por Robert Steuckers
(2020)
A "era de prata" da literatura russa corresponde ao que chamamos de Belle Époque. É um período de protesto contra a autocracia czarista e as inflexibilidades da ortodoxia, mas os expoentes desse protesto, pelo nome que demos a ele, não são revolucionários no sentido marxista do termo.
A primeira figura a ser escolhida nesse mundo nebuloso é Vassili Vassilévitch Rozanov (1856-1919). Esse autor representa um itinerário muito particular; uma vida excepcional, diria Hannah Arendt; uma vida que não pode ser facilmente classificada em um campo conservador ou progressista: Rozanov pensa fora de qualquer partido, de qualquer convicção. "Vim ao mundo", escreve ele, "para observá-lo e não para fazer nada nele". As andanças desse olhar foram devidamente reunidas em um volume com três partes temporais (1913, 1915 e 1918): Folhas Caídas. Uma interessante coleção de várias anotações, escritas não para durar para a posteridade, mas para expressar espontaneamente uma sensação, um estado de espírito. Rozanov quer se conectar com a malícia do copista medieval que rabisca uma piada ou um desenho provocativo nas margens de seu venerável manuscrito. Ele vê nisso a verdadeira literatura, uma expressão anterior à imprensa e, portanto, anterior à modernidade. Para ele, "o que precisamos não é de uma grande literatura, mas de uma vida bela, grande e completa". A verdadeira literatura é um pequeno pátio da casa, nada mais, e certamente não deve ser usada para que estranhos pretensiosos se exibam para seus contemporâneos.
A partir daí, Rozanov inaugura uma das bases da Revolução Conservadora, na qual a contribuição russa é essencial, por meio da conexão que vai de Rozanov ao casal Merejkovski/Hippius e, deles, a Moeller van den Bruck. Que base é essa? Aquele que atende às pequenas coisas da vida cotidiana, aos particularismos mais particulares, pois esses particularismos são o meu eu divino; o divino dos meus semelhantes. Rozanov é um "fisionomista": ele valoriza o olhar, o corpo, a imersão no eu mais profundo. Assim, ele se declara independente de qualquer público, distancia-se, à maneira de Schopenhauer, de qualquer vontade militante e frenética, febril e aquisitiva, de qualquer participação em circos ideológicos ruins.
Despretensiosamente, Rozanov se considera o mais normal dos homens: aquele que vê o que não vêem os partidários de todas as versões esquemáticas que julgam todas as coisas em preto e branco. Ele vê o que os ideólogos não veem. E as coisas essenciais estão no mais íntimo: a verdadeira vida acontece em um lar privado, aconchegante e confortável; ela é "redonda" como um ninho de pássaros. Devemos conseguir criar um "lar redondo" para nós mesmos; dessa forma, Deus não nos abandonará. Esse ninho familiar é a tão almejada ordem doméstica, o domostroï eslavo ou o kahal judaico, que, se destruído, gera um socialismo inorgânico, onde a fraternidade não passa de um engano.
Essa imersão em si mesmo induz Rozanov a odiar o positivismo liberal (ocidental): "O positivismo é o mausoléu filosófico da humanidade em decadência. Não quero ter nada a ver com ele. Eu o desprezo. Eu o odeio. Eu o temo". Toda a natureza está pré-estabilizada porque simplesmente está lá, e é somente lá que as potencialidades que se tornarão realidades podem se expressar. Pensamos no real não duplicado de Clément Rosset. A razão racional dos positivistas é inferior a essa realidade sem duplicata. Quanto à verdade, ela não tem importância em si mesma; ela só tem importância se (e somente se) for constitutiva da realidade real. Parece que é Armin Mohler, admirador de Rosset, que está falando.
Rozanov frequentava a sociedade religiosa/filosófica de São Petersburgo, que buscava modernizar a religião, não em um sentido positivista, é claro, mas dando-lhe novo vigor. Nesses debates, às vezes acalorados, Rozanov denunciava constantemente a rejeição da Igreja Ortodoxa aos fatores vitais, uma posição que lhe rendeu a reputação de revolucionário antirreligioso, ao mesmo tempo em que defendia a causa da Centúria Negra pogromista, que acusava os judeus de "assassinato ritual", e zombava da fraqueza dos progressistas nessa questão. Essa ambivalência o desacreditou aos olhos dos liberais, que, no entanto, eram receptivos às suas críticas à ortodoxia. A petrificação da ortodoxia criou um profundo abismo na alma que acabou levando a uma catástrofe de proporções colossais: engolfou tudo, trono, classe, trabalhadores...
Rozanov desenvolveu seu pensamento religioso: ele não se concentrou diretamente na Igreja Ortodoxa, que, no entanto, nunca abandonou porque, apesar de suas deficiências e erros, ela reserva para seus fiéis um espaço de calor incomparável: pais e parentes são enterrados lá, filhos se casam. O corpo da Igreja consiste nos ritos que dão ritmo à vida, à vida do lar, à vida do ninho. Desde o início, fica claro que a crítica antirreligiosa de Rozanov não é a dos positivistas e liberais, cujas ideias ele considera igualmente petrificadas ou em vias de petrificação. O cerne de sua crítica à ortodoxia russa é vitalista. A doutrina cristã é hostil à vida, ao desejo. Ela se afastou da "árvore da vida", enquanto o Antigo Testamento, que ele reavalia, estava intimamente ligado a ela. O Evangelho, que para ele é um veneno, mas não no sentido em que Maurras o entendia, transmite uma profunda tristeza, um luto permanente. Não é telúrico; e fálico, menos ainda. Ele desconhece o riso e o amor carnal, o único amor verdadeiro.