por Ezequiel Corral
(2020)
"Nesses vinte e cinco anos, perdi uma a uma todas as minhas esperanças, e agora que pareço ter chegado ao fim de minha jornada, fico surpreso com o imenso desperdício de energia que dediquei a esperanças totalmente vazias e vulgares. Se eu tivesse concentrado a mesma energia no desespero, talvez tivesse obtido algo mais." Yukio Mishima - Lições Espirituais para o Jovem Samurai.
O japonês Yukio Mishima é, sem dúvida, um dos maiores escritores de todos os tempos. Por meio de seus romances, ensaios, poemas, filmes e peças, ele foi capaz de desafiar um Japão pós-guerra que estava culturalmente em processo de ocidentalização no final da Segunda Guerra Mundial. Um processo que vinha se desenvolvendo lentamente desde a abertura do Japão para o mundo.
Consequentemente, com a dissolução do império e após sete anos de ocupação, ele acreditava ter visto no colapso dos valores aristocráticos o declínio de todas as tradições milenares e, com isso, o fim do espírito japonês. É por isso que o tema constante de um mundo em transição é palpável em seus escritos, o de antigamente, que despertava os mais elevados sentimentos de heroísmo e nobreza, e o moderno, caracterizado pela perda dos valores que orgulhavam seus antepassados.
Independentemente das razões específicas pelas quais Mishima pode ter considerado esse manifesto nos últimos passos de sua vida, antes de cometer uma tentativa de golpe de Estado e de não conseguir realizar seu seppuku (suicídio ritual), podemos nos basear em seu modelo de vida para nos perguntarmos:
O que é mais importante do que aprender a se desesperar?
O desespero que Mishima enquadra não se refere à imagem de um homem que comete ações incoerentes, desordenadas e inquietas devido à irreparabilidade de um mal que o subjuga. Em vez disso, ele concluiu que o desperdício e a variação de seus impulsos o distanciaram do objetivo que dava sentido à sua vida.
É por meio da percepção positiva do desespero que ele teria sido capaz de se organizar, aproveitar ao máximo seu tempo e realizar sua tarefa com maior precisão.
A modernidade desarticulada nos acostuma a nos alegrar com uma gota de prazer em um mar de absurdos. A nos contentarmos com a ilusão de pular, por prazer, de um lugar para outro e nos escondermos de nossos objetivos mais profundos, esquecendo-nos de quem somos.
Em contraste, nosso arquétipo "desesperado" tem apenas uma tarefa verdadeira e é uno com sua verdade. Ele concentra irreprimivelmente suas energias nela e em si mesmo, não há espaço para mais nada, nenhum movimento, nenhuma direção, nenhuma força que o faça desviar de sua meta.
Se ele descansa, é apenas para recuperar a potencialidade em sua meta. Ele não dorme. Não há nada mais importante. Em seu estado altruísta, sua busca está além de sua individualidade e finitude; sua meta é sua maior justificativa.
O desesperado não apenas entendeu que não há nada pelo que esperar, mas que a espera é uma ambiguidade de sua existência, uma forma de desencontrar e ocultar seu destino.
Mishima desistiu da esperança, mas encontrou o desespero, o que significou, talvez, embora tarde demais, confrontar sua atitude guerreira temperada e moderada. Seu próprio objetivo de ação: canalizar a tarefa de revitalização aristocrática de seu povo e, para isso, organizou o sacrifício do corpo e do espírito.