por Alfonso Beltrán
"O fascismo é revolução e não Vendeia, povo e não casta, trabalho e não dinheiro" (Berto Ricci)
"Para trás não se volta, disse o Duce! E para frente, quando se vai?" (Mino Maccari)
"O importante é morrer bem. Morrer bem e com honra. Morrer pelo Duce" (Alessandro Pavolini)
Sob o título L'ultimo Poeta Armato (1) publicou-se recentemente na Itália um interessante estudo sobre Alessandro Pavolini, Ministro-Secretário do Partido Fascista Republicano (PFR) durante a breve e tormentosa etapa de governo da República Social Italiana (RSI), também conhecida como "República de Salò".
Não haveria nada de surpreendente neste fato, se não fosse pela circunstância extraordinária de que se trata do primeiro trabalho sério sobre a vida e a obra do personagem, talvez, mais influente e atrativo da RSI (chegou a ser qualificado como o "Saint-Just de Salò" ou, inclusive, "Lin Biao com camisa negra") saído de um autor e de uma editora que podem ser adscritos sem dificuldade ao complexo mundo político-cultural denominado "neofascismo".
Como é possível que com quase sessenta anos de seu trágico desaparecimento nenhum estudioso qualificado dessa área político-cultural haja sentido a necessidade, não de reivindicar ideológica e humanamente a figura de Pavolini, mas nem ao menos de plasmar por escrito o essencial de seu pensamento e da natureza de sua obra?
Até o momento, sobre Pavolini, à parte condenações unânimes vindos do antifascismo e silêncios cúmplices do neofascismo, existia somente uma biografia onde se narrava de forma novelesca os episódios fundamentais da vida e morte do hierarca fascista, cujo título era já, por si mesmo, bem explícito: Pavolini: O Superfascista.
Publicada pela primeira vez em 1982, escrita a partir de uma aberta hostilidade política, não carecia, porém, de expressões de admiração sincera pela personalidade do único dirigente de Salò preso com armas em mãos e fazendo uso delas antes de ser ferido, capturado e finalmente fuzilado junto a outros ministros e dirigentes fascistas especialmente comprometidos com a linha intransigente e revolucionária que o secretário do PFR encarnava.
"Salò Negra" versus "Salò Tricolor"
Em seu bem documentado estudo, Massimiliano Soldano não entra nas razões que levaram ao esquecimento, à negação, à erradicação até, da figura humana e política de Alessandro Pavolini dentro do ambiente político neofascista, mas aporta significativos elementos de juízo para ratificar uma tese pouco conhecida, mas que não carece de interesse, e que explicaria tomadas de decisão e opções políticas, tanto durante, como depois da experiência história da RSI.
Segundo esta tese, teriam existido, para efeitos interpretativos, duas "Salò". Por um lado, a "Salò Negra", agrupada ao redor do Partido e da liderança de seu Secretário; e pelo outro, a "Salò Tricolor", que afirmava a proeminência da nação, contraposta à facção, quer dizer, ao fascismo, e que se reconhecia nas figuras de militares "apolíticos" e nas proprias Forças Armadas como garantia da continuidade nacional.
As figuras mais representativas dessa última tendência seriam precisamente dois destacados expoentes da casta militar italiana: o marechal Rodolfo Graziani, comandante das forças militares de Salò e Ministro de Defesa; e o príncipe Junio Valerio Borghese, comandante da X Flotilha MAS, uma das mais importantes unidades militares do Régio Exército Italiano até 1943 primeiro e da RSI depois do infame armistício de 8 de setembro do mesmo ano.
Não por casualidade, após a derrota das forças do Eixo e a posterior proclamação da "república democrática italiana", será esta "Salò Tricolor" que encarnará a suposta "continuidade ideal com a República Social Italiana", convertendo-se assim na fonte de duvidosa legitimidade para as forças políticas que reivindicavam a herança do último fascismo.
De fato, Graziani e Borghese, se sucederão na presidência tanto do Movimento Social Italiano (MSI) como das associações de ex-combatentes de Salò, mas nenhum dos dois, assim como muitos outros militares e civis que se identificaram com eles, havia aderido à RSI por razões políticas e ideológicas (nunca foram fascistas, nem nunca se afirmaram como tal) mas por valorações de ordem pessoal e sentimental (meramente patrióticas), quando não para cometer atos de sabotagem interna contra o esforço de guerra da Alemanha nacional-socialista e do fascismo italiano.
O Fascista de "Boa Família"
Alessandro Pavolini nasceu em Florença, em 27 de setembro de 1903 no seio de uma família da alta burguesia toscana. Seu pai, Paolo Emilio, acadêmico italiano, era um dos mais célebres filólogos de seu tempo, especialista em línguas indo-europeias, poliglota e homem de imensa cultura, entre outras coisas, uma autoridade mundialmente reconhecida em sânscrito.
Neste ambiente familiar, elegante e culto, crescerá o jovem Alessandro, frequentando desde a adolescência os salões e círculos da aristocracia florentina e da intelectualidade burguesa mais refinada. Nada podia pressagiar que o jovem de "boa família" se converteria com o passar do tempo no mais radical e intransigente líder do fascismo revolucionário, o mais comprometido com suas tendências sociais (na verdade, socialistas) e o mais firme partidário da linha proletária.
O fascismo florentino, tumultuoso e inquieto, verá em setembro de 1920 o ingresso no partido do jovem intelectual burguês, que participará plenamente nas lutas intestinas do fascio toscano. Em outubro de 1922 se integra nas esquadras florentinas que marcham sobre Roma. De regresso a sua cidade, continua ascendendo no organograma local do Partido Nacional Fascista (PNF), publica seu primeiro livro ("Giro d'Italia", 1927) e se converte, em 1929, em federale da província.
Como máxima autoridade política de Florença realiza importantes iniciativas de caráter civil e, especialmente, cltural. Em meio a uma viva polêmica estética fará construir a nova e funcional Estação Central de Florença. Também serão criaturas suas o circuito automobilístico de Mugello e o estádio municipal de Campo de Marte. Ainda hoje, apesar do tempo transcorrido, sobrevivem em Florença acontecimentos culturais pensados, projetados e postos em marcha pelo futuro comandante das Brigadas Negras: o Maio musical, o encontro anual de "calcio medieval" e a mostra de artesanato em Ponte Vecchio.
No mesmo ano de sua nomeação como federale, Pavolini funda um semanário chamado Il Bargello, órgão da federação fascista florentina, que aparecerá até o ano de 1943 e que será, sem dúvida, "o periódico fascista mais interessante e mais aberto" (Petacco). No mais, o fascio toscano havia dado mostras já de uma inquietude político-cultural e de uma vivacidade ideológica que escapava aos burocráticos esquemas da normalização e institucionalização do regime de Mussolini e do PNF após 1925. La Conquista dello Stato de Malaparte, Il Selvaggio de Maccari ou L'Universale de Berto Ricci, são boa mostra do inconformismo da publicística fascista local.
O Fascismo-regime havia transformado a revolução em administração, marginalizando os partidários do fascismo-movimento que viverão, a partir de então, em uma espécie de exílio interior até a proclamação da RSI.
O Fascismo como Revolução do Povo
"Nosso semanário quer ser um periódico à florentina, não uma revista à americana. Vinho novo e, acima de tudo, vinho nosso", declarará no primeiro editorial de Il Bargello seu diretor, Alessandro Pavolini.
A temática da revista será comum a muitas outras iniciativas espalhadas pelo continente europeu naqueles anos e participará de uma cultura política comum a boa parte da intelectualidade inconformista do entre-guerras, a qual posteriormente será qualificada, um pouco sumariamente, como "fascismo de esquerda".
O fascismo como Revolução do Povo ou como fenômeno universal, como revolução radical contínua ou como vanguarda revolucionária de massas enquadradas totalitariamente em uma batalha antiburguesa e antidemocrática que deveria levar a um mundo novo. Tal é a temática de fundo da revista criada pelo comissário federal florentino.
Por isso, não duvida em aglutinar as três revoluções em marcha na Europa do primeiro pós-guerra: "Massas revolucionárias, disciplinadas e ardentes, enchem as praças e os estádios de Roma, Moscou e Berlim. Camisas negras, blusas soviéticas e camisas pardas. Fascios litórios, estrelas vermelhas, cruzes gamadas. E milhões de faces e gritos. E três almas coletivas".
Nada distinto do que escreveria, alguns anos depois, Ramiro Ledesma Ramos em seu Discurso às Juventudes da Espanha dentro de sua digressão sobre o perfil subversivo da nova Europa revolucionária. E com eles, outros tantos teóricos do pensamento antidemocrático [1].
Da coerência fascista e radical do pensamento pavoliniano já naquela época dá mostra o seguinte fragmento do livro de Soldani: "Contrariamente a quanto se escreveu, o amadurecimento ideológico e pessoal de Pavolini não tem nada a ver com a de Galeazzo Ciano, assim, será precisamente em 1938 (período de êxito para o Ministro do Interior) quando começará o distanciamento intelectual entre os dois: uma fratura insanável por causa, principalmente, do diferente modo de entender o fascismo. O primeiro sinal desse desacordo (...) se manifestará durante a crise espanhola e a guerra civil (...). Durante sua breve etapa espanhola, de fato, havia ficado impressionado pela figura de García Lorca, por suas poesias e por sua trágica morte. [Pavolini] Não admirava Franco, nem a Espanha franquista à que se negava a considerar como um Estado Novo, quer dizer, revolucionário segundo a acepção fascista (...)"
Em realidade, os motivos do apoio do regime de Mussolini ao levante militar de Franco nunca foram de ordem ideológica, como tampouco o foi a hostilidade contra a Segunda República espanhola [2]. Não era algo excepcional, Berto Ricci, um dos principais intelectuais do fascismo radical durante os anos 30, fazia eco dessa falta de compromisso do fascismo com as tendências reacionárias do momento: "As famosas perseguições no México, na Espanha, na Rússia, etc., nos comovem muito pouco e, de qualquer modo, não acreditamos que seja o caso de fazer disso uma questão nacional.
Só uma crítica histórica superficial pôde equiparar o franquismo e os regimes autoritários do entre-guerra por um lado, com o fascismo e o nacional-socialismo pelo outro. E não é demais recordar, neste sentido, que a Espanha franquista não reconheceu nunca a República Social Italiana.
Em 1935, Pavolini, piloto de guerra, participa na campanha da Etiopia. Continua publicando contos e narrativas diversas. Colabora como correspondente internacional na imprensa oficial da época. Viaja ao norte e ao centro da Europa, à Turquia e ao Oriente Próximo, à América do Sul. Escreve naqueles anos seu mais belo e conhecido romance Scomparsa d'Angela.
O Minculpop
Não por azar foi citado anteriormente o conde Galeazzo Ciano. Ciano, genro do Duce, é a estrela ascendente do regime fascista durante os anos 30. Em 1934, Pavolini foi eleito deputado para a Câmara dos Fascios e das Corporações, travando amizade com o então Ministro de Imprensa e Propaganda. Será essa amizade, baseada na paisagem comum e na posse de uma refinada cultura, que impulsionará o jovem poeta e novelista florentino a ascender no organograma político do regime até alcançar sua nomeação como Ministro de Cultura Popular (Minculpop) em 1939, um mês depois do início da Segunda Guerra Mundial [3]. Um cargo com bastante responsabilidade e certo peso específico dentro do Estado.
Afirma Petacco: "O Minculpop que Alessandro Pavolini herda de Dino Alfieri é, na ocasião, uma máquina bem lubrificada que permite ao regime controlar um dos setores mais delicados da nação. Dependem do Ministério de Cultura Popular a imprensa, a rádio, o teatro, o cinema e o turismo. E se trata de uma dependência total. O Minculpop estabelece a linha que todos os periódicos devem seguir, escolhe seus diretores, assinala jornalistas a contratar ou demitir".
Mas, ao fim, se trata de um posto burocrático e, para um poeta que ama a ação, não é um destino que satisfaça suas ambições pessoais e estéticas.
Como Minculpop, assistirá às pouco gloriosas vicissitudes italianas na guerra, constatará o lento declínio do regime da diarquia, entabulará amizade com seu homólogo alemão Joseph Goebbels, expoentes do "romantismo de aço", suas vidas correrão paralelas até o trágico fim de ambos, fieis até a morte a seus respectivos chefes, e conhecerá na meca do cinema italiano, o Cinecittà, a mais famosa atriz fascista do momento, Doris Duranti, com a qual viverá um tórrido romance pouco antes da morte do Ministro.
Em 6 de fevereiro de 1943 é retirado de seu cargo e nomeado diretor do Il Messagero de Roma. À frente desse diario lhe surpreende a queda de Mussolini e de seu regime em 25 de julho. Os acontecimentos se precipitaram e o rei, após aceitar a demissão do Duce e prendê-lo por motivos de "segurança", nomeia o marechal Badoglio como novo Chefe de Governo. Badoglio é um inimigo jurado de Pavolini desde que este denunciara perante o Duce as críticas vertidas pelo marechal em 1940, questionando a capacidade militar de Mussolini na condução da campanha grega.
O novo Chefe de Governo, elemento típico da casta militar monárquica, não é dos que esquecem. Após prometer, falsamente, aos alemães prosseguir a guerra a seu lado, começa a ajustar contas com todos os irredutíveis do fascismo. Ettore Muti, às da aviação italiana, medalha de ouro e heroi da revolução fascista, cairá morto em circunstâncias obscuras nas mãos dos carabineiros enviados por Badoglio para prendê-lo. Pavolini é o seguinte da "lista negra" de Badoglio, mas o deposto diretor do Il Messagero, em paradeiro desconhecido desde 25 de julho, já havia chegado à embaixada alemã em Roma, à espera de partir, por via aérea, para a Alemanha. Ali, será transferido pelos alemães à Prússia Oriental, não muito longe da Wolfschanze, o QG do Führer, compartilhando exílio com outras figuras do fascismo intransigente, Roberto Farinacci, Giovanni Preziosi, Renato Ricci e o próprio filho do Duce, Vittorio.
Na Alemanha conhecerão a traição final da infame monarquia piemontesa e do governo Badoglio quando em 8 de setembro este assina unilateralmente o armistício com os Aliados. "Um assunto sujo", como definido pelo próprio general Eisenhower. Nessa mesma noite, após se reunirem com o Führer no "refúgio do Lobo", Pavolini e Vittorio Mussolini emitem, a partir de um vagão de trem transformado em estação de rádio perto de Königsberg, a primeira mensagem à nação italiana anunciando a formação de um novo governo fascista, o castigo dos traidores de 25 de julho e a continuação da guerra ao lado do aliado alemão, que já havia procedido por sua conta a desarmar e internar as tropas italianas, ocupando o território não invadido ainda pelos anglo-americanos. A guerra continua.
Pavolini: Secretário do Partido Fascista Republicano
Em 12 de setembro, Benito Mussolini é libertado e levado à Alemanha após uma espetacular operação dirigida pelo general de paraquedistas Kurt Student e executada brilhantemente por um comando especial da SS liderado pelo famoso Otto Skorzeny. Chega o dia 14 a Rastemburg, onde é recebido por Hitler primeiro, e pelo "governo fascista provisório" depois.
No dia seguinte dita as primeiras ordens, assumindo a direção do fascismo na Itália e nomeando Alessandro Pavolini secretário provisório do Partido, que dois dias depois tomará o nome de Partido Fascista Republicano. Prediz o castigo dos traidores. Ordena a destituição de todas as autoridades e cargos públicos nomeados pelo governo capitulacionista de Badoglio; e liberta os oficiais do Exército de seu juramento de lealdade ao rei traidor, Vittorio Emmanuel, que havia fugido com sua corte para o sul do país, pondo-se sob a proteção das hordas invasoras anglo-americanas.
24 horas depois, o novo secretário do Partido parte para Roma com a missão de reabrir a sede histórica do fascismo romano, o palazzo Wedekind.
Desde esse dia até o de sua trágica morte, Pavolini viverá somente por e para o fascismo republicano.
Resume a ingente tarefa de Pavolini o historiador Silvio Bertoldi, antifascista implacável, dessa maneira: "De todos os chefes da República Social, Pavolini é o único decidido a ir até o final. Os outros são como certos padres: às vezes creem, às vezes não. Ele crê e basta". Percorre a Toscana e as províncias padanas despertando entusiasmos adormecidos, detendo os que fogem, mobilizando os fieis.
Em 23 de setembro fica constituído o novo governo republicano no qual o novo secretário terá nível ministerial com a prerrogativa acrescentada de que os decretos governamentais deverão ser aprovados por ele antes de ser executados. Isso suporá um poder decisivo em mãos do Partido e de seu secretário, ao qual o próprio Mussolini definia como leal, pobre e valoroso. Porém, no fundo, o Duce o "...temia, também, por seu fanatismo cego, seu rigor ideológico e seu desprezo pelos compromissos e pelas meias medidas. É inclusive provável que Mussolini sofresse com um complexo de culpa diante de um homem que, mais que qualquer outro, naquele momento, encarnava o fascismo mais extremo e desesperado" (Petacco).
O novo secretário nacional do PFR possui já uma ideia clara do que deve ser o novo fascismo republicano: "Pavolini pretende criar um partido novo, restrito, uma "ordem de crentes e combatentes" baseado mais em dados qualitativos do que quantitativos, e que não repetirá os erros do precedente partido de massas. Este novo organismo político devia ser "acima de tudo um partido de trabalhadores, um partido proletário animador de um novo ciclo sem mais obstáculos plutocráticos (...)" e inspirador de reformas "mais que sociais, propriamente socialistas" (Rimbotti).
O Congresso de Verona - Nasce a República Social Italiana
Em 14 de novembro de 1943, o Partido Fascista Republicano celebrará no Castelvecchio de Verona seu primeiro e único Congresso. É, na realidade, uma tumultuosa e tensa Assembleia presidida pela necessidade de castigar os traidores de 25 de julho, que serão finalmente julgados e executados nessa mesma cidade, e de assentar as bases de um fascismo livre dos compromissos do passado.
A liberdade de expressão dos delegados é absoluta. Preside a reunião o próprio Pavolini, que pretende que este Congresso seja um passo prévio para a convocatória de uma Assembleia Nacional Constituinte (que, por causa da guerra, nunca se levará a cabo). Leva consigo um documento redigido por ele mesmo, com a colaboração de Mussolini e do antigo comunista e conselheiro pessoal do Duce, Nicola Bombacci, que resume em 18 pontos a natureza do novo Estado social e republicano.
É o célebre programa-manifesto de Verona. Dividido em três partes (matéria constitucional e interna, política externa e matéria social) ao redor dele se concentrará a linha revolucionária da RSI (a Salò negra) encarnada pelo PFR; e contra ele e contra Pavolini se irá criando uma atmosfera de oposição interna (a Salò tricolor) que tentará sabotar os esforços do partido de levar adiante, ponto por ponto, o programa.
Afirma Massimiliano Soldani: "Assim, como consequência do dinamismo e da intransigência moral da secretaria política, alguns setores do sistema republicano iniciaram uma guerra subterrânea contra o Partido, coagulando qualquer resistência de natureza ideológico-metodológica em um único bloco, para tratar de frear e redimensionar as tentativas de reforma pavolinianas".
As duas frentes dessa guerra subterrânea estavam configuradas do seguinte modo, sempre segundo Soldani:
"(...) [A área] revolucionária (representada por Pavolini, pelo Ministério de Cultura Popular [Mezzasoma], por Barracu e, após o relevo de Buffarini, pelo novo Ministério do Interior de Zerbino) e a moderada (da qual formavam parte o alto comando do ENR, Exército Nacional Republicano, o Ministério de Economia Corporativa, o Ministério de Agricultura, etc.). Paradoxalmente, era precisamente dentro do máximo órgão executivo onde se entrecruzavam as alianças necessárias para retardar, quando não sabotar, a atividade política".
A imagem idílica, utópica, que hoje se quer dar da RSI a partir de alguns meios, choca com a realidade histórica de um sistema, que tendo nascido certamente em circunstâncias desesperadas, seguia refletindo as contradições herdadas do Ventennio, ainda que a correlação de forças agora fosse em teoria favorável ao setor radical, ao fascismo-movimento.
As forças que operavam contra o programa da "socialização", por exemplo, eram bastante poderosas e não duvidavam em alternar artimanhas dilatórias junto com ameaças veladas. Não só os industriais, por razões óbvias, estavam contra o ritmo da "socialização" exigido por Pavolini e pelo Partido. O próprio Ministério de Economia Corporativa não duvidava em lançar areia nos rolamentos, sem esquecer tampouco a presença na Itália do todo-poderoso Rilstund und Kriegsproduktion (RuK), organismo dirigido pelo general Leyers, cuja obsessão era manter e incrementer o volume da produção industrial de guerra das empresas italianas em nome da mobilização total de recursos econômicos para fazer frente aos gastos requeridos pela máquina militar do Reich. E isso sem falar na cúpula militar de Salò, sempre disposta a sabotar os esforços políticos e sociais do partido [4]. Derrubar Pavolini era o passo prévio para desativar a experiência revolucionária da RSI.
Diz, a este respeito, Soldani: "Este secretário do Partido, definitivamente, produzia medo. Medo no exército, na burocracia do Ministério de Assuntos Exteriores, no das Corporações e em um conjunto de poderes alternativamente complementares e antagonistas".
A conjuração desse heterogêneo conjunto de forças conseguiu, finalmente, um triunfo pírrico quando a "ala dissidente" do PFR, comandada por Balisti e Borsani, obteve a exoneração na secretaria do Partido de Pavolini em janeiro de 1944. Mas isso foi uma miragem. Mussolini recapacitou e voltou a confirmar o revolucionário florentino à frente dos destinos do PFR. Não haveria retorno.
Retrocedamos novamente no tempo. Durante o Congresso de Verona, em plenas deliberações, uma notícia comoveu a sala. Iginio Ghiselini, federale de Ferrara, havia sido assassinado em uma emboscada quando se dirigia precisamente a Verona. A notícia corre como pólvora entre os delegados. Se erguem gritos exigindo vingança e os mais exaltados querem ir a Ferrara para realizar uma represália feroz. A duras penas, Pavolini consegue manter a ordem: "Silêncio!", exclama, "Se há que fazer algo, serei eu o primeiro a fazê-lo, mas não se grita na presença de um morto". Logo em seguida, envia a Ferrara uma comissão encabeçada pelo advogado Vezzalini (um dos mais duros do Partido, futuro fiscal no processo contra "os traidores de 25 de julho") e outros squadristas para apurar responsabilidades e castigar os culpados.
Pavolini é consciente já da impossibilidade de fazer frente com argumentos aos bandos homicidas autodenominados "partisans", que assassinam à traição quadros e militantes do recém-reconstituído fascismo. "Eu não sou sanguinário ou maníaco; minha formação mental é muito diferente. Mas tenho a sensação concreta de que ou se atua assim ou não se chega às consciências...", dirá perante os delegados que clamam por vingança. Alertando em continuação: "À violência de nossos inimigos, responderemos com nossa violência multiplicada".
O Congresso de Verona constituirá, espiritualmente, um "retorno às origens do fascismo: aos fascios constituídos como "esquadras de ação". Squadristizare il partito, será o santo-e-senha dos novos dirigentes do PFR. De forma mais poética o expressará Pavolini: "O squadrismo foi a primavera de nossa vida. Quem foi squadrista uma vez o será sempre..."
O Partido Armado - As Brigadas Negras
Alessandro Pavolini passará à "história geral da infâmia" do antifascismo por uma de suas mais radicais intuições, que não é, em realidade, mais que a consequência lógica de uma guerra civil desejada e executada pelo antifascismo militante, por um lado; e, pelo outro, pela vontade expressa manifestada em Verona de squadristizar o partido: as Brigadas Negras.
Transformar todo o partido em um único e compacto corpo armado é um pensamento que se apodera de Pavolini desde os inícios de seu secretariado.
Existia, sim, já uma Milícia, a Guarda Nacional Republicana de Renato Ricci, ex-dirigente da Opera Nazionale Balilla, e firme partidário da politização e fascistização do exército; ao ponto de ter tido um violento confronto pessoal com o marechal Graziani, ministro de Defesa e defensor da "apoliticidade" dos militares profissionais.
Sem embargo, a GNR carecia de homens e recursos adequados para desempenhar suas tarefas com eficácia.
A ideia de armar os militantes do partido e redimensionar militarmente toda sua estrutura política aparece novamente com força, em princípios do verão de 1944, quando os aliados, após terem tomado Roma, se lançam sobre a Toscana. Pavolini mandará armar os militantes florentinos e criará em todo o território ocupado núcleos de "resistenza nera", a fim de fustigar as forças inimigas.
A defesa de Florença, por parte das esquadras militarizadas de camisas negras, será uma das mais belas e dramáticas páginas da história da RSI.
Em 20 de julho de 1944 eclode o complô militar contra Hitler. Em 25 de julho (data já significativa) se torna público o decreto de constituição do Corpo Auxiliar das Camisas Negras, que será mais conhecido como "Brigadas Negras" em contraposição às brigadas de partisans, católicos, liberais, socialistas e comunistas que infestam já o território da República de Salò.
Seu comandante general não é outro que o próprio secretário do Partido. Seu Estado Maior, a própria direção política do PFR. Os comissários federais serão seus comandantes, e comandantes de esquadra os comissários de fascio e de distrito. Não existem distinções de grau. O uniforme é o do Partido, completado com um suéter negro de lã e um gorro montanhista negro com o símbolo da caveira.
Não será esta a única criação pessoal do secretariado do partido durante o ano 44. O Ente Fascista de Assistência (ENF), destinado a socorrer famílias golpeadas pela tragédia da guerra, e o Serviço Auxiliar Feminino (SAF), organismo que centralizava o esforço de guerra das mulheres fascistas republicanas, serão duas emanações orgânicas diretas da linha revolucionária do PFR.
O modelo organizativo das Brigadas Negras está próximo ao do Exército Vermelho idealizado por Trotsky. "Como Trotsky - afirma Pavolini - devemos transformar o partido em um exército revolucionário".
Fiel a seu estilo, o novo comandante general das Brigadas Negras se põe imediatamente em marcha. Percorre incansavelmente a zona ainda controlada pela RSI, junto com seu fiel guarda-costas, De Benedectis, em seu veloz Alfa Romeo sem capota, visitando e conversando com todos os seus novos brigadistas. Sua popularidade na base do partido armado é já considerável. "Leal, pobre e valoroso" até o final.
Do arrojo do outrora delicado poeta, dá boa conta a seguinte anedota. Durante uma visita às esquadras piemontesas das Brigadas Negras em agosto de 44, Pavolini e outros líderes políticos e militares são surpreendidos pelo ataque de efetivo armados de um bando partisan. Produz-se um encarniçado tiroteio e Pavolini, metralhadora em mãos, se lança contra os bandidos, que por sua vez emboscavam os fascistas. Se produzem baixas, entre elas, a do próprio Pavolini ferido pela metralha de uma granada lançada pelos partisans. Estes não reconhecem entre os feridos o comandante das Brigadas Negras. A ausência obrigatória de distintivos no uniforme dos brigadistas negros evita sua captura. Horas depois é resgatado e, após uma curta convalescência, se incorpora de novo à luta política.
Velhos e novos squadristas reconhecem já nele o chefe carismático e valoroso de que precisam. Sobre as Brigadas Negras se estendeu o mesmo manto de silêncio que o que cobriu o próprio Pavolini por parte daqueles que reivindicaram genericamente a herança do último fascismo social e republicano.
O que foram as Brigadas Negras? Será o próprio Pavolini, em dezembro de 1944, que explica:
"As Brigadas Negras são um exército sem distintivos, estando nós, squadristas, persuadidos de que um comandante é tal se manda e se é obedecido independentemente do grau que tenha. O único distintivo é o exemplo (...) As Brigadas Negras não são o Partido que vai ao povo, é uma milícia do Partido que é povo, uma milícia operária e revolucionária, de mecânicos, artesãos, de jornaleiros, de pequenos empregados, em luta de morte contra as plutocracias aliadas dos bolcheviques e contra os plutocratas que subvencionam os bandidos (...) As Brigadas Negras são uma família, essa família tem um antepassado: o squadrismo; um brasão: o sacrifício de sangue; uma progenitora: a ideia fascista; uma guia, um exemplo, uma devoção absoluta e um afeto supremo: Mussolini".
As Brigadas Negras tomarão, ademais, cada uma o nome de um caído do fascismo republicano. Assim, a "Aldo Resega" de Milão, a "Muti" de Ravenna, a "Ghiselini" de Ferrara, etc.
Fascismo Social ou Socialismo Fascista?
Os inimigos das Brigadas Negras, além dos bandidos partisans e dos anglo-americanos, serão os mesmos que os do partido e os de seu secretário.
Citemos apenas um exemplo revelador: "(...) Adriano Bolzoni, em uma obra autobiográfica, quis recordar que, junto a seus camaradas da 'Barbarigo', cantava uma canção cujo refrão repetia: 'Disparai por Deus contra os bárbaros, disparai contra as Brigadas Negras'."
Se isso cantavam os efetivos de uma unidade de combate da Décima MAS, a força mais compacta e disciplinada do Exército Nacional Republicano, comandada pelo célebre Junio Valerio Borghese, imaginemos as condições em que as Brigadas Negras deviam desempenhar sua missão junto a unidades militares que faziam profissão de ódio ao fascismo e aos fascistas.
Presos em um falso patriotismo de marca burguesa, os representantes da casta militar e seus cúmplices do aparato administrativo e estatal nunca tiveram a menor intenção de chegar até o fim na luta contra as plutocracias burguesas e capitalistas ocidentais, tal como exigia a propaganda da RSI.
O patriotismo das Brigadas Negras não é já aquele do "Ventennio": nacionalista-burguês, micro-imperialista, quase de opereta: "A palavra Patria - afirma Pavolini em um discurso - é uma grande palavra, como a palavra mãe, mas todos podem invocá-la e não é suficiente declarar-se a favor da Itália quando existe também uma Itália de Badoglio e de Palmiro Togliatti. Nossas divisões que voltam da Alemanha levam sobre as baionetas uma ideia política". Essa ideia política, esse novo patriotismo, é o fascismo, pelo qal luta e morre a "Salò Negra".
Assim, não será estranho que sejam aqueles elementos nacional-burgueses os que boicotam, de forma discreta, mas eficiente, um dos últimos projetos do Duce e de seu secretário: o chamado Reducto Alpino Republicano (RAR).
Basicamente, tratava-se, diante da evidência de uma guerra irremediavelmente perdida, de refugiar-se na Valtellina, uma região alpina italiana com fama de inexpugnável. Ali, os últimos fieis da RSI e do Duce, junto com as tropas alemães destacadas no norte da Itália, resistiriam ao assalto final das hordas americanas e dos bandos mercenários partisans, ultimando com seu sacrifício, a sorte do fascismo. "Na Valtellina se consumarão as Termópilas do fascismo", reconhecerá Pavolini.
Mas pelas costas de Pavolini e do Duce, a única coisa que se consumava era a traição. Os alemães já haviam começado, na Suíça, conversas secretas com os Aliados através do general da SS Wolff, para preparar a rendição de suas tropas na Itália. Graziani se negava a dirigir suas tropas para o RAR, buscando render suas tropas aos americanos: "Entre militares nos entendemos sempre" repete. É hora do "salve-se quem puder". De fato, alguns militares começaram a colocar as divisas militares do Régio Exército por cima das próprias do ENR. A "mudança de jaqueta" é literal.
Em 25 de abril de 1945, Pavolini se enfrenta ao comandante da Décima MAS, Borghese: "Que vais fazer agora?" - pergunta - "Nos renderemos", responde o futuro "príncipe negro". E estavam a ponto de chegar às vias de fato.
Soldani reconhece que: "...Não é nossa intenção nos determos nos últimos dias de vida da RSI e de seus máximos hierarcas, mas um dado vale por todos: quase todos os generais, inclusive naturalmente Graziani, ministro de Defesa da RSI, membro do diretório do Partido, comandante do corpo de exército Liguria, assim como maior defensor da conscrição obrigatória, sobreviveram às depurações do pós-guerra. Ademais, este último deverá sua salvação aos serviços secretos americanos, com as quais estava em contato desde 26 de abril".
Paralelamente, os partisans, especialmente os comunistas, iam eliminando fisicamente àqueles fascistas mais fortemente comprometidos com a linha socialista e intransigente da RSI em um tipo de "anti-seleção" contrarrevolucionária que se revelaria funesta para os interesses das classes mais desfavorecidas da sociedade. São as matanças finais, conhecidas como "primaveras de sangue".
Baste, como exemplo, o de Giuseppe Solaro, jovem comissário federal de Turim, estreito colaborador de Pavolini, que aplicará os decretos socializadores na FIAT do todo-poderoso Agnelli. Em abril de 1945, será enforcado pelos partisans "na presença de seus familiares e seu cadáver arrastado pelas ruas da cidade".
Apesar do caos instaurado dentro da RSI, produto da iminência da derrota final, o secretário do PFR tem tempo de convocar o segundo e último Diretório Nacional do Partido em 30 de março de 1945.
Tem este conclave um claro caráter recapitulador da natureza histórica do fascismo e seu papel específico dentro das ideologias do século XX. Segundo Pavolini e o grupo próximo a ele, o fascismo havia assumido um preciso valor revolucionário e por isso podia definir-se como um movimento tendencialmente socialista. Sem embargo, tal definição ideológica encontra o rechaço inclusive de alguns colaboradores de sua linha, incapazes já de seguir em suas argumentações ao mais intransigente de todos os fascistas. Não em vão, na RSI, se assiste à recuperação integral por parte da secretaria do PFR e seus órgãos de propaganda do pensamento político do Risorgimento italiano e de suas figuras mais importantes, os Mazzini, os Pisacane, os Garibaldi, assim como da primitiva tradição sindicalista soreliana e republicana dos fascios, que a política "concordatária" e conservadora do ventennio havia marginalizado [5].
"Sob este aspecto, o fascista Pavolini superava indiscutivelmente o regime passado, conseguindo dar nível de lei às declarações de princípio: uma predisposição revolucionária que, ainda devendo enfrentar-se com a linha reacionária de alguns ministros, não será nunca em absoluto abandonada".
De fato, o comandante das Brigadas Negras não duvidará em pôr-se ao lado daqueles que, como o velho sindicalista Grossi, atacavam os ministros técnicos da RSI, Tarchi da Economia, Moroni da Agricultura ou Pellegrini das Finanças, por suas descaradas táticas burocrático-dilatórias. O próprio Grossi recorda as palavras encomiásticas de Pavolini: "Grossi está entre aqueles que melhor compreenderam a finalidade política e social da socialização". Mas também a solidão e a incompreensão do ministro secretário. "Aquelas palavras de Pavolini foram vigorosas e amargas ao mesmo tempo; deixavam entrever o comportamento ambíguo de parte das hierarquias político-administrativas da RSI".
A "socialização", portanto, não era mais que um meio útil, uma aplicação social de um projeto revolucionário mais vasto que, na concepção do mundo, do partido e da sociedade, assumida por Alessandro Pavolini, deveria levar à criação de um verdadeiro Estado republicano dos trabalhadores, de uma autêntica comunidade nacional-popular, parte constitutiva da futura União de Repúblicas Socialistas Europeias, ambicioso esquema continental no qual durante o último período da guerra trabalham as elites da Nova Ordem europeia.
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Os últimos dias de Mussolini e seu regim são bem conhecidos. Livros, revistas, séries de TV ou filmes, evocaram a sua maneira a prisão, execução e o posterior vergonhoso ultraje a seu cadáver.
A sorte de seu secretário correrá paralela à do Duce, constituindo o testemunho final de uma coragem e de uma lealdade que não se deteve nem diante da morte. "O importante é morrer bem. Morrer bem e com honra. Morrer pelo Duce", havia assegurado Pavolini a seus camisas negras em Como, um dia antes de a coluna ítalo-alemã em que ia o Duce, Clara Petacci e alguns de seus ministros e hierarcas ser interceptada por efetivos da 520ª brigada partisan "Garibaldi". Os partisans permitem passagem somente aos alemães. Como é sabido, Mussolini e sua amante se integram na coluna alemã com a intenção de atravessar as colunas inimigas. Serão descobertos e fuzilados pouco depois.
Abandonados a sua sorte, Pavolini e os seus deliberam. O caminhão blindado em que viajam os dirigentes fascistas começa a se mover. Os partisans abrem fogo. Explodem as granadas em sua passagem. O veículo fica imobilizado. Dentro do carro jazem vários squadristas mortos. Alguns querem se entregar. Sem embargo, o secretário do PFR não tem intenção alguma de se render. "Devemos morrer como fascistas, não como velhacos" grita, enquanto salta do caminhão disparando sua metralhadora contra os bandidos. O seguem vários de seus correligionários. Os partisans respondem ao fogo. Um após o outro, os fascistas vão sendo capturados, exceto Pavolino que, sem deixar de disparar, tenta ganhar a borda do lago Como. Ferido, exausto, se lança nas águas gélidas do lago, até alcançar umas pedras, desde onde segue esgotando sua munição. Horas depois é finalmente preso, semiconsciente, meio ferido e com sintomas de congelamento. Levado ao município de Dongo, onde já foram agrupados os fascistas capturados anteriormente, escuta impávido à sentença que condena a ele e a seus camaradas à pena capital, ditada em pessoa pelo tristemente célebre Walter Audisio, apelido "coronel Valerio", que umas horas antes acaba de executar a Mussolini e Claretta Petacci.
Os ministros Mezzasoma, Casalinuovo, Zerbino, os federali Utimpergher e Porta, o secretário do Duce Gatti, o medalha de ouro e subsecretário de Estado Barracu, o professor Coppola, o conselheiro e amigo pessoal do Duce Bombacci, assim até chegar a quinze, são levados em fila indiana até o lugar de execução. Deixemos que Petacco narre os últimos momentos de Pavolini e dos seus: "A longa fila dos condenados está agora em silêncio diante do pelotão de execução. Nenhum dá sinais de debilidade. Pavolini, entre Zerbino e Casalinuovo, se 'ergue orgulhoso e rigido'", como comenta um testemunho ocular. Em um certo momento, tem forças inclusive para ordenar "firmes!" a seus companheiros. A "bela morte está para chegar". É o fim.
Transportado com os outros cadáveres para Milão, o de Alessandro Pavolini ficará também exposto junto ao de Mussolini e dos outros hierarcas, pendurados de cabeça para baixo diante das turbas sub-humanas que na praça Loreto celebram sabá triunfal.
Seu corpo será enterrado no cemitério de Musocco, Milão, em companhia de vários milhares de camaradas fascistas assassinados pela frente vermelha e pela reação. Por vontade expressa de sua família, seus restos continuam ali.
Notas
1 - "Nós não amamos Hitler por ele representar na Alemanha um elemento de ordem; o amamos por ele representar um elemento de desordem na Europa" (Berto Ricci, “La Rivoluzione Fascista. Antología di scritti politici”, SEB, 1996)
2 - Cf. Ismael Saz Campos, “Mussolini contra la 11 República”, IVEI, 1986.
3 - Amizade e gratidão que não serão óbices para que Pavolini assuma a responsabilidade de mandar seu antigo amigo ao paredão, evitando que a petição de graça escrita pela mãe do conde Ciano chegasse às mãos de Mussolini, o que poderia ter ocasionado problemas de consciência para o Duce.
4 - Graficamente, Rimbotti expõe o problema: "A RSI teve todos contra si: os industriais, a Igreja, os trabalhadores, os próprios alemães, sem contar os exércitos anglo-americanos, na terra e no ar".
5 - Apóstolo da "revolução dentro da revolução", Pavolini confessará a sua amante, Doris Duranti, seus verdadeiros objetivos sociais: "o fascismo no qual eu acredito...não existe ainda, (...) outro dia Mussolini disse uma coisa que desagradou a muitos, mas não a mim. Ele disse que a cartilha de racionamento não será abolida nem mesmo após a vitória, assim os Agnelli e os Donegani comerão como seus trabalhadores. Produzir com a inteligência ou com as mãos é o mesmo, quem não produza, não terá lugar na Itália que estamos construindo".
Bibliografia
· Massimiliano Soldani, “L Vltimo Poeta Armato. Alessandro Pavolini, Segretario del PFR’, SEB, 1999
· Arrigo Petacco, “I1 Superfascista. Vita e Morte di Alessandro Pavolini’, Mondadori,1998
· Giorgio Bocca, “La Repubblica di Mussolinl’, Laterza, 1977
· Silvio Bertoldi, “Saló. Vita e morte de la RSf’, Rizzoli, 1976
· Vincenzo Vinciguerra, “Camerati, addio”, Avanguardia, 2000
· Salvatore Francia, “L ‘Altro Volto della RSI”, Barbarossa, 1988
· Pino Romualdi, “Fascismo Repubblicano”, Sugarco, 1992
· Marino Vigano, “Il Congresso di Verona’, Settimo Sigillo, 1994