"Aqui procedemos do fato de que a mentalidade, tradições e modo de vida do povo não podem ser modificados da noite pro dia. E será que devem mesmo ser modificados? Não pode ser possível lançar o povo despreparado no abismo do mercado" - Alexander Lukashenko, 2002
"Nós nos sentimos uma vez mais uma parte da totalidade sagrada, cujo nome é o povo da Bielorrússia. Nós garantimos: Uma nação sadia está sendo formada em nosso país. Sadia não apenas fisicamente, mas também espiritualmente" - Alexander Lukashenko, 2009
Alexander Lukashenko é provavelmente o político mais difamado no mundo hoje. As razões para isso não são difíceis de descobrir. Contrariamente ao palavreado sobre sua suposta "tirania", Lukashenko está sob ataque por causa de seu sucesso. Verdade seja dita, é claro, a Bielorrússia tem mais partidos de oposição importantes que os EUA, e também uma imprensa que é parcialmente estatal, mas com muitos jornais de oposição legalizados em existência, parcialmente financiados pelos EUA e pela União Européia. Não obstante, seu sucesso não está baseado nisso.
Lukashenko é vitimizado porque ele provou o sucesso econômico do modelo nacionalista social, ou o que ele chama de modelo do "mercado social" em oposição ao capitalismo libertário. Não há dúvidas de que esse modelo possui fortes associações nacionais, é geralmente pró-russo e olha para o Oriente, ao invés de para o terminalmente adoecido Ocidente, para seu futuro econômico. A Bielorrússia foi um dos componentes mais essenciais da antiga União Soviética. É um país bem educado, especializado em eletrônicos e em transporte e refino de combustíveis. Isso a torna altamente estratégica e uma ameaça para o Ocidente decadente.
A Bielorrússia é terra incognita para a maioria dos americanos, mesmo para aqueles americanos que se consideram "especialistas" em questões internacionais. Portanto, estira a imaginação quanto a razão pela qual a elite ocidental, incluindo o ex-presidenciável John McCain, tornou atacar a Bielorrússia um aspecto central de sua vida política. (Aqui o The Weekly Standard jorrando entusiamos por cima de um economista ao estilo Ayn Rand que eles querem que seja o presidente da Bielorrússia; aqui Michele Brand, escrevendo pro Counterpunch, expõe o massacre ocidental contra a Bielorrússia). O país é do tamanho do Kansas, com uma pequena diáspora na América. Parece que a única razão racional para ataques constantes contra esse pequeno país é que isso serve como meio de atacar a Rússia - um bicho-papão neocon como nunca houve igual. Educação, gás e tecnologia petrolífera russos, instalações científicas e recursos naturais são as únicas possíveis razões racionais para essa repetição constante de ataques retóricos. O fato de que a Rússia e a Bielorrússia tem visto crescimento econômico substancial e aumentos na capitalização financeira enquanto o Ocidente se vê eternamente afundado em dívidas e decadência social é algo que incomoda os "conservadores de livre-mercado" americanos.
Recentemente, McCain parece ter provado o subtexto econômico de suas usuais condenações da Bielorrúsia em uma viagem recente ao Báltico: "Nós apreciamos o passo a frente que a União Européia tomou ao adotar a proibição do visto, mas, nós achamos, ela deveria ir mais além na direção de sanções econômicas contra companhias energéticas na Bielorrússia que ajudam a financiar aquele regime que oprime o próprio povo". Na verdade, quando qualquer discussão mais comprida sobre a Bielorrúsia emerge na vida política de McCain, recursos energéticos pairam no fundo. McCain tem recebido dezenas de milhões de empresas de petróleo na América, Israel, Holanda e Grã-Bretanha, o que serve pelo menos como razão financeira para essa estranha obsessão.
Eleito em 1994, Lukashenko possui níveis de popularidade que políticos ocidentais invejariam - e de fato invejam. Desde 1994, o crescimento econômico espetacular, a diversificação econômica, a balança comercial positiva e o baixo nível de desemprego na Bielorrússia tem mantido a popularidade do presidente em níveis bastante elevados, geralmente pairando ao redor de 60 e 70%. Recentemente, a TNS Global Research Organization, baseada em Londres, entrevistou 10.000 bielorrussos quanto a usa opinião sobre o Presidente. A pesquisa demonstrou que Lukashenko possui uma sólida popularidade de quase 75% no outono de 2010. Portanto, as acusações de fraude eleitoral são idiotice. Ainda mais porque sua oposição é extremamente dividida, ineficaz e de propósitos bastante duvidosos.
Qual é a base de sua popularidade? É seu senso de que a Bielorrússia necessita de uma política econômica que sirva a seus interesses nacionais. Como as economias russa e ucraniana foram devastadas e expatriadas pelos oligarcas no início da década de 90 com o apoio do Departamento de Estado, do FMI e da Universidade de Harvard, a Bielorrússia paralisou o seu programa de privatizações. Pediu-se ao FMI que deixasse o país, e, daquele dia em diante, Lukashenko passou a ser chamado de "o último ditador na Europa". Não é acidente que o grosso de sua oposição americana vem da Universidade de Harvard, especialmente da escola de direito, incluindo Yarik Kryovi, que em certa época trabalhou para a "Radio Liberty" de Soros e serviu como advogado para o Banco Mundial. Seu curriculum vitae lista seu trabalho para "clientes privados" que ele não revela. A elite política quer a cabeça de Lukashenko conforme ele continua a se tornar mais popular entre as massas.
Os feitos de Lukashenko são estelares. Segundo as estatísticas do Banco Mundial atualizadas em 2010, a Bielorrússia evitou a recessão/depressão que mantinha o Ocidente entre suas garras. Os bancos bielorrussos, quase todos estatais, tiveram melhor desempenho que todos os bancos europeus em 2009. Bancos estatais aumentaram sua capitalização em quase 20% enquanto os contribuintes ocidentais foram forçados a afiançar os mesmos bancos que condenaram o governo de Minsk.
De 2001 a 2008, o crescimento econômico médio da Bielorrússia foi de quase 9%, o que é aproximadamente igual ao da China. Enquanto as economias ocidentais encolhiam em 2010, a economia bielorrussa cresceu 6%, com 10% de crescimento na produção agrícola e um aumento de 27% nas exportações. A renda real, isto é, a renda ajustada pela inflação e custo de vida, cresceu 7% em 2010.
Segundo o FMI, o desemprego era de 0% em 1991, mas cresceu para 4% em 1996 enquanto a Rússia e a Ucrânia eram aniquiladas por dentro. Sob a firme liderança de Lukashenko ao parar as privatizações e prender os criminosos que tentaram liquidar a economia, os relatórios do FMI dizem que o desemprego caiu para 1% em 2008. As Nações Unidas dizem o mesmo.
Sem exageros, esses números, todos de fontes hostis, demonstram que a liderança de Lukashenko foi e é um sucesso. Essa é a principal fonte de sua popularidade e a razão pela qual ele é eleito e reeleito regularmente. Mas a questão importante é o que serve como base para a liderança de Lukashenko? A resposta é a idéia "nacionalista social e do mercado social". A doutrina bielorrussa oficial sobre Desenvolvimento diz isso:
"A Bielorrusa escolheu seguir o caminho do desenvolvimento evolutivo e rejeitou as prescrições do Fundo Monetário Internacional como a terapia de choque e as privatizações em massa. Ao longo de muitos anos de trabalho criativo, o modelo bielorrusso de desenvolvimento sócioeconômico foi posto em prática - o modelo que combina as vantagens da economia de mercado e a proteção social eficiente. Nosso conceito de desenvolvimento tem sido elaborado em acordo com a continuidade histórica e as tradições populares. O modelo bielorrusso objetiva melhorar a base econômica existente ao invés de fazer uma ruptura revolucionária com o sistema anterior. O modelo econômico bielorrusso contém os elementos de continuidade no funcionamento das instituições estatais por todo lugar em que eles se provaram eficazes".
Em outras palavras, a visão de Lukashenko aqui é a de uma "terceira via" entre socialismo e capitalismo. Pega o que é bom da economia de mercado mas não dispensa um Estado forte que garanta que o crescimento econômico não é apenas para uns poucos. O que o marxismo e o capitalismo tem em comum são seus resultados: total desigualdade de poder, riqueza e acesso. Seja o partido ou a classe oligárquica, esses sistemas materialistas modernos servem como pouco mais do que transferências massivas de riqueza para o oligarca. Quer esses oligarcas afirmem estar trabalhando "para o povo", "para o partido" ou pela "liberdade americana" não faz diferença. O resultado é precisamente o mesmo.
Em um encontro com seu Gabinete e outras figuras militares e governamentais significativas em março de 2002, Lukashenko resumiu sua visão política. Vale a pena citá-lo por inteiro:
"Quais são os traços distintivos de nosso modelo?
Primeiro. Autoridade estatal forte e eficiente. Salvaguardar a segurança dos cidadãos, Garantir a justiça social e a ordem pública, Não permitir a expansão da criminalidade e a corrupção é de fato o papel do Estado. Apenas a autoridade forte conseguiu retirar a economia bielorrussa do abismo econômico.
Nossos vizinhos mais próximos no decorrer do tempo perceberam que, se não há uma forte hierarquia de autoridade, a liberalização da economia no período de transição acarreta em instabilidade social e desordem legal inaudita. Ela resulta em caos público!
Quanto a nós, nós tivemos uma idéia clara desde o início de que a expansão prematura das relações de mercado não nos permitiria resolver radicalmente qualquer dos problemas existentes. Ao contrário, novos problemas emergiria, gerados pela especificidade das relações de mercado. A harmonia pública seria rompida, resultando em conflitos e instabilidade. E é a estabilidade política uma das condições principais para uma integração gradual na economia mundial. Eu chamaria isso de um dos traços ou consequências distintivas do modelo de desenvolvimento da economia bielorrussa.
Aqui nós procedemos do fato de que a mentalidade, tradições e modo de vida do povo não podem ser modificados da noite pro dia. E será que devem mesmo ser modificados? Não pode ser possível lançar o povo despreparado no abismo do mercado. São necessárias décadas para se trabalhar uma nova visão de mundo.
O segundo traço distintivo de nosso modelo está no fato de que o setor privado pode e tem que ser desenvolvido junto ao setor público. Mas não em detrimento dos interesses nacionais. Eu enfatizo: se você é um proprietário privado, isso não implica em que você deva fazer o que quiser. Os interesses nacionais, o Estado, devem ser a prioridade central e o objetivo principal para o trabalho de cada cidadão, empresa ou empresário cuja produção seja baseada na propriedade privada".
Isso não é retórica de campanha, mas serve como a base da política de governo desde meados da década de 90. O Estado deve ser forte, honesto e liderado de forma competente, porque a alternativa é o controle oligárquico e a substituição do Direito Público pelo Direito Privado. O Estado está tomando um posicionamento protetor em relação a seu povo - uma idéia nova em uma era em que as elites ocidentais sistematicamente solaparam os interesses do seu próprio povo, particularmente em relação a imigração. Conforme a União Soviética se desintegrou, apenas o Estado restou para salvaguardar algum conceito mínimo de bem público. A Rússia sob Yeltsin e sob controle do FMI foi incapaz disso, provando a incompetência e a corrupção dessas agências internacionais. Apenas na Bielorrússia o estupro econômico foi impedido.
A ignorância dos defensores do livre mercado é demonstrada em suas opiniões sobre a Rússia. Eles assumiram por volta de 1991 que se o governo simplesmente "saísse do caminho" da "mão invisível", tudo ficaria bem. O que eles não contavam era com as desigualdades radicais de acesso ao poder. Aqueles com bons empregos no governo, com fortunas do mercado negro ou outras formas de acesso "cinzento" ao poder eram precisamente aqueles em melhores posições de tomar o poder. Sob a fraca liderança de Yéltsin e do FMI, a economia russa quase desapareceu. O trabalho de décadas do povo russo foi liquidado e enviado para a América, para o Chipre, para Israel e para a América Latina em nome da "liberdade" e da "democracia".
O "livre mercado" é um slogan - um modo de legitimar a distribuição de poder já vigente. Nunca houve uma época do "livre mercado" puro, mas ao invés, ele existiu apenas por causa das habilidades daqueles capazes de tomar o poder durante a decadência do Antigo Regime na Europa. As velhas proteções sociais do camponês e citadino medieval foram deixadas de lado nessa corrida oligárquica por progresso, dinheiro e poder. O mesmo aconteceu na Rússia e na Ucrânia no início da década de 90. Liderança fraca significou a liquidação do Estado, da economia e do ordenamento jurídico. No seu Discurso de Ano Novo de 2009, Lukashenko acrescentou mais detalhes para sua abordagem básica:
"Nós recomendaram pôr com urgência a economia sob o comando das regras do mercado global. Mas decidimos não confiar em padrões de troca voláteis.
Não fomos nós que provocamos a crise atual que lança ondas de choque por todo o mundo. Ao contrário, a crise veio como resultado de algo contra o que sempre lutamos com determinação.
As palavras centrais são essas: 'Eu enfatizo: se você é um proprietário privado, isso não significa que você deva fazer o que quiser'. É a Nação que vem primeiro. A Nação aqui é a tradição bilíngue da Bielorrússia entre o russo e o bielorrusso. É ortodoxa eslava e agrária. É baseada em uma distribuição fundamentalmente igualitária de terra e recursos em nome da solidariedade étnica e nacional. Progresso econômico não significa nada se ele beneficia apenas uns poucos. Nacionalismo implica em solidariedade, especialmente em um país pequeno e vulnerável sob ataques constantes".
Em seu famoso ensaio "Sobre a Escolha História da Bielorrússia", os aspectos mais "étnicos" de sua teoria política são expostos. Em geral, o propósito do Estado, nesse âmbito, é o de fornecer um lar seguro para as tradições específicas dos povos que vivem dentro dele florescerem. Isso inclui a cultura agrícola, a vida urbana e as tradições étnicas específicas de poloneses, bielorrussos e russos vivendo na Bielorrússia. A questão não é tanto do Estado como representante de uma tradição nacional específica, mas como preservador das tradições nacionais dos povos que vivem dentro de suas fronteiras. Não há Estados etnicamente puros, e portanto, o melhor que o Estado pode fazer é proteger as tradições étnicas e variações regionais que existem.
Em seu Discurso de 2002 sobre o Estado da União, Lukashenko afirmou:
"Direitos e liberdades devem estar em harmonia com responsabilidades por violações das regulações estatais. O desenvolvimento da economia bielorrusa implica não apenas o encorajamento da iniciativa pequena e média (ainda que, como eu disse, essas devam ser e serão encorajadas). Historicamente, indústria bielorrussa significa empresas de grande escala. Há apenas um caminho promissor: atualizar e reequipar as principais indústrias existentes de modo que possam produzir uma nova geração de produtos competitivos. Vejam, o mundo inteiro se funde em corporações transnacionais. Por que então deveríamos esmagar, dividir e destruir nossas enormes empresas? Devemos confiar nelas. Ao seguir essa política, o Estado, em primeiro lugar, estará confiando nesses gigantes, que nos tem sustentado e alimentado. Investimentos imensos são necessários para isso, que não podem ser atraídos sem se mudar a forma de propriedade".
Sua doutrina de "direito social" é a de que não há direitos abstratos. Eles são contextualizados em um modo de vida - aquele do coletivo nacional. Você não tem direito, por exemplo, a fazer algo que ameace a vida econômica do país. Direitos no Ocidente são slogans vazios sem significado. Eles existem para finalizar um argumento: "Eu tenho direito a isso", pode dizer o empresário americano enquanto ele transfere empregos para a China. Justificar esse suposto "direito" é outra questão, mas o próprio ato de reivindicar um "direito" a algo encerra toda argumentação. Lukashenko pergunta não quais são os seus "direitos", mas qual é o "melhor" a se fazer. Ninguém tem um "direito" a solapar o bem público, especialmente pelo lucro privado. Toda a questão do Direito é proteger o trabalho da arrogância do fetichismo monetário da classe dominante. Apenas uma liderança forte e capaz de passar por cima das cabeças de clãs poderosos pode criar leis assim. Lukashenko e a Bielorrússia tem colhido os benefícios de tal política.
Ao confrontar o massacre ocidental em seu Discurso de 2006 sobre o Estado da União, Lukashenko não poupou palavras:
"A linha política de desenvolvimento do país operacionalizada por nós se demonstrou acertada. Altas taxas de crescimento econômico, que nossa economia tem demonstrado por mais de 10 anos, fornecem boa evidência disso. Apenas comparem: o crescimento anual de nosso PIB no período dos últimos 5 anos de planejamento foi de 7.5% contra 3.5% da média mundial.
Os teóricos ocidentais não conseguem explicar as razões desse sucesso. Elas não se encaixam em seu esquema 'democrático'.
As razões, porém, são simples. Nós não desviamos a riqueza do povo, nós não nos enfiamos em dívidas esmagadoras. Confiando na vida em si, nós desenvolvemos nosso próprio modelo de desenvolvimento baseado em reformas equilibradas e bem planejadas. Sem quaisquer privatizações em massa e terapias de choque - preservando tudo que havia de melhor em nossa economia e tradições. Ao mesmo tempo nós temos aprendido a trabalhar sob formas novas, sob condições de mercado, tirando vantagem da experiência de outros lugares do mundo e levando em consideração os padrões atuais da economia global. Forte poder estatal, forte política social e confiança no povo - é isso que explica o segredo por trás de nossos sucesso".
A democracia liberal no Ocidente tem significado, em termos reais, a transferência constante do trabalho do trabalhador americano para os bolsos dos bancos e das empresas multinacionais. Quando os bancos faliram, eles demandaram trilhões desses mesmos contribuintes para continuarem a emprestar. Muito desse dinheiro simplesmente saiu do país para os bolsos dos principais jogadores, como Goldman-Sachs. Nas eleições de 2008, Goldman gastou uma enorme soma em dinheiro com ambos candidatos. Independentemente de quem vencesse em 2008, Goldman seria visto como seu beneficiário principal. Isto é a democracia liberal, e essa é uma grande parte da falência americana.
Ao expulsar os oligarcas ocidentais, Lukashenko fez duas coisas: primeiro, ele garantiu sua própria popularidade e sucesso político ao mesmo tempo em que, em segundo lugar, garantiu o ódio do sistema ocidental. Deve-se notar que no encontro de Bilderberg de 2010, nem um único russo ou bielorrusso foi convidado. O mesmo se deu em 2011.
Em seu ensaio sobre a "Escolha Histórica", Lukashenko condena a forma de livre-comércio praticada pela União Européia. Para ele, o campo de jogo já está viciado em favor das elites, nos Estados poderosos da União. Na União Européia - ele escreveu em 2003 - Estados como Grécia ou Portugal não podiam competir com os Estados avançados da Alemanha ou da Inglaterra. Os benefícios que a Grécia tira da União Européia existem apenas nos interesses das classes governantes, enquanto o povo sofre. Bens alemães ou franceses inundam o mercado grego, retirando artesãos gregos do mercado.
Quando Lukashenko usa a palavra "independência", isso significa não apenas um slogan de campanha, mas uma realidade moral. Independência significa independência econômica - se ingressará no mercado global nos nossos termos, não nos dos bancos. Independência significa que, enquanto a Bielorrússia sempre será um povo eslavo e ortodoxo, isso não significa que questões de justiça serão ignoradas por Minsk na hora de escolher seus aliados. Não há dependência em relação a ninguém. Dependência de outros Estados para energia, mercados ou componentes industriais automaticamente significa que o próprio povo perdeu todo o poder sobre suas vidas econômicas, e seu bem estar nesse sentido resta tão somente nas mãos de outros, de estrangeiros. Para a Bielorrússia, o trabalhador deve estar envolvido em todos os níveis de tomada de decisão econômica e terá algum controle sobre a vida econômica de que ele desfruta.
Na comemoração do sexagésimo aniversário do massacre de Katyn em março de 2003, Lukashenko disse isso:
"Nós ainda temos que analisar e aprender as lições dos eventos atuais. Mas hoje já está claro: o sistema da ordem mundial foi destruído graças à guerra no Iraque, o papel do Conselho de Segurança da ONU foi reduzido a nada, o Direito Internacional foi pisoteado, o princípio da não-imposição de sistema de governo a qualquer povo foi violado. O povo bielorrusso condena a agressão dos Estados Unidos da América. E assim fazem a maioria dos povos e Estados do mundo, incluindo até aliados próximos dos EUA".
Lukashenko tem consistentemente afirmado que as Nações Unidas não passam de um instrumento de controle do poder imperialista americano. Ademais, ele avalia que a ONU deveria incluir as perspectivas dos Estados mais pobres do mundo na hora de tomar decisões de política internacional. Luskashenko rejeita qualquer forma de governo global, mas ainda vê um possível papel construtivo para algumas organizações internacionais na proteção dos fracos contra os fortes. Ele enfatiza o "princípio da não-imposição externa" de formas de Estado ou de ideologia sobre um povo. Lukashenko condena a cruzada ideológica americana por petróleo, por Israel e pela doutrina oligárquica da "democracia liberal".
Lukashenko vê cruzadas ideológicas não como intervenções morais ou como manifestações desinteressadas de humanitarismo, mas como disfarces para o poder oligárquico cru. Na teoria ética de Lukashenko, a oligarquia é a pior forma de governo. Historicamente, de Novgorod a Veneza a Nova Iorque, as oligarquias utilizam o liberalismo, o "republicanismo" e a manipulação midiática como disfarce para seu próprio poder. De maneira similar, Lukashenko em seu discurso de 2006 aos chefes diplomáticos da Bielorrússia:
"Se estamos falando de respeito por Estados, por sua independência e soberania, seus direitos de escolher seus futuros, sobre o direito do povo de escolher seus líderes, sobre o respeito ao direito à vida e ao trabalho, a salários dignos, ao direito a igualdade perante a lei, ao direito a liberdade de opinião e expressão em conformidade com a lei, sem detrimento dos direitos de outros povos - estes são nossos valores. Os EUA e a União Européia não possuem um monopólio sobre esses direitos. Nossa nação pagou um preço muito mais caro por estes valores que os EUA e a União Européia".
Como sempre, Lukashenko demonstra a distinção entre um político e um estadista. São conceitos como estes que ajudaram este homem a ase tornar um dos políticos mais populares no mundo eslavo. Novamente, o presidente bielorruso afirma que "direitos" abstratos não são nada além de disfarces para o poder oligárquico bruto. Os EUA violam os direitos e soberanias de outros Estados não para proteger pessoas de "abusos contra direitos humanos", mas sim para servir aos interesses de seu setor privado excessivamente rico e imenso.
Enquanto a imprensa ocidental continuamente repete a afirmação imprecisa de que a mídia bielorrussa é "estatal", eles próprios seguem todos uma linha única nos tópicos mais importantes, especialmente na política externa. Desnecessário dizer, o controle oligárquico sobre a mídia ocidental é bastante conhecido para merecer mais comentários.
O próprio fato de que o presidente da Bielorrússia sustenta que a hostilidade ocidental se deve a "influências externas" sugere fortemente que ele se refere a fontes étnicas e financeiras de poder. Isso é importante, já que vai ao coração de suas idéias sociais. O Estado, em seu melhor, é uma fonte de autoridade moral e bem público. Quando o Estado é capturado por elementos alógenos, ele então se torna mero agente coercitivo da oligarquia. Portanto, de modo reverso, Lukashenko está fazendo a acusação de que os Estados ocidentais não são entes públicos, mas privados. Se eles se tornassem entes públicos uma vez mais, abandonariam sua hostilidade ao sistema político bielorrusso.
Conclusão
Ao se tentar entender as idéias políticas de Lukashenko fora de sua distorção midiática muitos temas aparecem repetidamente:
1 - Um nacionalismo que enfatiza a segurança econômica de seu pequeno país. Etnia e religião são importantes porque servem como base de solidariedade para as preocupações econômicas básicas do povo.
2 - O ataque contínuo a "abstrações", tais como "direitos humanos" ou "liberdade econômica". Como abstrações podem significar qualquer coisa que o locutor queira, elas são usadas como coberturas para o exercício do colonialismo e do imperialismo econômico.
3 - Em casos de emergência, tais como a desintegração das economias russa e ucraniana no início da década de 90, o Estado tem a responsabilidade de assumir a liderança na proteção da população contra a oligarquia e ataques estrangeiros. Este é especialmente o caso em Estados menores e portanto mais vulneráveis.
4 - Nenhum Estado pode funcionar quando ele é penetrado pela oligarquia e pela ideologia de "livre mercado". Estes se importam apenas com bens privados, enquanto o Estado serve apenas ao bem público. O Estado serve ao bem público quando ele usa sua autoridade contra o poder econômico concentrado e a interferência estrangeira auto-interessada.
5 - O Estado compreende seu papel apenas à luz da experiência histórica e das tradições étnicas de seu povo.
6 - A economia existe para o povo. Se ela não serve ao bem público, então ela não possui qualquer legitimidade moral, independentemente de todo palavreado sobre "direitos" no sentido contrário.
7 - O Estado possui um papel econômico legítimo tanto na mídia como na economia. Ele não possui direito de ordená-los de forma totalitária, mas ele, especialmente em temos de crise, possui um direito de ter sua voz ouvida. Um forte setor estatal não é sinônimo de "tirania".
8 - Não há qualquer distinção moral real entre controle estatal e controle oligárquico.
9 - A mídia é uma das armas mais poderosas do mundo. Daí, ela deve ser regulada como qualquer outra arma. As elites midiáticas são quase sempre oligárquicas e centralizadas, e usam seus impérios para estabelecer controle sobre o povo. Uma mídia livre, portanto, é uma mista, com diferentes perspectivas sendo permitidas. Isso é mais presente na Rússia e na Bielorrússia do que nos Estados Unidos.
10 - Nenhum governo tem o direito de manipular as questões internas de outro. Este é especialmente o caso quando a interferência e claramente auto-interessada e serve apenas aos interesses de uma oligarquia econômica.
11 - "O povo" é outra dessas abstrações que não significa nada. Para usar o termo "o povo", o locutor deve estar se referindo a um povo específico, uma língua específica e uma tradição histórica específica, bem como a um contexto social específico.
12 - A justiça internacional, se ela significa algo, se refere a uma situação em que os grupos étnicos, raças e religiões do mundo possuem independência para se desenvolver segundo sua própria tradição histórica, não segundo os slogans ideológicos da hegemonia atual.
13 - Justiça internacional também implica em corpos internacionais objetivos e politicamente neutros que possam mediar disputas fora de uma agenda ideológica. Isso está longe de ser um "governo mundial", mas se refere apenas a certos arranjos que podem resolver problemas internacionais de uma forma neutra antes que eles levem a guerras em larga escala. Isso é especialmente importante em Estados pequenos que perderam grandes quantidades de sua população em guerras. O fato de que a Bielorrússia perdeu quase 30% de sua população na Segunda Guerra Mundial torna o bielorrusso médio um tanto quanto irritável perante a possibilidade de uma outra guerra ser travada em seu solo.
Em um encontro com seu Gabinete e outras figuras militares e governamentais significativas em março de 2002, Lukashenko resumiu sua visão política. Vale a pena citá-lo por inteiro:
"Quais são os traços distintivos de nosso modelo?
Primeiro. Autoridade estatal forte e eficiente. Salvaguardar a segurança dos cidadãos, Garantir a justiça social e a ordem pública, Não permitir a expansão da criminalidade e a corrupção é de fato o papel do Estado. Apenas a autoridade forte conseguiu retirar a economia bielorrussa do abismo econômico.
Nossos vizinhos mais próximos no decorrer do tempo perceberam que, se não há uma forte hierarquia de autoridade, a liberalização da economia no período de transição acarreta em instabilidade social e desordem legal inaudita. Ela resulta em caos público!
Quanto a nós, nós tivemos uma idéia clara desde o início de que a expansão prematura das relações de mercado não nos permitiria resolver radicalmente qualquer dos problemas existentes. Ao contrário, novos problemas emergiria, gerados pela especificidade das relações de mercado. A harmonia pública seria rompida, resultando em conflitos e instabilidade. E é a estabilidade política uma das condições principais para uma integração gradual na economia mundial. Eu chamaria isso de um dos traços ou consequências distintivas do modelo de desenvolvimento da economia bielorrussa.
Aqui nós procedemos do fato de que a mentalidade, tradições e modo de vida do povo não podem ser modificados da noite pro dia. E será que devem mesmo ser modificados? Não pode ser possível lançar o povo despreparado no abismo do mercado. São necessárias décadas para se trabalhar uma nova visão de mundo.
O segundo traço distintivo de nosso modelo está no fato de que o setor privado pode e tem que ser desenvolvido junto ao setor público. Mas não em detrimento dos interesses nacionais. Eu enfatizo: se você é um proprietário privado, isso não implica em que você deva fazer o que quiser. Os interesses nacionais, o Estado, devem ser a prioridade central e o objetivo principal para o trabalho de cada cidadão, empresa ou empresário cuja produção seja baseada na propriedade privada".
Isso não é retórica de campanha, mas serve como a base da política de governo desde meados da década de 90. O Estado deve ser forte, honesto e liderado de forma competente, porque a alternativa é o controle oligárquico e a substituição do Direito Público pelo Direito Privado. O Estado está tomando um posicionamento protetor em relação a seu povo - uma idéia nova em uma era em que as elites ocidentais sistematicamente solaparam os interesses do seu próprio povo, particularmente em relação a imigração. Conforme a União Soviética se desintegrou, apenas o Estado restou para salvaguardar algum conceito mínimo de bem público. A Rússia sob Yeltsin e sob controle do FMI foi incapaz disso, provando a incompetência e a corrupção dessas agências internacionais. Apenas na Bielorrússia o estupro econômico foi impedido.
A ignorância dos defensores do livre mercado é demonstrada em suas opiniões sobre a Rússia. Eles assumiram por volta de 1991 que se o governo simplesmente "saísse do caminho" da "mão invisível", tudo ficaria bem. O que eles não contavam era com as desigualdades radicais de acesso ao poder. Aqueles com bons empregos no governo, com fortunas do mercado negro ou outras formas de acesso "cinzento" ao poder eram precisamente aqueles em melhores posições de tomar o poder. Sob a fraca liderança de Yéltsin e do FMI, a economia russa quase desapareceu. O trabalho de décadas do povo russo foi liquidado e enviado para a América, para o Chipre, para Israel e para a América Latina em nome da "liberdade" e da "democracia".
O "livre mercado" é um slogan - um modo de legitimar a distribuição de poder já vigente. Nunca houve uma época do "livre mercado" puro, mas ao invés, ele existiu apenas por causa das habilidades daqueles capazes de tomar o poder durante a decadência do Antigo Regime na Europa. As velhas proteções sociais do camponês e citadino medieval foram deixadas de lado nessa corrida oligárquica por progresso, dinheiro e poder. O mesmo aconteceu na Rússia e na Ucrânia no início da década de 90. Liderança fraca significou a liquidação do Estado, da economia e do ordenamento jurídico. No seu Discurso de Ano Novo de 2009, Lukashenko acrescentou mais detalhes para sua abordagem básica:
"Nós recomendaram pôr com urgência a economia sob o comando das regras do mercado global. Mas decidimos não confiar em padrões de troca voláteis.
Não fomos nós que provocamos a crise atual que lança ondas de choque por todo o mundo. Ao contrário, a crise veio como resultado de algo contra o que sempre lutamos com determinação.
As palavras centrais são essas: 'Eu enfatizo: se você é um proprietário privado, isso não significa que você deva fazer o que quiser'. É a Nação que vem primeiro. A Nação aqui é a tradição bilíngue da Bielorrússia entre o russo e o bielorrusso. É ortodoxa eslava e agrária. É baseada em uma distribuição fundamentalmente igualitária de terra e recursos em nome da solidariedade étnica e nacional. Progresso econômico não significa nada se ele beneficia apenas uns poucos. Nacionalismo implica em solidariedade, especialmente em um país pequeno e vulnerável sob ataques constantes".
Em seu famoso ensaio "Sobre a Escolha História da Bielorrússia", os aspectos mais "étnicos" de sua teoria política são expostos. Em geral, o propósito do Estado, nesse âmbito, é o de fornecer um lar seguro para as tradições específicas dos povos que vivem dentro dele florescerem. Isso inclui a cultura agrícola, a vida urbana e as tradições étnicas específicas de poloneses, bielorrussos e russos vivendo na Bielorrússia. A questão não é tanto do Estado como representante de uma tradição nacional específica, mas como preservador das tradições nacionais dos povos que vivem dentro de suas fronteiras. Não há Estados etnicamente puros, e portanto, o melhor que o Estado pode fazer é proteger as tradições étnicas e variações regionais que existem.
Em seu Discurso de 2002 sobre o Estado da União, Lukashenko afirmou:
"Direitos e liberdades devem estar em harmonia com responsabilidades por violações das regulações estatais. O desenvolvimento da economia bielorrusa implica não apenas o encorajamento da iniciativa pequena e média (ainda que, como eu disse, essas devam ser e serão encorajadas). Historicamente, indústria bielorrussa significa empresas de grande escala. Há apenas um caminho promissor: atualizar e reequipar as principais indústrias existentes de modo que possam produzir uma nova geração de produtos competitivos. Vejam, o mundo inteiro se funde em corporações transnacionais. Por que então deveríamos esmagar, dividir e destruir nossas enormes empresas? Devemos confiar nelas. Ao seguir essa política, o Estado, em primeiro lugar, estará confiando nesses gigantes, que nos tem sustentado e alimentado. Investimentos imensos são necessários para isso, que não podem ser atraídos sem se mudar a forma de propriedade".
Sua doutrina de "direito social" é a de que não há direitos abstratos. Eles são contextualizados em um modo de vida - aquele do coletivo nacional. Você não tem direito, por exemplo, a fazer algo que ameace a vida econômica do país. Direitos no Ocidente são slogans vazios sem significado. Eles existem para finalizar um argumento: "Eu tenho direito a isso", pode dizer o empresário americano enquanto ele transfere empregos para a China. Justificar esse suposto "direito" é outra questão, mas o próprio ato de reivindicar um "direito" a algo encerra toda argumentação. Lukashenko pergunta não quais são os seus "direitos", mas qual é o "melhor" a se fazer. Ninguém tem um "direito" a solapar o bem público, especialmente pelo lucro privado. Toda a questão do Direito é proteger o trabalho da arrogância do fetichismo monetário da classe dominante. Apenas uma liderança forte e capaz de passar por cima das cabeças de clãs poderosos pode criar leis assim. Lukashenko e a Bielorrússia tem colhido os benefícios de tal política.
Ao confrontar o massacre ocidental em seu Discurso de 2006 sobre o Estado da União, Lukashenko não poupou palavras:
"A linha política de desenvolvimento do país operacionalizada por nós se demonstrou acertada. Altas taxas de crescimento econômico, que nossa economia tem demonstrado por mais de 10 anos, fornecem boa evidência disso. Apenas comparem: o crescimento anual de nosso PIB no período dos últimos 5 anos de planejamento foi de 7.5% contra 3.5% da média mundial.
Os teóricos ocidentais não conseguem explicar as razões desse sucesso. Elas não se encaixam em seu esquema 'democrático'.
As razões, porém, são simples. Nós não desviamos a riqueza do povo, nós não nos enfiamos em dívidas esmagadoras. Confiando na vida em si, nós desenvolvemos nosso próprio modelo de desenvolvimento baseado em reformas equilibradas e bem planejadas. Sem quaisquer privatizações em massa e terapias de choque - preservando tudo que havia de melhor em nossa economia e tradições. Ao mesmo tempo nós temos aprendido a trabalhar sob formas novas, sob condições de mercado, tirando vantagem da experiência de outros lugares do mundo e levando em consideração os padrões atuais da economia global. Forte poder estatal, forte política social e confiança no povo - é isso que explica o segredo por trás de nossos sucesso".
A democracia liberal no Ocidente tem significado, em termos reais, a transferência constante do trabalho do trabalhador americano para os bolsos dos bancos e das empresas multinacionais. Quando os bancos faliram, eles demandaram trilhões desses mesmos contribuintes para continuarem a emprestar. Muito desse dinheiro simplesmente saiu do país para os bolsos dos principais jogadores, como Goldman-Sachs. Nas eleições de 2008, Goldman gastou uma enorme soma em dinheiro com ambos candidatos. Independentemente de quem vencesse em 2008, Goldman seria visto como seu beneficiário principal. Isto é a democracia liberal, e essa é uma grande parte da falência americana.
Ao expulsar os oligarcas ocidentais, Lukashenko fez duas coisas: primeiro, ele garantiu sua própria popularidade e sucesso político ao mesmo tempo em que, em segundo lugar, garantiu o ódio do sistema ocidental. Deve-se notar que no encontro de Bilderberg de 2010, nem um único russo ou bielorrusso foi convidado. O mesmo se deu em 2011.
Em seu ensaio sobre a "Escolha Histórica", Lukashenko condena a forma de livre-comércio praticada pela União Européia. Para ele, o campo de jogo já está viciado em favor das elites, nos Estados poderosos da União. Na União Européia - ele escreveu em 2003 - Estados como Grécia ou Portugal não podiam competir com os Estados avançados da Alemanha ou da Inglaterra. Os benefícios que a Grécia tira da União Européia existem apenas nos interesses das classes governantes, enquanto o povo sofre. Bens alemães ou franceses inundam o mercado grego, retirando artesãos gregos do mercado.
Quando Lukashenko usa a palavra "independência", isso significa não apenas um slogan de campanha, mas uma realidade moral. Independência significa independência econômica - se ingressará no mercado global nos nossos termos, não nos dos bancos. Independência significa que, enquanto a Bielorrússia sempre será um povo eslavo e ortodoxo, isso não significa que questões de justiça serão ignoradas por Minsk na hora de escolher seus aliados. Não há dependência em relação a ninguém. Dependência de outros Estados para energia, mercados ou componentes industriais automaticamente significa que o próprio povo perdeu todo o poder sobre suas vidas econômicas, e seu bem estar nesse sentido resta tão somente nas mãos de outros, de estrangeiros. Para a Bielorrússia, o trabalhador deve estar envolvido em todos os níveis de tomada de decisão econômica e terá algum controle sobre a vida econômica de que ele desfruta.
Na comemoração do sexagésimo aniversário do massacre de Katyn em março de 2003, Lukashenko disse isso:
"Nós ainda temos que analisar e aprender as lições dos eventos atuais. Mas hoje já está claro: o sistema da ordem mundial foi destruído graças à guerra no Iraque, o papel do Conselho de Segurança da ONU foi reduzido a nada, o Direito Internacional foi pisoteado, o princípio da não-imposição de sistema de governo a qualquer povo foi violado. O povo bielorrusso condena a agressão dos Estados Unidos da América. E assim fazem a maioria dos povos e Estados do mundo, incluindo até aliados próximos dos EUA".
Lukashenko tem consistentemente afirmado que as Nações Unidas não passam de um instrumento de controle do poder imperialista americano. Ademais, ele avalia que a ONU deveria incluir as perspectivas dos Estados mais pobres do mundo na hora de tomar decisões de política internacional. Luskashenko rejeita qualquer forma de governo global, mas ainda vê um possível papel construtivo para algumas organizações internacionais na proteção dos fracos contra os fortes. Ele enfatiza o "princípio da não-imposição externa" de formas de Estado ou de ideologia sobre um povo. Lukashenko condena a cruzada ideológica americana por petróleo, por Israel e pela doutrina oligárquica da "democracia liberal".
Lukashenko vê cruzadas ideológicas não como intervenções morais ou como manifestações desinteressadas de humanitarismo, mas como disfarces para o poder oligárquico cru. Na teoria ética de Lukashenko, a oligarquia é a pior forma de governo. Historicamente, de Novgorod a Veneza a Nova Iorque, as oligarquias utilizam o liberalismo, o "republicanismo" e a manipulação midiática como disfarce para seu próprio poder. De maneira similar, Lukashenko em seu discurso de 2006 aos chefes diplomáticos da Bielorrússia:
"Se estamos falando de respeito por Estados, por sua independência e soberania, seus direitos de escolher seus futuros, sobre o direito do povo de escolher seus líderes, sobre o respeito ao direito à vida e ao trabalho, a salários dignos, ao direito a igualdade perante a lei, ao direito a liberdade de opinião e expressão em conformidade com a lei, sem detrimento dos direitos de outros povos - estes são nossos valores. Os EUA e a União Européia não possuem um monopólio sobre esses direitos. Nossa nação pagou um preço muito mais caro por estes valores que os EUA e a União Européia".
Como sempre, Lukashenko demonstra a distinção entre um político e um estadista. São conceitos como estes que ajudaram este homem a ase tornar um dos políticos mais populares no mundo eslavo. Novamente, o presidente bielorruso afirma que "direitos" abstratos não são nada além de disfarces para o poder oligárquico bruto. Os EUA violam os direitos e soberanias de outros Estados não para proteger pessoas de "abusos contra direitos humanos", mas sim para servir aos interesses de seu setor privado excessivamente rico e imenso.
Enquanto a imprensa ocidental continuamente repete a afirmação imprecisa de que a mídia bielorrussa é "estatal", eles próprios seguem todos uma linha única nos tópicos mais importantes, especialmente na política externa. Desnecessário dizer, o controle oligárquico sobre a mídia ocidental é bastante conhecido para merecer mais comentários.
O próprio fato de que o presidente da Bielorrússia sustenta que a hostilidade ocidental se deve a "influências externas" sugere fortemente que ele se refere a fontes étnicas e financeiras de poder. Isso é importante, já que vai ao coração de suas idéias sociais. O Estado, em seu melhor, é uma fonte de autoridade moral e bem público. Quando o Estado é capturado por elementos alógenos, ele então se torna mero agente coercitivo da oligarquia. Portanto, de modo reverso, Lukashenko está fazendo a acusação de que os Estados ocidentais não são entes públicos, mas privados. Se eles se tornassem entes públicos uma vez mais, abandonariam sua hostilidade ao sistema político bielorrusso.
Conclusão
Ao se tentar entender as idéias políticas de Lukashenko fora de sua distorção midiática muitos temas aparecem repetidamente:
1 - Um nacionalismo que enfatiza a segurança econômica de seu pequeno país. Etnia e religião são importantes porque servem como base de solidariedade para as preocupações econômicas básicas do povo.
2 - O ataque contínuo a "abstrações", tais como "direitos humanos" ou "liberdade econômica". Como abstrações podem significar qualquer coisa que o locutor queira, elas são usadas como coberturas para o exercício do colonialismo e do imperialismo econômico.
3 - Em casos de emergência, tais como a desintegração das economias russa e ucraniana no início da década de 90, o Estado tem a responsabilidade de assumir a liderança na proteção da população contra a oligarquia e ataques estrangeiros. Este é especialmente o caso em Estados menores e portanto mais vulneráveis.
4 - Nenhum Estado pode funcionar quando ele é penetrado pela oligarquia e pela ideologia de "livre mercado". Estes se importam apenas com bens privados, enquanto o Estado serve apenas ao bem público. O Estado serve ao bem público quando ele usa sua autoridade contra o poder econômico concentrado e a interferência estrangeira auto-interessada.
5 - O Estado compreende seu papel apenas à luz da experiência histórica e das tradições étnicas de seu povo.
6 - A economia existe para o povo. Se ela não serve ao bem público, então ela não possui qualquer legitimidade moral, independentemente de todo palavreado sobre "direitos" no sentido contrário.
7 - O Estado possui um papel econômico legítimo tanto na mídia como na economia. Ele não possui direito de ordená-los de forma totalitária, mas ele, especialmente em temos de crise, possui um direito de ter sua voz ouvida. Um forte setor estatal não é sinônimo de "tirania".
8 - Não há qualquer distinção moral real entre controle estatal e controle oligárquico.
9 - A mídia é uma das armas mais poderosas do mundo. Daí, ela deve ser regulada como qualquer outra arma. As elites midiáticas são quase sempre oligárquicas e centralizadas, e usam seus impérios para estabelecer controle sobre o povo. Uma mídia livre, portanto, é uma mista, com diferentes perspectivas sendo permitidas. Isso é mais presente na Rússia e na Bielorrússia do que nos Estados Unidos.
10 - Nenhum governo tem o direito de manipular as questões internas de outro. Este é especialmente o caso quando a interferência e claramente auto-interessada e serve apenas aos interesses de uma oligarquia econômica.
11 - "O povo" é outra dessas abstrações que não significa nada. Para usar o termo "o povo", o locutor deve estar se referindo a um povo específico, uma língua específica e uma tradição histórica específica, bem como a um contexto social específico.
12 - A justiça internacional, se ela significa algo, se refere a uma situação em que os grupos étnicos, raças e religiões do mundo possuem independência para se desenvolver segundo sua própria tradição histórica, não segundo os slogans ideológicos da hegemonia atual.
13 - Justiça internacional também implica em corpos internacionais objetivos e politicamente neutros que possam mediar disputas fora de uma agenda ideológica. Isso está longe de ser um "governo mundial", mas se refere apenas a certos arranjos que podem resolver problemas internacionais de uma forma neutra antes que eles levem a guerras em larga escala. Isso é especialmente importante em Estados pequenos que perderam grandes quantidades de sua população em guerras. O fato de que a Bielorrússia perdeu quase 30% de sua população na Segunda Guerra Mundial torna o bielorrusso médio um tanto quanto irritável perante a possibilidade de uma outra guerra ser travada em seu solo.