30/06/2011

Agora é Oficial: Fast Food Controla sua Mente


É oficial. Aquele balde de sorvete realmente pode controlar seu cérebro e dizer "me coma".
Um estudo americano pelo Centro Médico UT do Sudoeste em Dallas descobriu que a gordura de alguns alimentos tais como sorvete e hamburgueres vão direto para o cérebro.
Uma vez lá, as moléculas de gordura acionam o cérebro para enviar mensagens para as células do corpo, alertando-as para ignorar os sinais que suprimem o apetite da leptina e insulina, hormônios envolvidos na regulação do peso - o que pode durar até três dias!
"Normalmente, o nosso corpo é preparado para dizer que quando nós comemos o suficiente, mas isto nem sempre acontece quando estamos comendo algo saboroso", afirmou em um comunicado a pesquisadora Deborah Clegg.

"O que nós mostramos neste estudo é que toda a química do cérebro de uma pessoa pode mudar em um período muito curto de tempo. Nossos resultados sugerem que quando você come algo com elevado teor de gordura, seu cérebro leva uma "pancada" de ácidos graxos, e você se torna resistente à insulina e leptina. E já que você não recebe a ordem para parar de comer, você acaba comendo demais". Os pesquisadores também descobriram que um tipo específico de gordura - o ácido palmítico, que é encontrada na carne, manteiga, queijo e leite, - é particularmente eficaz em instigar esse mecanismo.

O estudo foi realizado em ratos e camundongos, mas os cientistas dizem que seu estudo, publicado no Jornal de Investigação Clínica, reforçaram recomendações comuns de dietas para limitar o consumo de gordura saturada pois elas "fazem com que você comer mais." O estudo foi conduzido expondo ratos e camundongos a gordura de diversas formas - através da injeção de vários tipos de gordura diretamente no cérebro, através da infusão de gordura na artéria carótida ou alimentar os animais através de um tubo no estômago três vezes por dia. Os animais receberam a mesma quantidade de calorias e gorduras e somente o tipo de gordura foi variada. Os tipos incluíram ácido palmítico, ácidos graxos monoinsaturados e insaturados, o ácido oléico que é encontrado em óleos de oliva e uva.
"Este tipo de ação foi muito específica para o ácido palmítico, que é muito rica em alimentos que são ricos em gordura saturada", disse Clegg.

(Por NOM)

29/06/2011

Maio de 68

por Alain de Benoist

A comemoração de Maio de 1968 vem-se repetindo a cada dez anos, com a mesma maré de livros e artigos. Estamos no quarto episódio, e os combatentes das barricadas do "bonito mês de maio" tem já a idade suficiente para serem abós. Quarenta anos depois, volta-se a discutir o que ocorreu exatamente nesses dias - e inclusive se ocorreu alguma coisa. Foi maio de 1968 um catalisador, uma causa ou uma consequência? Inaugurou ou acelerou simplesmente a evolução que teria ocorrido de todo modo na sociedade? Psicodrama ou "mutação"?

A França tem a fórmula das revoluções curtas. Maio de 68 não escapou à regra. A primeira "noite das barricadas" teve lugar em 10 de maio. A greve geral teve início em 13 de maio. Em 30 de maio o General De Gaulle pronunciou a dissolução da Assembléia Nacional, enquanto 1 milhão de seus partidários desfilava pelos Campos Elísios. A partir de 5 de junho, o trabalho voltou a começar nas empresas, e umas semanas mais tarde, nas eleições legislativas, os partidos de direita conseguiram um alívio em forma de vitória.

Em relação a outros fatos desenrolados em outras partes da Europa na mesma época, veem-se duas diferenças. A primeira foi que na França em Maio de 68 não foi somente uma revolta estudantil. Também foi um movimento social, porque a França foi paralisada por 10 milhões de grevistas. Dirigida no 13 de maio pelos sindicados, também assistiu-se à maior greve geral registrada na Europa.

A outra diferença, é a ausência de uma prolongação terrorista do movimento. Na França não conheceu-se fenômenos comparáveis aos que conheceram a Alemanha com a Fração do Exército Vermelho (RAF) ou na Itália com as Brigadas Vermelhas. As causas dessa "moderação" tem sido objeto de inúmeros debates. Lucidez ou covardia? Realismo ou Humanismo? O espírito pequeno-burguês que dominou a sociedade provavelmente seja uam das razões pelas quais a extrema-esquerda francesa não inclinou-se para o "comunismo combatente".

Porém efetivamente, não pode-se compreender nada do ocorrido no Maio de 1968 sem que dê-se conta por ocasião desta data da existência de dois tipos de aspirações totalmente diferentes em sua expressão. No momento original da revolta contra o autoritarismo político, maio de 68 foi inegavelmente, um protesto contra a política-espetáculo e o reino do comércio, um retorno ao espírito da Comuna, uma tomada de posições em forma de acusação radical contra os valores burgueses. Este aspecto não foi antipático, ainda que misturassem-se muitas referências antiquadas à ingenuidade juvenil.

O grande erro foi acreditar-se que atacando aos valores tradicionais poder-se-ia lutar melhor contra a lógica do capital. Isto era não visualizar que estes valores, como tudo o que todavia sobrava das estruturas sociais orgânicas, constituíam os últimos obstáculos ao expansionismo planetário desta lógica. O sociólogo Jacques Julliard fez a este propósito uma observação muito justa quando escreveu que os militantes de maior de 1968, quando denunciavam os valores tradicionais, não apercebiam-se que estes valores (honra, solidariedade, heroísmo) eram praticamente os mesmos que os do socialismo, e que suprimindo-os, abriam caminho para o triunfo dos valores burgueses: individualismo, cálculo racional, eficácia.

Houve outro maio de 1968, de inspiração estritamente hedonista e individualista. Longe de exaltar uma disciplina revolucionária, seus partidários queriam acima de tudo "proibir o proibir" e "desfrutar sem impedimentos". Logo deram-se conta de que não era fazendo a revolução, nem pondo-se ao "serviço do povo" como poderiam satisfazer esses desejos. Ao contrário, compreenderam rapidamente que estes seriam satisfeitos mais seguramente dentro de uma sociedade liberal permissiva. Aliaram-se pois ao capitalismo liberal, o que não deixou de garantir a muitos deles vantagens materiais e financeiras.

Instalados hoje nos estados-maiores políticos, nas grandes empresas e nos grandes grupos editoriais e midiáticos, (os sessenteoitistas) praticamente renegaram tudo, não mantendo de seu compromisso juvenil mais que um sectarismo imutável. Aqueles que queriam empreender uma "longa marcha" "contra as instituições" acabaram por instalar-se nelas comodamente. Aderidos à ideologia dos direitos humanos e à sociedade de mercado, são estes renegados que hoje declaram-se "anti-racistas" para fazer esquecer melhor que já não tem nada para falar contra o capitalismo. Também graças a eles o espírito "bo-bo" ("burguês-boêmio", quer dizer, liberal-libertário) triunfa já em todas as partes, enquanto que o pensamento crítica está mais marginalizado do que nucna. Neste sentido, não resulta exagerado dizer que ao final é a direita liberal a que vulgarizou o espírito "hedonista" e "anti-autoritário" do Maio de 69. No mais, Nicolas Sarkozy, graças a seu estilo de vida, aparece como um perfeito sessenteoitista.

Simultaneamente, o mundo mudou. Nos anos 60, a economia florescia e o proletariado descobriu o consumo em massa. Os estudantes não conheciam nem a AIDS nem o medo do desemprego e a questão da imigração não apresentava-se. Tudo parecia possível. Hoje, é o futuro o que parece fechado, os jovens não sonham com revoluções. Querem um emprego, uma casa e uma família, como todos. Porém ao mesmo tempo, vivem na precariedade e perguntam-se sobre se encontrarão trabalho depois dos estudos.

Em 1969 nenhum estudante levava jeans e os slogans "revolucionários" que floresciam sobre os muros não tinham nenhum erro ortográfico! Sobre as barricadas, onde reivindicavam-se modelos envelhecidos, (a Comuna de 1871, os conselhos operários de 1917, a revolução espanhola de 36), ou exóticos (a "revolução cultural" maoísta) ao menos militava-se por algo além da comodidade pessoal. Hoje, as reivindicações sociais tem um caráter puramente setorial: cada categoria limita-se a solicitar os melhores salários e as melhores condições de trabalho. "Dois, Três, Mais Vietnã", "Incendiar a Planície", "Até a liberdade, sempre": tudo isso evidentemente já não sacode os corações. Ninguém luta tampouco pela classe operária em seu conjunto.

O sociólogo Albert O. Hirschman disse que a história vê alternar os períodos em que dominam as paixões e períodos em que dominam os interesses. A história de Maio de 68 foi a de uma paixão que derreteu-se em um jogo de interesses.

Humanismo

"O humanismo nos seus desenvolvimentos tornou-se mais materialista e permitiu com uma inacreditável eficácia que os seus conceitos fossem utilizados primeiro pelo socialismo, depois pelo comunismo, de tal forma que Karl Marx pôde dizer, em 1844, que "o comunismo é um humanismo naturalizado". Está provado que esta classificação está longe de ser falsa. Vêem-se as mesmas pedras nas fundações de um humanismo alterado e de todo o tipo de socialismo: um materialismo sem freio, uma liberação no que diz respeito à religião e à responsabilidade religiosa, uma concentração dos espíritos sobre as estruturas sociais com uma abordagem supostamente científica. Não é por acaso que todas as promessas rectóricas do comunismo estão centradas no Homem, com um H maiúsculo, e na sua felicidade terrestre. À primeira vista, baseia-se numa aproximação vergonhosa: como haveria pontos de comuns entre o pensamento do Ocidente e do Leste hoje em dia? Essa é a lógica do desenvolvimento materialista."
(Aleksandr Solzhenitsyn)


28/06/2011

O Quinto Império

por Fernando Pessoa



Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem,
Que as forças cegas se dormem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatros se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vai viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?


27/06/2011

O Ventre – A Mulher Atual

Por E. W.


Presenciamos uma grande decadência das mulheres e a tendencia é decair cada vez mais. A vulgaridade e a desvalorização própria é tão grande que chega a ser ridícula. É bem verdade que uma grande parte atingiu a independência econômica, altos cargos, postos ocupados comummente por homens, e o que obviamente não é negativo por que assim ficou claro que elas tem potencial e nesta parte ganharam mais direitos e valores, já que a algum tempo estas em maioria possuíam o rótulo de menos favorecidas intelectualmente. Mas será que agora as mulheres estão realmente favorecidas intelectualmente? Apenas uma minoria está. É certo dizer que evoluíram em uma parte, que diz respeito ao trabalho, influência e participação em sociedade, mas e quanto aquela parte que sempre as pertenceram? Aquilo que sempre foi digno, de responsabilidade feminina, que deveria ser desempenhado em supremacia: a criação. As mulheres possuem por natureza o importante e de grande valor: o ventre. E nesta parte a decadência é assustadora, quando se trata de ser mãe, de criar o próprio filho, cuidar da família, de preservar-se e valorizar-se elas estão indo de mal a pior.

A mídia investe fortemente nesta decadência, a imagem de mulheres geralmente semi-nuas vulgarmente usadas em propagandas é uma alavanca para venda de produtos; a imagem da mulher atual transmitida pela mídia tem grande influencia sobre a grande massa, e a imagem transmitida é a da mulher fútil, promíscua, vulgar, a mulher considerada moderna que se rebela contra os bons costumes. Consideram-se independentes mas estão atrás de homens como cadelas no cio, e começam a agir dessa forma cada vez mais cedo, encurtando a infância. Em novelas em canal aberto, é notável a grande presença de telespectadoras, e nestas novelas vê-se jovens de 15 anos e até mais novas iniciando a vida sexual com outros jovens que nem conhecem, e tem o apoio de suas mães. Vê-se traições e todo um comportamento totalmente reprovável para qualquer mulher de bom senso. A mídia é manipuladora e encaminha mulheres para a decadência, a mídia é um inimigo para qualquer pessoa que não tem sua mente educada para pensar por conta própria.


Muitas mulheres não se preocupam nem com a própria saúde, pesquisas mostram que o número de mulheres que contraem doenças sexualmente transmissíveis aumentou bastante, e as mulheres são geralmente mais afetadas por estas doenças do que homens, além de que podem transmitir as doenças para os filhos em quanto são gestantes. Mas este número não teria aumentado se elas não estivessem tão promíscuas, se ao menos tivessem parceiros de confiança e não agissem igual cadelas deixando que qualquer cão imundo suba em suas costas... e o desespero é tanto que não conseguem lembrar-se de usar preservativo, ou realmente não querem utiliza-lo. As mulheres que queriam fazer todos os papéis dos homens, ter todos os direitos e méritos, devem estar felizes, até o número de mulheres infectadas por DST já é igual o dos homens... tais doenças que sempre foram conhecidas por se alojarem em homossexuais, prostitutas e homens que tinham relações com estas.

E ainda vemos mães solteiras por que além destas não serem capazes de cuidar-se para prevenção de doenças, não lembram de evitar a gravidez não planejada... e muitos homens só querem saber da parte que lhes dá prazer, sobre a conseqüência agem como se a culpa fosse inteiramente da mulher, algumas vezes dão uma pequena ajuda financeira, levam o filho para um passeio, mas quanto ao resto a mulher que se vire... E desta forma a criação de um filho dificilmente é bem sucedida. O pai está afastado, não dá muita importância ao filho, e a mãe geralmente ocupada pois precisa trabalhar para sustentar a casa, e ir atrás de seus parceiros. A criança cresce sem um acompanhamento pois a maioria das instituições educacionais não servem para educar, são apenas um lugar cercado onde a criança está segura, ou ao menos deveria estar já que muitos casos de violência são relatados nestes lugares. Não há família nem criação, uma criança dificilmente progredirá desta forma.

A mulher tem um importantíssimo papel na sociedade, homens não geram filhos sozinhos, homens não formam famílias sozinhos, lamentável que a tempos atrás muitos homens não foram capazes de reconhecer a importância das mulheres, incentivando assim que elas se rebelassem e ignorassem suas tarefas na sociedade. Homens tem culpa sim, da decadência das mulheres atuais. Mas agora não é hora de lamentar, mas também não se pode esquecer para que os mesmos erros não sejam cometidos. Agora é hora de ambos tomarem seus lugares com responsabilidade, inteligência e união.

Assim como as mulheres andam errantes e decadentes é difícil encontrar um homem que seja diferente. O ventre pertence a mulher, mas um filho assim como não se faz sozinho, não se cria sozinho, é necessário a presença da família. Para uma verdadeira evolução são necessárias mudanças de ambos os lados, é necessária a família e é de extrema importância a união.

Mulheres precisam reconhecer os seus próprios valores e deveres, e homens precisam ser Homens.

26/06/2011

Sacrifícios

"Nenhum de nós vale mais do que valiam os homens e as mulheres que viveram no passado. Nenhum dos sacrifícios feitos então eram mais fáceis do que os que nós temos que fazer agora. Nenhum sacrifício que impõe-se a nós é mais penoso, do que os mesmos sacrifícios foram outrora para os que tinham que suportá-los."
(Richard Wagner, Rienzi)


25/06/2011

Aleksandr Dugin - Ou Quando a Metafísica e a Política se Unem

por Sergio Fritz Roa

Escassas personalidades nos últimos anos comoveram de maneira tão estrondosa os ambientes do radicalismo mundial, como fez Aleksandr Dugin. Polemista, homem dotado de uma memória prodigiosa, notável artesão na difícil ciência de gerar idéias, locutor radial de um programa transgressor como poucos, ensaísta, geopolítico, músico, estudioso da Metafísica guénoniana, crítico das ideologias políticas aceitas pela polícia do pensamento, editor clandestino das obras de Guénon e Evola quando ainda a União Soviética era uma realidade, diretor da associação e casa editorial Arctogaia, a qual literalmente inunda a Internet com suas páginas que tratam sobre Nacional-Bolchevismo, Otto Rahn, Eurasismo, e Julius Evola, entre um universo conceitual heterogêneo que poderá gerar aplausos ou odiosidades; pois frente a Dugin ou está-se com ele e segue-se o mesmo, ou repudia-se ele. Parece não haver outra opção. E, sem embargo, nós queremos fazer um juízo crítico que esteja mais além das posturas extremas antes mencionadas. Trataremos de expôr as idéias que sustenta Dugin, indicando, quando estimemo-lo procedente, nossa opinião.


1 - Tese Geopolítica

Um dos pontos centrais dos escritos desse pensador russo é a geopolítica. Nele converge uma tradição que vai desde Halford McKinder, passando pelo misterioso Karl Haushofer, até Parvulesco, seu amigo francês.

A importância dada por Dugin à política dos grandes espaços, o engrentamento entre dois postulados cosmovisionais como são o atlantismo e o eurasismo, o destino de Alemanha e Rússia, fundamenta-se na busca do sentido de uma luta que possui elos invisíveis e na qual não atuam somente os homens senão - se permite-se a nós a expressão - os próprios deuses. Quer dizer, o combate entende-se entre idéias-forças mais que entre personalidades. Os homens somente representam os corpos ou pontos espaciais em que manifesta-se a violência histórica.


2 - Política Hermética

Para Aleksandr Dugin como para Pauwels, Bergier, Serrano, Robin, Evola, Angebert, e tantos outros, existem conexões ocultas entre política moderna e espiritualidade. Muito já escreveu-se dos Iluminados da Baviera, da Ordem de Thule, da Maçonaria. Dugin assinala novos paradigmas. Fala-nos da geopolítica movida por seitas que enfrentam-se à morte; do cosmicismo russo. e de outras forças veiculadas por pequenos grupos, que trabalham nas sombras.

Tem sido matéria de fortes críticas a idéia de Dugin segundo a qual o comunismo seria uma espécie de "Via da Mão Esquerda", a qual encontra uma expressão no mundo tradicional em correntes como o Tantrismo. É este repetimos, um dos pontos mais controvertidos em Dugin, haja vista que em seus textos aprecia-se uma valoração deste caminho. Vimos na Internet na página de um sítio nacional-bolchevique, como se tratasse-se de uma reivindicação, uma fotografia do satanista Aleister Crowley, por quem o russo manifestou grande interesse. Não podemos omitir que dissentimos dessa nebulosa espiritual, a qual somente conduz a equívocos àqueles que não estejam inteirados da dicotomia "espiritualidade tradicional/pseudo-espiritualidade", expressa tão claramente por Guénon. Por outra parte, se Dugin pretende defender a Tradição, por quê não dedica-se exclusivamente à exposição séria e meditada do Cristianismo Ortodoxo - o qual sim possui até hoje a transmissão e os ritos próprios de um caminho tradicional - em vez de buscar a Luz em um dos terrenos mais instáveis da "espiritualidade", como é o ocultismo?


3 - Revolução Conservadora

O escritor russo resgata a mensagem daquele distinto grupo que Armin Mohler denominou em sua tese doutoral "Revolução Conservadora", e à qual teriam aderido pensadores da estatura de Thomas Mann, dos três Ernst (Niekisch, Jünger e von Salomon), Carl Schmitt, Oswald Spengler, os irmãos Strasser, entre outros.

A filosofia desse agrupamento caracterizar-se-ia por um evidente culto à guerra, o ter bebido em fontes nietzscheanas, sua oposição ao Nacional-Socialismo, um acento esquerdista - o qual, devemos dizer, não dá-se com o politólogo católico Schmitt - que sem embargo é capaz de resgatar a Nação como entidade e bandeira de luta.

Os membros desta corrente serão focos de atração para Dugin, como foram-no para o movimento cultural chamado Nova Direita.

4 - Espiritualidade Tradicional

Dugin editará duranto os anos do marxismo em formato de samizat, textos dos autores tradicionalistas René Guénon e Julius Evola. Assinalará que tanto na Igreja Ortodoxa como no Islã há duas forças vivas da Tradição na Rússia e nos países eslavos. Será portanto crítico do neo-espiritualismo e desse fenômeno extraordinariamente anti-tradicional e subversivo que é a New Age. Sem embargo, e como já indicamos, existem aspectos em seus postulados que parecem-nos rotundamente questionáveis; por exemplo sua valoração em relação a aspectos da magia ocultista e obscurantista de Crowley.


5 - Convergência dos Extremos

Aleksandr Dugin definir-se-á Nacional-Bolchevique. Portanto, sua pretensão é a união tática das hostes nacionalistas e comunistas. E assim unirá o radicalismo alemão com o bolchevismo russo. Digamos de nossa parte que esta doutrina, ainda que disparatada, não obstante não é nova, e, que ao contrário, já foi apresentada como um muro defendido por vários pensadores. É o que denominou-se "aliança marrom-vermelha", que seduziu a alguns autores da "Revolução Conservadora", e em anos mais recentes a Giorgio Freda, autor do texto "A Desintegração do Sistema" e criador de um curioso movimento chamado nazi-maoísta.

Tal postura, segundo os nacional-bolcheviques, justifica-se no fato de que os únicos adversários do sistema capitalista tem sido e são a extrema-direita e a extrema-esquerda.

Como anedota, digamos que Julius Evola criticou estas posturas, as quais apresentaram-se muito fortes e radicais na Itália, durante a década de 60 e 70, levando inclusive ao cárcere vários dos militantes desta corrente, os quais acreditavam que não havia outra via plausível além da violência. O resgate por este grupo de figuras como Che Guevara, Mussolini, Mao Tsé-Tung, ou do próprio Evola (o qual jamais em seus textos ou diálogos aprovaria um atuar semelhante), foi uma das características na Itália desta doutrina demasiado ambígua e perigosa.


6 - Novas Estratégias

Não somente a erudição do diretor de Arctogaia chamou a atenção dos europeus. Também fê-lo seu caráter de polemista. Para ele hão de utilizar-se novas estratégias e táticas. A guerra atual exige novos meios, e não devem ficar de lado a televisão, o rádio, o jornal, a revista, a Internet. Em todos eles, Dugin lançou seus dardos venenosos, semeando a comoção nos meios intelectuais.

Porém não somente basta utilizar novas ferramentas, extrai-se de seu atuar. Deve utilizar-se uma nova semântica. A revolução não é outra coisa que a imposição de novos parâmetros conceituais. Assim, uma linguagem que utilize palavras supostamente antagônicas despertará a atenção. Utilizar termos como revolução-conservadora, socialismo-nacional, união entre extrema-direita e extrema-esquerda, é fortemente polêmico. E é aqui que assinalamos um traço operacional de Dugin: ao querer abarcar muito - ao ser extensivo - caiu em contradições.

Tentamos mostrar em uma síntese - que sabemos ser demasiado apertada - as principais idéias que movem este intelectual do ativismo mais radical. Esperamos que seja de utilidade nosso trabalho para aqueles que busquem outros caminhos nos tristes mares da política atual. 

Digamos, para finalizar, que pode-se estar de acordo ou em oposição em relação às teorias do pensador russo. Não obstante, alguém poderia ser indiferente aos seus postulados? Acreditamos que não, e há aí um mérito não menos imputável a este geopolítico da metafísica.


24/06/2011

Identidade e Capitalismo Não Se Misturam

"O capitalismo basicamente quer que as pessoas sejam engrenagens intercambiáveis, e diferenças entre elas, tais como as raciais, usualmente não são funcionais. Quero dizer, elas podem ser funcionais por um período, como por exemplo se você quiser uma força de trabalho super explorada ou algo assim, mas essas situações são anômalas. A longo prazo, você pode esperar que o capitalismo seja anti-racista - simplesmente porque ele é anti-humano. E a Raça é em verdade uma característica humana - não há razão para afirmar que deveria ser uma característica negativa, mas ela é sem dúvida uma características humana. Assim, portanto, identificações baseadas na Raça interferem com o ideal básico de que as pessoas devem estar disponíveis simplesmente como consumidoras e produtoras, engrenagens intercambiáveis que comprarão todo o lixo que é produzido - esta é sua função última, e quaisquer outras propriedades que elas possam possuir são irrelevantes, e normalmente um incômodo."
(Noam Chomsky)


23/06/2011

Tradicionalismo: Eis o Inimigo!

por Guillaume Faye

Nos círculos do que podemos chamar eufemisticamente de a "direita revolucionária", ou mais genericamente de a "direita anti-liberal", pode-se observar a ascensão recorrente - como crises de acne - do que podemos chamar apenas de "tradicionalismo metafísico."

Autores como Evola ou Heidegger são em geral os pretextos - marque bem minhas palavras: os pretextos - para a expressão dessas tendências, muitos aspectos os quais parecem ser negativos e desmoralizantes. Estes autores mesmos não são o problema. Para fazer referência apenas a Evola e Heidegger, as obras de nenhum desses autores - cujas verdadeiras idéias estão geralmente extremamente distantes das dos "evolianos" e "heideggerianos" - são suscetíveis às críticas que aplicam-se aos seus "discípulos" direitistas que estão em questão aqui.

Como caracterizamos esse "desvio" do tradicionalismo metafísico e quais são os argumentos contra ele? Essa mentalidade é caracterizada por três pressuposições axiomáticas:

1. A vida social deve ser governada pela "Tradição", cujo esquecimento traz decadência.
2. Tudo que tem relação com nosso tempo é escurecido por essa decadência. Quanto mais dirigimo-nos ao passado, menor a decadência, e vice-versa.
3. Ultimamente, as únicas coisas que importam são as preocupações e atividades "interiores", voltadas para a contemplação de alguma coisa geralmente chamada "Ser".

Sem demorarmo-nos na superficialidade relativamente pretensiosa dessa perspectiva que prefere, ao invés de reflexão autêntica e clareza, o obscurantismo fácil do inverificável e dos jogos de palavras, que - sob o pretexto de profundidade (e até mesmo, em certos autores com fortes tendências narcisistas, de "poesia") - ignora a própria essência de toda filosofia e todo lirismo, deve-se especialmente reconhecer que esse tradicionalismo metafísico está em profunda contradição com os próprios valores que geralmente afirma defender, ou seja, o combate às ideologias modernas, o espírito conhecido como a "Tradição Européia", o anti-igualitarismo, etc.

De fato, em primeiro lugar, a obsessão com a decadência e a nostalgia dogmática que ela induz fazem-na parecer com um progressismo reverso, uma visão linear "invertida" da história: o mesmo esquema mental, herdado do finalismo cristão, de todas as ideologias progressistas "modernas". A História não ascende do passado para o presente, mas descende.

Porém, contrariamente às doutrinas progressistas, o tradicionalismo cultiva um pessimismo profundamento desmoralizante em relação ao mundo. Esse pessimismo é exatamente do mesmo tipo que o otimismo ingênuo dos progressistas. Procede da mesma mentalidade e incorpora o mesmo tipo de vaidade, nomeadamente a propensão às profecias verborrágicas e a erigir a si mesmo como um juiz da sociedade, da história, e de outras coisas do tipo.

Esse tipo de tradicionalismo, em sua tendência a odiar e denegrir tudo que é "do presente", não apenas leva seus autores à amargura e a uma arrogância geralmente injustificável, mas também revela sérias contradições que tornam seu discurso incoerente e inacreditável.

Esse ódio do presente, da "modernidade", não é em absoluto colocado em prática no dia-a-dia, diferentemente do que se vê, por exemplo, no Cristianismo. Nossos anti-modernos podem perfeitamente beneficiar-se das conveniências da vida moderna.

Nisso eles revelam o verdadeiro sentido de seu discurso: a expressão de uma consciência culpada, uma "compensação" realizada por almas profundamente burguesas mal-ajustadas ao mundo atual, mas ainda assim incapazes de superá-lo.

Em segundo lugar, esse tipo de tradicionalismo usualmente leva a um individualismo exagerado, o mesmo individualismo que sua visão "comunitária" do mundo afirma denunciar na modernidade.

Sob o pretexto de que o mundo é "mau", de que seus contemporâneos são patentemente decadentes e imbecis, de que essa sociedade materialista "corrompida pela ciência e pela tecnologia" não pode compreender os valores superiores da interioridade, o tradicionalista, que sempre pensa em si mesmo como estando no topo das montanhas, não dignam-se a descer e aceitar a necessidade de combater no mundo, mas rejeita qualquer disciplina, qualquer solidariedade com seu povo, qualquer interesse na Política.

Ele está interessado apenas em seu ego hipertrofiado.

Ele transmite "seu" pensamento às gerações futuras como uma garrafa no oceano - sem ver a contradição, já que elas supostamente serão incapazes de compreendê-lo por causa da crescente decadência.

Esse individualismo, portanto, leva logicamente ao próprio oposto da ideologia original, ou seja, a um globalismo e universalismo implícitos.

Efetivamente, o tradicionalista metafísico é tentado a crer que as únicas associações que contam são "espirituais", a comunicação de grandes pensadores, que é similar ao redor do mundo, independentemente de sua origem e fonte, desde que eles rejeitem a "modernidade ocidental." Eles substituem o serviço ao Povo, à Política, à Comuniudade, ao Conhecimento, a uma Causa, não apenas com o serviço e a contemplação do próprio ego, mas com o serviço a meras abstrações.

Eles defendem "valores", independentemente de seu local de encarnação. Daí, para alguns, vem uma cativação com o Orientalismo; para outros, um globalismo militante; e para todos eles, um desinteresse desiludido quanto ao destino do seu próprio Povo.

Costuma-se até mesmo chegar a atitudes abertamente cristãs - da parte de "filósofos" que muitas vezes estão ocupados combatendo o Cristianismo.

Alguns exemplos aleatórios: a escolha de valorizar a intenção acima do resultado; a escolha de julgar uma idéia ou um valor em termos de suas características intrínsecas ao invés de sua eficácia; uma mentalidade espiritualística que julga todas as culturas e projetos em termos de seu "valor" espiritual ao invés de seus efeitos materiais.

Essa última atitude, ademais, obviamente tem muito pouco que ver com o "paganismo" Europeu que nossos tradicionalistas geralmente afirmam professar.

De fato, observando-se uma obra, projeto, ou cultura a partir de um ponto de vista exclusivamente "espiritual", afirma-se o princípio cristão da separação entre matéria e Espírito, a dissociação dualista entre a idéia pura e o produto concreto.

Uma cultura, um projeto, uma obra não são mais que produtos, no sentido concreto e dinâmico do termo.

Sob nossa perspectiva não existe qualquer separação entre o "valor" e o seu "produto". As qualidades líricas, poéticas, estéticas de uma cultura, obra ou projeto estão intimamente incorporadas em sua forma, em sua produção material. Espírito e Matéria são uma e a mesma coisa. O valor de um homem ou de uma cultura estão em suas Ações, não em seu "Ser" ou seu passado.

É precisamente essa idéia, partindo das fontes mais antigas da  Tradição Européia, que nossos tradicionalistas metafísicos - tão imbuídos com seu espiritualismo e seu monoteísmo da "tradição" ou de sua busca pelo "Ser" - prontamente traem.

Paradoxo: Ninguém está mais distante das Tradições Européias do que os tradicionalistas. Ninguém está mais próximo do espírito oriental dos mosteiros.

Tudo que caracteríza a Tradição Européia, tudo que os cultos orientais tentaram abolir, é exatamente o oposto do que os tradicionalistas europeus atuais defendem.

O Espírito Europeu, ou aquilo nele que era o mais elevado e mais civilizador, era otimista e não pessimista, exteriorizava e não interiorizava, era construtivista e não espiritualista, filosófico e não teológico, aberto à mudança e não satisfeito e complacente, criador de suas próprias tradições e formas ou idéias imutáveis, conquistador e não contemplador, técnico e urbano e não pastoral, ligado às cidades, portos, palácios, e templos, e não ao campo (o domínio da necessidade), etc.

Em realidade, o espírito dos tradicionalistas atuais é uma parte integral da civilização comercial ocidental, assim como os museus fazem parte da civilização do supermercado. O tradicionalismo é o ego sombrio, a justificativa, o cemitério vivo do burguês moderno.

Ele serve como suplemento espiritual. Faz com que ele acredite que não importa se ele gosta de Nova Iorque, novelas, e rock n'roll, desde que ele tenha suficiente "interioridade".

O tradicionalista é superficial: o escravo de suas idéias puras e de sua contemplação, dos jogos intelectuais de posers filosóficos, no fundo ele acredita que o pensamento é uma distração, um exercício agradável porém inútil, como colecionar selos ou borboletas - não um meio para a Ação, ou para a transformação do mundo,  ou para a construção de uma cultura.

O  tradicionalista acredita que valores e idéias preexistem à Ação. Ele não compreende que Ação precede tudo, como disse Goethe, e que é através da combinação dinâmica de Vontade e Ação que todas as idéias e valores nascem a posteriori.

Isso mostra-nos a verdadeira função de ideologias tradicionalistas na "direita" anti-liberal. O tradicionalismo metafísico é uma justificativa para desistir de todo combate, de todo projeto concreto de criar uma realidade européia diferente da dos dias atuais.

É a expressão ideológica de pseudo-revolucionários. Suas utopias regressivas, considerações nubladas e obscuras, e metafísica inútil fazem mais do que causar fatalismo, inação, e enervação. Eles também reforçam o individualismo burguês pela pregação implícita do tipo ideal do "pensador" - se possível contemplativo e descorporificado - como o pivô da história. Homens de Ação - as verdadeiras personalidades históricas - são assim, desvalorizados.

Porque o tradicionalista ultimamente não apoia a "comunidade", ele a declara impossível hic et nunc e transforma-a em uma fantasia utópica e regressiva perdida nas névoas de sabe-se-lá que "tradição".

Nesse sentido, o tradicionalismo "anti-moderno" e "anti-burguês" pertence objetivamente ao sistema das ideologias burguesas. Como estas ideologias, seu ódio pelo "presente" é um bom jeito, um bom pretexto, para rejeitar como impossível qualquer construção histórica concreta, até mesmo àquelas opostas ao presente.

No coração de seu discurso, o tradicionalismo mantém uma confusão absurda entre a "modernidade" da civilização tecnológico-industrial européia e o "espírito moderno" das ideologias igualitárias e ocidentais (que são arbitrariamente ligadas uma à outra). Assim o tradicionalismo desfigura, desvaloriza (às vezes para o lucro de um Terceiro Mundo idealizado "tradicional"), e abandona o Espírito Ocidental e Americano, o próprio gênio da civilização européia.

Como o Judaico-Cristianismo, mas por razões diferentes, o tradicionalista diz "Não" ao mundo e assim sabota a tradição de sua própria cultura. Ultimamente, um tradicionalista é alguém que sempre já sabe que há apenas uma tradição, como um idealista sempre já sabe que tudo é uma idéia.

Finalmente, sob o ponto de vista do "pensamento" - aquele cavalo de batalha do tradicionalismo metafísico - o que poderia ser mais negativo para o Espírito, mais incompatível com a qualidade do debate intelectual e para a reflexão que torna a si mesmo livre e contemplativo, do que afastá-lo de todos os projetos "políticos" (no sentido nietzscheano) e desviá-lo para o elitismo de bibliófilos e autodidatas assalariados?

Ousemos liquidar os Evolianos e Heideggerianos.

Porém leiamos Evola e Heidegger: para colocá-los em perspectiva, ao invés de montá-los em papel sulfurizado.

22/06/2011

Cultura de Direita

"Diz-se, por exemplo, que a cultura está à esquerda porque é ali em que se encontra mais dinheiro, de editoras, de meios de propaganda. E também afirma-se que se o vento mudasse, muitos 'comprometidos com a esquerda' revisariam seu engagément.

Em tudo isso há parte de razão. Uma cultura ou, melhor, o ponto de partida do qual tem necessidade uma cultura são também organização, dinheiro e propaganda. Resulta induvidável que o predomínio esmagador das edições de orientação marxista, do cinema social-comunista, convida ao engagément também a muitos que em um ambiente diferente teriam permanecido neutros.

Sem embargo, isso não deve fazer-nos esquecer a verdadeira causa do predomínio da hegemonia ideológica da esquerda. Esta reside no fato de que ali, na esquerda, existem as condições para um cultura, existe uma concepção unitária da vida, materialista, democrática, humanitária, progressista. Esta visão do mundo e da vida pode assumir diferentes matizes, pode tornar-se radicalismo e comunismo, neo-iluminismo ou 'cientificismo' de caráter psicanalítico, marxismo militante e cristianismo positivo de natureza 'social'. Porém sempre nos encontramos frente a uma visão unitária do mundo, dos fins da história e da sociedade.

Dessa concepção comum surge uma massiva produção ensaística, histórica e literária que pode ser mesquinha e decadente mas que possui uma lógica e uma coerência íntima próprias. Esta lógica, esta coerência exercem uma fascinação crescente sobre as pessoas cultas. Não é nenhum mistério para ninguém que um grande número de docentes médios e universitários é marxista e que o processo de extensão do marxismo entre o corpo de profissionais do ensino verifica-se com uma impressionante rapidez. E entre os jovens que tem o hábito de ler, as posições de esquerda ganham terreno de forma evidente.

No âmbito da direita não produz-se nada semelhante. Aqui vaga-se em uma atmosfera deprimente, feita de conservadorismo  caseiro e respeitabilidade burguesa. Pode-se ler artigos nos quais solicita-se que a cultura tenha mais em conta os 'valores patrióticos' ou a 'moral', tudo por meio de uma pitoresca confusão de idéias e linguagens.

À esquerda sabe-se perfeitamente o que é que se quer. Quer esteja-se a falar da nacionalização do setor elétrico ou urbanístico, da história da Itália ou da psicanálise, sempre trabalha-se para um fim determinad, para a difusão de uma determinada mentalidade, de uma certa concepção da vida.

À direita anda-se tateando na incerteza e na imprecisão ideológica. É-se 'patriótico-ressurgimentista' e ignora-se os aspectos obscuros, democráticos e maçônicos que coexistiram no Ressurgimento com a idéia unitária. Ou bem aposta-se em um 'liberalismo nacional' e esquece-se que o mercantilismo e o nacionalismo liberais constribuíram de maneira importante para a destruição da ordem européia. Ou, inclusive, fala-se de Estado nacional do trabalho e esquece-se que, desgraçadamente, já temos uma república italiana fundada no 'trabalho' e que reduzir a estes termos nossa alternativa significa simplesmente rebaixar-nos ao nível de social-democratas acessórios.

Quiçá as pessoas cultas não sejam em menor número à direita do que à esquerda. Se considera-se que a maior parte do eleitorado de direita é burguês, dever-se-ia deduzir que entre eles são abundantes as pessoas que tenham realizado estudos superiores e deveriam ter contraído um certo 'hábito de leitura'.

Sem embargo, enquanto o homem de esquerda dispõe também dos elementos da cultura de esquerda e lê Marx, Freud, Salvemini, o homem de direita dificilmente possui uma consciência cultural de 'Direita'. Não suspeita da importância de um Nietzsche na crítica à civilização, jamais leu um único romance de Jünger ou Drieu La Rochelle, desconhece a Decadência do Ocidente de Spengler e não duvida em absoluto que a Revolução Francesa constituiu uma página insigne na história do progresso humano. Enquanto mantém-se no âmbito da cultura é um bravo liberal, somente, talvez, um pouco nacionalista e patriota.

Unicamente quando começa a falar de política diferencia-se: Opina que Mussolini era um homem honesto e não queria a guerra e que os filmes de Pasolini são 'obscenos'.

Não falta muito para dar-se conta de que à direita não existe uma cultura porque não existe uma verdadeira idéia da 'Direita', uma visão do mundo qualitativa, aristocrática, agonística, antidemocrática; uma visão coerente acima de certos interesses, de  certas nostalgias e de certas oleografias políticas."
(Adriano Romualdi)


21/06/2011

Crimepensar

"Como nós já vimos no caso da palavra livre, palavras que já portaram um significado herético foram às vezes retidas por conveniência, mas apenas com os significados indesejáveis purgados deles. Incontáveis outras palavras tais como honra, justiça, moralidade, internacionalismo, democracia, ciência, e religião simplesmente cessaram de existir. Algumas palavras cobriram-nas, e, ao fazerem isto, as aboliram. Todas as palavras que agrupavam-se ao redor dos conceitos de liberdade e igualdade, por exemplo, foram contidas na única palavra crimepensar, enquanto todas as palavras agrupando-se ao redor dos conceitos de objetividade e racionalismo foram contidas na única palavra velhopensar. Maior precisão teria sido perigoso. O que era necessário em um membro do Partido era uma perspectiva similar àquela do antigo hebreu que sabia, sem saber muito mais, que todas as nações que não a sua própria adoravam 'falsos deuses'. Ele não precisava saber que esses deuses eram chamados Baal, Osiris, Moloch, Ashtaroth, e similares: provavelmente quanto menos ele soubesse melhor para sua ortodoxia. Ele conhecia Jeová e os mandamentos de Jeová: ele sabia, portanto, que todos os deuses com outros nomes ou outros atributos eram falsos deuses."
(George Orwell, 1984)



20/06/2011

Biografia de Pierre Drieu La Rochelle

por José Antonio Hernández García

"Se Pierre Drieu La Rochelle não tivesse morrido em 1945, hoje seria ele o príncipe da juventude." - Robert Poulet

Pierre Drieu La Rochelle nasceu em 3 de janeiro de 1893 e suicidou-se em 15 de março de 1945 em Paris. Aos catorze anos, em 1907, descobre Assim Falou Zaratustra de Friedrich Nietzsche, influência que nunca o abandonará. Depois de uma viagem pela Alemanha e Inglaterra, define-se como "germanófilo e anglómano." Quando tem início a guerra de 1914 serve na infantaria e será ferido três vezes; sua experiência no front o marcará para sempre e determinará sua obra posterior. Ao finalizar a guerra torna-se amigo de Aldous Huxley, autor do romance de antecipação Admirável Mundo Novo. Devora os livros de Shakespeare, de Goethe, de Schopenhauer, de Dostoievsky, de Proudhon, de Sore, de Barrès, de Kipling, de Péguy, de Guénon e de Maurras. Interrogação, livro que reúne seus primeiros poemas, o publica em 1917. Entre 1920 e 1924 é atraído pelo dadaísmo e aproxima-se aos surrealistas André Breton e Paul Éluard, e seu nome aparece na revista Littérature; também torna-se amigo de Louis Aragon.

Porém em 1925 assina um artigo histórico na Nouvelle Revue Française que o afasta para sempre da vanguarda. Enquanto isso, escreve e alterna o ensaio lírico, Medida de França, e o romance analítico, O Homem Coberto de Mulheres. Em 1926, reencontra-se com Emmanuel Berl depois de ter colaborado na Revue Hebdomadaire. O ano de 1927 marca o ano de mais intensa amizade de Drieu com André Malraux, que permanecerá fiel a sua memória até o fim. Drieu escreve artigos para Bertrand de Jouvenel na La Lutte des Jeunes em 1934, onde conhece o militante Pierre Andreu, seu futuro biógrafo. Faz sua profissão de fé no Socialismo Fascista: "Este desejo de fazer uma política de esquerda, com homens de direita." Nesse mesmo ano conhece a Ernst von Salomon em Berlim. Drieu é insuperável no diário íntimo e no testemunho introspectivo. Suas reflexões decadentistas e suas descrições pessimistas do mundo literário e político fazem dele o melhor memorialista de seu tempo. Isso sem esquecer seu talento como jornalista que encontramos nas compilações de artigos: Crônica política, 1934-1942 e em O Francês da Europa. Em 1936 adere ao Partido Popular Francês (P.P.F.) dirigido por Jacques Doriot - antigo comunista - e assiste a sua fundação em Saint-Denis. Escreve regularmente no L'Émancipation Nationale, órgão de imprensa do partido. Em 1939 envia sua carta de demissão ao PPF. Depois da derrota de 1940, torna-se membro da direção da N.R.F. Também aparecem seus artigos na La Gerbe de Alphonse de Châteaubriant. Em 1943 colabora no hebdomadário La Révolution Nationale, de Lucien Combelle. Se assume como "socialista europeu" porém se decepciona rapidamente em virtude da iminente queda do Terceiro Reich. A concepção da Europa de Drieu é idealizada e utópica devido à influência de suas leituras de autores românticos alemães. Cada vez mais se interessa nos místicos hindús. Perseguido e vivendo na clandestinidade, se mata aos 52 anos, depois de ter finalizado seu Relato Secreto, onde aponta: "me conduzi com plena consciência, duramente minha vida, de acordo com a idéia que me fiz dos deveres do intelectual." É o testamento sincero de um humanista sensível, de um asceta e de um poeta lúcido em busca do absoluto em uma época atormentada e decadente. Apesar de sua obra desigual, sua vitalidade e seu temperamento único aparecem em todos os seus livros: "Por princípio sou um escritor desigual. O essencial do que tinha a dizer já o havia assinalado, porém apoiando a pena em uma força mal-fadada. Há em meus primeiros escritos o melhor e o pior. Por uma razão de vida e morte, devia separar o melhor do pior." (Escritos de Juventude, 1941). Pierre Drieu La Rochelle pode ser considerado o filho espiritual de Friedrich Nietzsche e de Maurice Barrès.



19/06/2011

Parvoíce Antitradicionalista

"Se as idéias antitradicionalistas valessem mais que nossa tradição, esta teria tornado-se uma espécie de pré-história, mas apenas um pouco melhor conhecida. Isso é o que se tem desejado fazer nesses anos ao chamarem 'homens das cavernas' aos espanhóis amantes das glórias do passado. Porém quando pergunta-se pelos títulos das idéias que julgam-se novas, os inimigos hão de guardar silênico, se não preferem envolver-se em retórica inane. Porque a árvore é conhecida por seus frutos e os seus não aparecem. Nem uma filosofia que sustente-se, nem um sistema de Direito satisfatório, nem o bem-estar do povo, nem uma grande arte, nem história, nem poesia. Um trágala perpétuo, uma ameaça incessante, um insulto permanente. São estes os títulos das novas idéias? A arte pela arte? Não produziu uma única grande obra em país algum. A economia individualista? É a mãe dos problemas sociais. O socialismo? Arruina aos povos. A democracia? É a incapacidade para o governo. O liberalismo espiritual? É o triunfo da difamação. O bacharelado enciclopédico? Como quase todo o cômputo de Instrução pública não serve senão para infiltrar nos espíritos o horror ao trabalho. Repitamo-nos para consolar-nos, que a maioria dessas coisas foram-nos trazidas por gente de boa-fé, que lançaram-se a buscar pelo mundo o que necessitávamos. Porém não esqueçamos que acompanhavam-nas e empurravam-nas os ressentidos, os negadores, os anormais, que não moviam-se senão por impulsos destrutivos, que, pelo visto não satisfizeram-se em despedaçar o que foi o mais generoso e humano de todos os Impérios que houveram no mundo."
(Ramiro de Maeztu)



17/06/2011

Armin Mohler: discípulo de Sorel e teórico da vida concreta

Por Dr. Karlheinz Weissmann

O “mito”, como a “representação de uma batalha”, surge espontaneamente e exerce um efeito mobilizador sobre as massas, incute-lhes uma “fé” e torna-as capazes de actos heróicos, funda uma nova ética: essas são as pedras angulares do pensamento de Georges Sorel (1847-1922). Este teórico político, pelos seus artigos e pelos seus livros, publicados antes da primeira guerra mundial, exerceu uma influência perturbante tanto sobre os socialistas como sobre os nacionalistas.
Contudo, o seu interesse pelo mito e a sua fé numa moral ascética foram sempre – e continuam a sê-lo apesar do tempo que passa – um embaraço para a esquerda, da qual ele se declarava. Podemos ainda observar esta reticência nas obras publicadas sobre Sorel no fim dos anos 60. Enquanto algumas correntes da nova esquerda assumiram expressamente Sorel e consideravam que a sua apologia da acção directa e as suas concepções anarquizantes, que reclamavam o surgimento de pequenas comunidades de “produtores livres”, eram antecipações das suas próprias visões, a maioria dos grupos de esquerda não via em Sorel mais que um louco que se afirmava influenciado por Marx inconscientemente e que trazia à esquerda, no seu conjunto, mais dissabores que vantagens. Jean-Paul Sartre contava-se assim, evidentemente, entre os adversários de Sorel, trazendo-lhes a caução da sua notoriedade e dando, ipso facto, peso aos seus argumentos.

Quando Armin Mohler, inteiramente fora dos debates que agitavam as esquerdas, afirmou o seu grande interesse pela obra de Sorel, não foi porque via nele o “profeta dos bombistas” (Ernst Wilhelm Eschmann) nem porque acreditava, como Sorel esperara no contexto da sua época, que o proletariado detivesse uma força de regeneração, nem porque estimava que esta visão messiânica do proletariado tivesse ainda qualquer função. Para Mohler, Sorel era um exemplo sobre o qual meditar na luta contra os efeitos e os vectores da decadência. Mohler queria utilizar o “pessimismo potente” de Sorel contra um “pessimismo debilitante” disseminado nas fileiras da burguesia.

Rapidamente Mohler criticou a “concepção idílica do conservantismo”. Ao reler Sorel percebeu que é perfeitamente absurdo querer tudo “conservar” quando as situações mudaram por todo o lado. A direita intelectual não deve contentar-se em pregar simplesmente o bom-senso contra os excessos de uma certa esquerda, nem em pregar a luz aos partidários da ideologia das Luzes; não, ela deve mostrar-se capaz de forjar a sua própria ideologia, de compreender os processos de decadência que se desenvolvem no seu seio e de se desembaraçar deles, antes de abrir verdadeiramente a via a uma tradução concreta das suas posições.
Uma aversão comum aos excessos da ética da convicção
Quando Mohler esboça o seu primeiro retrato de Sorel, nas colunas da revista Criticón, em 1973, escreve sem ambiguidades que os conservadores alemães deveriam tomar esse francês fora do comum como modelo para organizar a resistência contra a “desorganização pelo idealismo”. Mohler partilhava a aversão de Sorel contra os excessos da ética da convicção. Vimo-la exercer a sua devastação na França de 1890 a 1910, com o triunfo dos dreyfusards e a incompreensão dos Radicais pelos verdadeiros fundamentos da Cidade e do Bem Comum, vimo-la também no final dos anos 60 na República Federal, depois da grande febre “emancipadora”, combinada com a vontade de jogar abaixo todo o continuum histórico, criminalizando sistematicamente o passado alemão, tudo taras que tocaram igualmente o “centro” do tabuleiro político.

Para além destas necessidades do momento, Mohler tinha outras razões, mais essenciais, para redescobrir Sorel. O anti-liberalismo e o decisionismo de Sorel haviam impressionado Mohler, mais ainda do que a ausência de clareza que recriminamos no pensamento soreliano. Mohler pensava, ao contrário, que esta ausência de clareza era o reflexo exacto das próprias coisas, reflexo que nunca é conseguido quando usamos uma linguagem demasiado descritiva e demasiado analítica. Sobretudo “quando se trata de entender elementos ou acontecimentos muito divergentes uns dos outros ou de captar correntes contrárias, subterrâneas e depositárias”. Sorel formulou pela primeira vez uma ideia que muito dificilmente se deixa conceptualizar: as pulsões do homem, sobretudo as mais nobres, dificilmente se explicam, porque as soluções conceptuais, todas feitas e todas apropriadas, que propomos geralmente, falham na sua aplicação, os modelos explicativos do mundo, que têm a pretensão de ser absolutamente completos, não impulsionam os homens em frente mas, pelo contrário, têm um efeito paralisante.
Ernst Jünger, discípulo alemão de Georges Sorel
Mohler sentiu-se igualmente atraído pelo estilo do pensamento de Sorel devido à potencialidade associativa das suas explicações. Também estava convencido que este estilo era inseparável da “coisa” mencionada. Tentou definir este pensamento soreliano com mais precisão com a ajuda de conceitos como “construção orgânica” ou “realismo heróico”. Estes dois novos conceitos revelam a influência de Ernst Jünger, que Mohler conta entre os discípulos alemães de Sorel. Em Sorel, Mohler reencontra o que havia anteriormente descoberto no Jünger dos manifestos nacionalistas e da primeira versão do Coração Aventureiro (1929): a determinação em superar as perdas sofridas e, ao mesmo tempo, a ousar qualquer coisa de novo, a confiar na força da decisão criadora e da vontade de dar forma ao informal, contrariamente às utopias das esquerdas. Num tal estado de espírito, apesar do entusiasmo transbordante dos actores, estes permanecem conscientes das condições espacio-temporais concretas e opõem ao informal aquilo que a sua criatividade formou.
O “afecto nominalista”
O que actuava em filigrana, tanto em Sorel como em Jünger, Mohler denominou “afecto nominalista”, isto é, a hostilidade a todas as “generalidades”, a todo esse universalismo bacoco que quer sempre ser recompensado pelas suas boas intenções, a hostilidade a todas as retóricas enfáticas e burlescas que nada têm a ver com a realidade concreta. É portanto o “afecto nominalista” que despertou o interesse de Mohler por Sorel. Mohler não mais parou de se interessar pelas teorias e ideias de Sorel.

Em 1975 Mohler faz aparecer uma pequena obra sucinta, considerada como uma “bio-bibliografia” de Sorel, mas contendo também um curto ensaio sobre o teórico socialista francês. Mohler utilizou a edição de um fino volume numa colecção privada da Fundação Siemens, consagrado a Sorel e devida à pluma de Julien Freund, para fazer aparecer essas trinta páginas (imprimidas de maneira tão cerrada que são difíceis de ler!) apresentando pela primeira vez ao público alemão uma lista quase completa dos escritos de Sorel e da literatura secundária que lhe é consagrada. A esta lista juntava-se um esboço da sua vida e do seu pensamento.

Nesse texto, Mohler quis em primeiro lugar apresentar uma sinopse das fases sucessivas da evolução intelectual e política de Sorel, para poder destacar bem a posição ideológica diversificada deste autor. Esse texto havia sido concebido originalmente para uma monografia de Sorel, onde Mohler poria em ordem a enorme documentação que havia reunido e trabalhado. Infelizmente nunca a pôde terminar. Finalmente, Mohler decidiu formalizar o resultado das suas investigações num trabalho bastante completo que apareceu em três partes nas colunas da Criticón em 1997. Os resultados da análise mohleriana podem resumir-se em 5 pontos:
Uma nova cultura que não é nem de direita nem de esquerda
1. Quando falamos de Sorel como um dos pais fundadores da Revolução Conservadora reconhecemos o seu papel de primeiro plano na génese deste movimento intelectual que, como indica claramente o seu nome, não é “nem de direita nem de esquerda” mas tenta forjar uma “nova cultura” que tomará o lugar das ideologias usadas e estragadas do século XIX. Pelas suas origens este movimento revolucionário-conservador é essencialmente intelectual: não pode ser compreendido como simples rejeição do liberalismo e da ideologia das Luzes.

2. Em princípio, consideramos que os fascismos românicos ou o nacional-socialismo alemão tentaram realizar este conceito, mas estas ideologias são heresias que se esquecem de levar em consideração um dos aspectos mais fundamentais da Revolução Conservadora: a desconfiança em relação às ideias que evocam a bondade natural do homem ou crêem na “viabilidade” do mundo. Esta desconfiança da RC é uma herança proveniente do velho fundo da direita clássica.

3. A função de Sorel era em primeiro lugar uma função catalítica, mas no seu pensamento encontramos tudo o que foi trabalhado posteriormente nas distintas famílias da Revolução Conservadora: o desprezo pela “pequena ciência” e a extrema valorização das pulsões irracionais do homem, o cepticismo em relação a todas as abstracções e o entusiasmo pelo concreto, a consciência de que não existe nada de idílico, o gosto pela decisão, a concepção de que a vida tranquila nada vale e a necessidade de “monumentalidade”.

Não há “sentido” que exista por si mesmo.
4. Nesta mesma ordem de ideias encontramos também esta convicção de que a existência é desprovida de sentido (sinnlos), ou melhor: a convicção de que é impossível reconhecer com certeza o sentido da existência. Desta convicção deriva a ideia de que nunca fazemos mais que “encontrar” o sentido da existência forjando-o gradualmente nós próprios, sob a pressão das circunstâncias e dos acasos da vida ou da História, e que não o “descobrimos” como se ele sempre tivesse estado ali, escondido por detrás do ecrã dos fenómenos ou epifenómenos. Depois, o sentido não existe por si mesmo porque só algumas raras e fortes personalidades são capazes de o fundar, e somente em raras épocas de transição da História. O “mito”, esse, constitui sempre o núcleo central de uma cultura e compenetra-a inteiramente.

5. Tudo depende, por fim, da concepção que Sorel faz da decadência – e todas as correntes da direita, por diferentes que sejam umas das outras, têm disso unanimemente consciência – concepção que difere dos modelos habituais; nele é a ideia de entropia ou a do tempo cíclico, a doutrina clássica da sucessão constitucional ou a afirmação do declínio orgânico de toda a cultura. Em «Les Illusions du progrès» Sorel afirma: “É charlatanice ou ingenuidade falar de um determinismo histórico”. A decadência equivale sempre à perda da estruturação interior, ao abandono de toda a vontade de regeneração. Sem qualquer dúvida, a apresentação de Sorel que nos deu Mohler foi tornada mais mordaz pelo seu espírito crítico.
Uma teoria da vida concreta imediata
Contudo, algumas partes do pensamento soreliano nunca interessaram Mohler. Nomeadamente as lacunas do pensamento soreliano, todavia patentes, sobretudo quando se tratou de definir os processos que deveriam ter animado a nova sociedade proletária trazida pelo “mito”. Mohler absteve-se igualmente de investigar a ambiguidade de bom número de conceitos utilizados por Sorel. Mas Mohler descobriu em Sorel ideias que o haviam preocupado a ele também: não se pode, pois, negar o paralelo entre os dois autores. As afinidades intelectuais existem entre os dois homens, porque Mohler como Sorel, buscaram uma “teoria da vida concreta imediata” (recuperando as palavras de Carl Schmitt).

15/06/2011

Liberar as Drogas e Proibir as Armas

As duas tese mais queridas das ONGs que se auto intitulam dos “direitos humanos” são a liberação das drogas e a proibição das armas de fogo. Ao contrário do desarmamento civil, a questão da liberação das drogas nem sempre é assumida de forma tão explícita por todas elas.

Por exemplo, a postura da mais famosa organização desarmamentista brasileira, o Viva Rio, é bem mais discreta com relação a questão das drogas. É compreensível essa posição “low profile” diante de assunto tão polêmico. Afinal, o Viva Rio há muito deixou de ser uma Organização Não Governamental e hoje seria melhor definida como uma Organização Para-Governamental, haja visto os inúmeros encargos administrativos que assumiu no Estado do Rio de Janeiro e a presença de alguns de seus destacados membros em funções executivas nos governos estadual e federal.

Ambas as teses, do desarmamento civil e da liberação das drogas, são defendidas com argumentos falaciosos que não resistem a uma análise séria, mesmo que superficial. Na realidade, essas teses revelam mais um aspecto cultural de seus defensores que uma teoria social coerente. Não é de todo surpreendente que uma geração que cresceu nos tempos da chamada contra-cultura, da “Paz e Amor” e do “bicho grilo”, idolatrando Beatles e Jimmy Hendrix, possua entre seus membros pessoas com estas opiniões. Algumas pessoas demoram mais a amadurecer e outras nunca atingem a idade da razão.

Ambas as campanhas nunca explicitam de maneira clara seus propósitos. No caso das drogas dizem apenas que querem “descriminalizá-las” e no caso das armas dizem que querem apenas “controlá-las”. Como se ao “descriminalizar” as drogas não estivessem liberando-as para uso geral e como se já não houvesse controle suficiente sobre as armas.

Os argumentos

Os principais argumentos utilizados pelos defensores da liberação das drogas são os seguintes:

1) Cada um faz o que quer com o próprio corpo e o Estado não deve interferir nessa opção individual.
Esta postura é a síntese da ideologia liberal que muito nos agrada. Entretanto não pode ser aplicada às drogas pois estas possuem poder viciante. Ou seja: a liberdade para optar por uma droga suprime a liberdade de abandoná-la. Além disso, o dependente perde sua capacidade de discernimento e deixa de fazer o que é bom para si. Ao se tornar uma nulidade, o viciado passa a cometer crimes para sustentar o vício, desagregando a família e incomodando toda a sociedade. A experiência internacional comprova esta tese: quando o ópio foi liberado na China tornou-se um grave caso de saúde pública.

2) Muitas pessoas tomam drogas sem se viciar. Só se vicia quem quer.
De fato, algumas pessoas passam pela experiência das drogas sem se viciar. Mas mesmo essas pessoas são unânimes em afirmar que são exceção a regra. Imaginar que alguém possa passar pela experiência das drogas sem seqüelas é um grave erro. Estudos recentes mostram que a maconha vendida hoje no comércio tem dez vezes mais THC (o princípio ativo) que a erva vendida na década de 1960. Isto significa um poder viciante muito superior e indica que os traficantes executaram um eficiente trabalho de aprimoramento de seu produto. Quanto custaria aos contribuintes manter clínicas estatais gratuitas de desintoxicação para as pessoas sem recursos que sinceramente querem se livrar do vício?

3) A repressão ao uso de drogas é uma guerra impossível de ser vencida e só serve para criar novas gerações de criminosos além de custar muito caro ao Estado.
Este raciocínio apresenta duas graves falhas. Em primeiro lugar, criminosos sempre existiram e sempre foram atraídos pelas formas mais rentáveis de atividade criminosa. Imaginar que essas pessoas não seriam criminosas se não houvesse o tráfico de drogas é, no mínimo, uma doce ilusão. Isto significa que, se as drogas forem liberadas, simplesmente os traficantes irão procurar alguma outra atividade ilícita rentável o que pode ser até pior para a sociedade em geral. A segunda falha deste raciocínio é que, se ele for seguido à risca, devemos deixar de combater todos os crimes que forem difíceis (ou caros) de ser combatidos e legalizar inúmeras atividades ilícitas.

4) Morre mais gente pelo uso de drogas lícitas (tabaco e álcool) que por drogas ilícitas, por isso não há motivos para proibi-las.
Essa idéia é simplesmente ridícula. A sociedade tem feito um grande esforço para diminuir o consumo de tabaco e está sendo vitoriosa nessa luta. Devemos substituir o tabaco pela canabis? Estudos sérios mostram que a maconha possui seis vezes mais substâncias cancerígenas que o tabaco. Quanto ao álcool, como comparar bebidas milenares de alto grau de sofisticação palativa (como vinhos, conhaques e whiskys) com drogas totalmente desprovidas de outros atrativos que não sejam seus efeitos alucinógenos? E a causa de morrer menos gente com drogas ilícitas deve-se ao fato delas serem mais caras e difíceis de serem obtidas – portanto menos consumidas - duas limitações que são conseqüência da repressão e deixarão de existir com a descriminalização.

5) Descriminalizar as drogas não significa estimular seu uso.
É evidente que não. Quem estimula o uso de drogas não é o Estado ou a sociedade de um modo geral. Mas não há dúvida que a descriminalização permitirá a ídolos da contra cultura e outros usuários falarem abertamente do uso de drogas e exibir seu exemplo a milhões de jovens influenciáveis. Em outras palavras, não faltarão pessoas para estimular seu uso. Para evitar isso precisaríamos retornar com a censura aos meios de comunicação – e para censurar uma atividade agora lícita. Alguém acredita que isso seja exeqüível ou mesmo desejável?

É interessante observarmos que os mecanismos de controle sobre a venda e uso de drogas que os adeptos da descriminalização falam em adotar, são similares aos dispositivos que hoje existem para controlar a venda e uso de armas e que eles mesmos asseguram que não funcionam. Curioso, não?

Vamos agora analisar com mais detalhes os aspectos relativos ao controle do uso e venda das drogas, no caso hipotético da liberação das mesmas, e fazer uma comparação com o controle hoje existente sobre as armas de fogo.


Venda livre ou controlada?

Em primeiro lugar, todos concordam que as drogas não poderiam ser vendidas livremente (em supermercados, por exemplo) ou em qualquer quantidade. Isto implicaria no cadastramento e registro dos viciados e dos pontos de venda. Tal como é feito com as armas de fogo, o indivíduo precisaria se registrar numa delegacia especializada e obter a Certidão de Viciado (CV). Os pontos de venda também teriam que possuir um registro próprio, com mapa das vendas controlado mensalmente pela delegacia especializada.
No caso das armas, esta delegacia pertence à Polícia Civil estadual e é subordinada ao governo estadual, através da Secretaria de Segurança Pública e também aos Ministérios Justiça e da Defesa. No caso das drogas, provavelmente será utilizada a estrutura da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Civil, que receberia um nome mais adequado a sua nova função, tal como Delegacia de Fiscalização de Entorpecentes e Afins, que permanecerá subordinada diretamente a Secretaria de Segurança Pública, mas também será subordinada a Secretaria Estadual de Saúde e, a nível federal, ao Ministério da Saúde.

Da compra de drogas

Para a compra de uma arma de fogo legal o cidadão deve provar que tem bons antecedentes, está empregado e possui residência fixa. Acreditamos que para o indivíduo que quiser obter seu CV as exigências seriam menos rigorosas. Entretanto, de alguma forma ele deverá provar que é viciado, pois do contrário, outras pessoas se cadastrariam como toxicômanos apenas para adquirir as drogas legalmente e vendê-las no mercado negro.
A quantidade de tóxico vendida, evidentemente, deverá ter algum limite, do contrário mesmo o viciado registrado poderia adquirir uma quantidade acima de suas necessidades para comercializar entre os amigos. Isto implica em criar um cadastro em nível nacional, o SINATOX – Sistema Nacional de Tóxicos, nos mesmos moldes do SINARM – Sistema Nacional de Armas, de tal forma que um viciado não possa ir para outro estado adquirir uma quantidade de droga acima do permitido.
Tal como para a compra de munição, o viciado precisaria apresentar seu CV no ponto de venda para adquirir a droga legalmente. Tal como nas lojas de armas, o vendedor registraria a venda vinculada àquele CV específico em seu Mapa de Vendas que seria recolhido e verificado mensalmente pela Delegacia de Fiscalização de Entorpecentes e Afins. Esta delegacia emitiria um relatório mensal para a Secretaria Estadual de Saúde e para o Ministério da Saúde sobre a evolução do consumo de drogas no Estado.
No caso das armas de fogo, o cidadão pode adquirir até 50 cartuchos por mês e por arma para seu consumo. Esta quantidade é mais que suficiente para a quase totalidade dos proprietários de armas e muitos só compram esta quantia a cada 5 anos para substituir a munição velha.
Já no caso do toxicômano essa questão é mais problemática. Como é sabido, o viciado precisa a cada vez de uma quantidade maior de droga para obter o mesmo efeito. Isto exigiria alguma forma de acompanhamento da evolução (ou involução) do vício que não encontra paralelo no mundo das armas para podermos comentar.

Sobre o preço das drogas

Evidentemente todas as considerações acima partem do princípio que as drogas adquiridas legalmente serão mais baratas que as ilegais. Imaginar o contrário seria simplesmente manter a situação atual de comércio ilegal.
No caso das armas, seus preços são artificialmente inflados pelo governo para restringir seu consumo nas classes menos abastadas da sociedade (consideradas mais “problemáticas”). Assim, incidem sobre elas 81% de impostos diretos (IPI e ICMS) e a taxa de registro varia de R$36,00 a R$470,00 dependendo do estado da federação, o que faz a festa de traficantes e contrabandistas. O cidadão que resiste a tentação de comprar a mesma arma pela metade do preço (ou menos) no mercado negro, o faz porque deseja estar dentro da Lei.
Não é o caso dos toxicômanos. Uma das razões que os levam ao consumo de drogas é o impulso de rebeldia – algo que não combina com nenhuma forma de controle. Assim, é de se esperar que o indivíduo que se cadastre como dependente o fará unicamente por razões econômicas.

Da variedade de drogas

Outra questão que deve ser objeto de estudo é a variedade de drogas que o dependente poderá adquirir. Poderá um indivíduo declarar-se viciado em cocaína, heroína, maconha e êxtase, e assim adquirir a quantidade regulamentar de cada uma delas? E as drogas terão gradação de seu princípio ativo (como os remédios)? Eventualmente o Estado poderá limitar a potência das drogas legais, o que manteria um certo número de traficantes em atividade para suprir os que desejam aquele “brilho extra”. Por outro lado, se não houver restrições, as drogas ficarão cada vez mais poderosas, pois a competição entre os fornecedores fará com que eles ofereçam produtos cada vez melhores ao mercado consumidor. Poderemos um dia ver uma propaganda deste tipo: “Fume Carioquinha Extra, agora com 100mg de THC”.
Uma solução para evitar esse desenvolvimento seria estatizar a produção e a comercialização de drogas no país através da criação da DROGABRÁS.

No caso das armas de fogo, vários tipos de armas são consideradas de “uso restrito”. Os civis não têm apenas limites na quantidade de armas e munições que podem possuir, mas também têm restrições de modelos, de calibres, de funcionamento, de comprimento de cano, de capacidade de munição e de aparelhos de pontaria, entre outras restrições. Os fabricantes são fiscalizados pelo Exército Brasileiro e não podem produzir nem comercializar no país (ou exterior) nenhum tipo de arma sem autorização do Ministério da Defesa. É claro que todas essas restrições não atingem aos fora-da-lei e o mercado negro se encarrega de fornecer “aquele calibre mais potente” ou aquela “metralhadora igualzinha a que vi no cinema” aos que sentem necessidade de possuí-las e estão dispostos a pagar por isso.

O porte de drogas

Outro aspecto interessante é o porte de drogas. Ao contrário das armas, que são vendidas exclusivamente para permanecerem nas residências ou local de trabalho, não se pode imaginar as drogas consumidas apenas domesticamente. Um dos prazeres dos viciados é drogarem-se coletivamente nas “festinhas de embalo” e isto implica em transporte ou porte de drogas. Qual a quantidade que será permitida a um viciado portar e acima da qual seria considerado tráfico de drogas?
Para autorizar o Porte de Arma, os estados fazem uma série de exigências, tais como: exame psicotécnico, exame de proficiência no manejo da arma e, principalmente, uma justificativa válida. É bom lembrar que ameaças de morte ou qualquer risco de vida não é considerado uma justificativa válida para a concessão do Porte de Arma. Na prática eles só são concedidos aos cidadãos que transportam valores de terceiros, o que é lógico numa sociedade onde os bens materiais valem mais que a vida humana.
Evidentemente que o porte de drogas será autorizado muito mais facilmente, mesmo que isso implique no risco de comércio ilegal e aliciamento de menores.
Apenas como exemplo, um professor que leciona numa escola localizada numa região perigosa não é autorizado a portar uma arma para sua defesa. Mas se ele for viciado em maconha, poderá portar uma pequena quantidade de “baseados” para fumar nos intervalos das aulas e aliviar o “estresse”.

Restrições ao consumo

No caso do tabaco, a fumaça exalada pelo fumante incomoda a terceiros e os torna fumantes involuntários. Por isso acreditamos que as restrições feitas ao tabaco em alguns locais (tal como em aviões) permanecerão para as drogas que fazem fumaça, tipo maconha ou crack.
Por outro lado, drogas que não se espalham pelo ambiente não precisam ter qualquer restrição. No futuro provavelmente ouviremos um passageiro de avião pedir algo assim: “Aeromoça, a Sra. poderia apertar meu torniquete enquanto me aplico uma dose de heroína? Sabe como é, assim viajo duplamente”.

As Casas de Ópio

Evidentemente que, mesmo com essa liberalidade, ainda será necessário a existência de locais para o consumo público de drogas, as velhas Casas de Ópio que, provavelmente retornarão com uma designação mais moderna e mais politicamente correta, tal como “drogódromo”.
Os drogódromos, para funcionar, precisariam de uma licença especial e fiscalização apropriada da Secretaria Estadual de Saúde. A prefeitura daria o alvará de funcionamento após a autorização da Secretaria de Saúde, o registro no SINATOX e o atendimento às normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde.
Este modelo segue o existente para a instalação de estandes de tiro, que precisam de licença de funcionamento da Secretaria de Segurança do estado, autorização do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da Região Militar e atender as normas emitidas pelo Ministério da Defesa. Mesmo assim alguns municípios, tal como a cidade do Rio de Janeiro, negam-se a fornecer alvará de funcionamento para estandes de tiro alegando a necessidade de controlar a violência. (?!?)

Ao contrário das drogas, que podem ser consumidas em espaços confinados, as armas de fogo requerem muito espaço ou locais reforçados para serem usadas. A não existência de estandes de tiro públicos na cidade do Rio de Janeiro (e em outras) obriga os proprietários de armas a procurarem as regiões rurais infringindo duplamente a Lei: ao trafegar com a arma sem licença e ao dispará-las em local não autorizado. Como se vê, os cidadãos são obrigados a tornarem-se foras-da-lei para poderem manter um nível mínimo de proficiência no uso de uma arma.
É claro que, numa sociedade permissiva, não se esperam medidas tão arbitrárias para as instalações dos drogódromos.

Conclusões

Cremos que já ficou patente que qualquer sistema de controle de drogas não irá funcionar, tal como não funciona o controle de armas. A grande falha desses sistemas é que eles só funcionam com a anuência e colaboração dos controlados. Como vimos acima, não haverá viciados interessados em se submeter ao sistema se não for para obter drogas mais baratas, o que é um contra-senso pois o Estado não deve facilitar ou incentivar o uso de drogas.
No caso das armas de fogo, os cidadãos de bem preferem ficar dentro da Lei e voluntariamente se submetem a esta burocracia insana e custosa. As vendas no comércio legal mostram, entretanto, que este número é cada vez menor.

A Lei 9437 de 1997, tornou o ato de atirar uma atividade praticamente impossível de ser praticada sem incorrer em algum crime. Além disso, as autoridades tratam o proprietário legal de armas como se fosse bandido e seus amigos o chamam de otário. A “pá de cal” no Sistema Nacional de Armas foi lançada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, quando este falou que ia recolher todas as armas legais e indenizar com R$150,00 seus proprietários.
Deixando de lado os poucos “otários”, hoje em dia só compram armas no comércio legal aqueles cidadãos que por motivos profissionais precisam ter uma arma registrada (policiais, vigilantes, e uns poucos outros). Enquanto isso o comércio ilegal de armas prospera e à noite as quadrilhas organizadas dão espetáculos pirotécnicos disparando seus fuzis com balas traçantes por sobre a cidade do Rio de Janeiro.

Finalmente, gostaríamos de lembrar que armas salvam vidas. Conhecemos inúmeras pessoas que afirmam que escaparam de uma violência graças a presença providencial de uma arma de fogo. Todavia, não conhecemos ninguém que afirme que sua vida foi salva graças a um “baseado”.


13/06/2011

Não permanecer preso...

41. É preciso dar a si mesmo provas de que se está destinado à independência e ao mando; e isso no tempo oportuno. Não se deve evitar suas provas, ainda que elas talvez sejam o jogo mais perigoso que se possa jogar, e apenas provas, por fim, das quais sejamos as únicas testemunhas, sem a presença de qualquer outro juiz. Não permanecer preso a uma pessoa: ainda que seja a mais amada – toda pessoa é uma prisão, e também um recanto. Não permanecer preso a uma pátria: ainda que seja a mais sofredora e mais necessitada – de uma pátria vitoriosa, já é menos difícil desligar seu coração. Não permanecer preso a uma compaixão: ainda que seja com relação a homens superiores, cujo raro martírio e desamparo um acaso nos permitiu vislumbrar. Não permanecer preso a uma ciência: ainda que ela atraia alguém com as descobertas mais preciosas, que parecem reservadas justamente a nós. Não permanecer preso a sua própria libertação, àquela lasciva lonjura e país longínquo do pássaro, que voa sempre mais longe nas alturas para ver sempre mais abaixo de si – o perigo daquele que voa. Não permanecer presos às nossas próprias virtudes e nos tornarmos, como um todo, vítimas de alguma particularidade nossa, por exemplo, de nossa “hospitalidade”: o que é o perigo dos perigos para almas superiormente constituídas e ricas, que lidam consigo mesmas dispendiosamente, quase com indiferença, e que levam a virtude da liberalidade tão longe até que chegue a se tornar um vício. É preciso saber preservar-se: a prova mais forte de independência.


Trecho de: Friedrich Nietzche - Além do Bem e do Mal