05/05/2013

Dominique Venner - Maquiavel e a Revolução Conservadora

por Dominique Venner



Nascida junto à Primavera Francesa, a Revolução Conservadora está na moda. Um de seus teóricos mais brilhantes merece ser lembrado, mesmo que seu nome há muito tenha sido amaldiçoado. De fato não é muito lisonjeiro ser descrito como "maquiavélico". Isso pode ser visto como uma acusação caluniosa de cinismo e falsidade.

E porém o que levou Nicolau Maquiavel a escrever o mais famoso e mais polêmico de seus livros, O Príncipe, foi amor e preocupação com sua pátria, a Itália. Ele foi publicado em 1513, exatamente 500 anos atrás, tanto quanto O Cavaleiro, a Morte e o Diabo de Albrecht Dürer. Uma época fértil! Nos primeiros anos do século XVI, Maquiavel não obstante era o único a se preocupar com a Itália, a "entidade geográfica", como Metternich disse depois. Até então, preocupava-se com Nápoles, Gênova, Roma, Florença, Milão, e Veneza, mas ninguém se importava com a Itália. Isso teve que esperar por uns bons três séculos. O que prova que nunca devemos nos desesperar. Os profetas sempre pregam na desolação antes que seus sonhos alcancem as imprevisíveis massas em espera. Nós e alguns outros acreditamos em uma Europa que existe apenas em nossa memória criativa.

Nascido em Florença em 1469, morto em 1527, Nicolau Maquiavel foi um oficial de alto escalão e um diplomata. Suas missões o introduziram à grande política de seu tempo. O que ele aprendeu, e o que ele sofreu por seu patriotismo, o levaram a refletir sobre a arte de conduzir os negócios públicos. A vida o matriculou na escola das grandes reviravoltas. Ele tinha 23 anos de idade quando Lorenzo o Magnífico morreu em 1492. No mesmo ano, o ambicioso e voluptuoso Alexandre VI Bórgia se tornou Papa. Ele rapidamente produziu um filho, Cesare (à época, os Papas não se importavam muito com a castidade), um cardeal bastante jovem e então Duque de Valentinois graças ao Rei da França. Esse Cesare, acometido por uma terrível ambição, não se importava muito com os meios. Apesar de seus defeitos, seu ardor fascinava Maquiavel.

Mas eu me antecipo. Em 1494 veio um enorme evento que mudaria a Itália por um longo tempo. Carlos VIII, o jovem e ambicioso Rei da França, realizou sua famosa "descida", ou seja, uma tentativa de conquista que modificou o equilíbrio da península. Após ser bem recebido na Florença, em Roma e em Nápoles, Carlos VIII então se deparou com resistência e foi forçado a recuar, deixando para trás um terrível caos. Não acabou. Seu primo e sucessor, Carlos XII, retornou em 1500, dessa vez por mais tempo, até que Francisco I se tornou rei. Enquanto isso, Florença foi lançada em uma guerra civil, e a Itália foi devastada por condottieri gananciosos por saques.

Abismado, Maquiavel observou o dano. Ele ficou indignado com a impotência dos italianos. A partir de suas reflexões surgiu O Príncipe em 1513, o famoso tratado político escrito graças à desgraça de seu autor. O argumento, com uma lógica convincente, busca converter o leitor. O método é histórico. Se baseia no confronto entre o passado e o presente. Maquiavel afirmava sua crença de que os homens e as coisas não mudam. É por isso que o conselheiro florentino continua a falar a nós, europeus.

Seguindo os Antigos - seus modelos - ele acredita que a Fortuna (acaso), representado por uma mulher se equilibrando sobre uma roda instável, governa metade das ações humanas. Mas ela deixa, ele diz, a outra metade governada pelas virtudes (qualidades de ousadia masculina e energia). Maquiavel pede por homens de ação e os ensina como governar bem. Simbolizada pelo leão, a força é o meio primário de conquistar ou manter um Estado. Mas é necessário também possuir a inteligência da raposa. Na realidade, é necessário ser tanto leão como raposa. "Devemos ser uma raposa para evitar armadilhas e um leão para assustar os lobos" (O Príncipe, cap.18). Daí seu elogio, desprovido de qualquer preconceito moral, a Alexandre VI Bórgia, que "jamais fez nada, e nunca pensou em fazer nada, além de enganar pessoas e sempre encontrou uma maneira de fazê-lo" (O Príncipe, cap.18). Porém, é no filho desse curioso Papa, Cesare Bórgia, que Maquiavel viu a encarnação do Príncipe segundo seus desejos, capaz de "vencer por força ou fraude" (O Príncipe, cap.7).

Colocado no Index pela Igreja, acusado de impiedade e ateísmo, Maquiavel na verdade possuía uma atitude complexa em relação a religião. Certamente não devoto, ele não obstante compactuava com suas práticas mas sem abdicar de sua liberdade crítica. Em seus Discursos aos Dez Primeiros Livros de Tito Lívio, tirando lições da história antiga, ele questionava que religião se adequaria melhor à saúde do Estado: "Nossa religião colocou o bem maior na humildade e no desprezo pelos negócios humanos. A outra [a religião romana] o colocava na grandeza da alma, na força física e em todas as outras coisas que tornam os homens fortes. Se nossa religião demanda que tenhamos força, é apenas para que sejamos mais capazes de suportar grandes sofrimentos. Esse modo de vida parece ter enfraquecido o mundo, tornando-o presa fácil para homens malignos" (Discursos, Livro II, cap.2). Maquiavel não se arrisca à reflexão religiosa, mas apenas a uma reflexão política da religião, concluindo: "Prefiro minha pátria a minha alma".