19/06/2025

Alberto Buela - Lasch e a Teoria da Família

 por Alberto Buela

(2017)


 

Caiu em minhas mãos um pouco por acaso e outro por curiosidade, um livro do sociólogo e historiador, com muito de psicólogo, o norte-americano Christopher Lasch (1932-1994), com um título peculiar: Refúgio de um Mundo Impiedoso (1979).

Lasch é famoso por seus dois monumentais livros: A Cultura do Narcisismo (1979), onde estuda o individualismo crescente da cultura narcisista, que se manifesta no aforismo: se você age pensando apenas em si mesmo, está fazendo o bem. O modelo a seguir é o do "empreendedor" ou "gerente" bem-sucedido que pensa unicamente em seus próprios interesses, custe o que custar socialmente. E o outro: A Revolução das Elites e a Traição à Democracia (1994). Neste, ele sustenta que a democracia não está ameaçada pelas massas, como afirmava Ortega y Gasset, mas sim pelas elites compostas por gerentes, universitários, jornalistas e funcionários que a utilizam para seu próprio benefício, desvirtuando-a.

Nesta obra que comentamos, Lasch estuda, ao longo de 270 páginas, o desenvolvimento da teoria da família.

Já no prólogo, o autor, que se considera de extrema esquerda, defende-se dos ataques dessa mesma esquerda, que o acusa de ser "maravilhosamente reacionário", mas que encerra em suas páginas uma crítica astuta e brilhante às pretensões da ciência social moderna.

Lasch defende-se e afirma que "o feminismo, assim como o radicalismo cultural da década de 1960 que o originou, é simplesmente um eco da cultura que diz criticar". Ele sustenta a ideia da família como organizadora da comunidade.

Na Introdução, ele é contundente ao afirmar que a ciência social moderna, ao sustentar que o princípio da interdependência governa toda a sociedade atual, distorce a socialização da reprodução, a expropriação da criação dos filhos por parte do Estado e das profissões relacionadas à saúde e ao bem-estar. Por isso, ele nega que são os homens que fazem sua própria história e realizam as mudanças sociais, mesmo em condições que não escolhem e, às vezes, com resultados opostos aos desejados.

Na realidade, o mundo moderno se intromete em tudo e destrói a privacidade. A ética do trabalho, alimentada na família nuclear, dá lugar a uma ética da sobrevivência e da gratificação imediata.

Seguem-se oito capítulos de valor desigual. Alguns são muito interessantes, enquanto outros são de leitura tediosa.

Vamos destacar os parágrafos mais interessantes.

Max Weber mostrou com precisão as conexões entre protestantismo e capitalismo. E, como se sabe, o protestantismo é, entre outras coisas, uma rebelião contra a ascese, daí a anulação do celibato e a rejeição das virtudes monásticas de pobreza e castidade, culminando na exaltação do matrimônio com um novo conceito de casamento baseado na prudência e na previsão, que caminham lado a lado com o novo valor da acumulação de capital. O casamento deixou de ser um acordo entre pais ou famílias. O casamento arranjado foi abandonado em nome de um novo conceito de família como refúgio frente a um mundo comercial e industrial, altamente competitivo e frequentemente brutal. Marido e mulher, segundo essa ideologia, encontrariam consolo e renovação espiritual na companhia mútua.

Com a revolução industrial, o lar deixou de ser o centro de produção, a mulher deixou de trabalhar para se dedicar à criação dos filhos e ser o anjo consolador de seu marido.

No início da era moderna, a igreja ou a catedral constituíam o centro simbólico da sociedade; no século XIX, o poder legislativo ocupou seu lugar e, atualmente, o hospital. Com a medicalização da sociedade, as pessoas começaram a equiparar os desvios não com o crime (muito menos com o pecado), mas com a doença, e a jurisprudência médica substituiu a forma judicial mais antiga destinada a proteger os direitos privados. Com o surgimento das profissões assistenciais (terapeutas de todos os tipos) durante as três primeiras décadas do século XX, a sociedade invadiu a família e assumiu muitas de suas funções.

A psiquiatria se transformou na sucessora moderna da religião, pois agora os psiquiatras não apenas tratam os pacientes, mas também propõem mudar os padrões culturais para difundir o novo credo do relativismo, da tolerância, do crescimento pessoal e da maturidade psíquica. A cura das almas deu lugar à higiene mental, a busca da salvação à paz emocional, e a guerra contra o mal à guerra contra a ansiedade.

Agora, a opinião esclarecida identifica-se com a medicalização da sociedade: a substituição da autoridade dos pais, padres e legisladores, condenados como representantes das desacreditadas formas de disciplina autoritárias, pela autoridade de médicos e psiquiatras. A amizade entre pais e filhos ergue-se como a nova religião, e a socialização como terapia.

In media res, Lasch faz uma breve história da sociologia norte-americana, desde Pitirim Sorokin, fundador do departamento de sociologia de Harvard, até Talcott Parsons na mesma universidade. Ele também aborda a sociologia heterodoxa com Carle Zimmermann, Willard Waller e Thorstein Veblen, com os quais Lasch se identifica mais. Ele termina com o revisionismo sociológico atual, que se concentra em três problemas: o redescobrimento da família extensa, o restabelecimento do amor romântico e um amplo ataque à família nuclear como fonte de muito do que é patológico na sociedade contemporânea.

O livro termina com um capítulo digno de ser reproduzido e lido várias vezes, intitulado "A Autoridade e a Família: Lei e Ordem em uma Sociedade Permissiva".

Os antigos modelos de jovialidade masculina gradualmente deram lugar a uma vida centrada na família e no lar. A isso soma-se a tentativa de suprimir diversões e festividades populares que supostamente distraíam as classes inferiores das obrigações familiares. A domesticação burguesa foi imposta à sociedade pela força da virtude organizada, liderada por feministas, defensores da moderação, reformistas da educação, sacerdotes liberais, penalistas, terapeutas e burocratas.

Os médicos são os primeiros expoentes da nova ideologia da família, e a nova religião da saúde contou com o apoio das mulheres em sua tentativa de substituir a camaradagem rude e brutal dos homens pelos prazeres do lar.

A proliferação do aconselhamento médico e psiquiátrico enfraquece a já vacilante confiança dos pais em si mesmos, e a família luta para se adaptar ao ideal imposto de fora. Assim, os pais delegam grande parte de sua responsabilidade aos terapeutas ou, pior ainda, aos colegas da criança. A ausência do pai, uma característica estrutural da família norte-americana, faz com que a criança, sem autoridade, projete os impulsos proibidos para fora e acabe transformando o mundo em um pesadelo.

O homem (homem e mulher) moderno enfrenta o mundo sem a proteção de reis, sacerdotes e outras formas paternas mais ou menos benevolentes, porém incapaz de internalizar a autoridade, vive-a como inevitavelmente malévola com base na figura do pai dividido.

A lei, separada do conceito de justiça, torna-se apenas um instrumento por meio do qual as autoridades impõem obediência. Assim, o funcionário que tolera uma transgressão coloca o delinquente em dívida e expõe o transgressor ao chantagem; a corrupção é uma forma sutil de controle social.


Pós-escrito:


Em 2006, o perspicaz pensador francês Alain de Benoist comentou este livro em um artigo intitulado "O Reino de Narciso". Além do marxismo, há em Lasch (1932-1994) duas influências marcantes de seus contemporâneos: a dos pensadores não conformistas Guy Debord (1931-1994) e Cornelius Castoriadis (1922-1997).