Eu consigo lembrar vividamente de sentar à mesa e argumentar com meu pai sobre o progresso, usando para isso toda a experiência e sabedoria que eu havia coletado até os quinze anos. Sem dúvidas nós vivemos em uma era de progresso, eu disse, apenas olhe para os carros – o quão grosseiros, instáveis e lentos eles eram nos velhos tempo, o quão suaves, eficientes e rápidos eles são agora.
Ele levantou um pouco a sobrancelha. E qual tem sido o resultado de ter todos esses carros maravilhosamente novos, eficientes e rápidos, ele perguntou. Eu me surpreendi. Eu procurei um modo de responder. Ele continuou.
Quantas pessoas morrem todos os anos como resultado destes carros velozes, quantos são mutilados e aleijados? Como é a vida para as pessoas que os produzem, naquelas famosas linhas de montagem, o mesmo trabalho padronizado por horas e horas, dia após dia, como no filme de Chaplin? Quantos campos e florestas e até mesmo povoados e vilas foram asfaltados para que estes carros pudessem chegar à todos os lugares que eles querem chegar, e estacionar ali? De onde toda essa gasolina vem, e a que custo, e o que acontece quando nós a queimamos e jogamos para o ambiente?
Antes que eu pudesse balbuciar uma resposta, felizmente, ele continuou a me falar sobre um artigo sobre o tema do progresso, um conceito do qual um nunca havia verdadeiramente pensado, escrito por um dos seus colegas da [Universidade] de Cornell, a historiador Carl Becker, um homem do qual eu nunca hava ouvido falar, na Enciclopedia de Ciências Sociais, uma fonte com a qual eu nunca hava me deparado. Leia, ele disse.
Temo que tenham se passo outros quinze anos antes que eu o fizesse, embora no meio tempo eu tenha vindo a aprender sobre a sabedoria do ceticismo de meu pai, enquanto o mundo moderno repetidamente vomitava outros exemplos de invenções e avanços – televisão, facas elétricas, fornos de microondas, energia nuclear – que mostravam a mesma natureza problemática do progresso, tomadas pela onda enegativamente produzidas, assim como o automóvel. Quando eu finalmente li o solene artigo de Becker, no curso de uma reavaliação total da modernidade, não foram necessárias armas intelectuais que ele havia empregado, para me convencer da proveniência histórica do conceito de progresso e de seu status, não como uma inevitabilidade, uma força como a gravidade, como meu eu-jovem imaginava, mas como uma construção cultural inventada por vários motivos práticos no Renascimento e no avanço da Propaganda Capitalista. Não era nada além de um mito útil, uma construção profundamente não-analisada – como todos os mitos culturais úteis – que promovia a ideia de avanços contínuos e eternos para a condição humana, amplamente pela exploração da natureza e pela aquisição de bens materiais.
Claro que atualmente esta não é uma percepção tão mágica. Muitos adolescentes de quinze anos hoje, vendo claramente os perigos trazidos pela tecnologia moderna que acompanha o progresso, alguns que ameaçam a própria continuidade da existência humana, já descobriram por si próprios o que há de errado com o mito. É difícil aprender que florestas estão sendo desmatadas em um ritmo de 56 milhões de acres por ano, que a desertificação ameaça 8 bilhões de acres de terra pelo mundo, que os dezessete maiores pontos de pesca do mundo estão em declínio e estão há uma década da exaustão virtual, que 26 milhões de toneladas de solo fértil são perdidos para a erosão e para a poluição todos os anos, e acreditar que o sistema econômico do mundo, cujas funções clamam estes preços, está caminhando na direção correta e que essa direção deva ser rotulada de “progresso”.
E.E. Cummings, certa vez chamou o progresso de “doença confortável” do moderno “não-ser-humano”, e assim tem sido para alguns. Mas em qualquer momento desde o triunfo do Capitalismo, apenas uma minoria da população mundial pode se dizer como realmente vivendo no conforto, e este conforto, constantemente ameaçado, é conquistado através de um custo considerável.
Hoje, dos aproximadamente 6 bilhões de habitants do mundo, é estimado que ao menos um bilhão viva na pobreza miserável, vidas crueis, vazias e compassivamente curtas. Outros 2 bilhões crescem em uma vida sob um mero nível de subsistência, normalmente sustentada por um ou outro amido, a maioria sem água potável ou vasos sanitários. Mais de 2 milhões vivem vivem no limiar da economia monetária, mas com salários menores que US$5000,00 anuais e sem propriedade, poupança ou patrimônio liquido para passar para suas crianças.
Isso deixa mais de um bilhão de pessoas, que até chegam perto da luta pela vda de conforto, com empregos e salários de alguma regularidade, e uma minoria bem reduzida no topo da escala, [e essa] pode-se dizer que conquistou uma vida confortável; no mundo, umas 350 pessoas podem ser consideradas bilionários (em Dólares Americanos), com um pouco mais de 3 milhões de milionários, e o seu patrimônio liquido é estimado como excedendo 45% da população mundial.
Isso é progresso? Uma doença que apenas tão poucos podem contrair? E com tamanha desigualdade, tamando desequilibrio?
Nos Estados Unidos, a nação mais avançada materialmente no mundo e há muito o mais ardente gladiador pela noção do progresso, mais ou menos 40 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza e outras 20 milhões abaixo da linha ajustada para custos reais de vida; mais ou menos 6 milhões estão desempregados, mais de 30 milhões dizem se sentir desencorajados para procurar empregos, e 45 milhões estão em empregos “descartáveis”, temporários ou de meio-período, sem benefícios ou segurança. 5% da população possui cerca de dois-terços da riqueza total; 60% não possuem ativos tangíveis ou estão endividados; em termos de renda, os 20% mais pobres, possuem menos de 4%.
Tudo isso dificilmente demonstra o tipo de conforto material que supostamente o progresso deveria provir. Certamente que muitos nos Estados Unidos e pelo mundo industrializado, vivem em níveis de riqueza impenssáveis em eras passadas, possibilitados de suscitar centenas de “quase-servos” ao apertar um botão ou girar uma chave, e provavelmente, pode-se dizer que um terço da população desse “primeiro mundo” possui na vida um determinado número de facilidades e conveniências. Ainda assim, é um fato estatístico que justamente este segmento é o que mais agudamente sofre da verdadeira “doença do conforto”, o que eu chamaria de afluenza: doenças cardíacas, estresse, excesso de trabalho, disfunção familiar, alcoolismo, insegurança, anomía, psicose, solidão, impotência, alienação, consumismo e frieza de coração.
Leopold Kohr, o economista austríaco, cujo seminário “A Dissolução das Nações”, uma ferramente essencial para entender as falhas do progresso político na última metade do milênio, frequentemente acabava suas lições com esta analogia.
Suponhamos que nós estamos em um trem-de-progresso, correndo na máxima velocidade permitida, abastecido pelo crescimento ganancioso e pelo esgotamento de recursos, e aplaudido por reconhecidos economistas. O que aconteceria se nós descobrissemos que estamos caminhando para uma queda vertiginosa, para um desastre certo, à apenas alguns quilômetros dali, quando os trilhos acabam em um abismo intrasponivel? Nós aceitamos os conselhos dos economistas, de colocar mais combustível nos motores, para que possamos viajar à uma velocidade eternamente crescente, presumindo esperançosamente que isso construiría uma nuvem de vapor tão forte que que nos faria aterrizar seguranmento no outro lado do abismo; ou nós apertamos freios e paramos bruscamente com algumas chacoalhadas fortes o mais rápido possível?
O progresso é o mito que nos assegura que a velocidade total para a frente nunca está errada. A ecologia é a disciplina que nos ensina que esse caminho é o desastre.
Diante do altar do progresso, adorado pelos seus ferrenhos seguidores da ciência e da tecnologia, a sociedade industrial moderna apresentou uma abundância crescente de sacrifícios do mundo natural, imitando em uma escala maior e muito mais devastadora, os ritos religiosos dos antigos impérios que se construiram sob conceitos similares de dominação da natureza. Agora, ao que parece, nós estamos preparados para oferecer até mesmo a biosfera toda.
Ninguém sabe o quão resiliente é a biosfera, quantos danos ela é capaz de absorver antes de parar de funcionar – ou ao menos, funcionar bem o bastante para manter a espécie humana viva. Mas em anos recentes, algumas vozes de autoridades muito respeitadas, têm sugerido que, se continuarmos com a implacável corrida pelo progresso, ou seja, acabar com a terra da qual ela depende, nós atingiremos este ponto em um futuro bem próximo. O Instituto Worldwatch, que publica análises anuais sobre estas questões, avisou que não há um sistema vivo de apoio, do qual a biosfera dependa para a sua existência – ar, água e solos saudáveis, temperatura e semelhantes – que agora estão severamente ameaçados e verdadeiramente piorando década após década.
Há não muito tempo, elite dos ciencistas ambientais e ativistas se encontrou em Morelia, México, e publicou uma declaração de aviso sobre “destruição ambiental” e expressou uma preocupação unânime de que “a vida no nosso planeta esteja em grave perigo”. E recentemente a U.S. Union of Concerned Scientists, afirmou em um documento, endossado por mais de cem ganhadores do Prêmio Novel e 1.600 membros das academias nacionais de ciência de todo o mundo, proclamando um “Aviso dos cientistas do mundo à humanidade”, afirmando que o presente ritmo de destruição ambiental e aumento populacional, não podem continuar sem uma “vasta miséria humana” e um planeta “tão irreversivelmente mutilado”, que seria “incapacitado de sustentar vida da maneira que conhecemos”.
A economia global de alta-tecnologia não escutará; não consegue escutar. Ela continua ferozmente com a sua expansão e exploração. Graças a ela, humanas usam anualmente, em torno de 40% de toda a energia fotosintética liquida presente no planeta Terra, apesar de sermos uma única espécie de números comparavelmente insignificantes. Graças a ela, a economia global cresceu mais de cinco vezes durante os ultimos 50 anos e continua em um ritmo vertiginoso a usar os recursos do mundo, criando taxas de poluição e lixo, irreversíveis, e aumentando as enormes desigualdades dentro e entre todas as nações do mundo.
Suponhamos que um “Observdor Objetivo” fosse medir o sucesso do Progresso – ou seja, o mito do P maiúsculo que desde o Iluminismo tem nutrido, guiado e liderado o casamento feliz entre ciência e capitalismo, que produziu a civilização industrial moderna.
Ele foi, como um todo, melhor ou pior para a espécie humana? Para outras espécies? Ele trouxe mais felicidade para os humanos do que existia antes? Mais justiça? Mais igualdade? Mais eficiência? E se os seus objetivos provaram ser mais benignos do que malignos, e os seus meios? A que preço os seus benefícios foram ganhos E eles são sustentáveis?
O “Observador Objetivo” teria concluido que a análise é misturada, sendo otimista. No lado positivo, não pode-se negar que a prosperidade material aumentou para cerca de um sexto dos humanos no mundo, para alguns, além dos mais avarentos sonhos de reis e autoridades do passado. O mundo desenvolveu sistemas de transporte e comunicação que permitem que pessoas, produtos e informação sejam transferidas em uma escala e com uma facilidade nunca antes possível. E para talvez um terço desses humanos, a longevidade aumentou, junto com uma melhoria geral na saúde e na higiene, que permitiram a expansão dos números humanos por cerca de dez vezes nos últimos três séculos.
Pelo lado negative, os custos foram consideráveis. O impacto sobre as espécies da terra e sistemas , para produzir prosperidade para um bilhão de pessoa foi, como nós vimos, devastador e destrutivo – apenas mais um exemplo, o fato de que ela gerou a extinção permanente de cerca de 500.000 espécies apenas neste século. O impacto sobre os restante cinco-sextos da espécie humana foi também destrutivo, sendo que a maioria deles viu suas sociedades colonizadas ou removidas, suas economias sugadas e quebradas, e seus meio-ambientes transformados para o pior durante o curso, levando-os à uma existência de privação e miséria que, provavelmente, é pior do que eles jamais teriam conhecido, havendo a dificuldade que fosse no passado, antes do advento da sociedade industrial.
E até memso o bilhão, cujo padrão de vida usa o que efetivamente é 100% dos recursos mundiais anuais, e que então, presume-se que sejam felizes como resultado, na verdade não o parecem ser. Nenhum indice social, de nenhuma sociedade avançada, demoonstra que as pessoas estão mais contentes agoras do que eram há uma geração atrás, várias pesquisas indicam que o “quociente de miséria” da maioria dos países, cresceu, e consideráveis evidências paupáveis (como crescentes índices de doenças mentais, drugas, crimes, divórcios e depressão) servem de argumento de que o enriquecimento material não incluiu muito a felicidade individual.
De fato, numa escala maior, quase que a totalidade do que o Progresso deveria conquistar, falhou em existir, apesar das imensas quantidades de dinheiro e tecnologia voltados para esta causa. Virtualmente, todos os sonhos que o adornaram ao passar dos anos, particularmente em seus estágios mais robustos do final do Século XIX e nos últimos 20 anos do advento da computação, se dissiparem em fantasias utópicas – aqueles que não se dissiparam, como energia nuclear, agricultura química, destino manifesto, e o Estado de bem Estar Social, se transformaram em pesadelos. O progresso não eliminou a pobreza, nem mesmo nas nações mais progressistas (o número de pobres aumentou e as rendas reais declinaram nos últimos 25 anos), ou a labuta (horas de trabalho cresceram, assim como o trabalho doméstico, para ambos os sexos), ou ignorância (taxas de alfabetização declinaram por 50 anos, notas em provas declinaram), ou doenças (as taxas de hospitalização, enfermidade e morte todas aumentaram desde 1980).
Parece ser bastante simples: para além da prosperidade e longevidade, e esses limitados à uma minoria, e ambos causando severos danos ambientais, o progresso não possui uma justificativa forte a seu favor. Para seus seguidores, sem dúvida, é provavelmente verdade que não seja necessário a existência de justificativa; porque é suficiente que a riqueza seja merecida, que as afluências sejam desejáveis e que viver mais é positivo. As regras do jogo para eles são simples: melhoria material para o máximo possível, o mais rápido possivel, e nada além, certamente não existem considerações sobre a moralidade pessoal, coesão social , profundidade espiritual e um governo participativo, nada disso importa para eles.
Mas o “Observador Objetivo” não é tão limitado, e consegue enxergar o quando profundas e mortíferas são as vias que tal visão. O “Observador Objetivo” pôde apenas concluir que desde que os frutos do Progesso são tão poucos, o preço pelo qual eles foram conquistados é extremamente alto, em termos sociais, econômicos, políticos e ambientais, e nem sociedades e nem o meio-ambiente conseguirão suportar o custo disso por mais de algumas décadas, caso eles já não tenham sido deteriorados além da redenção.
Herbert Read, o filósofo e critico ingles, alguma vez escreveu que “apenas um povo que sirva de aprendiz da natureza, pode ser confiado com maquinas”. É uma visualização profunda, e ele ressaltou ainda que “apenas tal povo inventará então e controlará essas máquinas, [percebendo que] seus produtos são aprimoramentos de necessidades biológicas, e não a negação delas”.
Aprendizes da natureza – este é verdadeiramente um mito estável e durável para guiar a sociedade.