por Pierre Le Vigan
(2023)
Nietzsche é um perspectivista, ou seja, um pensador que nos diz que tudo é uma questão de ponto de vista. Mas ele também é um vitalista, um modo de pensar que nos diz que a vida - ou seja, o movimento, a metamorfose, a morte e o renascimento - é o valor mais alto, é o que deve guiar a maneira como vemos o mundo. O que se interpõe no caminho da vida? Essa é a pergunta que Nietzsche faz a si mesmo. E, como qualquer médico, ele primeiro tenta entender, começa observando, não relendo seu guia prático ou suas escrituras sagradas.
No centro do pensamento de Nietzsche está a percepção de que não conseguimos "afirmar a vida". Não ousamos fazer isso. Não ousamos viver. Por trás de nossas opiniões, muitas vezes há algo oculto. Por trás de nossas racionalizações, muitas vezes se esconde um medo: o medo de nos afirmarmos, de sermos realmente nós mesmos. Essa é a filosofia da suspeita. Com Nietzsche, podemos ir de suspeita em suspeita, de caverna profunda em caverna mais profunda, cada vez mais rio acima. Podemos e devemos voltar. Não precisamos temer o que descobriremos nessa investigação. Uma jornada terrível, que obviamente inclui a ideia do inconsciente, ou pré-consciente (que precede a consciência, como um preconceito precede um julgamento).