06/04/2017

Nikolas Rahl - Otto Strasser e o Social-Nacionalismo

por Nikolas Rahl



As Origens do Strasserismo

Para compreender o strasserismo e o social-nacionalismo como um todo, devemos examinar as raízes do movimento. Para compreender as raízes do movimento, devemos olhar para o principal ideólogo e cabeça do movimento, Otto Strasser. Deve-se notar rapidamente que muitos envolvidos na tradição do nacional-socialismo parecem confundir os irmãos Strasser envolvidos com o NSDAP. Deve ser esclarecido que a maior parte da teoria strasserista veio de Otto Strasser, o homem que foi perseguido até o exílio pela Gestapo; e apesar de seu irmão Gregor ter sido um personagem importante na história do NSDAP, sua incapacidade de ver que Hitler não poderia ser influenciado levou a seu fim na Noite dos Longos Punhais.

Otto Johann Maximilian Strasser nasceu em 10 de setembro de 1897 na cidade de Windsheim, Bavária. Otto Strasser e seu irmão Gregor Strasser nasceram em uma família burguesa e foram criados como católicos. Quando ele tinha 17 anos de idade, em 2 de agosto de 1914, Otto se uniu ao exército bávaro como voluntário. Ele não era politicamente ativo antes desse momento. Vale notar, porém, que o pai de Otto, Peter, estava envolvido no socialismo revolucionário cristão, um socialismo oposto ao marxismo que nunca conquistou muita popularidade na Alemanha. Durante seu serviço nas linhas de frente na Grande Guerra, Otto chegou à patente de tenente e foi ferido duas vezes. Por seu serviço a seu país na Primeira Guerra Mundial, Otto recebeu uma Cruz de Ferro de Primeira e Segunda Classe, bem como uma Medalha do Mérito.

Quando a Grande Guerra havia acabado, Otto retornou à Alemanha no ano 1919. Não estando pronto para abandonar o serviço militar, ele se uniu aos Freikorps. Através de seu envolvimento nos Freikorps, Otto esteve pessoalmente envolvido na supressão da revolta que resultou na República Soviética Bávara. Otto viu Eisner, o líder da República Soviética Bávara, como ameaça direta a sua pátria alemã e marionete do bolchevismo. Ao mesmo tempo, Otto havia começado a sentir um problema crescente dentro de seu país, mas ainda não havia conseguido situar exatamente o que estava errado. É nessa época que Otto havia se unido ao SPD, o partido social-democrata alemão, procurando respostas. Ele se tornou bastante ativo no SPD, e havia ajudado pessoalmente a suprimir o Putsch Kapp. Foi mais tarde no mesmo ano quando ele avia participado na supressão de uma revolta de trabalhadores no Ruhr que ele percebeu que o SPD era reformista demais (e revolucionário de menos) para ele, e nenhuma mudança viria do SPD.

À essa época, o já desiludido Strasser havia se filiado a uma facção dissidente extremo-esquerdista do SPD, o partido social-democrata independente, também referido como USPD. É aqui que começamos a ver as primeiras raízes do strasserismo e do social-nacionalismo. Através de suas atividades com este partido ele teve a oportunidade de conhecer comunistas radicais como Grigory Zinoviev e ao mesmo tempo havia começado a estudar a obra de conservadores como Arthur Moeller van den Bruck e Oswald Spengler. Isso o levou a frequentar muitas reuniões revolucionárias conservadoras e nacionalistas. É desnecessário dizer que os encontros e estudos de Otto nessa época tiveram um impacto profundo sobre sua própria ideologia.

Em outras partes da Alemanha, em 1925, outras atividades envolvendo o NSDAP estavam se acelerando. Adolf Hitler, que havia sido condenado à prisão por sua participação no Putsch da Cervejaria, estava saindo da prisão e tentando recuperar o controle de seu partido. Enquanto Hitler havia estado na prisão, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) não cessou suas atividades. Por volta dessa época o irmão mais velho de Otto, Gregor, que já era membro do partido há algum tempo havia passado a comandar a facção nortista do partido e teve sucesso em recrutar um grande número de trabalhadores alemães do KPD, bem como muitos trabalhadores alemães sem filiação partidária que estavam passando por tempos difíceis na República de Weimar. À essa época Gregor vinha pregando por um movimento mais radicalmente socialista e muitos dos seguidores de Gregor já consideravam que os 25 Pontos de Gottfried Feder estavam ultrapassados. Isso levaria a um conflito com a facção hitlerista que se formaria no sul da Alemanha; porém isso será mencionado depois. É no ano de 1925 que Gregor convida Otto a se filiar ao partido, vendo nas ideias de seu irmão algo que poderia restaurar a Alemanha e trazer as massas de alemães para fora do abismo do Tratado de Versalhes. Otto aceitou seu convite com entusiasmo. Foi combinado que Otto seria o principal ideólogo do grupo enquanto Gregor seria o organizador. É notável mencionar aqui, que Hitler não era um estranho para Otto. Ele o havia encontrado em 1920, e disse de Hitler que: "Ele não tem convicções políticas, só a eloquência de um orador escandaloso" (Otto Strasser, Hitler e Eu, página 25).

Assim sendo, não é surpresa o porquê de Otto ter se unido entusiasticamente quando ele percebeu que a influência de Hitler no partido estava diminuindo. Foi nessa época que Otto escreveu suas 14 Teses, o que se tornou o programa oficial da facção nortista do NSDAP e veio a substituir os 25 Pontos de Feder. Este foi o primeiro desafio que a facção nortista lançou contra Hitler e novamente vale a pena notar que a maioria do NSDAP no norte não via Hitler como o líder do partido, mas ao invés jurava lealdade simplesmente à ideia nacional-socialista.

Juntos, Otto e Gregor fundaram a publicação Kampfverlag ("Publicações de Combate"), a partir das quais foram lançados vários periódicos, todos defendendo um programa radical socialista que desafiava a recém-formada aliança de Hitler com industrialistas e a aristocracia da Alemanha. Em muitos dos periódicos e jornais lançados a partir da Kampfverlag os Strasser defendiam e organizavam apoio a greves. Depois desse período, na época em que Ernst Röhm defendia uma segunda revolução, a Corporação Krupp passou a se referir àqueles inspirados pelos ideais dos Strasser de social-nacionalismo como "nacional-bolcheviques" (obviamente para zombar do movimento de Niekisch que estava se desenvolvendo na mesma época).

É importante não perder de vista nosso tópico aqui, que é Otto Strasser. É inevitável que após a submissão da facção nortista ao sul, resultado das muitas pessoas que mudaram de lado no último minuto como Heinrich Himmler e Joseph Goebbels, que Otto entraria em conflito direto com Hitler. Em 1930, os sindicatos da Saxônia declararam greve industrial geral. Otto deu apoio total à greve em seu jornal Arbeitsplatt ("Plataforma do Trabalho") e reuniu um número suficiente de S.A. nortistas para defender os grevistas dos rompe-greves. O líder do partido na Saxônia, Martin Mutschmann, era um apoiador absoluto de Hitler e ordenou que Strasser cessasse o apoio às greves em seu jornal e retirasse todos os homens da S.A. das linhas de frente. Otto Strasser e os homens da S.A. que permaneciam leais a ele desafiaram Mutschmann e, assim, o próprio Hitler. Em reação ao desafio de Strasser, Hitler havia ordenado que a Kampfverlag fosse fechada e a liquidação completa de todos os jornais publicados a partir dela. Strasser recusou o ultimato e em 4 de julho de 1930, ele deixou de pertencer ao NSDAP. Ele imediatamente organizou uma nova organização chamada Liga de Combate dos Nacional-Socialistas Revolucionários, também conhecida como Frente Negra. Essa nova organização deixava claro que jamais abandonaria seus princípios nacionalistas ou anticapitalistas.

Otto havia incentivado homens como seu irmão Gregor e Röhm a se unirem a ele, mas ambos viam os espaços que o partido de Hitler vinha conquistando e pensavam poder influenciá-lo. Apesar de ser notável que muitos homens da S.A. que permaneceram leais a ele se uniram a ele. Entre traços únicos na recém-formada Frente Negra estava o fato de que Strasser e seus homens substituíram a saudação do partido de "Heil Hitler!" para "Heil Deutschland!" e juraram lealdade absoluta à ideia nacional-socialista ao invés de a um "Führer" supostamente infalível. O partido não tinha como conseguir força suficiente para competir com o NSDAP, e finalmente com a consolidação do poder por Hitler a Frente Negra foi banida. Membros conhecidos foram presos e Otto Strasser foi marcado como homem procurado. Otto Strasser passou 12 anos em exílio onde ele escreveu suas duas obras mais famosas, Hitler e Eu e Alemanha Amanhã, que contém o grosso da ideologia strasserista. Examinemos essas obras e a ideologia strasserista aqui.

Teoria Strasserista e Social-Nacionalismo

Nas seções seguintes examinaremos o âmago do assunto neste artigo; isto é, as teorias e ideias políticas que Otto Strasser tinha para a Alemanha.

1 - Justiça Social (Econômica)

Vamos começar por uma das principais distinções entre o strasserismo e as tendências hitleristas dentro do nacional-socialismo, que é o conceito de propriedade privada. É a crença daqueles na tradição strasserista, de que a propriedade privada, isto é, a propriedade possuída por um indivíduo (ou muitos, por meio de ações) com o direito indiscutível do proprietário de fazer com sua propriedade o que ele quiser, não é compatível com a ideologia nacionalista, na medida em que os strasseristas veem a nação como um organismo em si mesmo e como crime contra a lei natural que uma parte do organismo exerça suas funções de forma danosa ao organismo como um todo. Portanto, aqueles que se consideram social-nacionalistas afirmam que a nação, e portanto o povo como um todo, tem a reivindicação superior à propriedade, especificamente nos meios de produção. Hoje testemunhamos as fases finais do sistema capitalista, o sistema no qual a ideia de que "a propriedade liberta" fez com que uma burguesia traiçoeira enviasse milhares de empregos para o exterior com o único motivo de lucrar mais, deixando assim milhares de trabalhadores em casa desempregados e, ou sem casa ou dependendo de benefícios sociaias do Estado de Bem-Estar Social para sobreviver. Usurpar a nação e seu povo de seu futuro econômico e prosperidade social é alta traição que deriva do direito de indivíduos de fazer o que quiserem com seus meios de produção possuídos de forma exclusiva.

Ademais, na perspectiva strasserista não é o bastante restringir o fluxo de capital da nação. Strasseristas querem criar uma verdadeira Volksgemeinschaft ("Comunidade do Povo"), e para isso é necessário que o capital esteja nas mãos do próprio povo. Portanto, a socialização da iniciativa privada é necessária, uma demanda ousada da qual muitos nacionalistas tem medo; mas sem isso falharão em criar uma verdadeira comunidade do povo. Essa socialização não será nada como o coletivismo marxista, já que Strasser deixou claro que este tipo de economia tem como modelo o sistema europeu tradicional de guildas. O marxismo, ele afirmava, falhará por causa de suas origens liberais e sua falta de raízes em qualquer coisa tradicional. Otto deixou claro que ele pretendia dar aos trabalhadores alemães voz em seu trabalho.

Vejamos algumas citações de Gregor e de Otto que reforçam esta posição:

"Quem quer que reconheça a verdade no dito 'A propriedade liberta', quem quer que afirme a necessidade de uma camada de sustento em qualquer ordem social satisfatória deve olhar adiante para a nova ordem que objetivará a desproletarianização do povo, e nossa libertação dos monopólios sociais e econômicos sob cujo rastelo nenhuma liberdade é possível"  (Otto Strasser, Alemanha Amanhã, página 65)

"Nós precisamos aprender que trabalho é mais que possessão, que realização é mais que dividendos. O legado mais deplorável do sistema econômico capitalista é que ele nos ensinou a julgar todas as coisas pelo parâmetro do dinheiro, da propriedade, da posse. A decadência de um povo é um resultado incontornável da aplicação desse parâmetro de valor, pois a seleção por propriedade é o inimigo mortal da raça, do sangue e da vida. Nós não temos a menor dúvida de que sob o nacional-socialismo este privilégio da propriedade será anulado, e que a libertação do trabalhador alemão chegará ao ponto de incluir uma partilha dos lucros, uma partilha da propriedade e uma partilha no gerenciamento" (Gregor Strasser, Alemanha Amanhã, página 245, Apêndice)

1. DISTINÇÃO DO CAPITALISMO

a. Não há propriedade privada dos meios de produção. Eles não podem ser comprados ou vendidos, de modo que mesmo que haja pessoas que possuem grandes quantias de commodities ou dinheiro (a riqueza neste sentido sendo possível e permissível) nada como o 'capitalismo' pode vir a existir.

b. A equipe de trabalhadores e o Estado são parceiros igualmente privilegiados com o gerente, que não é um capitalista, mas meramente um aforador/enfiteuta.

c. A necessidade de produção econômica sistemática é  imposta ao gerente porque seus parceiros o superam em número.

d. Cada cidadão alemão é um dos coproprietários de toda a economia alemã.

(Otto Strasser, Alemanha Amanhã, página 164)

Otto Strasser também deixa claro como isso difere economicamente do marxismo:

a. A iniciativa pessoal dos gerentes responsáveis é preservada, mas é incorporada nas necessidades da comunidade.

b. Dentro do gerenciamento sistematicamente planejado de toda a economia nacional pelo Estado (organicamente salvaguardada pela parcela de influência que o Estado tem em cada empreendimento individual) a rivalidade sadia de empresas individuais é mantida.

c. O tratamento do Estado e do empreendimento econômico, quer dizer do funcionário e do gerente industrial, em pé de igualdade é evitado; o mesmo em relação ao poder arbitrário do Estado que priva o trabalhador de seus direitos.

d. Todo mundo que participa no empreendimento é, por virtude de ser copossuidor enquanto cidadão, um dos possuidores imediatos e influentes de seu empreendimento, sua oficina, e pode exercer este direito possessório de maneira plena no conselho supervisor em questão" (Otto Strasser, Alemanha Amanhã, página 165)

Strasser deu detalhes sobre como essa "fraternidade fabril", como ele a chamou, funcionaria. Ele afirmou que os trabalhadores gerenciais teriam um direito a 49% do lucro, enquanto os trabalhadores, além de seus salários, partilhariam de 10% dos lucros. Este modelo não só garante um futuro de justiça econômica para o povo mas aumenta produtividade. Como pode ser observado, em um empreendimento capitalista, os salários e o emprego do trabalhador nunca estão garantidos. Há múltiplos fatores que decidirão se um trabalhador recebe um aumento ou não, e um aumento geral na produtividade não é o único ou o mais importante fator. Um fator relevante que vai na consideração da elevação do salário de um trabalhador é a condição do mercado à época, um mercado sobre o qual o trabalhador não possui controle e um mercado no qual apenas o capitalista tem voz por conta de seu privilégio de propriedade. No modelo de socialização e partilha dos lucros, o trabalhador agora descarta seu papel como objeto da economia e se torna seu sujeito; quanto mais duro ele trabalha, mais dinheiro o empreendimento como um todo faz e assim lhe é garantida uma parce nestes lucros.

Naturalmente, como socialista, Strasser havia defendido tanto saúde universal quanto educação universal. Ele afirma que não deve haver carências artificialmente criadas na vida, especialmente aquelas que surgem por motivos de classe social. Ele escreve como um conservador firme, e apesar de repudiar totalmente a ideia de uma igualdade humana inata em todos os seus escritos, ele sempre foi um apoiador da ideia de que a igualdade de oportunidade é absolutamente necessária.

Talvez um dos planos mais importantes e revolucionários de Strasser para a Alemanha era seu plano para um "seguro de vida" completo. Este termo "seguro de vida" não deve ser confundido com o conceito privatizado de pagamentos a familiares em caso de falecimento de um provedor, mas uma garantia de sustento de vida por mera virtude de ser parte da comunidade alemã. Isso significa que, em épocas de desemprego, um homem tem trabalho garantido por meio de um emprego pelo Estado. A saúde e a educação do homem é garantida, como afirmado antes por um sistema de saúde e educacional subsidiado pelo Estado através de impostos. Nesse esquema de garantia para o qual Strasser também usava o termo "Garantia Nacional", um homem tem sua posição na vida garantida independentemente dos azares que possam lhe acometer. Nas próprias palavras de Strasser:

"Em contraste com os métodos atuais, todo o complicado sistema de seguro e previdência seria substituído sob o socialismo por um seguro de vida unificado. Cada cidadão, portanto, seria garantido de uma maneira que asseguraria uma suficiência não importa o que ocorresse, e independentemente de ele (ou ela) ser temporariamente ou permanentemente tornado inapto para o trabalho" (Otto Strasser, Alemanha Amanhã, página 175)

Ele afirmava que essa forma simples, apesar de necessário, de garantia da própria vida, é realizável pela fusão de todas as companhias privadas (portanto, capitalistas) de seguro existentes em uma agência nacional de seguridade sob direção do Reichsbank. Ademais, o Reichsbank se tornaria o novo sistema bancário nacionalizado da Alemanha e estaria estabelecido de modo a eliminar a usura e a agiotagem profissional que são práticas extremamente comuns dentro de um sistema bancário privado (ou seja, capitalista).

Além de socialismo, Strasser defendia uma forte economia autárquica. A dependência em comércio internacional, ele afirmava, e especificamente no capital financeiro americano, era o caminho para a escravização de uma nação.

2 - Estrutura de Governo e o Sistema Estamental

Como a maioria dos nacionalistas, Otto Strasser possuía um desprezo especial pelo sistema partidário. Porém, Strasser se considerava um homem democrático até o âmago. Em um mundo no qual a mídia burguesa tornou o sistema partidário quase um sinônimo do termo "democracia" é difícil imaginar um sistema democrático operando sob qualquer outro modo além do corrupto sistema partidário. É importante, porém, afastar os mitos que foram impostos ao povo pela mídia controlada e fazer perceber que a América não é o paraíso democrático que afirma ser. Ela é meramente um sistema no qual se recebe a escolha A ou a escolha B, onde ambas são controladas e agenciadas por interesses bancários e corporativos, interesses que vão na contramão dos da nação como um todo e geralmente vão na contramão também do bem-estar da humanidade em geral.

Percebendo isso, ser um strasserista demanda reivindicar a destruição dos partidos políticos que buscam apenas fraturar o povo em uma miríade incontável de diferentes interesses pequenos. Como isso é feito? Deve haver um único partido monopolista como foi praticado sob o sistema hitlerista? Não, a libertação do povo só vem com a abolição do sistema partidário em geral, e os strasseristas levantam objeção contra um monopólio unipartidário tanto quanto contra um sistema multipartidário que mantém o povo fraturado e dividido. Assim, como um Estado sem partido funciona? A resposta é simples. Um retorno ao tradicional sistema estamental. O strasserismo repudia a noção pseudo-democrática de igualdade humana inata e percebe que na medida em que não há dois humanos iguais em habilidade, eles devem diferir no que podem fazer pela comunidade como um todo.

Os strasseristas buscam, portanto, estabelecer um novo sistema estamental, um novo sistema democrático, baseado nas perícias e experiência dos membros em questão. No sistema strasserista haverá cinco círculos maiores e conselhos vocacionais que governarão a vida dos cidadãos, todos operando com base na correspondência entre uma pessoa e um voto. Os cinco conselhos maiores são: O Conselho do Operário, o Conselho do Camponês, o Conselho das Profissões Liberais, o Conselho da Indústria e do Comércio, e o Conselho para Funcionários Públicos.

Ao escrever sobre isso, Strasser elaborou que cada conselho deve ser composto especificamente de vinte e cinco membros e que todos são eleitos por três anos.

Não é só a isso que se limita o governo, porém. Qualquer pessoa lógica lendo isso naturalmente perguntaria: e quanto a um presidente (ou líder geral)? Strasser seria um "Führer" tal como sua contraparte hitleriana? A resposta a isso é também "não". Os strasseristas demandam a eleição de um presidente vitalício. Este presidente será o representante supremo do poder estatal. Uma vez eleito este presidente seria responsável perante os conselhos vocacionais e os estamentos (sobre os quais elaboraremos depois), mas o strasserismo repudia a ideia americana e liberal de que é necessário mudar de presidente a cada quatro anos para dar a ilusão de liberdade e democracia.

Diretamente sob o presidente está uma instituição que Otto Strasser chamou de "Grande Conselho". O Grande Conselho consistiria de todos os presidentes das províncias alemães bem como cinco ministros do Estado e o Presidium da Câmara de Estamentos do Reich. A Câmara de Estamentos do Reich constituiria dez membros, todos eleitos e então nomeados para seu posto, um dos quais servirá à Câmara como o presidium. Estes três corpos, o presidente vitalício, o Grande Conselho e por último a Câmara de Estamentos todos igualmente possuem participação na tomada de decisões políticas nacionais. Portanto, uma lei teria que ser aprovada por dois dos três ditos corpos antes de poder ser promulgada.

Vale a pena notar que nenhum desses funcionários seria privilegiado acima do povo em geral; eles partilharia com as massas tanto das dificuldades econômicas quanto da prosperidade.

3 - Federalismo

Otto Strasser deixou claro que ele desejava manter a Alemanha como uma Alemanha federal. Ele, de modo algum, apoiava a atual divisão de províncias à qual a Alemanha estava submetida, porém. Ele era da opinião de que, apesar de seu respeito por ideais prussianos, a atual divisão federal da Alemanha era resultado da hegemonia prussiana sobre o resto da Alemanha. Como Strasser afirma em Alemanha Amanhã:

"Eu tenho, de fato, bastante respeito pelo espírito prussiano, e tenho bastante noção do papel importante que ele desempenhou na história alemão, para ser movido por qualquer ressentimento antiprussiano como supostamente poseria estar embebido em mim por conta de minha terra natal bávara. Mas meu conhecimento do caráter alemão e da história alemã me convenceram de que a solução particularista prussiana não era mais que um expediente arbitrário que não deixa de ser um expediente arbitrário só por ter sido defendido e adotado por Frederico o Grande e então por Bismarck. Meu entendimento geral dos entrelaçamentos históricos me convence, de fato, de que na época do Estado nacional liberal não havia outra maneira pela qual o Reich poderia ter sido estabelecido senão pela hegemonia da Prússia. Mas o mesmo entendimento agora me informa de que é época fértil para um renascimento da velha ideia conservadora do Reich, uma ideia cuja interconexão mística com o renascimento do Ocidente é pujantemente confirmada pela história dos últimos mil anos". (Otto Strasser, Alemanha Amanhã, página 185)

Por conta da diversidade cultural e religiosa dos alemães, Strasser afirmava que essa nova Alemanha federal não pode e não deve ser governada a partir de qualquer lugar central. Ele propunha que a nova Alemanha federal devia estar realmente unificada, mas que um grau de autonomia deveria ser praticado por cada subdivisão federal. Otto jamais foi claro sobre como ele pretendia dividir as províncias, apenas que as divisões deveria claramente corresponder a entidades geográficas, culturais e tribais. Ademais, cada província deveria ter seu próprio presidente que, como afirmado antes, serviria no Grande Conselho.

4 - Antissemitismo

Para muitos nacionalistas, a questão do antissemitismo é importante primariamente por causa de Adolf Hitler, que é constantemente apontado como inspiração primária para o nacionalismo moderno por nossa mídia burguesa e liberal. Ao se pensar na contraparte socialista de Hitler, porém, a questão que vem à mente é: Otto Strasser defendia algum tipo de antissemitismo? Essa é uma pergunta difícil de responder de forma precisa porque as opiniões de Otto Strasser sobre a minoria judaica da Alemanha variou ao longo de sua carreira ideológica. No início de sua carreira, Otto havia assumido um posicionamento antissemita comparável ao de Hitler. Nas 14 Teses bem como em outros ensaios que Strasser publicava em seus jornais, Otto deixava claro que seu movimento nacional-socialista lutava contra a "decadência judaica" e o domínio do "direito romano-judaico".

Muito depois, porém, particularmente após sua ruptura com a facção hitlerista, STrasser atacou Hitler pelo que ele chamou de "sua impiedosa e desumana campanha antissemita". Otto Strasser dedicou todo um capítulo de seu livro Alemanha Amanhã ao problema judaico. Nele ele afirma que apesar dos judeus serem de fato estrangeiros na Europa, eles estão imbuídos dos mesmos direitos que os alemães. Assim, Strasser prossegue elaborando sua solução para o "Problema Judaico". 

Diferentemente do regime de Hitler, Otto Strasser defendia o direito de judeus alemães de escolherem uma das seguintes opções: 1) Eles podem ficar dentro da grande nação germânica, mas serem marcados como estrangeiros e, assim, só desfrutar dessa categoria de direitos. 2) Eles podem ser nomeados minorias nacionais e receber sua própria região autônoma dentr de uma Aleamnha federal onde eles poderão exercer um grau de autonomia sobre seu próprio povo. 3) Eles podem repudiar tanto sua religião e identidade judaicas e assimilar na nação alemã. Otto Strasser deixou claro que caberia a cada judeu individual decidir o que desejaria fazer.

Notemos aqui que Otto Strasser à época apoiava o movimento conhecido como "Sionismo" como um movimento dedicado à consciência nacional e étnica do povo judaico, como o nacional-socialismo era para seu próprio povo alemão. Porém devido à postura anti-imperialista de Strasser é provável que se Strasser estivesse vivo hoje ele seria um ardente defensor do anti-sionismo. A postura de Otto em relação ao imperialismo é melhor definida pela frase "Para nós, o nacional-socialismo sempre foi um movimento anti-imperialista e cujo espírito estaria limitado a conservar e garantir a vida e desenvolvimento da nação alemã sem qualquer tendência de dominar outros povos e outros países".

5 - Strasser: Clericalista ou Secularista?

Foi mencionado previamente neste ensaio que tanto Otto como seu irmão Gregor nasceram em famílias católicas. Isso, porém, diz muito pouco sobre as perspectivas religiosas de Otto depois, já que podemos observar a profunda mudança religiosa no nascido católico Hitler cujas visões religiosas posteriores refletiam uma quase deificação do conceito de social-darwinismo. O mesmo também valia para Otto Strasser? Ele teria rejeitado o catolicismo em favor do darwinismo, ou talvez apoiado um ressurgimento pagão germânico?

A verdade da questão é que Otto Strasser permaneceu católico até o fim de sua vida. A partir dos escritos de Strasser, é mais provável crer que Strasser permaneceu um católico fiel porque ele equivalia a Cristandade à Civilização Ocidental. Essa não é uma perspectiva imprecisa como um todo também, considerando que a civilização ocidental foi vastamente cristã pelos últimos mil anos.

Mesmo que o leitor não seja cristão, isso não deve dissuadi-lo de perceber o valor das ideias de Strasser. Apesar de ser um firme católico, Otto Strasser havia apoiado um Estado secular ao longo de toda sua carreira política. Ele escreveu em Alemanha Amanhã que ele tinha respeito por todas as religiões verdadeiramente germânicas (apesar de em um dado momento ele ter zombado de Alfred Rosenberg por seu paganismo em Hitler e Eu). Ele falava sobre separação entre Igreja e Estdo em seu livro Alemanha Amanhã:

"Uma separação da principal igreja de um país do Estado similarmente seria benéfica a outras comunidades religiosas, e favoreceria o crescimento de todos os movimentos religiosos genuínos, com cujas questões internas o Estado jamais deve intervir" (Otto Strasser, Alemanha Amanhã, página 206)

6 - Uma Europa Unida

Essa ideia é simples e, portanto, não é necessário falar muito sobre ela. Otto Strasser imaginou um Estado europeu, um Estado europeu unificado onde cada nação europeia manteria sua própria identidade, costume e leis, mas este Estado europeu estaria ligado e unificado pelo ideal europeu e em prol de impedir conflitos futuros entre eles. Cada nação europeia deve entrar nessa união por vontade própria. Essa união deve ter uma força militar unificada, tal como a OTAN, ainda que naturalmente diferindo em sua forma. Strasser deixou claro que a Rússia e os EUA não devem fazer parte dessa união, por não serem parte da Europa. Para finalizar este ensaio, bem como demonstrar o desejo de Strasser de preservar a diversidade dos europeus dentro desses Estados Unidos da Europa, vamos concluir com uma citação inspiradora e esperançosa de Strasser:

"Ela [Europa] é repleta de vitalidade interior que tem sua fonte em suas diferenças nacionais e culturais, e isso é algo que o sr. Dulles e outros apóstolos de uma suposta 'política de integração europeia' não levaram em consideração. É aquela abençoada individualidade de cada nação de nosso continente, são aquelas ricas sombras e graus de diferença entre nós; sejam culturais, econômicas, militares ou políticas, que constroir a base da grandeza da Europa, que dá forma e cor à cultura, à alma da Europa! Nós, europeus, estamos cansados de ouvir essa demagogia idiota sobre como é 'necessário' que a Europa 'se una'! Nós somos espanhois e italianos; franceses, alemães e poloneses. Nós somos suíços, dinamarqueses e suecos, nós somos holandeses, gregos, búlgaros e listentaineses, e apenas nessa medida somos nós 'europeus'. O momento no qual a Europa se permita ser forçada, por considerações práticas, em uma grande unidade miscelânea ('Sua produção seria tão mais barata', nos dizem os Baruchs, os Dulles e os Monets, enquanto eles imaginam maliciosamente quantos juros a mais sua 'Europa Unida' poderia pagar ao Banco Mundial), seria o momento em que a Europa abandonaria seu significado e sua missão; tal como a Inglaterra sacrificaria seu significado e sua missão se ela abrisse mão da Commonwealth" (Otto Strasser, "O Papel da Europa")

Com o nacionalismo crescendo novamente na Europa, vamos torcer para que eles se lembrem do chamado de Otto Strasser e não sejam guiados tolamente a quaisquer outras guerras fratricidas, nem sejam enganados na escravidão financeira capitalista, seja pelo capital industrial ou pelo capital financeiro.