Por Alain de Benoist
Penso que aquela corrente a que
geralmente chamamos Esquerda ou Extrema-Esquerda, teve o mérito de ter sido a
primeira a tomar consciência da realidade estrutural da inter-conexão de todos
os sectores da mente e da actividade e, consequentemente, da realidade da
impregnação ideológica destes sectores. A chamada Direita, pelo contrário,
conservou-se durante bastante tempo prisioneira da ideia ilusória de que havia
sectores “neutros” – ou (de um modo ligeiramente diferente) de que era possível
voltar à situação anterior, na qual um consenso implícito era alcançável nestes
sectores. Temos na França um bom exemplo dessa diferença de atitudes no campo
da educação. Enquanto a extrema-esquerda se vai apossando de um importante
número de posições-chave na educação secundária e universitária, a direita nada
mais faz do que lastimar a “politização da escola”, que aparece de facto como
irreversível (e que está hoje especialmente aberta ao criticismo porque é
unilateral).
Aquilo que, no debate intelectual, fez a superioridade metodológica do
esquerdista, foi ele ter sabido (e continuar a saber) o que cada um tem que
pensar, do seu ponto de vista, em tópicos que são, à primeira vista tão
diferentes como as relações de produção na Idade Média, a pintura abstracta, a
invenção do cinema, o “Design” de “Mass Housing”, a genética molecular ou a
teoria “Quantum” (ou pelo menos ele sabia que neste, como em qualquer outro
tópico, a doutrina que ele tinha como sua, tinha uma palavra a dizer). A
Direita pelo contrário não entendeu que não havia “verdades da ala direita” e
“verdades da ala esquerda”, mas sim, caminhos de direita e de esquerda (para
mais uma vez utilizar expressões convencionais) com o fim de calcular os factos
admitidos, adquiridos pela mudança de conhecimento, organizando-os,
colocando-os numa perspectiva particular que lhes dará igualmente um
significado particular.
E é provavelmente a razão porque a esquerda e extrema-esquerda acertaram
sempre mais sistematicamente na teorização, na formalização do seu “Approach”
epistemológico e doutrinário, na criação de um corpus ideológico, útil para ser
usado como referência em discussões posteriores.
Quer isto dizer que não há “ideologia da ala direita”? Claro que não. Mas em muitos casos, poderíamos afirmar que esta ideologia apenas existe por dentro, de uma maneira implícita. A direita ignora muitas vezes as suas potencialidades; muito raramente teve noção de todas as implicações das suas próprias aspirações. A sua “mensagem” está presente mas não explícita. Todo o trabalho, agora, consiste em trazê-la à superfície.
Quer isto dizer que não há “ideologia da ala direita”? Claro que não. Mas em muitos casos, poderíamos afirmar que esta ideologia apenas existe por dentro, de uma maneira implícita. A direita ignora muitas vezes as suas potencialidades; muito raramente teve noção de todas as implicações das suas próprias aspirações. A sua “mensagem” está presente mas não explícita. Todo o trabalho, agora, consiste em trazê-la à superfície.