Carros, festas de rua e festas infantis parecem ser suficientes para descrever e trazer à vida nas ruas o significado do carnaval. Diante disso, é necessário recuperar o significado desta festa, a mais atípica dos nossos tempos e que não tem significado religioso, ou civil, mas tem suas raízes na tradição das populações europeias mais antigas. Na Roma arcaica, temos exemplos de festas pré-carnaval que ocorreram no período do solstício de inverno ao equinócio de primavera. Em 15 de Fevereiro, realizava-se a Lupercalia, em honra do Deus silvestre Fauno Lupercus, onde os jovens (luperci - filhotes) envolviam o corpo com peles de animais sacrificados e cortavam outras peles em tiras e correndo e brandindo-as pela rua, açoitavam as pessoas que encontravam pelo caminho. As mulheres estéreis se submetiam aos golpes na esperança de recuperar sua fertilidade. Em 17 de março, por sua vez, se comemorava a Liberalia, festival dedicado a Baco, o Deus agreste da vida (representando a mutabilidade do ânimo exuberante e a energia fecundante da natureza), onde se pendurava pequenas máscaras em um pinheiro e e os cidadãos se abandonavam entre risos, canções e piadas.
No período solsticial nos lembramos da Saturnália, evento único de seu tipo, onde rituais alegres e libertários de tipo carnavalesco se repetiam; aqui as leis sociais eram abolidas e havia uma inversão de papéis, onde plebeus e patrícios estavam sentados à mesma mesa e era eleito um rei entre os mais destituídos ou entre os mais jovens da comunidade. No final deste evento, em homenagem a Saturno, a ordem era restabelecida com a "morte" do caos. Estes eventos pré-carnavalescos eram tudo menos parênteses despreocupados de evasão, mas sim períodos carregados de valores sagrados. A morte é um elemento constantemente presente nesses eventos e vai representar o fim de um ciclo e, então, preludar uma nova ordem no signo da fecundidade e da abundância. A "morte" do caos é, portanto, a morte do "rei do carnaval", momento que se desenvolve sempre ao final das "festividades", tudo rodeado como de costume por uma atmosfera de embriaguez, risos, cantos e transgressões. Em tudo isso, o "Rei" era acompanhado por carros, onde seu movimento recorda a passagem do tempo no cumprimento do evento "fatal", isto é, o fim do ano marcado pelo movimento das estrelas. O percurso tem um valor simbólico, que também pode ser encontrado na corrida dos luperci, no salto do salii em honra de Marte (1 de março), e entre o final de fevereiro e a primeira metade de março às equirria, corridas cavalos que também propiciavam ao Deus da guerra. O fim deste ciclo ocorria em fevereiro (de februare = purgar, purificar), já que era o último mês do ano, e ali começava um novo em março, que era o primeiro mês, às postas do equinócio da primavera, afirmação da vida e, portanto, do renascimento.
O nome atual de Carnaval vem de Car Naval, nomeadamente Carro Naval, que na Idade Média era chamado de "Stultifera Navis," nau dos tolos. Também encontramos festivais similares em outras populações de raízes indo-européias, que sempre ocorriam no período entre o final de fevereiro e o início de março. Na Grécia se realizava as Antestérias; a festa, que durava três dias, era celebrada em honra do Deus Dionísio (representado com chifres e pés de cabra, às vezes jovem, corresponde ao Pan, "tudo", e é um deus silvestre), e incluí no primeiro dia o preenchimento de jarros com vinho, no segundo dia ao entardecer começava a festa, onde se formava uma procissão composta por sátiros tocadores de flauta, levando guirlandas, máscaras, um touro sacrificial e uma barca puxada sobre quatro rodas. O terceiro dia tinha um caráter funerário, já que a festa também estava dedicada aos mortos. Também na Índia encontramos um evento de carnaval, o festival de Holi, e também nessa circunstância encontramos ritos de fertilidade, desfiles de carros alegóricos, momentos eróticos e burlescos, com a presença das máscaras. Podemos, portanto, concluir, apontando para o fato de que o Carnaval, tendo lugar no último mês era a festa para "libertar" as últimas energias e resíduos do ano, e, em seguida, o momento de se renovar e se revitalizar reflorescer a vida e o espírito, como a natureza retornará a florescer com a primavera.