguido superar a divisão da mídia nacional que havia descoberto de forma tão aguda em suas análises.


Itália

Marco Tarchi e a Transversalidade



Na Itália, a conversa sobre uma Nova Direita começou em 1974, ano em que a revista político-satírica La Voce de la Fogna (A Voz da Cloaca), dirigida por Marco Tarchi, começou a ser publicada. Como no caso francês, o nome tem um caráter claramente polêmico e sua origem na imprensa, e vem designar todo um grupo de jovens militantes do Movimento Sociale Italiano (MSI) que, a partir das páginas da nova publicação, têm a audácia de lidar, com uma abordagem e estilo mais ou menos originais, com temas alheios à sua tradição política de origem. O termo, como o próprio Tarchi reconhece [52], tem, desde o início, limites um tanto nebulosos. Para começar, entre esses jovens ativistas há aqueles que não reconhecem que estão à direita e, consequentemente, se recusam a aceitar o rótulo; outros, ao contrário, uma vez passada a doença infantil do radicalismo, acabarão se juntando aos partidos políticos tradicionais de direita; um terceiro grupo simplesmente optará por se retirar da esfera pública. No entanto, foram aqueles que continuaram a trabalhar nos órgãos de imprensa do partido que gradualmente se dissociaram mais e mais claramente [53] das formas de pensar e agir da extrema direita neofascista.

Em outubro de 1976 foi lançada a Diorama Letterario [54], uma revista também promovida por Tarchi, que se tornaria a principal publicação da Nova Direita em italiano. Diorama era, no início, uma iniciativa humilde: apenas mil exemplares de um boletim de não mais de treze páginas, essencialmente dedicado a informações bibliográficas e publicado com mais vontade do que habilidade na sede florentina do MSI. Os objetivos, no entanto, já são ambiciosos. Fabricio Croci, um dos iniciadores do projeto, os afirma claramente: Diorama pretende ser "uma contribuição para a cultura de Direita" [55] em um ambiente que apresentava grandes ambigüidades e lacunas neste campo. O próprio nome da revista, inspirado numa coluna semanal de Julius Evola, foi uma expressão da necessidade desses jovens militantes de extrema-direita de recuperar uma tradição cultural quase proibida e assumir, no mesmo movimento, o controle de um espaço social completamente dominado por intelectuais de esquerda, o da cultura. O exemplo do gramscismo da Nouvelle Droite francesa também se espalhou entre os jovens editores da revista. Diorama adquiriu gradualmente maior autonomia e, com o tempo, suas preocupações imediatamente políticas deram lugar a um "projeto de intervenção metapolítica na sociedade italiana, desvinculada de uma lógica de antigas filiações" [56].

A evolução de Diorama segue o mesmo padrão que as publicações de Alain de Benoist e seus seguidores. Seu estilo e seu tema são marcados inicialmente por um esforço para renovar uma ideologia endurecida por suas veias nostálgicas; sua afiliação de extrema-direita é então clara. Entretanto, "entre as revisões de textos sobre fascismo e nacional-socialismo, os exércitos sulistas e a tradição de Roma, se insinuaram alguns corpos estranhos" [57]. De um confronto aberto com o adversário político - os movimentos de esquerda, tão vivos na Itália daqueles anos, sobretudo - com o passar do tempo se passará à adoção da tese neidireitista da transversalidade e a assunção de sua principal conseqüência prática, uma estratégia de convergência com individualidades e forças dissidentes da esquerda.

A superação das antigas dicotomias políticas será precisamente uma das preocupações fundamentais do trabalho teórico de Tarchi. Nós nos encontramos, em sua opinião, em uma era de ruptura, de crise, na qual os mapas estão embaçados e as identidades ideológicas que dominaram a modernidade perdem sua razão de ser. O novo paradigma político tem que ir além destas identidades antigas se quiser viver até o presente. As novas linhas de fratura são aquelas que separam "especificidade e homologação, solidariedade orgânica e egoísmo mecânico, valores e interesses, coesão grupal e atomismo individualista, complexidade das diferenças e reducionismo igualitário" [58]. A clássica oposição dicotômica entre direita e esquerda não faz mais sentido; portanto, nem a denominação de Nuova Destra pode ser aceita. Em seu lugar, Tarchi propõe a cultura das novas sínteses [59].

Com esta ânsia de superar as antigas fronteiras, a Nuova Destra intensificou os contatos polêmicos com representantes da esquerda intelectual ao longo dos anos oitenta. E em 1986 surgiu o quadrimestral Trasgessioni, com objetivos semelhantes aos da revista Krisis de Alain de Benoist: servir de espaço de discussão e convergência entre intelectuais de origens políticas opostas. As assinaturas e temas que aparecem nas edições publicadas até agora parecem, no entanto, negar a honestidade do projeto, ou melhor, sancionar seu fracasso [60].


Reino Unido

A outra Terceira Via


A Scorpion [61] se apresenta como uma revista mais ou menos anual de metapolítica e cultura em língua inglesa. É sem dúvida a publicação mais importante da Nova Direita em território inglês e talvez uma das mais relevantes em todo o continente. A revista aparece na forma de monografias dedicadas às preocupações habituais da ND europeia: o número 19, por exemplo, trata do problema da educação e da cultura; o número 17, da questão do Império.

Seu editor, Michael Walker, compartilha com seus colegas da Nova Direita continental suas origens na extrema direita política. Walker também participa assiduamente das publicações de direita radical nos Estados Unidos (Chronicles, The American Nationalist, etc.) e dos antípodas, e está ligado à Third Position, uma divisão da National Front, relacionada aos movimentos de renovação ideológica do neofascismo e da Nova Direita do continente.

Uma rápida revisão dos índices dos números publicados pode servir para estabelecer a orientação da revista. As edições 15 e 17 contêm uma revisão do livro de Alain de Benoist sobre o Trabalhador jüngeriano; esta última edição oferece ao leitor um artigo de Walker sobre a natureza dos impérios e uma análise da Revolta Contra o Mundo Moderno, de Julius Evola; a edição seguinte contém um comentário sobre outra obra de Evola, O Mistério do Graal, e uma resenha do texto de Alain de Benoist, Europa, Terceiro Mundo, Um Mesmo Combate; e no dia 19, vários textos sobre a influência dos fatores genéticos na educação e os mecanismos de estruturação social. Também vale a pena mencionar a série dedicada por Alexander Jacob à Revolução Conservadora Alemã.

No número 18, em uma resenha de Manfred Rouhs do livro de Mark Terkessidis Volk, Nation, der Westen und die Neue Rechte [62], a Nova Direita francesa é interpretada como a vanguarda intelectual da próxima Revolução. "O Conde Ottokar Czernin, ministro das Relações Exteriores da monarquia austro-húngara, não conseguiu ler o sinal dos tempos em 1917. Quando chegou a notícia de que uma revolução havia estalado na Rússia, ele respondeu com um lacônico 'claro, é claro, e quem supostamente teria feito a revolução, talvez Trotsky, aquele cara do Café Central?' [...] Assim como Czernin não conseguiu entender a importância de um Trotsky, também Terkessidis é hoje incapaz de entender a de Alain de Benoist" [63]. A Nova Direita, o escritor continua dizendo, está longe do retrato sinistro que o ensaísta alemão quer dar dela; revolucionária, ecologista, defensora de um novo tipo de nacionalismo baseado na defesa da democracia orgânica, a Nouvelle Droite seria uma expressão metapolítica do mundo futuro, assim como os intelectuais comunistas foram da revolução de 1917.

A mesma confiança na dimensão cultural de qualquer transformação radical da sociedade está presente no editorial de Michael Walker para a edição 19. As intenções da Scorpion estão aqui fixadas de uma vez por todas. A revista não pretende ser um mero panfleto, nem ser uma propaganda política para qualquer partido. Seus objetivos seriam muito mais ambiciosos e só poderiam ser alcançados a longo prazo. Em última análise, tratar-se-ia de construir a base cultural e filosófica de uma concepção alternativa do mundo. "A originalidade de organizações como o GRECE na França reside no fato de terem compreendido a importância da educação antes da mudança política" [64]. Walker, como de Benoist, adotaria a estratégia metacultural gramsciana de assalto ao poder. Ele preferiria conquistar os espíritos do que os aparelhos do Estado.

No número 17, Walker oferece sua visão do Império. O Império, ao contrário da nação, é baseado em Idéia e Poder [65]. "As hierarquias nacionais buscam sua legitimidade no povo, na terra; as hierarquias imperiais buscam sua legitimidade no céu, nos deuses. O nacionalismo é um princípio político feminino, o imperialismo é masculino". Se os limites geográficos da nação são sempre claramente identificáveis, o mesmo não acontece com o Império, que é inerentemente dinâmico e expansivo. Há, no entanto, uma clara ligação pragmática entre uma e outra realidade política, segundo Walker: os impérios são a conseqüência da busca por recursos de riqueza ou de maior segurança por parte de uma grande nação.

Walker também se concentra em um tema antigo da Nova Direita continental: o caráter tolerante dos impérios. O império da ND não é um império nivelador, aniquilando as diferenças naturais de cada povo; pelo contrário, no centro da idéia imperial bate o espírito politeísta que vê um bem na diversidade do mundo. O Império estabelece a ordem, mas o faz respeitando as formas orgânicas já existentes. E sua ordem tem a intenção de estar em harmonia com a ordem do Universo. Neste sentido, a idéia imperial tem uma dimensão claramente religiosa.

O mito sobre as origens legitima a existência do Império. A verdade do mito não é de natureza racional, mas simbólica, e serve à continuidade da idéia imperial. "O Império traça suas origens", aponta Walker, "assim como seu destino, no afastamento do tempo". No caso da Europa moderna, a insistência do fascismo e do nacional-socialismo em recuperar o Império Europeu pré-cristão e pagão, uma era dourada na qual o tipo ário ainda existia, é marcante.

A avaliação que Walker faz dos fascismos não é desprovida de interesse. No editorial do número 15, dedicado ao Estado, o editor da Scorpion faz uma curiosa revisão da ideologia nacional-socialista. "Na verdade, o nacional-socialismo, em sua atitude em relação ao Estado, está longe de ser puramente fascista em sua essência, mesmo que na prática tenha sido notavelmente assim. A noção de comunidade orgânica do Volk, enraizada na natureza, é em última análise incompatível com a noção fascista moderna do super-Estado tecnocrático. O respeito pela natureza que existia na cosmovisão nacional-socialista era completamente alheio à devoção à vontade do homem de poder de dominar e moldar a natureza" [66]. Na teoria do Estado dos seguidores de Hitler teria havido, desta forma, a coexistência contraditória entre duas concepções antagônicas: a inorgânica (moderna e propriamente fascista) e a orgânica (de caráter anti ou pré-moderno e, conseqüentemente, ainda recuperável). No caso do governo do NSDAP, o primeiro teria prevalecido quase completamente.

Esta mesma apreciação matizada do nacional-socialismo hitleriano está presente na leitura que Walker faz da idéia imperial. Uma contradição semelhante à da teoria nazista do Estado pode ser encontrada em sua concepção de relações internacionais. Na doutrina nacional-socialista encontrar-se-ia, por um lado, pretensões de ordem universalista, que responderiam à idéia imperialista, e uma defesa radical dos próprios direitos nacionais, que seria uma expressão de sua inclinação nacionalista. Walker exemplifica esta contradição na evolução do próprio movimento nacional-socialista alemão: "As cruzadas nunca são nacionalistas, são sempre imperial-religiosas, e o chamado das SS em 1944, 'não mais guerras entre irmãos', era incompatível com o chauvinismo nacional alemão dos anos 30" [67]. O que ainda é resgatável da ideologia nacional-socialista seria, então [68], em seus elementos revolucionários-conservadores, críticos da ideologia moderna, radicalmente mecanicista, inorgânica, construtivista: o Estado orgânico inscrito no marco de um Império não-imperialista [69].

Há também um grande número de publicações terceiristas ou strasseristas que, em certa medida, retomam os ensinamentos da ND de Alain de Benoist e companhia. Synthesis. Journal du Cercle de la Rose Noire é um exemplo. Com a intenção de superar as velhas divisões dos militantes revolucionários, a publicação tenta resgatar e combinar tradições libertárias com as da direita radical, com uma abordagem do ocultismo que lembra a Nova Direita Russa de Dugin. "Synthesis é uma revista cultural e intelectual dedicada à Anarquia, Occultura [sic] e Metapolítica. Nosso objetivo é explorar figuras-chave como Ernst Jünger, Mikhail Bakunin, Julius Evola, Arthur Moeller van den Bruck, Jean Parvulesco, Friedrich Nietzsche, Aleister Crowley, Otto Strasser, Miguel Serrano, Ernst Niekisch, Jean François Thiriart, R. A. Schwaller de Lubitz, Sergey Nechayev, Savitri Devi, Austin Osman Spare, Richard Walter Darré, Alexander Dugin, Karl Haushofer, Arthur Machen, René Guénon, Percy Bysshe Shelley, Francis Parker Yockey, H. Lovecraft e Friedrich Hielscher" [70]. Seu principal colunista é Troy Southgate, e em suas páginas podemos encontrar entrevistas com líderes da Nova Direita Européia como o já mencionado Alexander Dugin ou o belga Robert Steuckers.


Rússia

O retorno do nacional-bolchevismo



Uma boa abordagem da Nova Direita russa pode ser encontrada nas páginas do portal da Internet Archivos Eurasia [71]. De acordo com seus próprios promotores, o Archivo Eurasia é uma cópia do site "Cartago Delenda est! US War Against Europe", publicado em junho de 1999, após a agressão da OTAN contra a República da Iugoslávia. O arquivo se apresenta sob os títulos "Cartago delenda est", "Textos e documentos para um bloco geopolítico continental". Ela contém textos clássicos da tradição nacional-revolucionária e eurasianista russa (Nicolay Alekseev ou Petr Savitsky), bem como obras dos mais proeminentes campeões da doutrina neodireitista europeia (como Robert Steuckers, Luc Favre ou Alexander Dugin, sumo-sacerdote do último lote nacional-bolchevique russo e réplica oriental do criador do GRECE), passando por pequenos ensaios de e sobre Jean Thiriart, pai - como já sabemos - da Jeune Europe e de um pan-europeuismo fascista renovado desde os anos sessenta ou trechos do trabalho de Armin Mohler, um dos maîtres à penser de A. De Benoist e seus meninos, um pioneiro no estudo de toda uma série de autores "perturbadores" que formariam a "heresia trotskista" da Revolução Alemã (seu Stalin seria Hitler) e que seriam agrupados, após sua pesquisa, sob o título de Konservative Revolution.

O arquivo também oferece toda uma série de links que farão as delícias do militante europeu contemporâneo. Da Eurasia você pode acessar o site de Alexander Dugin (textos em italiano, alemão, inglês e russo); às páginas da Nova Resistência (em inglês - a língua do Império Tálassocrático não está sem suas utilidades propagandísticas - e em russo), o órgão da Juventude Russa Nacional-Bolchevique também patrocinado pela Associação Arctogaia de Dugin, que une à herança do Tradicionalismo integral de Guénon e Evola a inspiração nos santos fundadores da corrente nacional-revolucionária européia (Niekisch, Ustrialov e Ledesma Ramos) e do Eurasianismo russo (o já mencionado Savitsky e/ou Lev Gumilev); aos da Infoeuropa, principal porta-voz da rede da organização "transnacional" Sinergias Europeas (em espanhol), cujo animador central é o belga Robert Steuckers, também líder da chamada Front Européen de Libération (FEL) - para mais informações sobre a Infoeuropa, Vid. La Nouvelle Droite na Espanha-; ou aos da "revista virtual da oposição russa", Poljarnaja Zvezda (Estrela Polar), que segue os passos do nacional-socialismo esotérico.

Você também pode consultar os websites do Prof. Nicolaj-Klaus von Kreitor (em russo e inglês); da editora italiana Barbarossa ("Questa società editrice ha scelto di chiamarsi Barbarossa in omaggio all'imperatore Federico I Hohenstaufen, il quale progettò, accrebbe e difese uno Stato imperiale multietnico e multiculturale, le cui singole componenti godevano di pari dignità expresiva trovando un punto di riferimento e di unificazione nell'unità politico-religiosa incarnata dall'imperatore stesso"); a da revista Elementy de Dugin (escusado será dizer de onde a revista tira seu nome); a da Synergon (ligada às já mencionadas Sinergias Europeas), cujo principal objetivo é introduzir em solo americano as idéias da Nova Direita européia; a da editora alemã Nation & Europa, especializada em obras sobre o exército germânico e a arte militar; ou do Movimento Eurasiano (paradoxalmente também em inglês), que deriva sua ideologia política de pensadores revolucionários-conservadores como Ernst Jünger, Arthur Moeller van den Bruck (tão caro ao primeiro de Benoist) ou Jean Thiriart, assim como de políticos "asiáticos" como Gaddafi ou Nasser.

É desnecessário dizer que cada um desses sites oferece, por sua vez, links para um número não desprezível de sites nacionais-revolucionários, neofascistas ou neodireitistas (que esclarece o parentesco do ND com as famílias ultra da segunda metade do século XX) e torna "virtualmente" possível a existência de uma internacional "negra" (com vários matizes que vão desde o cinza desbotado da nova ND francesa ou italiana até o negro fechado das organizações abertamente fascistas ou nacional-socialistas) que nem mesmo os mais ingênuos nacional-revolucionários de - digamos - apenas trinta anos atrás teriam sonhado. 


Hungria

Os Herdeiros de Laszlo



A revista Pannon Front, editada por Peter Pal Jozsa, é publicada na Hungria. Seguindo o modelo de suas publicações irmãs no Ocidente, suas páginas contêm resenhas, comentários e artigos aprofundados sobre temas claramente neodireitistas ou de caráter nacional-revolucionário. A revista publica textos de antigos campeões do pensamento de extrema-direita como Ernst Jünger, Spengler, Evola, Mircea Eliade ou Codreanu, assim como obras dos mais proeminentes autores da revolução conservadora nacional (como Belà Hamvas, Ferenc Zajti, Viktor Padanyi ou Andras Laszlo).

Mais perto do tradicionalismo do estilo evolucionário está a revisão Sacrum Imperium [72], dedicada principalmente à divulgação do intelectual fascista italiano e seu epígono húngaro mais proeminente, Andras Laszlo. Os animadores da revista propõem uma monarquia baseada em uma ordem hierárquica rigorosa, no topo da qual estaria um soberano em relações privilegiadas com a transcendência.

 

Holanda

Estudo, Construção e Luta



As publicações mais relevantes da Nova Direita na Holanda são as bimestrais Studie, Opbouw & Stridj (Estudo, Construção e Luta, SOS), cujos editores são Marcel Rüter e Tim Mudde. A revista pretende ser um órgão de renovação ideológica e treinamento de quadros para as organizações de extrema direita Voorpost Nederland e CP'86, às quais ambos os publicistas estão ligados. Voorpost é a seção holandesa do grupo flamengo de mesmo nome, e é filiada ao Vlaams Blok. Seu principal objetivo é a reunificação da Holanda com a Flandres e a Flandres Francesa.

Voorpost [73] também tem uma publicação, a revista Revolte. Um dos primeiros números de 1998, dedicado à questão do nacionalismo, mostra claramente sua filiação neodireitista. Os editores criticam o passado de certas organizações nacionais-revolucionárias e tentam se distanciar de qualquer coisa que tenha a ver com racismo, fascismo, imperialismo ou o elogio dos gloriosos tempos coloniais, típicos de tais grupos. Por outro lado, e como é comum em publicações irmãs em toda a Europa, Revolte se apresenta como um empreendimento metapolítico transversal, que recupera para um - supostamente - novo paradigma político velhos temas da esquerda revolucionária. Revolta se opõe, antes de tudo, à uniformidade progressiva do mundo sob a égide liberal-democrática, no qual não vê nada além de uma nova forma de imperialismo que põe em perigo a diversidade etnocultural do planeta. Por outro lado, ela se reconhece como profundamente anticapitalista; a ordem econômica atual leva, a seu ver, a uma situação caótica na qual o crescimento da riqueza de uma minoria cada vez mais restrita se dá às custas de uma maioria cada vez mais pobre.

Esta vocação para a transversalidade teve uma tradução prática; em 16 de outubro de 1999, Dia Mundial Anti-Macdonalds, membros da Voorpost jogaram maçãs em vários estabelecimentos em solo holandês da multinacional americana em mobilizações convocadas por grupos antiglobalização de esquerda; e o próprio Rüter e outros membros da Voorpost e da revista SOS ofereceram abertamente seu apoio ao movimento contra os Acordos Multilaterais de Investimento (MAI) em uma tentativa de forçar uma virada em favor da ideologia neodireitista na luta contra a globalização.

Rüter, como um bom seguidor de Alain de Benoist, reconhece que está em dívida com as análises gramscianas sobre o poder cultural e o papel dos intelectuais na transformação revolucionária da sociedade. A Nova Direita holandesa também aprendeu a ler em Gramsci a necessidade de uma profunda renovação cultural como uma condição prévia para qualquer tomada de poder na arena política. O objetivo final de Rüter é eliminar o "consenso liberal-esquerdista" e substituí-lo por um discurso baseado na identidade, construído sobre os temas fundamentais da Nova Direita (apreciação da diversidade cultural do mundo, raciofilia, antiamericanismo, defesa das comunidades orgânicas, antiliberalismo, etc.). Segundo Rüter, "as diferenças políticas mais essenciais hoje não são mais entre a esquerda e a direita, mas entre, por um lado, as pessoas que lutam pelo crescimento e progresso econômico sem entraves e, por outro lado, aqueles que querem compartilhar todo o espaço cósmico vivo com animais, plantas e matéria, e querem legá-lo intacto para as próximas gerações" [74]. A solução, então, está em um novo nacionalismo com uma visão ampla.

Na mesma edição, outro membro do SOS, Veldman, tenta esclarecer as características deste novo nacionalismo em um longo artigo intitulado "Nacionalismo Índigena, o machado ainda não foi enterrado". Nele, Veldman se mostra solidário com a luta dos índios da América do Norte, cujo extermínio gradual ele relaciona com a "imigração massiva de pessoas que não se importam com a cultura e a religião dos povos indígenas" [75]. A responsabilidade pelo genocídio recai, portanto, diretamente sobre a cultura cristã e sobre o progressista iluminista, herdeiro dela, que se recusa a reconhecer a diversidade étnica do mundo. Assim, "a maioria dos índios são nacionalistas, ou seja, pensam antes de tudo no desenvolvimento e na estabilidade da tribo". Entretanto, o objetivo do artigo não é tanto o de reivindicar os direitos das populações indígenas dos Estados Unidos [76], mas o de apresentar os nacional-revolucionários europeus como uma espécie de vanguarda na luta pela integridade cultural dos indígenas da velha Europa. A pirueta é bem conhecida: a Nouvelle Droite francesa do final dos anos 60, recém saída do movimento em favor da OAS e da Argélia francesa, abandonou a causa colonial e reconheceu o direito dos colonizados à existência e à independência; sempre na condição, porém, de que os colonizados não quisessem inverter seu papel e se tornassem invasores por sua vez.

Os argelinos tinham razão em lutar por sua integridade etnoterritorial; o mesmo era válido para os patriotas franceses e europeus. Os direitos dos povos, os autores da ND reconhecerão, são universalmente aplicáveis; não há exceções. Os argumentos de Veldman têm a mesma intenção: "a luta dos índios é nossa luta [...]; os holandeses devem redescobrir sua própria identidade e se tornar nacionalistas em primeiro lugar e acima de tudo". O mecanismo retórico é simples; trata-se de pegar uma idéia do adversário ideológico (aqui, o direito à diferença) e levá-la a suas últimas conseqüências numa espécie de reductio ad absurdum: se se apóia a luta pela própria identidade de culturas à beira da extinção, não seria ainda mais razoável apoiar a luta de mais numerosos povos, para começar, a da própria cultura de origem dos leitores europeus?


Bélgica

Por uma Internacional Neofascista



Robert Steuckers, o teórico mais relevante de uma Nova Direita à la belge, sempre exibirá uma atividade febril e seu nome estará sempre ligado a empreendimentos políticos e metapolíticos nos quais ele acredita encontrar uma certa afinidade ideológica. Ele foi, por exemplo, um dos principais ideólogos do partido político Liège Agir.

Agir, fundada em 1989 e dirigida por Robert Destordeur, será, após o Front National de Daniel Féret, até meados dos anos noventa, a segunda força da extrema-direita na comunidade francesa. E também participará, juntamente com Jean-Eugéne Van der Taelen [77] e Pieter Kerstens, da liderança do grupo Bruxelles Identité Sécurité (BIS) que, fundado em 1994, declara como seu principal objetivo a criação de "uma nova sociedade nacionalista, popular e solidária" (como pode ser lido em um folheto da organização, distribuído em 1995). O BIS mantém muito boas relações com o Front National francês e com o partido flamengo de extrema direita Vlaams Blok e tem publicado desde setembro de 1996 o trimestral Ket, que é freqüentemente distribuído junto com as publicações desta última organização.

Deve-se mencionar também L'Anneau, um pequeno grupo nacional-revolucionário flamengo que durante anos contaria com a colaboração de Steuckers. Desde 1986, L'Anneau tem se dedicado à divulgação das idéias da Nova Direita de Alain de Benoist, e em 1994 começou a publicar a revista Europe Nouvelles. O principal objetivo da organização, como a do GRECE nos anos 70 e 80, era recrutar jovens estudantes universitários com os quais forjar uma elite a serviço da causa nacionalista. Ideologicamente herdeira dos movimentos que surgiram do colaboracionismo, a revista apoiará a anistia incondicional dos ex-assalariados belgas do regime de ocupação nacional-socialista. Em 1994, Ralf Van den Haute, seu editor, foi eleito conselheiro municipal pelo Vlaams Blok em Sint Pieters-Leeuw, partido em cuja seção do cantão de Halle ele ocupava um cargo de responsabilidade.

A partir dos anos 90, o Eroe seria conhecido como o Groupe ou Réseau Europe. Dentro desta organização, Steuckers - que tinha acabado de terminar seu período de treinamento neodireitista em Paris - fundou a revista Orientations em 1981, seguida dois anos depois pelo aparecimento de outra revista mais explicitamente militante com o nome de Vouloir. Durante os anos 80, tanto a organização quanto as revistas multiplicaram suas conexões com todos os grupos radicais de direita em toda a Bélgica. No verão de 1993, Steuckers rompeu com Alain de Benoist e organizou o que poderia ser chamado de dissidência direitista [78] dentro do grupo francês, a rede transnacional Synergies Européennes. Com o apoio do líder da associação L'Anneu, Ralf Van den Haute, Europa se tornará a seção belga de Synergies, um projeto internacional neodireitista com filiais em muitos países europeus [79].

O antiamericanismo extremo e a superação de um nacionalismo restrito através de um apoio decidido a uma Europa unida em uma nova e vigorosa federação serão dois dos legados neodireitistas que Steuckers guardará com o maior zelo:

"No direito internacional, no plano geopolítico, no plano econômico, no plano ideológico, o perigo representado pelos Estados Unidos e as manias que eles exportam são bem visíveis, bem tangíveis. Opor-se à ideologia americana não é a preocupação de intelectuais de salão, de estetas delicados, de fanáticos que se movimentam em grupúsculos, mas é a única forma real de defender os valores europeus, da própria vida cotidiana. Se não queremos que nossas cidades se transformem num Bronx ou que nossos filhos deixem nossas escolas e colégios analfabetos, esta é nossa missão diante das seduções extremamente perigosas que nos chegam da Califórnia e de Chicago. É um combate no qual todos nós podemos e devemos entrar, cada um de acordo com seus meios e possibilidades. Roosevelt, o grande estrategista das cúpulas políticas, havia anunciado que o século 20 seria americano. Confiamos, trabalhamos para que o século 21 seja multipolar: europeu na Europa, asiático na Ásia, e russo no enclave dos dois mundos" [80].

Contra a globalização, entendida como a expansão neocolonialista do ideal igualitário em sua forma mais desenvolvida [81], ou seja, da aliança entre a Bíblia, Dysney e o F-16 que os Estados Unidos da América representam [82], a Europa não tem outra saída senão a união imperial; uma união forte diante das ameaças externas e respeitosa, em seu interior, com as comunidades que a compõem. O futuro é o pluriverso anunciado nas obras de Alain de Benoist, uma organização internacional multipolar de grandes espaços geográficos habitados por populações etnicamente puras. Synergies Européennes e sua projeção política, a Frente Européia de Libertação [Vid. Apêndice], nasceram com o objetivo expresso de avançar na construção desta Europa etnicamente e culturalmente não contaminada.

A ambição dos Steuckers não se limita, no entanto, às fronteiras européias. Com a firme intenção de penetrar nas cabeças americanas, Synergies tem um site na Internet voltado para os usuários da Internet norte-americana. "Synergon Online é um recurso educacional dedicado a introduzir as idéias da Nova Direito europeia a um público americano antes inexplorado. Esperamos que os textos aqui apresentados incentivem o surgimento de novas combinações ideológicas em um continente, e entre uma população, submetida por muito tempo à escravidão da globalização e do materialismo" [83]. Assim, os interesses estratégicos prevalecem sobre a aversão ao inimigo americano.

Notas


1 - GRIFFIN Roger, Interregnum or Endgame? Radical Right Thought in the ‘Post-fascist’ Era, Journal of Political Ideologies, verano de 2000.
2 - MILZA Pierre, Fascisme Français, Flammarion, Saint-Amand, 1987.
3 - http://www.grece-fr.net
4 - Tradução do francês pelo autor.
5 - A ideia é tão velha quanto o próprio pensamento contrailuminista. Como bem se sabe, ela se encontra em Burke e De Maistre. Vid. sobre isso o artigo de Charles Champetier Réfexions sur les Droits de l’Homme en http://www.grece-fr.net
6 - A classificação, ainda que não se mencione no texto, é tomada de Les Systèmes économiques (Larousse, 1979) de Karl Polanyi. Cit. en Charles CHAMPETIER, Homo Consumans. Archéologie du don et de la dépense, Le Labyrinthe, París, 1994, P. 56.
7 - Contradição aparente que, como no caso da oposição liberalismo/marxismo, revela em uma análise profunda seu pertencimento comum a uma mesma visão do mundo, a modernidade. 
8 - As razões, por mais que não se diga explicitamente no manifesto, seriam de ordem pragmática.
9 - Título de uma obra de Alain de Benoist publicada em 1985. 
10 - Alain de BENOIST, Vu de Droite. Anthologie critique del idées contemporaines, Copernic, Paris, 1978, Ps. 431-6.
11 - Alain de BENOIST, La Nueva Derecha, Editorial Planeta, Barcelona, 1982, P. 81. Tradução de César Armando Gómez.
12 - Alain de Benoist. Relire Rousseau?, http://www.grece-fr.net
13 - Carl Schmitt. El Concepto de lo Político, Alianza Editorial, Madrid, 1991, P. 15 y Ss. Tradução de Rafael Agapito. Também alguns representantes da chamada Nova Esquerda estão levando a cabo uma releitura crítica das teses de Carl Schmitt em uma tentativa de reformular uma teoria radical da democracia. Vid., por exemplo, Pluralismo y democracia moderna: en torno a Carl Schmitt, incluído no livro de Chantal Mouffe El retorno de lo político. Comunidad, ciudadanía, pluralismo, democracia radical, Paidós, Barcelona, 1999, Ps. 161-182. Tradução de Marco Aurelio Galmarini.
14 - Aqui a velha crítica contrailuminista se une à crítica libertária, comunitária e ecologista contemporânea.
15 - Jean MABIRE, La torche et la glaive. L’ecrivain, la politique et l’espérance, Éditions Libres Opinions, Paris, 1994.
16 -  O Mouvement Anti-Utilitariste dans las Sciences Sociales (M.A.U.S.S.) nasce no início dos anos 90 impulsionado por alguns intelectuais de esquerda como Alain Caillé ou Serge Latouche com o fim de combater o economicismo dominante. O nome faz referência ao antropólogo Marcel Mauss, autor do Essai sur le don, forme et raison de l’échange dans les sociétés archaïques (1923-1924); a dádiva aparece aos olhos dos membros do movimento como uma forma de distribuição dos bens alternativa ao domínio absoluto da circulação de mercadorias.  Nos últimos anos foi corrente ver aparecer textos de representantes do M.A.U.S.S. na revista transversal de Alain de Benoist Krisis. Charles Champetier reconhece também sua grande dívida com o corpo teórico produzido pelo grupo em seu Homo Consumans (Op. Cit., P.7).
17 - www.terreetpeuple.com
18 - Vial é atualmente Professor de História Medieval na Universidad de Lyon III.
19 - Projeto de internacional europeia de extrema-direita que teria como centro organizador e aglutinante o Front National de Jean-Marie Le Pen.
20 - Antigo membro do comitê de redação da  Nouvelle École.
21 - Tradução do francês do autor.
22 - No fundo, a Volksgemeinschaft nacional-socialista.
23 - Stéphane Bourhis também deixa claro em sua intervenção qual é o significado desta reviravolta - para não dizer distorção - da teoria gramsciana do poder cultural. "A tomada do poder político passa pela tomada do poder cultural, como Gramsci já havia sublinhado. Agora, esta cultura deve ser defendida e salvaguardada. Para nós, a cultura é tanto o fruto da terra quanto o fruto do povo. É por isso que ele difere de continente para continente e às vezes de vale para vale. Nossa identidade cultural está enraizada no fundo de nossa história, em nossas raízes, antes de fluir através de nós [...] O homem desenraizado, aquele que se abandona para esquecer sua cultura e sua identidade, está condenado a vagar de deserto em deserto". Estaria levando a interpretação longe demais ao ver nesta última declaração uma alusão difusa ao povo judeu? Não parece, se levarmos em conta que o próprio Vial fala em seu discurso da existência dos povos da floresta e dos povos do deserto, em clara referência aos povos semitas, cujo espírito e cultura nada teriam a ver com a Europa, genuinamente pagãos. Gramsci seria novamente transformadoa em cúmplice de uma ideologia neofascista em busca de instâncias de legitimação intelectual.
24 - Como Vial e Bérard, foi redator da Nouvelle École, e é autor de uma Histoire de la Reconquista, PUF, Paris, 1998.
25 - Título de uma obra que reúne vários textos de Pierre Vial precedidos de uma entrevista do autor com Olivier Chalmel e prologados por Guillaume Faye. Éditions Terre et Peuple, Villeurbanne, 1999.
26 - La Cause des Peuples. La Lettre de Terre et Peuple, Editorial de Pierre Vial, setembro de 1998.
27 - http://members.xoom.com/grecespain/
28 - Sobre o Grupo de Ricerca i Estudi de Cultura Europea, Vid. http://members.xoom.com/_XMCM/grecespain/GRECE3.html.
29 - http://members.es.tripod.de/TABULARIUM/quees.html
30 - http://www.red-vertice.com
31 - "Os Acampamentos Hobbit foram reuniões realizadas na Itália no final dos anos setenta. Houve três deles. Mas eles se tornaram para toda uma geração a referência obrigatória. É por isso que este espaço dedicado às Alternativas, as Disidencias e os projetos Autónomos leva seu nome."
32 - www.gratisweb.com/kaineus/usuarios.lycos.es/YNALINNE/cor2.htm
33 -  Como membro da ala maximalista da CNT em sua juventude, ele gradualmente mudou seu discurso e suas ações ao longo dos anos para posições mais pragmáticas, o que o levou a fundar a Federação Sindicalista Libertária - e, com base nelas, o Partido Sindicalista (PS).
34 - Dirigente del partido trotskista catalán POUM.
35 - Nuestro Partido contra la Ultraderecha, manifiesto del Partido Nacional Republicano (PNR).
Available from Internet: http://www.tercerarepublica.org/man-ultrader.htm  [cited 25/10/02].
36 - De fato, o partido teve contato pessoal com alguns dos antigos membros do GRECE. Por exemplo: em 17 de novembro de 2000, Faye foi convidada pelo MSR para dar uma palestra em Madri, e em 29 de janeiro de 2002, o Secretário Geral da organização se reuniu com o Presidente da Terre et Peuple, Pierre Vial, a fim de acompanhar as relações entre os dois grupos e coordenar futuros projetos.
37 - Loc. Cit.
38 - Pode-se consultar seu catálogo em http://www.edicionesnuevarepublica.com
39 - http://www.red-vertice.com/msr/noticias_02.html
40 - www.hugin.pt
41 - Jaime Nogueira Pinto, Visto da Direita, ed. Huggin, Lisboa, 2000.
42 - Uma análise mais extensiva da presença de movimentos neofascistas e de Nova Direita na Internet pode ser encontrada em SCHRÖDER, Burkhard, Neonazis und Computernetze. Wie Rechtsradikale neue Kommunikationsformen nutzen, Reinbek, Hamburg, 1995.
43 - Alias Alfred Tetzlaff, vinculado ao grupo Widerstand, cujo nome faz, sem dúvida, referência à revista nacional-bolchevique de igual título, fundada por Ernst Niekisch em 1926.
44 - É o que nos países anglófonos recebe o nome de  Bulletin Board System (BBS).
45 - www.thulenet.com/thnetz/warum.htm
46 - Ib.
47 - Ib.
48 - O nome está diretamente inspirado na organização homônima de Pierre Krebs. 
49 - www.thulenet.com/thnetz/ursprung.htm
50 - Propõem como alternativa a noção de Neue Schule, que recorda, de certo modo, à Nueva Cultura espanhola ou as Nueve Sintesi de Marco Tarchi. 
51 - Entretien avec Marco Tarchi, Élements, Nº 94, febrero 1994.
52 - Sempre segundo o testemunho do próprio Tarchi.
53 - www.diorama.it
54 - Cit. en Breve Storia di un’Ambizione, M. TARCHI, Presentazione di Diorama Letterario, janeiro de 1999.
55 - M. TARCHI, Presentazione della ristampa anastatica integrale dei numeri 14-40 di “DIORAMA LETTERARIO”, La Rocía di Erec, 1999.
56 - Ib.
57 - Destra e Sinistra: Due esenze introvabili.
58 - Destra, sinistra e oltre, en La Rivisteria, Nº 74, marzo 1998.
59 - Vid. o sumário de todos os números de Trasgessioni em www.diorama.it
60 - Vid. www.stormloader.com/thescorpion/intro19.html
61 - Volk, Nation, der Westen und die Neue Rechte, Mark Terkessidis & Witsch, Koeln, 1995. Tradução ao inglês pelo autor.
62 - Corsets and Old Hat, Manfred ROUHS, The Scorpion, Issue # 18.
63 - The Scorpion, Issue # 19.
64 - Drean of Empires, The Scorpion, Issue # 17.
65 - The State, The Scorpion, Issue # 15. (Todos os textos citados podem ser encontrados em www.stormloader.com/thescorpion.)
66 - Ib.
67 - E creio não forçar de modo algum a interpretação dos textos de Walker.
68 - Imperialista no sentido de que o império talassocrático americano seria imperialista: ou seja, como um poder que aniquila as diferenças etnoculturais do mundo. 
69 - http://sol-invictus.com/synthesis/main.htm.  Para uma visão panorâmica do terceirismo inglês se recomenda consultar os vínculos do site de Synthesis e também www.thirdposition.com/blackfront/links2.htm.
70 - http://utenti.tripod.it/ArchivEurasia/
71 - http://www.geocities.com/CapitolHill/1715/
72 - Voorpost posssui uma página na Internet: www.voorpost.org
73 - Tradução do inglês pelo autor. Citado em Together with the New Right against globalization?, Eric KREBBERS, De Fabel van de illegaal, Julio de 1999. Texto em inglês: Alain Kessi.
74 - Ib.
75 - Por mais que se mencione e cite profusamente a rebeldes da causa indigenista como Trudell, Peltier ou Vine Deloria Jr.
76 - Van der Taelen participou também ativamente após a Segunda Guerra Mundial em uma organização encarregada de facilitar a evasão de ex-colaboracionistas com o regime nazista.
77 - Que despertou finalmente o interesse de outro notável dissidente do GRECE, Guillaume Faye.
78 - Uma das mais ativas é, precisamente, a delegação espanhola.
79 - O inimigo americano. Intervenção de Robert STEUCKERS no XXVº Colóquio Nacional do GRECE. Paris, 24 de novembre de 1991. A tradução ao espanhol foi tomada de http://www.red-vertice.com/disidencias/textosdisi03.html. 
80 - Ou o que é o mesmo: em sua forma mais degradada.
81 - Vid. también Sécurité et Défense en Europe en Le Défi de Disneyland. Actes du XX colloque national de la revue Éléments. Le Labyrinthe, Paris, 1987.
82 - Tradução do inglés pelo autor.