01/04/2014

Henryk Wronski - A Terceira Via está Morta

por Henryk Wrosnki



Não há terceira via para a Ucrânia

Os desenvolvimentos na Ucrânia dividiram os círculos nacionalistas europeus em um grau que não tem sido visto em décadas. As ações do Setor de Direita ucraniano e grupos similares levaram alguns nacionalistas a acreditar que sua tão aguardada e mítica "Revolução Nacional" é possível.

Ainda que muitos deles tenham se desiludido depois que as milícias nacionalistas de Kiev se envergonhado com contatos com a embaixada israelense, implorando por ajuda de terroristas chechenos e empurrando a Ucrânia para a União Européia, a primeira onda de entusiasmo foi indubitavelmente autêntica. Ela afetou grupos bastante diferentes: a "Revolução Ucraniana" conseguiu apoio da Ação Nacional-Revolucionária Espanhola, que representa idéias similares aos dos Nacionalistas Autônomos e da Juventude Nórdica Sueca, que endossa uma visão de "patriotismo moderno" com uma face humana feliz (ou melhor dizendo, contorcida com um sorriso grotesco e imbecil). Os nacionalistas ucranianos foram parabenizados pelos assim chamados "Fascistas do Terceiro Milênio" da Casa Pound Itália, bem como pelos nacionalistas católicos do Forza Nuova, ainda que deva ser notado que ambas organizações italianas tenham alertado contra os "lucros" resultantes de se unir à OTAN e à União Européia.

Não obstante, as análises de desenvolvimentos relativos a Ucrânia demonstram que o jogo por influências é um jogo entre Rússia e EUA, e não há lugar para quaisquer outros jogadores. Nessa situação, apoiar os nacionalistas ucranianos significa efetivamente dar apoio aos EUA, e qualquer objeção em relação a eles é uma declaração de apoio às políticas russas. Não há terceira via entre eles.

A Terceira Via é Obsoleta

Por que nacionalistas europeus, que em seus próprios países se posicionam contra a União Européia, o americanismo e o liberalismo dão seu apoio a colocar a Ucrânia na esfera euro-atlântica de influência? Parece que a resposta pode estar na inadequação de suas idéias que se tornaram ultrapassadas e não estão mais adaptadas aos tempos presentes. Os movimentos nacional-revolucionários que se desenvolveram na Europa Ocidental desde a década de 60 levantaram muitas questões importantes. Muitas vezes eles enfureceram a velha direita burguesa por causa de sua visão dos EUA como inimigos e opressores da Europa, não melhores que a URSS. Eles corretamente criticaram a economia liberal. Graças a eles a questão palestina e os problemas dos povos do Terceiro Mundo lutando por liberdade e dignidade começaram a aparecer no discurso nacionalista. Eles estavam dispostos a aprender com correntes políticas de fora da Europa como o Justicialismo argentino ou várias escolas de nacionalismo árabe. Ainda assim, o principal eixo de seu conflito era a idéia de dois inimigos - liberalismo e comunismo, personificados pelos EUA e URSS. A desintegração da União Soviética do Bloco Oriental foi uma derrota definitiva do comunismo.

Apenas um inimigo sobrou - o de Washington e Wall Street. Adeptos contemporâneos do nacionalismo de terceira posição parecem ignorar este fato. Eles acreditam em uma revolução nacional que torne a Europa dos Povos um terceiro poder, alternativo aos EUA e à Rússia. Ao mesmo tempo, eles criticam a Rússia por supostas ambições "imperialistas" e tentativas de reconstruir o poder soviético, geralmente associado a lamúrias patéticas sobre "repressões" contra nacionalistas russos; muitos dos quais prefeririam viver em uma Rússia pequena e fraca, desde que fosse habitada por eslavos brancos.

Essa atitude leva a cair na armadilha de sua própria ideologia e é um caminho direto para se tornar idiotas úteis do liberalismo equivalentes aos extremistas wahhabis que podem contar com apoio do Ocidente desde que ajam em seu interesse. Mas quando eles começam a morder a mão que os alimenta, a hegemonia global brutalmente os lembra quem é seu mestre, e quem é o servo.

Não vai haver quaisquer revoluções

Ainda que a Rússia e suas políticas possam ser (e são) criticadas por várias razões, hoje ela é a única potência real capaz de resistir à expansão global do liberalismo e impedir os planos de Washington. É bem compreendido pelos países que foram a vanguarda antiliberal, lutando pela possibilidade de escolher seu próprio caminho de desenvolvimento: Irã conservador, Venezuela bolivariana ou Síria nacionalista. Através de cooperações estratégicas de desenvolvimento com a Rússia, eles criam as bases para um mundo multipolar. Em cada caso, apesar de diferenças ideológicas, eles atuam contra forças que (explicitamente ou não) atuam para realizar interesses americanos. Dar apoio a grupos que aguem como aliados de Washington, ainda que eles o façam inconscientemente ou temporariamente, significa assumir o lado dos EUA.

O poder liberal pode usar adeptos de qualquer ideologia política, incluindo o nacionalismo, como meio para atingir seus objetivos. Após arrastar um país sob sua influência, destruindo laços sociais, estabelecendo uma economia criminosa fundada no capitalismo financeiro controlado pelo FMI, pelo Banco Mundial e por corporações multinacionais, ele não hesitará em sacrificar seus aliados recentes. Hoje, os nacionalistas ucranianos servem como esse tipo de suporte, dando legitimação para a transferência das reservas de ouro ucranianas para o exterior, para tentativas de impor políticas econômicas que levarão ao desastre e substituindo velhos oligarcas que tentavam manter um equilíbrio entre Rússia e Ocidente por oligarcas abertamente pró-Ocidente.

Apoiar esse tipo de "revolução nacional" é dar ajuda para a construção do poder americano que escraviza povos e destrói culturas por todo o mundo. O "despertar nacional" ucraniano demonstra o grau de diferença entre a realidade hodierna e sonhos e visões de futuro desenvolvidas em círculos nacionalistas da Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Uma comparação entre a revolução no Irã e a assim chamada "Primavera Árabe" vem à mente. A primeira foi uma genuína revolta popular contra marionetes americanos odiados, realizada exclusivamente por mãos iranianas. Após a revolução, o Irã rejeitou tanto o liberalismo pró-americano como o marxismo soviético decadente e escolheu uma terceira opção - políticas fundadas no Islã e suas leis. As "revoluções" na Líbia e Síria foram apenas tentativas de instalar forças pró-americanas no leme. Seu único efeito duradouro foi trazer guerra e caos. Resultados similares podem ser levados à Ucrânia e em cada outro país que os EUA irão querer incluir em sua esfera de influência. Não haverá quaisquer "revoluções nacionais" efetivamente apontadas contra os interesses americanos. Está na hora de reconhecer a inaplicabilidade de soluções apresentadas pelo nacionalismo de terceira via.

A hora de lutar contra dois adversários acabou há muito tempo atrás. Hoje há apenas um inimigo, e qualquer tentativa de ser neutro em relação a ele ou de apoiá-lo apesar de algumas reservas significa assumir seu lado. A Terceira Via em sua forma presente leva diretamente ao cemitério de idéias. Seria uma pena se seus apoiadores acabassem lá junto com os últimos fósseis do trotskismo ou reacionários iludidos que discutem seriamente sobre restaurar poder aos Habsburgos ou Bourbons.