23/04/2021

Dominique Venner – Evola: Filosofia e Ação Direta

 por Dominique Venner

(2008)


Considerado por alguns como "o maior pensador tradicionalista do Ocidente", Julius Evola (1898-1974) sempre teve uma relação difícil com o MSI e ao mesmo tempo exerceu uma influência definitiva nos círculos mais radicais, as FAR (Fasci di Azione Rivoluzionaria) em seu tempo e depois a Ordine Nuovo ou Avanguardia Nazionale. Evola esteve à margem do fascismo durante o Ventennio (1922-1943). Apesar de suas críticas, porém, ele quis se solidarizar com o RSI depois de 1943. Tomando como exemplo tanto Nietzsche quanto Guénon, ele cultivava à maneira do primeiro o desprezo por tudo que era plebeu e o louvor do super-homem autoconstruído. Mas ele se unia a René Guénon em sua interpretação da história como um processo de decadência e involução que levou, segundo a tradição hindu, ao Kali-Yuga, a era demoníaca que antecedia o retorno ao caos original. Ele estava preparado, entretanto, para reconhecer que certas formas políticas, mais ou menos de acordo com sua ideia hierática da Tradição, poderiam retardar o declínio. Esta foi sua interpretação do fascismo, na medida em que ele, através de sua tentativa de reabilitar valores heroicos, constituiu um desafio à sociedade moderna e ao homem massificado e sem rosto.

Aos olhos dos ativistas ou intelectuais da jovem geração pós-fascista, Evola tinha a vantagem de fazer uma crítica interna vigorosa do fascismo sem ceder ao antifascismo. Ele ofereceu uma "visão de mundo" coerente e sofisticada, implacável em relação à modernidade, à qual opôs uma construção muito mais radical e absoluta do que a do fascismo. Por exemplo, em sua principal obra teórica, Revolta Contra o Mundo Moderno (1934), Evola condenou o nacionalismo por sua inspiração "naturalista" e o contrastou com "a raça do espírito" e "a ideia, nossa verdadeira pátria". O que conta, disse ele, "não é pertencer à mesma terra ou falar a mesma língua, mas compartilhar a mesma ideia" (Orientações, 1950). Que ideia? A de uma ordem superior, da qual a Roma antiga, a cavalaria medieval ou a Prússia haviam sido a expressão. Ele propunha um estilo de vida de severidade, disciplina, dureza, sacrifício, praticado como uma ascese. Evola não era um espírito puro. Ele havia servido na artilharia durante a Primeira Guerra Mundial, e em sua juventude havia sido um hábil montanhista, autor da admirável Meditações nos Cumes. Após sua morte, suas cinzas foram colocadas no cume do Monte Rosa.

Por volta de 1950, acreditando então nas chances do MSI, Evola quis dar uma "bíblia" guerreira aos jovens militantes deste movimento: era Os Homens e as Ruínas, um ensaio prefaciado pelo Príncipe Borghese. Suas esperanças foram desapontadas, ele se distanciou do MSI e de qualquer ação política a partir de 1957. Um pouco mais tarde publicou Cavalgar o Tigre (1961), um trabalho difícil que contradizia a obra anterior. Em essência, ele declarou que num mundo que corre em direção à ruína, nada vale a pena salvar, sendo o único imperativo categórico seguir o próprio caminho interior com perfeito desapego de tudo o que nos cerca, mas assumindo o que a vida oferece de tragédia e dor. Esta mensagem foi altamente controversa na seita daqueles ironicamente referidos como as "Testemunhas de Evola". Alguns o entenderam como um convite à retirada do mundo e outros como uma incitação a dinamitar a sociedade decadente. É esta parte da mensagem que os seguidores italianos do ativismo brutal vão ouvir durante os "Anos de Chumbo". O que foi expresso por Cavalgar o Tigre refletia o desgosto que o pântano da política parlamentar mesquinha em que o MSI estava afundando poderia inspirar às pessoas mais idealistas. Mas, além disso, estava em jogo a evolução de uma sociedade italiana e ocidental sob a influência do consumismo e do materialismo.

Nas décadas seguintes, a disseminação da violência de esquerda e do terrorismo teve um impacto significativo sobre a direita radical influenciada pelo filósofo. As duas principais organizações extraparlamentares, Ordine Nuovo e Avanguardia Nazionale, haviam sido dissolvidas em 1973, empurrando-as para a ilegalidade. Mas esta estratégia foi claramente quebrada pela repressão.

No entanto, uma nova geração estava trabalhando e tinha feito uma leitura de Evola. Nascida depois de 1950, estranha à memória histórica do fascismo, ela estava disposta a criticar os "veteranos" do MSI, e tanto os "monstros sagrados" da direita militante, como Borghese, e sua estratégia ultrapassada do golpe de estado. O fim das ideologia e a primazia da ação foram proclamados com convicção. Para esta geração de militantes bastante jovens, diante do vazio dos velhos valores mortos, a luta permanecia enquanto valor existencial. "Não é ao poder que aspiramos, nem à criação de uma nova ordem", lê-se em 1980 no Quex, um boletim informativo para presos políticos da direita radical. "É a luta que nos interessa, é a ação em si mesma, a afirmação de nossa própria natureza". A influência de Cavalgar o Tigre era óbvia. Mas o que, em Evola, devia resultar de uma ascese interior, foi aqui traduzido em sua leitura mais brutal, por uma identificação com o mito do "guerreiro". Essa tendência levou à teorização ad hoc do "espontaneísmo armado", tanto quanto à retirada para uma torre esotérica de marfim.