13/03/2011

Nostalgia do Ideal

"Se não percorremos as ruas de Paris, nem andamos sob os tectos da Escola Normal, nem discutimos desde Deus até à L’Action Française com Bardeche, Thierry Maulnier, José Lupin, o certo é, porém, que na fantástica e encantada Coimbra, por noites de Inverno e noites de Verão, falávamos de omne re scibili e, igualmente, Maurras e os seus estavam presentes nas nossas furiosas controvérsias [...] Não colaboramos num Je Suis Partout com Pierre Antoine Cousteau, Lucien Rebatet, Alain Laubreaux, Henri Lebre, André Algarron, Robert Andriveau, André Nicolas; contudo, alinhavámos prosas em pequenos jornais de polémica e doutrina a que demos o melhor do nosso esforço, do nosso entusiasmo, da nossa fé.

Não convivemos com Charles Maurras ou Henri Massis. No entanto, se não visitámos o autor da Anthinea na prisão, ouvindo-o discorrer acerca do comunismo, da Provença e da França, e se não percorremos as ruas de Montmartre com o ensaísta da Defense de l’Occident, que evocava os pintores barbudos de 1900 e recordava Péguy e Barres, ali, na Madre de Deus, no poente de algumas tardes de Outono, escutávamos quem muito bem podia ombrear com eles: Alfredo Pimenta; com frases despretensiosas, mas incisivas, expunha-nos o seu próximo comentário político para A Nação, descrevia-nos a fundação da Acção Realista, falava-nos da Europa vencida e iluminava-nos as rotas do pensamento e da acção.

Não presenciámos la dure floraison dês jeunesses nationalistes, não percorremos a Espanha em guerra, a Itália de Mussolini, nem estivemos no Congresso de Nuremberga, nem na Frente Leste com a Legião de voluntários franceses antibolchevista; não deparámos com o fascismo nas suas horas altas de triunfo, imensa maré-cheia que invadia o continente com os seus desfiles imensos, as saudações de braço estendido, a oratória inflamada, as milícias armadas, os cânticos e os estandartes multicolores, os campos de trabalho e as viagens, a mística da nação e do chefe. De tudo isso só guardamos umas vagas lembranças relativas ao conflito espanhol: os cortejos com donativos para Franco, a notícia de alguns compatriotas que partiam para a luta, o cerco do Alcazar, a criação da Legião e da Mocidade Portuguesa, as atrocidades vermelhas.

De qualquer modo, porém, foi para nós o fascismo, como o foi para Brasillach, encontro supremo, a revelação inesquecível da nossa juventude: sim, esse fascismo que víamos caluniado, prostrado, perseguido, difamado, humilhado, e não sob o sol exaltante da glória, e que nos importava isso! Vencedor ou vencido, era sempre o mesmo fascismo, com o seu ethos de camaradagem viril, o seu gosto da grandeza, o seu desdém dos valores burgueses, a sua apologia da coragem e da disciplina, o seu alto idealismo, a sua exaltação do que é sóbrio, sadio, nobre, a sua aspiração à unidade, à totalidade, ao universal.

No fascismo encontrámo-nos plenamente com Brasillach, ao comungarmos todos, por inteiro, na atmosfera daquela revolução que foi a revolução do século XX e que, seja o que for que as propagandas digam ou proclamem, representa um dos mais altos momentos da história do espírito humano."
(Antonio José de Brito)