Por Kerry Bolton
Existem
inúmeras dificuldades na tentativa de discernir o que entre a proliferação de crenças
novas ou renascidas se empenha para introduzirr adiante uma Nova Era com base
em valores eternos e o que deseja estabelecer o domínio de forças malignas,
vinculadas à matéria. O problema é que existem semelhanças superficiais que
ocorrem frequentemente entre elas. Mesmo dentro de ordens ocultas como a
Maçonaria, há uma série de pontos de vista que podem estar em oposição, mas são
confundidos como sendo parte de uma única conspiração abrangente. Há um
emaranhado de terminologias, grupos, personalidades, 'Mestres Ocultos’,
acusações e contra-acusações de magia negra, e assim por diante. Este artigo
considera maneiras em que as correntes positivas e negativas dentro da “Nova
Era” poderiam ser identificadas.
Os
Ciclos de Ascensão e Queda
A
escola da Tradição Perene considera as culturas, religiões e espiritualidades
tradicionais como a partilha de crenças, valores de natureza eterna, sobre as
quais se assentam Civilizações e sociedades nos seus ciclos naturais. Assim,
nos ciclos análogos de culturas tão distantes geograficamente e etnicamente
quanto a japonesa, hindu, nórdica, e árabe, todos irão possuir crenças análogas
em relação à hierarquia social, ao ethos de cavalaria e a um nexo que existe
entre o Divino e o temporal . Em tais sociedades, a vocação mais alta, seja
como camponês ou príncipe, é trabalhar de acordo com o dever cósmico, ou o que
os hindus chamam de dharma. Nessas mesmas sociedades, castas refletem a
ordem Divina na terra: ‘assim na Terra, como no Céu’, e degeneram em classes
econômicas no ciclo do declínio.
Essa
visão cíclica da história é outra característica compartilhada entre várias
culturas Tradicionais, expressa na sociedade nórdica e hindu, na tradição oral
Hopi, e em muitas outras. Na nossa própria era, o historiador e filósofo alemão
Oswald Spengler forneceu evidências empíricas para a ciclicidade das culturas.
Os dois expoentes Tradicionalistas primários da ciclicidade cultural em nossa
época são René Guénon e Julius Evola. Esotericamente, é o ciclo da vida
expresso na 'Roda' do ‘Major Arcana’ do Tarô, que é derivada da “Roda da
Fortuna” medieval ou Rota Fortuna representada nas igrejas
góticas.
Tradição, Anti-Tradição & Contra-Tradição
Um
olhar sobre os ciclos culturais é necessário para identificar as forças ocultas
que trabalham no contexto da Tradição por um retorno dos valores eternos com
base em uma reconexão com o Divino, e aqueles que querem escravizar a
humanidade através da matéria. Mais uma vez, recorrer ao simbolismo do Tarot é
instrutivo. Aqui notamos que a Contra-Tradição que está por trás da
Anti-Tradição, é no sentido esotérico, literalmente satânica. Paul Foster Case
fornece um significado para a carta ‘O Diabo’ que é particularmente relevante:
Em
seus significados mais gerais, significa “Mamon”, e, portanto, riquezas,
convenções da sociedade, injustiça e crueldade de uma ordem social na qual o
dinheiro toma o lugar de Deus, em que a humanidade está bestializada, onde a
guerra é concebida pela ganância disfarçada de patriotismo e o medo é
dominante. Estudantes de astrologia não terão nenhuma dificuldade em observar
como isso corresponde a Capricórnio, o signo de grandes negócios e sinal de
fama mundial.
Nesse
parágrafo, Case diz muito. Ele convincentemente diferencia o Tradicionalista do
Anti-Tradicionalista no que concerne uma guerra oculta. Case identifica a
Contra-Tradição que controla a Anti-Tradição como “Mamon”. Mamon infere algo
mais do que simplesmente plutocracia; é o espírito por trás da
plutocracia. A plutocracia controla a era atual. Oswald Spengler apontou que o
dinheiro governa na época do declínio de uma Civilização. Não é apenas à
influência temporal do dinheiro que Spengler se refere, mas ao espírito
por trás do dinheiro, ou o que Case chama de Mamon; “a ditadura do dinheiro
segue em frente, tendendo ao seu pico material na Civilização Faustiana
[Ocidental] como em todas as outras”.
Outro
ponto importante levantado por Case é a ‘bestialização’da humanidade. Na carta
‘O Diabo’, ele é representado acorrentando um casal humano à matéria. Assim
como o Diabo, o casal humano é retratado com rabo e chifres. Isso é sugestivo
da crença esotérica na regressão cíclica, em vez da progressão linear, quando a
humanidade regride de um estado superior do Ser, de um modo espiritual,
descendo cada vez mais em direção a uma vil existência material. Anti-Tradição
é o agente responsável por esse declínio e escravidão. O mundo moderno,
portanto, de acordo com a perspectiva Tradicionalista, não está ascendendo em
direção a Deus, nem manifestando o Deus interior, mas está em uma espiral
descendente em direção – metaforicamente – ‘O Diabo’ – à nossa
unidade mais vil.
O
problema de identificar quem pertence ao que, surge porque certas forças atuam
sob o disfarce de Tradição, enquanto na verdade elas são iniciadas na
Anti-Tradição e Contra-Tradição, ou no que Aleister Crowley chama de “Escola de
Magia Negra”. O objetivo da Anti-Tradição é a subversão e disseminação de
confusão para preparar o caminho para a Contra-Tradição. A ‘Anti-Tradição’ foi
afirmada pelo estudioso Tradicionalista Perene e iniciado René Guénon como
sendo “pura negação e nada mais”. Em relação à Contra-Tradição, há uma
“contra-iniciação”, representando uma corrente satânica daqueles que procuram o
rompimento do nexo entre o terrestre e o divino. Guénon escreveu sobre
isso:
Depois
de ter trabalhado sempre nas sombras, para inspirar e orientar de forma
invisível todos os movimentos modernos, no final ela se empenhará para
“exteriorizar”, se essa é a palavra certa, algo que vai ser como foi, a contrapartida
de uma verdadeira tradição, pelo menos tão completamente e tão exatamente
quanto possível dentro das limitações necessariamente inerentes à toda
falsificação possível como tal.
Para
Guénon, os movimentos Contra-Tradicionalistas carecem de conteúdo espiritual.
Isso pode ser observado nos muitos movimentos e ‘ordens’ que professam uma
‘tradição’ e têm uma fachada mística ou espiritual, ainda que exponham uma
república materialista universal. É por isso que várias ordens esotéricas podem
ser vistas promovendo doutrinas materialistas, como o Marxismo, e dogmas
Anti-Tradicionais como aqueles expressos em slogans como “liberdade, igualdade,
fraternidade”, anunciando o “reino da quantidade”. Movimentos e
ideologias Anti-Tradicionalistas são apenas um meio, e não o fim. Guénon usa
apropriadamente o termo “satânico” para descrever essas correntes.
Dessas
Contra-Tradições, Guénon afirma que elas não podem ser outra coisa além de uma
“paródia”, uma “espiritualidade invertida” envolvendo organizações de “contra-iniciação”.
Guénon considerava esses movimentos como sendo de origem sobrenatural, como
satânicos e acreditava que uma figura análoga ao “Anti-Cristo” se manifestaria
à frente de uma ordem mundial.
Guénon
descreveu a ordem que a Contra-Tradição tenta impor à princípio, utilizando a
doutrina do “igualitarismo” como um meio de derrubar os restos de tradição e
espiritualidade, e depois disso seria erguida no lugar das hierarquias
divinas uma “contra-hierarquia”, cujo topo é ocupado por um indivíduo que parece
análogo ao “Anti-Cristo”; Guénon descreve-o como “mais próximo do fundo do
‘poço do inferno’”.
Das
inúmeras ordens que foram surgindo, especialmente na França durante o século
XIX, Guénon se referiu a elas, independentemente de suas pretensões, como
“anti-tradição”. Pode-se dizer que elas refletem o zeitgeist da época
atual de declínio Ocidental. Guénon refere-se às inúmeras ordens que afirmaram
ser “Rosacruzes”. Dessas, a ordem principal é a Maçonaria, da qual deriva a
maior parte do “renascimento do ocultismo” atual, inclusive cultos supostamente
representando uma “Nova Era”. Elas são , nos termos de Guénon, “contrafacções”,
e como contrafacções costumam ser, muitas vezes são difíceis de detectar.
Profanação da Tradição
Eliphas
Levi foi um dos principais teóricos do renascimento do ocultismo moderno. Entre
os livros de Levi, A História da Mágica proporciona informações sobre a
natureza, história e influência de correntes Anti-Tradicionais,
Contra-Tradicionais e Contra-Iniciáticas. Levi estava bem posicionado para
oferecer opinião inteligente. Ele tinha sido um proeminente propagandista
socialista, foi preso por suas opiniões e parece ter sido um Maçom altamente
iniciado. No entanto, Levi rejeitou o socialismo em prol de uma posição
conservadora e monárquica, e passou a enxergar a Maçonaria como uma nobre
tradição que havia sido “profanada” pela Anti-Tradição. Tendo defendido o que
ele considerava como o genuíno legado tradicional e espiritual da Maçonaria,
Levi então levantou e respondeu à seguinte pergunta:
Agora,
se a Maçonaria é sagrada e, portanto, sublime, podemos ser questionados sobre
como ela veio a ser proscrita e condenada muitas vezes pela Igreja?...A
Maçonaria é a Gnose e os falsos gnósticos causaram a condenação da verdade.
Levi
afirma que os Tradicionalistas eram conduzidos à clandestinidade por medo de
serem associados ao “sacrilégio” dos “ falsos intérpretes...os inimigos de
todas as crenças e de toda moralidade”:
A
Maçonaria não foi simplesmente profanada, mas serviu como disfarce e pretexto
para conspirações anárquicas descendentes da influência secreta dos vingadores
de Jacques de Molay, e daqueles que continuaram o trabalho cismático do Templo.
Os anarquistas retomaram o domínio, a praça e o malho, escrevendo sobre eles as
palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade – Liberdade, quer dizer, para todas
as concupiscências, Igualdade significa degradação e Fraternidade é o trabalho
de destruição. Esses são os homens que a Igreja condenou justamente, e
condenará para sempre.
Levi
afirma que durante o século XVIII:
Um
cisma ocorreu no iluminismo: de um lado, os guardiãos das tradições relativas à
Natureza e ciência desejavam restaurar a hierarquia; havia outros, contrários,
que desejavam nivelar todas as coisas através da divulgação do Grande Arcano,
tornando assim a realeza e o sacerdócio igualmente inconcebíveis no mundo.
Entre esses últimos, alguns eram ambiciosos e sem escrúpulos, buscando
construir um trono para si sobre as ruínas do mundo. Outros eram ingênuos. Os
verdadeiros iniciados consideravam com desânimo o lançamento da sociedade para
o abismo, e previram todos os terrores da anarquia.
Levi
aqui se refere à Ordem dos Illuminati, fundada na Baviera em 1776 por Adam
Weishaupt, com o objetivo de inaugurar uma república universal comunista; e
cabalas semelhantes geralmente emanam da Maçonaria, incluindo o revolucionário
Clube dos Jacobinos e as Lojas formadas após o tumulto revolucionário francês
de onde vieram os credos subversivos, incluindo o de Karl Marx.
Os
revolucionários ateus, racionalistas e humanistas reuniram-se nas lojas durante
os séculos XVIII e XIX, onde “trabalhavam os graus” dos antigos mistérios para
seus próprios fins Contra-Iniciáticos. Do tipo de profanação que Levi se
referiu, podemos afirmar o seguinte.
Philippe
Buonarroti, o expoente italiano da Revolução Francesa, foi iniciado na
Maçonaria em 1786. Em 1808 ele formou Les Sublimes Maîtres Parfaits.
Buonarroti teve uma grande influência sobre o revolucionário Auguste Blanqui, e
através do seu livro Conspiration pour l’Egalité dite de Babeuf, suivie du
procès auquel elle donna lieu também teve uma influência seminal sobre as
revoluções que eclodiram em toda a Europa durante 1848. Buonarroti também
aconselhou Mazzini e outros revolucionários na Itália.
Buonarroti
é o co-fundador, juntamente com François Babeuf, de outra ordem revolucionária
significativa, a Sociedade do Panteão, uma das primeiras sociedades secretas
revolucionárias que emergiram da Revolução Francesa, acreditando que a
Revolução tinha falhado; e ele organizou um grupo da Maçonaria Filadélfica
dentro da Loja ‘Amis Sincères’. Dr. J. M. Roberts afirma:
O que
pode ser chamado de primeira sociedade secreta política internacional, a Sublimes
Maîtres Parfaits, foi fundada por Buonarroti, talvez em 1808. Apenas maçons
eram admitidos. Os Eleitos estavam cientes de que estavam trabalhando para uma
forma republicana de governo; apenas os Areopagitas sabiam que o objetivo final
da sociedade era o igualitarismo social, e o meio de se chegar a isso era a
abolição da propriedade privada.
O
Marxismo foi a culminação dessa corrente anti-tradicional no século XIX de uma
longa linhagem de sociedades secretas. Apesar de inúmeros conspiratologistas
terem escrito sobre o suposto papel dos Illuminatus na “contratação” de Marx
para escrever o Manifesto Comunista, através da Liga dos Justos,
documentações confiáveis são pouco frequentes. No entanto, há evidências
acadêmicas de que Marx fazia parte da corrente Anti-Tradicionalista. Blanqui
organizou a Liga dos Justos, que foi chamada de Liga dos Proscritos por alemães
exilados em Paris. Depois, tornou-se a Liga Comunista, e em 1847 essa cabala
solicitou Marx para escrever o Manifesto Comunista. Foi de Blanqui que
se originou o dito creditado a Marx, a “ditadura do proletariado”. Marx foi
iniciado nos Mistérios da Maçonaria Memphis-Misraim. O professor Mark Lause, um
estudante da história do trabalho, escreve:
...Certamente,
a história confusa da maçonaria em grande parte refletia os pontos de vista
políticos e sociais daqueles atraídos pelo ofício, e alguns dos atraídos pelas
mais peculiares formas de ordem pseudo-egípcia refletiam pontos de vista que
eram devidamente distintivos.
O
místico cabalístico do século XVIII, Cagliostro, fundou o Rito de Memphis em
1779. Ele insinuou-se para a corte francesa, assim como Philippe de Lyon
insinuou sua via para o Tribunal de Justiça do malogrado Czar Nicolau II.
Lause
cita Nicolaevsky como uma fonte competente ao afirmar “que a Ordem de Memphis,
no século XIX, na verdade, fez a máscara do ativismo revolucionário dos
radicais franceses tanto no país como no exterior, de modo impressionante no
caso dos círculos de emigrantes em Londres”. Isso confirma a declaração do
historiador oculto Lewis Spence, que em uma entrada laudatória sobre
Cagliostro, escreve que o Rito de Misraim incluía as doutrinas comunistas dos
Illuminati.
Em
1785 Cagliostro foi envolvido em um escândalo na Corte Real Francesa e
exilou-se na Inglaterra, onde escreveu uma propaganda revolucionária contra a
monarquia e declarou que o trono francês seria derrubado. Sua ‘Carta ao Povo
Francês’ declarou profeticamente que a Bastilha seria invadida e o governador
morto.
Spence
afirma que Misraim tinha sido criada para subverter a sociedade tradicional da
Europa e recebeu um significativo apoio financeiro:
As várias lojas Maçônicas que ele [Cagliostro] fundou e que eram patrocinadas por pessoas poderosas, proviam-no com recursos extensos, e é um fato conhecido que ele foi subsidiado por vários homens extremamente ricos, que, insatisfeitos com o estado das coisas na Europa, não hesitaram em colocar riquezas à sua disposição com o propósito de minar os poderes tirânicos que então exerciam influência.
As várias lojas Maçônicas que ele [Cagliostro] fundou e que eram patrocinadas por pessoas poderosas, proviam-no com recursos extensos, e é um fato conhecido que ele foi subsidiado por vários homens extremamente ricos, que, insatisfeitos com o estado das coisas na Europa, não hesitaram em colocar riquezas à sua disposição com o propósito de minar os poderes tirânicos que então exerciam influência.
Londres
era o centro da intriga revolucionária onde refugiados políticos de toda a
Europa procuravam abrigo e, com a ajuda de maçons ingleses, fundaram a
Internationale. A Maçonaria passou a aceitar diversos pontos de vista radicais
e um modelo para uma estrutura secreta revolucionária. Lause escreve
sobre isso:
Em
qualquer caso, se o seu objetivo declarado era algo tão radical quanto o dos
Filaletos, a perfeição da raça humana, isso ajudou a legitimar o objetivo de
descrever a si mesmo como um “Rito Antigo e Primitivo da Maçonaria”.
Lojas
foram estabelecidas na Inglaterra e em outros lugares, sendo La Grand Loge
des Philadelphes, em Londres, a mais importante. Lause afirma que a Ordem
de Memphis “promoveu o que se tornou a Associação Internacional em março de
1855 [e] ministrou quase todos os membros franceses do Conselho Geral da
posterior Associação Internacional dos Trabalhadores”. Outro historiador
socialista proeminente, o Dr. Bob James, identifica como maçons Garibaldi,
Mazzini, Charles Bradlaugh e Karl Marx, afirmando que isso “não era um
acidente, e nem uma aberração”.
Crowley
Sobre as Escolas de Magia Negra e Branca
Aleister
Crowley é talvez o melhor exemplo do quão incerta pode ser a identificação de
correntes Tradicionais, Anti-Tradicionais e Contra-Tradicionais. Crowley
afirmou Adam Weishaupt, o fundador dos Illuminati, como um dos “santos” de sua
religião, Thelema. No entanto, as doutrinas de Thelema e os Illuminati são
pólos opostos. Crowley, em contraste com as doutrinas comunistas do Iluminismo,
procurou o estabelecimento de uma sociedade neo-aristocrática: o renascimento
da hierarquia. É notável que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, a antítese
de doutrinas comunistas e liberais, também é um Santo do Thelema.
Evola
reconheceu Crowley como um verdadeiro iniciado na Tradição. Evola também
considerou a Ordem Hermética do Amanhecer Dourado, sob a qual Crowley fez sua
aprendizagem mágica e que teve uma influência seminal sobre o renascimento do
ocultismo moderno como, “até certo ponto”, um sucessor “para aqueles de caráter
iniciático”. Evola admitiu que o sistema de Magia de Crowley foi elaborado a
partir de práticas iniciáticas tradicionais: “É certo que no Crowleyismo a
inoculação de aplicações mágico-iniciáticas é precisa, e as referências ou
orientações de antigas tradições são evidentes”.
Por
que então Crowley simpatizava com Adam Weishaupt e os Illuminati, cujas
doutrinas são a antítese do Thelema? Talvez, seja porque Crowley adquiriu um
certo papel ao assumir o manto de liderança da Ordo Templi Orientis (OTO),
fundada por Theodor Reuss, que estava trabalhando para o serviço secreto
alemão. É dito que Reuss reviveu a Ordem dos Illuminati, em virtude do que ele
afirmou ser conexões familiares com a cabala do século XVIII. Ele era um
iniciado da Maçonaria Martinista e Misraim liderada por ‘Papus’ . Ele também
esteva em contato com o Dr. William Wynn Westcott, em 1902, um alto iniciado da
Grande Loja Maçônica, chefe das Societas Rosicruciana in Anglia e
fundador do Amanhecer Dourado. Reuss tinha conexões internacionais influentes.
Como o Dr. Richard Spence da Universidade de Idaho expôs, Crowley estava
envolvido com o serviço secreto britânico, pelo menos a partir de 1913, quando
estava agindo por interesses britânicos em Moscou, e foi chamado durante as
duas Guerras Mundiais. Reuss foi obviamente um recurso valioso para os alemães,
e coube a Crowley localizá-lo.
De
qualquer forma, a identificação de Crowley das Escolas de Magia Negra, Branca e
Amarela mostra que os Illuminati e a Maçonaria podem ser identificados com a
Escola Negra ou o que Guénon chamou de Contra-Tradição e Anti-Tradição. Crowley
explicou que cada Escola tem seus próprios “Mestres Ocultos”. Enquanto a Escola
Amarela “permanece distante”, “ a Escola Negra e a Escola Branca estão sempre
em conflito ativo”. A Escola Amarela considera o universo como "neutro”. A
Negra o considera como uma maldição e tristeza. Assim podemos resumir as três
Escolas de Magia em relação à sua filosofia de vida como sendo: Amarela:
Neutra, Negra: Negativa, Branca: positiva.
Crowley,
assim como Eliphas Levi e Guénon, via a Maçonaria como sendo subvertida pela
‘Escola Negra’ e se referiu aos maçons ingleses como estando “em relação
oficial com certos corpos maçônicos, cuja única razão de existência é o
anticlericalismo, intrigas políticas e barganha de benefícios”, apesar da
Maçonaria Inglesa supostamente evitar tais motivos. Esses sentimentos críticos em
relação à subversão da Maçonaria Inglesa não são compatíveis com qualquer um
que poderia ser adepto de Weishaupt e do Iluminismo, cujos objetivos
primordiais eram a intriga anticlericalista e política.
Crowley
via o anarquismo que varria o mundo do tipo que havia sido iniciado pelos
Illuminati e outras formas de Maçonaria durante os séculos XVIII e XIX. Mais
uma vez, pode-se observar que a atitude de Crowley era tudo menos Iluminista.
“O último quarto de um século havia submergido” as monarquias, e para Crowley o
mundo ficou mais pobre por causa disso:
O
mundo está fervendo devido à insatisfação que brota da insegurança. Os homens
podem se adaptar muito bem em todas as condições, mas quando eles não sabem de
um dia para outro, onde algum princípio fundamental não pode ser abolido em
prol do progresso, já não sabem mais onde se encontram. Eles tendem a adotar os
princípios do homem que muda de uma posição para outra... A civilização
tornou-se uma disputa histérica por vantagem material momentânea...
Religião
Sincrética e Tradição Perene
Os
séculos de subversão da Tradição pelos adeptos da Escola Negra e seus crédulos
causaram confusão de cultos, religiões e espiritualidades, sendo que a maioria
deles pretende oferecer à humanidade o caminho para a paz e felicidade, e até
mesmo à Divindade. Como foi indicado ao longo deste artigo, não é um assunto
fácil determinar os reais motivos dos muitos que reivindicam o manto da
Sabedoria Eterna.
Há um
abismo entre os adeptos da Tradição Perene e os da Anti-Tradição, ainda que,
muitas vezes, pareçam semelhantes, por causa da natureza ‘falsa’ dos últimos. O
Tradicionalista Perene vê um traço comum entre as religiões sobre as extensões
do tempo e espaço, pressupondo que todas elas provêm de uma fonte primordial e
diferem na medida em que refletem diferenças de circunstâncias étnicas,
geográficas e históricas. O Tradicionalista Perene procurará manter a distinção dessas crenças.
O
adepto da Escola Negra, mascarado de tradicionalista, pretende amalgamar as
religiões do mundo em uma nova fé sincrética, o altar no qual toda humanidade
seria presa sob o pretexto de 'fraternidade universal', cujo prelúdio foram os
sangrentos Reinos de Terror na França Jacobina e Rússia Bolchevique. Portanto,
quando os políticos seculares de um Estado, que também por acaso são adeptos do
objetivo de uma ‘nova ordem mundial’, começam a falar sobre ‘diálogo
inter-religioso’, sob o pretexto de ‘representar todas as religiões’ e de
‘tolerância’, devemos suspeitar.
Aqueles
que aderem à Sabedoria Eterna de muitas fés rejeitam agendas materialistas. O
Fórum Mundial de Cultura Espiritual, formado por iniciativa do presidente do
Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, reúne aqueles que buscam uma nova
civilização, no rescaldo do que eles consideram como uma civilização técnica
que é “anti-cultural”. Significativamente , Nazarbayev também é defensor de um
bloco geopolítico Eurasiano que iria desafiar a própria possibilidade de uma
‘Nova Ordem Mundial’. Esse bloco serviria como o eixo para uma Nova Era fundamentada
em princípios espirituais e culturais, e livre das amarras da matéria.