por Boris Nad
(2017)
Leonid Savin é um importante representante da nova escola russa de geopolítica, um membro do movimento neoeurasianista e um associado de Aleksandr Dugin. Savin também é editor-chefe do centro analítico Geopolitika.py e do Journal of Eurasian Affairs, bem como chefe administrativo do Movimento Eurasiano Internacional. Ele é o autor de uma série de livros sobre geopolítica e áreas relacionadas: “Rumo à Geopolítica”, “Guerra de Redes”, “Etnopsicologia”, “De Xerife a Terrorista”, “Novos Métodos de Guerra”...
Segundo Leonid Savin, vivemos na época das mudanças súbitas nos paradigmas (geo)políticos e de mudanças radicais nas relações de poder. O poderio americano tem se enfraquecido em anos recentes, novas divisões e crises aparecem no coração do próprio Ocidente. Além da Rússia e da China, novas potências emergem, impérios em potencial, causando uma série de novos conflitos e renovando antigos, do Oriente Médio aos Bálcãs. A crise da União Europeia, impulsionada por uma crise migratória e pelo terrorismo, marca o fim do mito burguês da prosperidade. Tudo isso cria uma situação completamente singular em um mundo completamente globalizado, onde não há mais regras claras.
Boris Nad: Com a queda do Muro de Berlim e o desaparecimento da ordem bipolar, apareceu o “momento unipolar”. Os EUA se tornaram a potência hegemônica global indiscutível. Este quarto de século foi marcado por constantes intervenções e agressões militares, mudanças de fronteiras, derrubadas de “regimes malignos” em tentativas da América de estabelecer uma “Nova Ordem Mundial”. Parece que na tentativa de tentar confrontar seu insucesso Washington não tem qualquer outra ideia, conceito ou programa além de causar “caos controlado” ao redor do mundo – caos cada vez mais difícil de ser “controlado” pelo Ocidente.
Leonid Savin: Exatamente, os EUA não tem mais noção ou meios de como continuar seu próprio programa para o mundo. Primeiramente, o império americano está sobrecarregado. Em segundo lugar, há novas potências ascendentes como a China ou a Rússia restaurada. Estados emergentes vem logo em seguida. A tensão política entre satélites americanos aumenta porque não há mais regras claras. A situação é única porque pela primeira vez em um mundo totalmente globalizado estamos vendo uma mudança na balança de poder. Há diferentes perspectivas sobre este processo, mas para mim há fundamentalmente a questão das armas nucleares. Lembremos que Kenneth Waltz falou sobre multipolaridade nuclear décadas atrás. Este tipo de dissuasão mútua era um tipo de limiar nunca atravessado. Os EUA tentou intervir apenas em países não-nucleares, mas países como a Rússia foram alvos apenas de meios não-militares – diplomacia, economia, etc. Finalmente, na ideologia, os EUA falharam. Washington ainda utiliza o "liberalismo" como arma de influência, mas após a crise financeira mundial este mantra não é mais tão operacional quanto antes.
BN: Cada império no passado tinha sua própria ideia de missão universal. Na América, aquela ideia assumiu uma forma maligna. É o conceito puritano do “povo escolhido”, como da antiga Israel. Thomas Jefferson falou da América como um “império de liberdade” e que o americano “precisava mudar o mundo para melhor”. Essas ideias possuem profunda continuidade. O presidente Bush Jr. Promoveu a ideia de “revolução democrática global”. Você escreveu sobre a “cultura da violência”, firmemente enraizada na mentalidade americana, mesmo em personagens folclóricos. Também, sobre o “maquinário de guerra” que combina complexo militar-industrial, forças armadas e a elite política, financeira e intelectual do país.
LS: Eu não concordo sobre a missão universal dos impérios. Os velhos impérios dos tempos antigos e mesmo da era moderna, estiveram baseados em uma ideia de origem divina, e não em uma missão universal. O império chinês jamais se preocupou com dominação mundial. Havia diferenças claras entre os bárbaros de fora e os povos do império dentro. Ou lembremos das guerras greco-persas. Dois impérios que se reconheciam enquanto impérios, enquanto os outros eram bárbaros. Os impérios mesoamericanos também eram autocentrados, mas sem a ideia de partilhar a própria visão com os vizinhos junto aos quais eles conseguiam seus recursos. Nos tempos modernos a situação se tornou um pouco diferente, por causa da religião cristã, mas finalmente chegou-se ao sistema vestfaliano de ordem internacional. Se voltarmos aos EUA, havia uma mistura de ideias maçônicas (a guerra da independência começou com a “festa do chá de Boston” organizada pela loja maçônica de Massachusetts), ética protestante e a experiência da dominação britânica. É claro, a ideia de “liberdade” estava no núcleo da democracia americana, mas ela foi adotada de maneira muito específica. Ela levou ao excepcionalismo americano, onde apenas Washington pode definir o que é certo e o que é errado. Quaisquer outros tipos de “liberdades” foram rejeitados. Quando houve um golpe no Império Russo e os bolcheviques proclamaram diferentes tipos de liberdades, isso não agradou aos EUA. Não por causa do estilo específico do governo bolchevique, mas por causa do novo polo político que pretendia fornecer liberdades. Após a Segunda Guerra Mundial, a elite americana reorganizou o próprio aparato estatal que se tornou conhecido como complexo militar industrial e “Deep State”.
BN: Durante a Guerra Fria, o Ocidente, liderado pelos EUA, se comportou e atuou de forma monolítica, especialmente em relação a seu principal rival, o bloco oriental, comunista. Agora estamos testemunhando o aprofundamento de divisões no Ocidente, primariamente entre os EUA e a Alemanha. Estamos lidando apenas com discordâncias transitórias entre Angela Merkel e Donald Trump, ou estariam os interesses dos dois países agora radicalmente em oposição?
LS: A questão é sobre interesses das elites políticas, e não dos países. Angela Merkel representa a ideologia liberal global, enquanto Trump sustenta uma abordagem com duas faces – interesses americanos, como prometido durante a campanha eleitoral, e cortes nos benefícios de alguns velhos parceiros. A Alemanha (suas elites liberais) ainda está interessada em ser cliente dos EUA, mas Trump não quer mais ajudar, ou transferir recursos para ajudar aliados europeus.
Para os EUA e para os liberais europeus também há o problema da ascensão do populismo. Após as eleições francesas muitos se desapontaram, mas precisamos ainda ver os resultados das eleições parlamentares em setembro na Alemanha. De qualquer maneira, nós vemos a morte da democracia na EU, porque os Estados-membros são governados apenas pelos burocratas da Comissão Europeia, e não por representantes eleitos. Então a questão é maior do que o conflito de interesses entre EUA e Alemanha.
BN: Em seu ensaio O Retorno dos Impérios, Dmitry Minin argumenta que vivemos em uma época de renovação de velhos projetos imperiais. A América pode ter desistido da ideia de hegemonia global, mas ela certamente permanece sendo uma forte potência imperial.
LS: O princípio imperial não é uma questão de força política e militar, mas de sistema de governança. O império precisa dar algo, e não apenas tomar. A Rússia manifestou sua essência após a Crimeia ter sido reconhecida como parte da soberania russa. Moscou pagou caro por isso – sanções, desaceleração econômica, etc. Mas ainda antes, nós apoiamos a Síria e enviamos nossas tropas lá. Isso foi também um tipo de comportamento imperial. Mas o conceito de império pode ser discutido a partir de diferentes escolas analíticas e científicas, então depende da abordagem.
BN: Segundo o setor real, a China já é a primeira economia do mundo. Desde 2013, ela tem posto em prática seu projeto da “Nova Rota da Seda”, em cooperação com a Rússia e a Associação Eurasiática. Como você vê o fenômeno da ascensão da China e como a China está posicionada em relação à Rússia e aos EUA?
LS: A China precisa investir em países vizinhos para poder sustentar seu crescimento econômico. Mão-de-obra barata e imensas reservas financeiras impulsionam a China. Na China, a maioria dos projetos de larga escala já foram finalizados. Assim, eles precisam ir ao exterior e a “Nova Rota da Seda” é uma boa oportunidade para essa estratégia. Os EUA temem a China e o Pentágono possui poucas estratégias de dissuasão como a doutrina Ar-Mar e os ciberataques subversivos contra a China ou em apoio a Taiwan. Para os EUA, a Rússia é mais fraca e possui algumas vulnerabilidades exploradas por Washington. Mas agora, a Casa Branca entende que sua estratégia antirrussa não funciona. Eles precisam atuar de forma mais incisiva, mas isso praticamente significa guerra. A Rússia joga avançada e organiza medidas de segurança na retaguarda.
Mas Washington entende que agir contra Rússia e China quando os dois países estão juntos não é possível e qualquer tipo de guerra nessas condições não terá sucesso. Assim, os EUA tentam separar nossa aliança, e sem sucesso até agora. A Rússia e a China incrementam suas forças militares e ampliam sua influência através da plataforma do Pacto de Xangai. A Índia e o Paquistão se uniram a essa organização, o que significa ainda menos oportunidades para os EUA na Eurásia.
BN: A Rússia sob Putin e a Rússia sob Iéltsin são dois países diferentes. O presidente Putin conseguiu erguer e ressuscitar a Rússia. Estaria a Rússia a caminho de se tornar um verdadeiro poder imperial, não do século XIX, mas um império do século XXI?
LS: Ainda há muito a ser feito. Ainda há liberais no poder na Rússia e nossos “amigos” ocidentais ainda estão ativos. A natureza do desafio é dinâmica e complexa. É muito importante agora finalizar a institucionalização do modelo de poder russo. Precisamos pensar para além de 2025 e estar preparados para atuar em um ambiente difícil. Eu sei que muitos estrangeiros olham para a Rússia como última fortaleza de valores tradicionais – ainda é necessário colocar na mesa o desenvolvimento de nossas próprias estratégias na busca por respostas para questões globais. Como muitos escritores clássicos russos mencionaram – nós (enquanto país) temos nosso próprio destino e precisamos compreender nosso papel. Aleksandr Dugin adotou a filosofia de Martin Heidegger para isso – o Dasein do povo russo deve ser encontrado por necessidade.
BN: Você nasceu na Ucrânia, em Sumy. Como você avalia a situação na Ucrânia hoje e as possíveis maneiras de finalizar a guerra naquele país?
LS: A situação na Ucrânia é muito ruim. Inflação, desemprego, cortes nos benefícios sociais. Mas tem gente lucrando com os preços crescentes e a crise atual. E ainda há atores externos muito ativos – a Ucrânia é um enorme mercado e agora se tornou possível explorar muitos recursos gratuitamente por lá. Finalmente, a estratégia de alienação da Ucrânia em relação à Rússia é continuada – desenvolvida pelo Ocidente e aplicada por grupos neonazistas e liberais locais.
BN: A desintegração da União Europeia começou pelo Brexit. Outra solução possível é uma redefinição fundamental do conceito de “unificação europeia”, mas para algo do tipo as elites europeias aparentemente não tem poder. O euroentusiasmo em tais condições aparentemente entra em colapso.
LS: Teoricamente, há tentativas, mas na prática há tantos grilhões impostos aos corpos europeus...As instituições políticas europeias não possuem visão para a região e veem o expansionismo como a única opção funcional. Os Bálcãs serão integrados à UE em conformidade com essa visão. Nós também ouvimos falar em um “Plano Marshall para a África” proposto pela Alemanha – outra variedade de antigas ambições.
BN: A crise migratória e o terrorismo estão obviamente relacionados. A crise migratória não acabou, mas sobre ela não se fala muito na mídia ocidental. Os líderes europeus dizem que os cidadãos de seus países tem que se acostumar a conviver com o terrorismo. O terrorismo de fato se tornou parte do quotidiano europeu. Qual é o significado dessas mensagens?
LS: Nós podemos descrever tudo isso como sinais de uma nova idade das trevas na Europa. Eles precisam despertar sua própria vontade ou morrerão, no sentido da história e tradições europeias. Nos anos 70, também houve muitos ataques terroristas em diversos países europeus. Radicais da esquerda e da direita usaram o terror nas ruas. Historicamente nós podemos encontrar referências na Revolução Francesa, onde o terror foi institucionalizado. Isso não é algo novo. O ponto é que o mito burguês da prosperidade foi dissolvido. Paradoxalmente, o hino da EU é “Ode à Alegria” de Beethoven, mas eu não acho que a maioria dos cidadãos da UE seja alegre.
BN: O processo de redesenhar o mundo e criar uma nova realidade geopolítica começou nos Bálcãs vinte e cinco anos atrás, quando os países ocidentais fizeram tudo que era possível para desintegrar a Iugoslávia e encorajaram uma sangrenta guerra civil. No Ocidente, há agora propostas para um novo desenho das fronteiras nos Bálcãs. Seria possível que os Bálcãs se tornassem um campo de batalha de novo, na medida em que as relações globais de poder mudam rapidamente, tal como no início dos anos 90 do século passado? E o que, em sua opinião, a Sérvia precisa fazer?
LS: Como eu disse antes, a UE tentará incluir os países dos Bálcãs. Eles não ficam confortáveis com vizinhos soberanos, então o novo vetor da diplomacia de Bruxelas (tanto da OTAN como da EU) será dirigido aos Bálcãs. A Sérvia é o alvo mais forte ali, mas depois que Montenegro se uniu à OTAN, a Sérvia parece o próximo passo. A Macedônia agora já está sob o governo títere de Zaev. Vamos ver o que ocorre na Sérvia. Nos últimos anos quase todas as diretivas da UE foram implementadas. Após as últimas eleições parlamentares na Sérvia, há mais ministros pró-europeus no governo (até mesmo um ativista LGBT!). A migração de sérvios para fora do país continua, ademais.
O caminho é bastante previsível. O equilíbrio real está na aliança com a Rússia e com o Pacto de Xangai, mas Moscou não recebe qualquer sinal de Belgrado. Deveria a Rússia intervir? Porque a abordagem russa para relações internacionais, baseada na não-intervenção, será “não”. É a realidade. E ninguém sabe o que vem por aí. Há poucos cenários previsíveis, mas se as autoridades sérvias se sentem bem, por que quaisquer outros países vão se preocupar?
BN: Enquanto isso, essa ativista gay no governo sérvio foi nomeada para ser a primeira-ministra. O próprio ato é algum tipo de mensagem política.
LS: Eu tenho certeza de que essa eleição foi organizada em coordenação com o Ocidente – foi algum tipo de teste para verificar a reação da sociedade sérvia. Como ocorreu com Bernard-Henri Levy – uma torta na cara é a mensagem enviada às elites globais pelo povo sérvio, e não apenas por grupos não-marxistas, e é por isso que Levy declarou que a Sérvia era uma sociedade fascista que ainda não estava preparada para a integração globalista. Agora veremos a resposta do povo sérvio à nomeação de uma nova primeira-ministra.
BN: O Ocidente encorajou os albaneses a criar sua própria “Grande Albânia”, que confirma os eventos na Macedônia.
LS: A UE tentará impor uma política de pacificação nos Bálcãs, mas o ISIS e a militância albanesa crescerão mesmo assim. Os albaneses no Kosovo querem limpar todo o território sob seu controle, e isso significa conflito. Se a situação na Macedônia não resultar favorável aos albaneses eles começarão ataques como os de 2015. Sem falar nos fluxos de migração através da Turquia e da Grécia – o tráfego à UE atravessa principalmente pelos Bálcãs e alguns elementos fica pelo caminho. E não há nem mesmo unidade na estratégia migratória entre os membros da UE. Assim devemos estar preparados para conflito. Melhor estar armado (em todos os sentidos) e seguro do que ser atacado e não estar preparado para isso.
BN: O mundo islâmico está em um profundo caos há anos (e décadas). A primeira linha de divisão entre muçulmanos é a que separa sunitas e xiitas. A Arábia Saudita, guiada pelo wahabismo, permanece leal a seu aliado americano, e a principal financiadora do terrorismo. Parece que a Turquia, até recentemente um importante membro da OTAN e da coalizão ocidental, decidiu seguir seu próprio rumo. Há também o Irã, que coopera com a Rússia. Como você prevê o desenvolvimento de eventos no mundo islâmico?
LS: Desde os tempos da Doutrina Carter parte do mundo islâmico está sob controle direto dos EUA (e seu aliado regional Israel). Por agora, os EUA tentam construir novas parcerias com Estados árabes para dissuasão contra o Irã, mas há surpresas, como a crise entre Arábia Saudita e Catar. Este jogo parece interessante por causa de seus efeitos sobre Washington. Poder real e ambições de atores regionais serão eficientes de uma política inteligente for usada. Mas o mundo islâmico não está limitado pelo Oriente Próximo – África do Norte, Sul da Ásia e o Pacífico também fazem parte do mundo islâmico e essa interdependência torna a região mais sensível e aberta a diferentes influências. A Rússia está agora mais ativa no Oriente Médio e nós temos um entendimento compartilhado com a liderança de alguns países islâmicos sobre o futuro.
BN: O Oriente Médio é uma área de conflito e instabilidade constantes. Assim foi, pelo menos, durante os últimos dois séculos. Como você avalia o atual equilíbrio de poder na região? Seria o fim da guerra na Síria uma preparação para novos focos de conflito? O que significa o projeto americano de reorganização do “Grande Oriente Médio”?
LS: Violência sectária, promoção de direitos humanos e de democracia pelo Ocidente, disfunções econômicas, secularização, mistura entre organizações terroristas e reservas de gás e de petróleo – tudo isso são precursores suficientes para novos conflitos nessa área. Por agora, as guerras na Síria, no Iraque e no Iêmen são cruciais ali. Mas também o Bahrein, o Líbano e a Turquia são candidatos a serem visitados pela guerra e por tumultos. Precisamos de um novo paradigma para o Oriente Médio e para o mundo em geral. Como o presidente Putin recentemente disse – “uma nova filosofia é necessária”. A questão é uma multipolaridade baseada em culturas, tradições e responsabilidades partilhadas específicas. Mas precisamos afastar a influência americana primeiro porque Washington não entende como encontrar boas soluções. Por causa da falta de ideias, os EUA apenas retornaram ao projeto de um Grande Oriente Médio com algumas atualizações.
A Casa Branca vai tentar influenciar organizações internacionais e intergovernamentais, agências da ONU, o Banco Mundial, etc., para que invistam em segurança nessas regiões, mas esta estratégia falhará novamente. Precisamos retornar às raízes do povo da região, limpar as influências (pós)modernistas de uma maneira bastante delicada, e então nós veremos que organizações como a Irmandade Muçulmana estavam inicialmente enraizadas no sufismo. A estrutura wahhabi trará mais problemas por causa de sua natureza agressiva, mas a longo prazo esse problema também será superado. Precisamos entender os interesses e valores das pessoas na região. E Washington jamais fará isso.
BN: Fora dos holofotes da guerra na Síria e da piora nas relações entre monarquias do Golfo (Arábia Saudita e Catar), está a “esquecida” guerra no Iêmen. A mídia ocidental faz silêncio sobre crimes de guerra sauditas e a destruição do país.
LS: A guerra no Iêmen é conhecida, mas o problema é o silêncio da “comunidade global”. Não há promoção de imagens da guerra na TV americana, mas iniciativas orgânicas fazem seu trabalho ao redor do mundo. Relatórios da ONU sobre crises epidêmicas e humanitárias são regulares, mas parecem inúteis nessa situação. Aliás, a situação no Bahrein também não é monitorada pelo Ocidente. Não é só “dois pesos e duas medidas”, mas um tipo de racismo, porque o Ocidente não reconhece as vítimas nesses dois países como humanos com os mesmos direitos que os europeus e americanos.
BN: Você publicou na Sérvia, em 2013, um ensaio geopolítico chamado “De Xerife a Terrorista”. O livro teve bastante sucesso. Você está preparando novas edições para leitores sérvios?
LS: Eu já entreguei um novo texto a um editor sérvio. Agora está em processo de tradução. É também sobre um tipo diferente de conflito, globalização e muitas ferramentas da política de Washington. Esse ano na Rússia sairão dois livros novos meus (sobre multipolaridade e cibergeopolítica) e eu espero que algum dia eles sejam traduzidos e lançados na Sérvia também.