por José Javier Esparza
(2018)
Não se pode dizer o que acontece na França. Porque, se você diz, todo o establishment cai sobre você e te chama de fascista. Como não se pode dizer, se silencia. Mas o silêncio não faz com que o problema desapareça, ao contrário: o enterra e o faz crescer até que explode, e de maneira imprevisível. Então todo mundo vê, mas ninguém sabe já seu nome. E como ninguém mais sabe seu nome, tampouco se pode dizer. Só restam os escombros das ruas destruídas e o negro dos incêndios, e também a cólera que voltará a despertar.
Macron e a Gasolina
Partamos do princípio. No início de 2018, o presidente Macron avalia os problemas financeiros do Estado e decide elevar ainda mais o preço dos combustíveis nos postos: é uma medida que renderá uma grande quantidade de lucros líquidos, por meio de impostos indiretos, e que ele poderá maquiar perfeitamente em nome da luta contra as mudanças climáticas. Macron, sim: o mesmo que havia suprimido o imposto sobre as grandes fortunas assim que chegou ao poder. Mas passado o mês de maio, uma vendedora de cosméticos, Priscilla Ludovsky, lança nas redes sociais uma petição para que se reduzam os preços dos combustíveis: se, de fato, se trata de lutar contra as emissões contaminantes – pergunta-se Patrícia – por que subir o preço somente para os automobilistas, e não para os combustíveis do transporte aéreo e marítimo? Na realidade estamos diante de uma subida camuflada de impostos. E isso em um país no qual a receita por impostos já representa 18,7% do PIB (na Espanha é 9%) e cujos cidadãos suportam o maior peso fiscal da União Europeia: cada francês destina em média 57,41% de sua renda para pagar impostos (na Espanha, a cifra, altíssima, está abaixo dos 50%). Para quem governa Macron? Por que elimina o imposto sobre os ricos e, ao contrário, sobe os impostos sobre a espoliada classe média?