A ruptura efetiva com o totalitarismo da mundialização exige o retorno a espaços limitados, autônomos, amplamente autossuficientes, sob medida do homem, no interior dos quais essa comunidade homogênea e solidária pode realizar-se em torno de sua identidade étnica regenerada.
Para conseguir este “retorno ao localismo”, tal como foi teorizado pela Nova Direita, não basta uma simples utopia romântica, para nutrir as conversas de final de tarde de jovens urbanos levemente embriagados, faz falta antes de tudo estabelecer alguns pontos importantes:
- O fim da onipresença urbana e a renuncia a ideologia dos bairros residenciais de periferia (que não são outra coisa que a extensão infinita de uma não-cidade no interior de um não-campo que contribui pouco a pouco a compor uma imensa terra de ninguém individualista e pequeno-burguesa) a favor de uma verdadeira reorganização do território que implica o reinvestimento da ruralidade.
- A denuncia da ideologia do crescimento perpétuo e do desperdício organizado que necessita uma produção cada vez mais massiva e cada vez mais deslocalizada para minimizar os custos e aumentar assim o incentivo, a qual é substituída pela valorização da frugalidade e a escolha da simplicidade.
- A reabilitação do ensino da arte, da técnica e das maestrias, que devem ser preferidas ao culto delirante de um setor terciário divinizado e produtor desse imenso proletariado “intelectual” que apodrece nos blocos de cimento dos bairros de periferia.
A tarefa é imensa, mas estas três ideias parecem capazes de permitir uma evasão factível do sistema liberal e financeiro globalizado, da nova escravatura moderna, que permite não uma distante ainda que sedutora “saída da economia”, mas uma refundação econômica sob os princípios de proximidade, utilidade coletiva e moderação. Em uma palavra, é para retomar a análise aristotélica: escapar da queima (vontade de acumulação dos meios de aquisição em geral, e especialmente a moeda, por si mesma e não com um objetivo final que não seja o prazer pessoal) para voltar a uma economia “natural” (as mudanças necessárias para o aproveitamento do oikos, isto é, da família estendida ao sentido de comunidade). Não se trata de negar a economia, mas de colocá-la no lugar que lhe corresponde.
Para realizar isto, que não é outra coisa que uma revolução civilizacional, certo número de mudanças de consciência e comportamento, individuais e posteriormente coletivas são necessárias, modestas em sua aparência como imensas nas suas consequências.
Em particular, cada um de nós tem que entender que todos os atos de aquisição de bens e serviços são atos políticos tão importantes como o fato de criar um manifesto ou assistir uma conferência (logicamente, uma coisa não elimina a outra). Desta maneira a análise sistemática das origens dos produtos consumidos e sua discriminação em função disso permitiria a longo prazo uma “pressão local” suscetível de fazer possível um certo número de “realocações”. Porque é preciso ter em conta que comprar uma camisa chinesa estampada na Indonésia, ainda que esteja decorada com um lema vigorosamente europeu ou de um símbolo de Tradição não é um ato realmente identitário, mas simplesmente uma participação em uma das inumeráveis “indecisões tribais” do consumo mundial. Comprar frutas, verduras, ovos e queijo diretamente aos agricultores locais, privilegiar sistematicamente os artesãos e não os supermercados, renunciar a uma futilidade tecnológica fabricada por crianças-escravas em países de terceiro-mundo são verdadeiros atos de resistência identitária. Menos visíveis, talvez, mas seguramente mais uteis.
Essa ótica é evidentemente incompatível com a busca perpétua do “preço mais baixo”, essa ideologia da acumulação neurótica do desconto, é ao contrário, uma decisão em consideração da qualidade, da ética e da durabilidade e não só do preço exposto, geralmente inversamente proporcional ao custo social e identitário. Tal prática necessita meios financeiros elevados? Este é um contra-argumento que surge sempre, mas que não resiste à análise.
Desde o momento que sabemos que 30-35% do alimento comprado se joga fora sem ser consumido, fica claro que uma gestão mais racionada da quantidade adquirida compensaria amplamente o maior preço dos produtos alimentícios locais e de qualidade.
Deste modo, tal vontade de “politização do consumo”, para funcionar, deve ser acompanhada da aceitação de uma sobriedade bem integrada. “Menos mas melhor”, resumindo.
Este “ativismo do consumo”, se bem é certamente indispensável, não basta para provocar uma profunda ruptura com a lógica mundialista da produção comercial. Para ter êxito, a ação política estatal se converte em fundamental. Esta última poderia por exemplo, tomar forma através de uma cobrança progressiva segundo a proximidade do produtor e do consumidor (“Imposto Local”, quando a produção é mais próxima, o imposto é mais baixo). Poderia também tomar forma através de uma rigorosa política de sanções, a nível europeu, com as indústrias que fazem deslocalização (multas, fechamento de mercados, confisco de bens...). A possível destruição de postos de trabalho provocada no interior das indústrias e nas diversas multinacionais por um decrescimento racionado poderia ser compensada por uma renovação dos serviços de proximidade (pequenos negócios, serviços a domicilio, ensino, socorro e reparações, cooperativas artesanais que trabalham com matérias-primas locais, etc.) e de um recurso mais massivo de mão de obra nas fazendas agrícolas desindustrializadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, alguns agricultores produtivistas, enfrentados por uma proliferação de pragas resistentes aos venenos utilizados (entre os quais o veneno violento Round-Up), foram obrigados a deixar os pesticidas e a recorrer à extração manual, criando assim, sem ter buscado, um círculo vicioso: criação de postos de trabalho que geram salários, que por sua vez permitem distribuir a nível local a produção, com um custo de produção mais alto, mas com qualidade gustativa e sanitária muito maior.
Politicamente, socialmente, ecologicamente a realocação da nossa economia é uma necessidade absoluta. É tarefa nossa opor a uniformização do mercado global com aquilo que os antigos chamavam o “genus lochi” e que Heidegger denominou “Erörterung”, ou seja, a atribuição de lugar.
“O que chamamos de um lugar é o que reúne em si mesmo o essencial de algo”, dizia o filosofo alemão.
Agora realmente chegou o momento de voltar a isso.