25/03/2022

Alberto Buela - Paradoxos da Direita e da Esquerda

por Alberto Buela

(2015)


Todo mundo sabe que a esquerda e a direita são termos relativos como pai e filho ou alto e baixo, pois são conceitos que dependem uns dos outros.

Sabe-se, ademais, que as ideias políticas da direita e da esquerda nascem de como estavam localizados os parlamentares na época da Revolução Francesa e ainda mais conhecida é a opinião do filósofo Ortega y Gasset em seu livro A Rebelião das Massas onde afirma que: ‘Ser de esquerda é como ser de direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral.”

Porém o que poucos sabem é o paradoxo que há depois da segunda guerra mundial entre os conceitos de esquerda e de direita.

19/03/2022

François Bousquet - As Origens do Desastre: A Ideologia da Desconstrução

 por François Bousquet

(2017)


Você sabe o que Sacha Guitry costumava dizer quando alguém lhe perguntava: "O que há de novo, querido mestre", ele respondia com sua voz enfeitiçada, tocando em veludo: "Molière! Por que Molière? Porque ele nos deu alguns tipos humanos que são tão atemporais quanto seu teatro. Basta pensar em seu gentilhomme burguês, uma prefiguração dos burgueses-boêmios, os bobos. E Tartufo, o falso devoto, hoje o modelo do antirracismo, exclamando com os mesmos ares indignados de seu antecessor: "Cubra estas raças que eu não posso olhar. [...] elas trazem à tona pensamentos culpados". E quanto às Preciosas ridículas e As Eruditas. Leiam as "escritoras" que são galopantes nos estudos de gênero e produzem o ABCD da igualdade, as Judith Butler e as Virginie Despentes? Poderíamos multiplicar os exemplos.

Imortal Molière, que teria direito, hoje como ontem, à mesma cabala de devotos. A educação não é uma exceção: os pedagogos, os pedagocratas, o pedagogismo estão em ação. Bem, aqui também, Molière tem algo a nos dizer. Lembre-se do Doutor Diafoirus, um charlatão que esconde sua incompetência científica por trás de palavras repetidas. E o pedante Trissotin, o "três vezes idiota". Diafoirus e Trissotin agora reinam sem contestação na Rue de Grenelle, no Ministério da Educação. Esta é a grande diferença com Molière: seus pedantes, seus clérigos, seus sacristas só exerciam sua capacidade de incômodo em um punhado de salões aristocráticos e entre alguns poucos plebeus que se encontravam em boa situação financeira. A pedagogia democratizou tudo isso, entrou em todas as salas de aula. É tanto um programa antieducativo (há sempre muita escola na escola) quanto um empreendimento de reeducação (a liquidação da alta cultura, a paixão pelo igualitarismo, o império do nivelamento, a desconstrução dos estereótipos).

15/03/2022

Aleksandr Dugin - A Anatomia do Populismo e o Desafio da Matrix

 por Aleksandr Dugin

(2018)


Os protestos na França, simbolizados pelos Coletes Amarelos, abrangem uma porção cada vez maior da sociedade, de modo que analistas políticos já chegam a falar em uma “nova revolução”. De fato, a magnitude do movimento dos Gilets Jaunes atingiu um patamar tão drástico, que coloca-se como tarefa absolutamente urgente analisá-lo (enquanto fenômeno) mais profundamente.

Estamos lidando com uma manifestação viva do populismo europeu contemporâneo. O significado do populismo, enquanto fenômeno atado à estrutura política das sociedades formadas na esteira da Grande Revolução Francesa, isto é, baseadas no confronto entre direita e esquerda, está mudando radicalmente, uma vez que os movimentos populistas rejeitam o esquema político clássico de esquerda/direita e não seguem qualquer vertente ideológica rígida — seja à direita ou à esquerda. Essa é, em linhas gerais, a força e a fonte de sucesso do populismo: ele não opera segundo regras predefinidas e possui sua própria lógica.

12/03/2022

Aleksandr Dugin - A Doutrina Tradicional dos Elementos (Lição V) - Ontologia dos Planetas

 por Aleksandr Dugin

(2022)

Transcrição da comunicação do Vº Encontro do Clube dos 5 Elementos



É necessário enfatizar no tratado De Caelo de Aristóteles algo muito interessante. Aristóteles diz que há no cosmo dois centros e não um. O centro de gravidade não coincide com o centro anímico, da alma.

O cosmo era animado para Platão e Aristóteles. Por isso é possível aplicar essa ideia. O cosmo também é um ser vivo, ele é animado, é um animal. E em todos os animais há dois centros, o centro de gravidade, que é corpóreo, e outro centro, que é espiritual. Com isso Aristóteles descreve sua visão do movimento do ser animado, que é sempre para cima, direita e frente.

Direita é início do movimento, alto é origem do movimento e frente é direção do movimento. Isso pode ser aplicado ao cosmo ou céu.

É importante que Heidegger recordou que para os gregos, mundo e céu eram a mesma coisa. Por isso, o tratado Sobre o Céu é um tratado sobre o cosmo. O cosmo como grande animal vivo é a mesma coisa que o Céu. E Heidegger usa os dois termos, em alemão, Welt e Himmel, como sinônimos em sua filosofia no período tardio de suas elaborações filosóficas. Isso não é por imaginação, mas a tradição autenticamente helênica e medieval.

Na estrutura do universo há dois centros, o centro de gravidade, que é a Terra, e outro polo ou centro, o centro onde está o motor imóvel, onde está o Logos, onde está a Inteligência Ativa. Ele não está na Terra, está no polo, no lugar oposto à Terra.

10/03/2022

Aleksandr Dugin - Nacionalismo: Ficção Modernista e Impasse Ideológico

 por Aleksandr Dugin

(2022)


Provavelmente poucas pessoas prestaram séria atenção ao fato de que a Quarta Teoria Política, à qual aderi, presta a mais séria atenção às críticas ao fascismo. Mais marcantes são as críticas ao liberalismo e a rejeição do dogma marxista. Mas igualmente necessária é a rejeição radical não só do fascismo, mas até mesmo do Estado-nação.

Um lugar especial na Quarta Teoria Política é ocupado por uma crítica frontal e intransigente ao racismo, que pode ser considerada como uma das versões do fascismo, ou, mais amplamente, como um paradigma geral da atitude da civilização ocidental em relação a todos os outros povos e culturas.

Numa época em que a Rússia está conduzindo uma operação militar na Ucrânia, cujo objetivo é a desnazificação, deveríamos nos deter mais detalhadamente sobre isso.

04/03/2022

Rita Remagnino - Heróis da Era Anti-Heroica

por Rita Remagnino

(2020) 


Platão especifica no Crátilo que herōs deriva de érōs porque os heróis "nascem ou de um deus apaixonado por uma mortal ou de um mortal apaixonado por uma deusa". Segue-se que o herói da antiguidade clássica era um híbrido cujo nascimento estava idealmente situado no tempo distante em que havia uma atração mútua entre as linhagens divina e humana.

Foi precisamente esta natureza híbrida que deu a este indivíduo duas faces, uma escura e a outra luminosa. Por um lado havia um guerreiro extraordinário que parecia perceber no seu coração a tradição solar da matriz indo-europeia como uma herança da qual era um portador consciente, por outro lado um indivíduo imaturo mostrava que não sabia como lidar com ela, ou pelo menos não a conhecia suficientemente bem.

No entanto, o herói da Idade do Bronze Final permanecia sempre fiel a si próprio. Mesmo quando era ultrapassado pelo destino, acabava derrotado em batalha ou estava prestes a perder a vida, mostrava uma fé inabalável no seu projeto. Continuava sem medo, aderindo a uma espécie de autossuficiência moral e espiritual baseada na determinação de quem não conhece constrangimentos, mesmo quando a dor prevalecia.

02/03/2022

Carlos Salazar - A Quarta Teoria Política e o Socialismo na América Latina

 por Carlos Salazar

(2021)

Durante os últimos dois meses de 2020, participamos de várias instâncias de colaboração com intelectuais e ativistas da luta anti-imperialista no mundo. Em 19 de novembro, como representante do Círculo, falei na conferência internacional "Uma Alternativa Multipolar para a América Latina: Geopolítica, Ideologia, Cultura". Naquela ocasião, além de apresentar os temas que já havia abordado em meu texto: "A Quarta Teoria Política ou Um Pensamento para a América do Sul", pude apreciar muito boas apresentações de Vicente Quintero (Venezuela), Pavel Grass (Brasil), Nino Pagliccia (Canadá/Venezuela), Valeri Korovin (Rússia) entre outros, e concordar com eles em vários pontos de vista. Destacou-se a apresentação do professor Aleksandr Dugin, na qual ele fez o inevitável convite aos povos de Nossa América para abordar seus problemas a partir da Quarta Teoria Política (4TP), desta vez fazendo uma proposta para pensar num novo tipo de socialismo, que se distingue do antigo socialismo e também da esquerda liberal ("liberal-bolcheviques" como ele os chama, não sem um certo sarcasmo).

Este novo socialismo, que, seguindo a ideia de Dugin, deveria buscar suas raízes no populismo integral (antiliberalismo radical), tomaria os melhores aspectos do antigo socialismo, como a luta da classe trabalhadora contra a exploração capitalista, mas também resgataria aqueles aspectos que a direita (hoje, liberal e globalizante) abandonou, ou instrumentalizou para defender os interesses das oligarquias, como a defesa da Pátria e certas tradições ligadas à identidade dos povos.