por Alain de Benoist e Nicolas Gauthier
(2020)
Impulsionada pelas repercussões do caso George Floyd nos Estados Unidos, a luta liderada por Assa Traoré contra a "violência policial" lhe parece ser um movimento de massas ou apenas o resultado de uma moda e uma agitação marginal cuja extensão seria superestimada por nossa mídia?
O caso George Floyd é uma notícia à qual o sistema midiático, aderido à ideologia dominante, tem dado uma ressonância planetária. A morte de Adama Traoré, outra notícia, não tem nada a ver com este caso, exceto pela cor da pele de dois criminosos multi-recidivistas que morreram como resultado de sua interpelação. Por outro lado, suas repercussões devem tudo à habilidade do comitê criado para defender sua "memória", que foi capaz de instrumentalizar os delírios do politicamente correto e as não menos delirantes conseqüências do movimento Black Lives Matter a seu favor, ao mesmo tempo em que tira proveito da crescente influência da ideologia indigenista.
A amálgama dos dois casos também destaca a americanização dos modos de pensar dos parentes de Assa Traoré, que se vê, ela própria, como uma nova Angela Davis. Como você sabe, todos os modos americanos, seja o Gay Pride, a teoria do gênero ou a "interseccionalidade" das lutas, acabaram se impondo na Europa. Mas o contexto é radicalmente diferente. Os Estados Unidos têm sido confrontados desde o início com uma questão racial que nunca pôde ser resolvida. Recordemos que em 1945, foi uma América segregacionista que conquistou a vitória sobre o racismo de Hitler! Quanto à violência policial, que é de fato comum nos Estados Unidos, ela está fora de qualquer proporção com o que vemos na França. Eu acrescentaria que na França, quando ocorre a brutalidade policial, ela é descaradamente dirigida contra os "gauleses" (com olhos furados, braços arrancados, feridas de guerra), como vimos na época dos Coletes Amarelos, muito mais do que contra a ralé e os migrantes.
Mas, no fundo, o que é esse "pensamento indigenista"?
A ideologia indigenista foi formada em contato com os "estudos pós-coloniais", eles próprios herdeiros dos "subaltern studies" fundados por Ranajit Guha e da "french theory" (Derrida, Deleuze, Foucault), que vêm se desenvolvendo, principalmente na América, há mais de vinte anos. É difícil entender alguma coisa a respeito sem ter se familiarizado com o trabalho de seus principais teóricos (Eduard W. Saïd, Gayatri C. Spivak, Achille Mbembe, Paul Gilroy, etc.). O pensamento pós-colonial tem dois aspectos. Por um lado, há uma crítica radical e, a meu ver, muito justificada do universalismo abstrato da razão ocidental, que, quando estudada em profundidade, se revela como um etnocentrismo mascarado ("valores universais", como a ideologia dos direitos humanos, são universais apenas no nome). E, por outro lado, um postulado muito mais questionável de que as antigas nações colonizadoras jamais poderiam, por uma espécie de fatalidade quase genética, abandonar a visão "discriminatória" que outrora tinham sobre os povos indígenas das colônias. Daí o nome "Indigènes de la République" (Houria Bouteldja), um nome ainda mais grotesco, pois, se nos atermos ao significado das palavras, os verdadeiros nativos de nosso país, o verdadeiro povo indígena, são também aqueles que lá vivem há mais tempo.
A partir daí, uma nova e delirante onda se instaurou, sem deixar se inchar. Percebeu-se muito rapidamente que o slogan "vidas negras importam" não significa que elas também importam, mas que as vidas dos outros não importam ou importam muito menos. Em termos concretos, isto resultou, e ainda resulta, em uma escalada de reivindicações, acusações, julgamentos de intenção, exigências cada vez mais extravagantes baseadas em impulsos coletivos impulsionados por lobbies, da vitimização lacrimejante e do direito de ter direitos, visa "desbranquear" a Europa, denunciar o homem branco como culpado de toda negatividade social, ou mesmo como incapaz de denunciar o racismo, já que um homem branco é necessariamente racista, mesmo quando ele é ruidosamente antirracista (está em seus genes). A ascensão da cancel culture e a histeria dos derrubadores de estátuas, que aos meus olhos são pouco diferentes dos ladrões de túmulos, enquadram-se neste contexto. Para falar mais francamente, a temporada de caça aos brancos está agora aberta.
O que acontece, em tudo isso, com as categorias de racismo e antirracismo?
Tudo mudou. Há trinta anos, a luta contra o racismo consistia em se opor a ele com um universalismo muito clássico, que na França se afirmava como "republicano". A Europa era vista como a "terra dos direitos humanos". As diferenças raciais eram consideradas de pouca importância, a ideia subjacente sendo de que na realidade "somos todos iguais". Na época, estava na moda proclamar a indiferença à diferença. A eliminação da discriminação baseada em "preconceitos" e "estereótipos" criaria sociedades multirraciais harmoniosas e todos os problemas desapareceriam. Além disso, o jacobinismo francês quis assimilar indivíduos, mas não reconhecia a existência de comunidades. As raças, em resumo, eram apenas ilusões de ótica. Esta visão não desapareceu, já que os "valores universais da República" continuam se opondo às diversas formas de "comunitarismo", mas agora ela perdeu toda a credibilidade. A existência de comunidades se tornou óbvia no exato momento em que - ironia suprema - foi decretado oficialmente que "raças não existem".
O movimento indigenista se situa em uma perspectiva completamente diferente. É um movimento de identidade que baseia a identidade na raça - que é a maneira mais pobre de definir a identidade. Vendo (não sem razão) o universalismo como uma mistificação, ele reivindica convulsivamente afiliações étnicas que se pensava estarem enterradas sob uma retórica soporífica. É por isso que os Indigènes de la République desafiam a legitimidade das associações antirracistas tradicionais e rejeitam radicalmente o modelo republicano. Parafraseando Joseph de Maistre, pode-se dizer que este antirracismo não é o oposto do racismo, mas um racismo na direção oposta. É um racismo que se manifesta de maneira aberta e declarada e que pelo menos tem o mérito, lutando do outro lado da trincheira, de deixar tudo bastante claro. As raças podem "não existir", mas a racialização das relações sociais está por toda parte. Como resultado, hoje, entre as reuniões "proibidas para cisgêneros" e as conferências reservadas aos "racializados", conta-se os negros para dizer que não há negros suficientes, assim como sob o Terceiro Reich se contava os judeus para dizer que havia judeus demais. Esta é certamente uma subversão da sociedade, mas não uma subversão do sistema dominante. A forma como as grandes empresas estão se ajoelhando às exigências deste neorracismo mostra que o capitalismo, no final, o vê como nada mais do que uma nova fonte de lucro.