24/05/2011

Canto de Ronda e Patrulha

por Rodrigo Emílio


Às costas, levo a mochila;
ao ombro, a arma de fogo;
a tiracolo, o cantil;
o képi, sobre o sobrolho;
e, em perfeita simetria,
um bom par de carregadores
afivelados à cinta
com amor. (Com muito amor...)

Implantadinhas, a fio,
sobre o cinturão de couro,
como laranjas, cintilam
granadas verde-azeitona.

Dorme o sabre na baínha;
e, a completar a panóplia,
o metálico perfil
da clássica pistola.
(Sua forma se adivinha
pela linha de contorno
que a recorta, que a define,
que lhe molda vulto e corpo
— de objecto clandestino,
ou meramente de adorno?!... —
‘à sombra e á revelia
do cabedal que a esconde).
 
À vista, é negra retinta:
tem a aparência de um corvo
pintado a tinta-da-China,
e ao delandão sobre a coxa.

— Levo, sim, levo comigo,
cativa a bordo do coldre,
a 7,65
que lá dorme a sono solto,
como uma ave no ninho,
tão pronta a levantar vôo
ao mais pequeno ruído,
como a Walter a abrir fogo
ao menor sinal de perigo.

Porque disso é que ela gosta:
não andar senão aos tiros;
camuflar-se num bosque
p’ra jogar às escondidas
com a vida e com a morte,
com a morte e com a vida;
polvilhar, à sua volta,
tudo de pólvora e alarido;
esperar pela resposta
que lhe dê o inimigo
e, de encosta para encosta,
ouvir ladrar o gatilho.

Disso, sim, é que ela gosta
— e não de fazer turismo,
por conta cá do janota.
(Às costas, levo a mochila;
em bandoleira, a canhota).
 
Ao som de esporas, espigas
— uma após outra — despontam,
como loiras raparigas
a prestar-me guarda-de-honra.
Filmo-as no ponto-de-mira
da minha metralhadora,
perfiladas em sentido,
cada qual lá no seu posto.

Sou alferes de infantaria.
(— Estou de ronda ou ando a monte?...)
Já não sei que mais vos diga,
Senão que — mesmo de longe —
dá gosto passar revista
à guarnição do horizonte!...