06/06/2011

Uma visão tradicionalista

Por Edouard Rix
Por que combatemos? Esta é a questão fundamental que todo o soldado político deve colocar. Por contraditório que possa parecer somos tentados a responder que lutamos pela Tradição e pela Revolução. A Tradição Antes de mais não se deve confundir a Tradição com as tradições, isto é, os usos e costumes. A Tradição designa o conjunto dos conhecimentos de ordem superior referentes ao Ser e suas manifestações no mundo, tal como nos foram legados pelas gerações anteriores. Ela assenta não no que foi uma vez, num tempo e espaço determinados, mas no que é de sempre. Admite uma variedade de formas – as tradições –, ao mesmo tempo que permanece una na sua essência. Não poderíamos confundi-la com a tradição religiosa única porque ela cobre a totalidade das actividades humanas, políticas, económicas, sociais, etc. No seguimento de Joseph de Maistre, de Fabre d’Olivet e, sobretudo, de René Guénon, Julius Evola fala de uma «Tradição primordial» que, historicamente, permitiria contemplar a origem concreta de um conjunto de tradições. Tratar-se-ia de uma tradição hiperbórea, vinda do Extremo Norte, situada no começo do presente ciclo de civilização, em particular das culturas indo-europeias. Do ponto de vista de Evola «uma civilização ou uma sociedade é tradicional quando é regida por princípios que transcendem o que é meramente humano e individual, quando todas as suas formas vêm do cimo e quando ela está toda orientada para o alto». A civilização tradicional assenta então em fundamentos metafísicos. É caracterizada pelo reconhecimento de uma ordem superior a tudo o que é humano e contingente, pela presença e autoridade de elites que retiram desse plano transcendente os princípios necessários para assegurar uma organização social hierarquicamente articulada, abrindo as vias para um conhecimento superior e conferindo por fim à vida um sentido vertical. O mundo moderno é quanto a ele o oposto do mundo da Tradição que se personificou em todas as grandes civilizações do Ocidente e Oriente. É-lhe próprio o desconhecimento de tudo o que é superior ao homem, uma dessacralização generalizada, o materialismo, a confusão de castas e raças. A Revolução Quanto ao termo Revolução deve ser entendido na sua dupla acepção. No seu sentido actual, o mais correntemente utilizado, Revolução significa mudança brusca e radical no governo de um Estado, a Revolução francesa e a Revolução soviética de 1917 são uma ilustração perfeita. Não obstante, no seu sentido primeiro, Revolução não significa subversão e revolta mas o contrário, a saber, regresso a um ponto de partida e movimento ordenado em torno de um eixo. É assim que, na linguagem astronómica, a revolução de um astro designa precisamente o movimento que ele realiza gravitando em torno de um centro, o qual contém a força centrífuga, impedindo o astro de se perder no espaço infinito. Ora nós estamos hoje no fim de um ciclo. Com a regressão das estirpes, a descida progressiva da autoridade de uma a outra das quatro funções tradicionais, o poder passou dos reis sagrados a uma aristocracia guerreira, depois aos comerciantes, por fim às massas. É a idade de ferro, o Kalî-Yuga ário, idade sombra da decadência, caracterizada pelo reino da quantidade, do número, das massas, e a correria desenfreada à produção, ao lucro, à riqueza material. Ser pela Revolução hoje, é pretender o regresso da nossa civilização europeia a um ponto de partida original, conforme aos valores e aos princípios da Tradição, o que passa, reivindicando a expressão de Giorgio Freda, pela «desintegração do sistema» actual, antítese do mundo tradicional ao qual aspiramos.