"Oswald Spengler, em Le Déclin de l'Occident, traçou de forma infinitamente mais correta, a evolução da cidade, desde o burgo até a 'cidade mundial'.
A diferença entre o burgo e a cidade não reside apenas nas suas dimensões. O burgo não se opõe fundamentalmente ao campo. Construído em redor do mercado, ele constitui o ponto de interseção de um certo número de interesses rurais. Está ligado à terra e depende da 'natureza', de que ele adota os hábitos e os ritmos.
Com a 'cidade de cultura', isto é, a cidade tradicional, a natureza encontra-se, pelo contrário, nitidamente dominada, tanto do ponto de vista econômico como do ponto de vista político. A cidade transforma-se em pequena sociedade autônoma, em constante evolução em relação ao meio ambiente. Torna-se o sujeito coletivo da história dos seus habitantes. A relação entre a cidade e o campo é, então, análogo à relação entre a sociedade e a 'natureza'. É nisso que as sociedades citadinas são plenamente históricas, por oposição às sociedades rurais, que são sociedades de repetição. (O campo desempenhando um papel, indispensável, de reserva humana potencial destinada a atualizar-se progressivamente nas cidades - ao mesmo tempo que se efetua a sua própria substituição.)
Mas a 'cidade de cultura' em breve se expande. Desdobra-se em arrabaldes que, pouco a pouco, vão absorvendo os meios rurais circundantes. A relação com a natureza deixa de ser dialética para passar a ser esterilizante. O mundo rural é esvaziado, sem que tenha tempo de se renovar. Paralelamente, a gestão da cidade torna-se cada vez mais pesada e burocrática. Formas geométricas e cristalizadas substituem-se às formas orgânicas. O anonimato é a regra, encontrando-se o indivíduo desprovido de meios para se situar, de forma perdurável, em relação ao seu próprio meio. É assim que surge a 'cidade mundial', submetida, segundo as épocas, ao poder dos tecnocratas ou dos funcionários imperiais. A sua aparição, diz-nos Spengler, corresponde ao estágio da 'petrificação' das culturas.
'Estas cidades gigantescas e pouco numerosas', escreve, 'banem e matam, em todas as civilizações, sob o conceito de província, e por inteiro, a paisagem que foi a mãe da sua cultura (...). Elas transformam-se na história petrificada de um organismo'.
'As cidades mundiais do tempo dos Han e dos indianos da dinastia dos Maurya', acrescenta ele, 'possuíram as mesmas formas geométricas. As cidades mundiais da civilização euro-americana encontram-se longe de haver atingido o cume da sua evolução. Vejo aproximar-se o tempo em que se construirão cidades urbanas de dez ou vinte milhões de habitantes'.
É a este estágio aquele a que chegamos.
Todos os Estados modernos se encontram, hoje, confrontados com o mesmo problema: como canalizar o crescimento das grandes cidades sem prejudicar as exigências da vida social - ou o seu desenvolvimento? Neste domínio, e até agora, tem prevalecido o pragmatismo e a visão a curto prazo. Mas hoje, não é já possível que as cidades continuem a crescer por si próprias. As mais futuristas das propostas não faltam. Mas as soluções não são mais do que uma questão técnica, de planos, e de 'metrópoles de equilíbrio'. O exemplo de Nova Iorque dá o que pensar: o fracasso dessa cidade representa o fracasso de um certo modo de organização e de povoamento urbanos."
(Alain de Benoist)