por Dante Sasmay
Wagner foi o filho heróico do seu tempo e também um “mago” visionário. Na sua tetralogia escreveria o começo do Mundo e a sua dissolução…e depois, o profundo simbolismo de um Parsifal ou um Lohengrin. A sua arte elaborava-se para a posteridade, por isso também lhe chamaria, à sua regeneradora concepção, a “arte do futuro”. Todo o herói ou heroína dos seus dramas aspirava a uma totalidade que, quiçá, só se encontrava no porvir. Como é o caso de Senta, a mulher pura, que redime o “holandês errante” no seu trágico e obscuro peregrinar pelas águas: "Senta já não é a guardiã doméstica, a outrora pretendida Penélope de Ulisses, senão a mulher em geral, mas não a mulher preexistente, antes a desejada, a ansiada, a mulher infinitamente feminina, para dizê-lo com uma só palavra: a mulher do porvir".
O génio transformou-se com o tempo num “deus” que foi capaz de reunir em si mesmo o artista total, o artista do futuro: músico, encenador, poeta, ensaísta e mágico. Quiçá isto, para além de outras causalidades, levou-o a aparentar-se com outro ser visionário, outro espírito acutilante daquele espantoso século XIX, Friedrich Nietzsche, que seria o seu grande amigo até à ruptura final.
O génio transformou-se com o tempo num “deus” que foi capaz de reunir em si mesmo o artista total, o artista do futuro: músico, encenador, poeta, ensaísta e mágico. Quiçá isto, para além de outras causalidades, levou-o a aparentar-se com outro ser visionário, outro espírito acutilante daquele espantoso século XIX, Friedrich Nietzsche, que seria o seu grande amigo até à ruptura final.
O certo é que ambos foram influenciados pela fascinante leitura de Schopenhauer, convertendo-se este espírito tutelar no mestre de ambos. Assim escreveria Nietzsche da música e experiência wagneriana: "Esse mar schopenhaueriano de sons, cuja força mais secreta sinto, pela sorte de ser a minha experiência da música Wagneriana uma intuição jubilosa, um maravilhoso encontro comigo mesmo".
Wagner, o agitador político, o socialista revolucionário, e logo acérrimo nacionalista, o anti-semita, o destrutor do poder transfigurador da música, são frases cunhadas pelos seus detractores. Jamais um guerreiro no meio do caos poderia encontrar um caminho simples. Só o seu idealismo puramente alemão e a sua afinada vontade e obstinação lhe outorgariam a glória que conheceria nos seus últimos dias. No começo todos os seus projectos , retratados nos seus escritos políticos e estéticos, não seriam mais que belos sonhos do ocaso, mas só o trabalho férreo e a disciplina o levariam à realização do seu Opus.
Na sua figura e na arte confluem a totalidade ambicionada, o fim de todo o ideal. "Wagner pertence como músico aos pintores, como poeta aos músicos, como artista em geral aos actores, todos eles fanáticos da expressão a qualquer preço"(Nietzsche, “Para além de bem e mal”).
A sua arte já não seria a do burguês nem a do aristocrata, só a arte da nação, levando os elementos do “volk” alemão à sua mais alta expressão, para que assim esse povo pudesse ver-se divinamente reflectido, tal como sucedera com a Tragédia na antiga Grécia (…)
Talvez a sua arte seja também a nossa arte. Para esses outros que buscam e amam o eterno ele guardaria na primeira pedra do Teatro de Bayreuth, inscrito numa placa de cobre a seguinte legenda: "Aqui encerro um segredo, que descanse por muitos séculos, enquanto a pedra o guarde, revelar-se-á ao mundo".